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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Parece que estamos alcançando nossos objetivos com essa série de artigos, tentando ajudar os leitores mais novos a entenderem nossa Metodologia.

As dúvidas estão sendo respondidas através do meu email pessoal: fernando@clubedoaudio.com.br, e tenho gostado muito dos questionamentos e sugestões.

É importante lembrar sempre que os vídeos são apenas uma referência, e que o essencial é o leitor acessar no streamer as faixas indicadas ou, se tiver a mídia física, melhor ainda. Pois ainda que tenhamos o cuidado na hora de produzir os vídeos, a captação do áudio sempre será muito limitada. Serve apenas como guia de apresentação, e uma ideia geral de como soa em nossa sala no sistema de referência nosso.

Outra bela surpresa está sendo a participação feminina, com interessantes sugestões de músicas que gostariam que ouvíssemos, até dicas para melhorar a diagramação dos gráficos (o olhar feminino tão mais atento aos detalhes).

Todas as sugestões estão sendo avaliadas e tentaremos a medida do possível cumpri-las.

De modo geral, quem se manifestou até o momento está compreendendo perfeitamente a importância do equilíbrio tonal como estrutura central na escolha de um sistema hi-end.

E começa a perceber que Musicalidade não é uma escolha subjetiva e que pode vir isolada de todos os outros quesitos importantes a serem avaliados na escolha de um componente de áudio.

Hoje veremos a importância dos agudos e, assim como nos graves, o quanto de referências erradas temos quando iniciamos essa jornada audiófila.

O grande problema com os agudos é quando começamos a perder a audição, e as altas frequências acima de 12kHz começam a ficar prejudicadas. Já ouvi de muitos audiófilos que esse não é um grande problema, pois a maioria dos instrumentos não passam de 7kHz (caso do órgão de tubo e pratos!). Essas pessoas esquecem que não estamos falando de fundamentais e sim dos harmônicos, e o fato de nossa audição estar comprometida acima de 12kHz, muito da riqueza tímbrica, texturas e ambiência irão se perder.

Vários gêneros musicais ficarão seriamente comprometidos com a perda auditiva acima de 12kHz. Pois imagine ouvir um naipe de metais com cada instrumento soando suas notas mais agudas, a riqueza e texturas no segundo, terceiro e quarto harmônico de cada um desses instrumentos de sopro, ou do órgão de tubo em que a nota mais aguda tem sua fundamental em 7kHz e o segundo harmônico dessa nota em 14kHz!

A primeira sensação de perda auditiva nos agudos se dá quando paramos de ouvir o hiss de fita analógica, e todas as gravações parecem ter sido feitas em um mesmo ambiente. Se você começa a ter dificuldade em reconhecer os ambientes de suas gravações preferidas, meu amigo, fique alerta.

Outro sintoma de que a audição está seriamente comprometida é se você precisa aumentar o volume acima do desejável para escutar as altas frequências e ainda assim tem a sensação de que elas soam mais baixo que a região média.

Mas imaginemos, para essa matéria, que todos vocês estão com a resposta auditiva plana até 14kHz, ok? Nessas condições ainda estaremos ouvindo o segundo harmônico da nota mais aguda do órgão de tubo, o timbre de pratos de diâmetros distintos, a ambiência das gravações e não perdemos o prazer de ouvir música clássica ou big bands com seus naipes de metais rasgando o ar.

Se concentrem no gráfico e procurem todos os instrumentos que a última nota mais aguda esteja acima de 2000Hz.

Façam o cálculo de multiplicação dos harmônicos até pelo menos o quarto harmônico. Vamos avaliar o sax soprano que sua mais alta nota está em 2100Hz, então teremos: segundo harmônico 4200Hz, terceiro harmônico 8400Hz, quarto harmônico 16800kHz.

Como segundo exemplo vamos pegar o piccolo: com sua última nota em 3600Hz, segundo harmônico 7200Hz, terceiro harmônico 14400kHz.

Agora vamos ouvir um exemplo que uso muito em nossos Cursos de Percepção Auditiva, para mostrar a importância dos agudos corretos e o quanto eles irão dizer a respeito do sistema que montamos em termos de Equilíbrio Tonal, Textura, Transientes, Dinâmica e Corpo Harmônico. O belíssimo Pictures At An Exhibition com a Orquestra de Minnesota sob regência de Eiji Oue, pelo selo audiófilo Reference Recordings.

Gravação de 1997 que ainda hoje é uma referência superlativa, artística e técnica. Felizmente você irá encontrar no Tidal com facilidade. A faixa que sempre apresento nos cursos é a 12 – Catacombae Sepulcrum Romanum. Escrita apenas para sopros (madeiras e metais), é uma faixa que exige em demasia que o Equilíbrio Tonal seja impecável, e que os instrumentos possam respirar ainda que tocados em conjunto, e como são faixas curtas, costumo também deixar a faixa 13 – Con mortuis in lingua mortus e fecho com a apresentação da faixa 14 – The Hut on Fowl’s Legs – Baba -Yaga.

Faixas 12, 13 e 14

Faço uso desse fabuloso exemplo pela possibilidade de mostrar aos participantes como o perfeito Equilíbrio Tonal possibilita que o grau de inteligibilidade e conforto auditivo seja pleno.

E essas três faixas possibilitam avaliarmos todo o espectro audível de forma segura e consistente.

Não se iluda meu amigo, pois não é nenhuma ‘pêra doce’ esse disco. Já ouvi sistemas caríssimos mal escolhidos, deixar essa gravação irreconhecível. Por muitos anos vi inúmeras apresentações de sistemas usarem esse disco (principalmente a faixa 15 – The Great Gate of Kiev) para apresentar a variação macrodinâmica, sem se preocuparem com o Equilíbrio Tonal, Texturas e Corpo Harmônico.

Tornando a audição incômoda.

Como são poucos os que se arriscam atualmente em demonstrar sistemas com música clássica, não sei se algo mudou. Então, minha dica a todos vocês: comecem pelo Equilíbrio Tonal, como aqui indicado, e se o sistema se comportar bem, se aventurem a avaliar todo o espectro ouvindo as três faixas indicadas.

Mas sigam a regra, e comecem por avaliar os agudos, e para isso a faixa 12 é um exemplo perfeito! Os metais não podem apenas ter a extensão correta, eles rosnam literalmente, e nos crescendos precisam manter o decaimento que a sala permite. Se os metais soarem duros, brilhantes e agressivos, seus agudos estão errados. E, ao contrário, se soarem escuros sem esse brilho natural que todos sopro no fortíssimo tem, seu agudo também está errado, pois terá extensão ruim e decaimento muito rápido.

Procure ouvir esse exemplo no maior número possível de sistemas, e se surpreenderá como soará muito diferente em cada sistema.

Muitos leitores em nossos cursos acham muito mais difícil reconhecer o grave correto do que o agudo, sendo justamente o contrário. É preciso muito mais tempo para se criar uma referência do agudo de cada um dos instrumentos de sopro, da última oitava da mão direita de um piano, vibrafone, violino, órgão de tubo e pratos! As variações de timbre e textura na região aguda são infinitamente maiores que nos graves.

Então, meu amigo, mãos à obra e comecem a frequentar com mais assiduidade concertos e apresentações de música não amplificada, para entenderem o quanto é mais difícil ajustar os agudos e diferenciar a qualidade dessa frequência nas inúmeras opções de caixas acústicas hi-end existentes no mercado.

Você irá perceber que cada tweeter possui uma assinatura sônica muitas vezes completamente antagônica a um modelo similar em preço. Aí quando ouço audiófilos afirmarem que agudos também são uma questão de gosto, fico pensando que instrumento ele utiliza para escolher o agudo de suas caixas. Pois nos meus 65 anos, eu só uma vez vi um audiófilo escolher o melhor agudo para seus ouvidos e era utilizando uma gravação de pratos e copos sendo quebrados. E ao ouvir música em sua caixa, aprendi uma grande lição: pratos e copos sendo quebrados não são a melhor escolha para se ouvir música de verdade!

Já vi audiófilos usarem pratos de bateria, chimbal, triângulo, vibrafone, sax soprano, piccolo, piano e até harpa. Se me pedem instrumentos seguros para tal feito, eu sempre sugiro: vibrafone, piano e violino. Esses três se você tiver a referência dos instrumentos reais, bem tocados, será o suficiente não só para uma escolha mais segura, como também para se surpreender o quanto tweeters soam tão diferentes!

E na Segunda Parte deste Terceiro Capítulo, deixo aqui para vocês avaliarem em seus sistemas a qualidade da reprodução de ambiência das gravações. Lembre-se sempre:

Equilíbrio Tonal correto, ambiência correta.

Equilíbrio Tonal torto, ambiência ausente ou pouco definida.

Para se ouvir a ambiência é preciso que a gravação respire, primeiro passo. Ou seja: agudos com boa extensão e decaimento o mais suave possível.

É preciso sempre lembrar que existem dois tipos de ambiência: a captada com microfones estrategicamente colocados na sala de gravação, para que a música respire com folga dentro desse ambiente, e a ambiência artificial colocada por reverberador analógico (tipo mola ou fita) e, a partir dos anos 80, reverberador digital.

Para você saber qual foi a opção do engenheiro de gravação, saiba que quando as gravações forem feitas em estúdio, raramente será uma ambiência real da sala de gravação. E quando a gravação é feita em estúdio e com os músicos tocando separadamente, a chance de usar o próprio ambiente de gravação é mais rara ainda.

Gravações com a captação do ambiente geralmente são feitas em salas de concerto ou gravações em ‘real time’, em que todos tocam simultaneamente no mesmo espaço.

É importante que um sistema hi-end tenha a capacidade de reproduzir corretamente a ambiência, pois isso é muito mais que apenas ‘confeitaria’. Uma ambiência bem captada permite que nosso cérebro seja perfeitamente enganado, e nos permite relaxar e apreciar por completo o evento musical.

Com uma vantagem maravilhosa: nada de tosse, papel de bala, celular e conversas paralelas. Afinal, se você vai investir tempo e dinheiro nesse hobby, que a satisfação pelo seu empenho seja plena. Não é verdade?

OUÇA PICTURES AT AN EXHIBITION, EIJI OUE – MINNESOTA ORCHESTRA, NO TIDAL.

Dois exemplos: a faixa 15 do disco Pictures at an Exhibition (abra mão da variação dinâmica, coloque em um volume moderado e sinta como a orquestra respira com folga nessa espetacular sala de concerto de Minnesota), e o outro exemplo, uma gravação que já mostrei também: John Adams – Acoustic Covers faixa 1 – Bohemian Rhapsody.

John Adams – Acoustic Covers faixa 1 – Bohemian Rhapsody

Não irei dar muitas dicas, e sim duas perguntas para vocês me responderem de bate-pronto após ouvir a faixa:

1- Essa gravação usou reverberação natural ou de reverb digital?

2- Quem está com mais reverb, a voz ou o piano?

A única dica que darei: se no seu sistema não for possível observar diferenças na reverberação da voz e do piano, algo de muito estranho está ocorrendo em seu sistema.

Boa sorte, e mês que vem entraremos no fetiche de 70% dos audiófilos: Palco Sonoro!

Até lá se cuidem, e boa sorte!

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