Christian Pruks
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Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio
O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.
Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!
Seja em vitrine de lojas, casas de amigos abonados, ou fotos em revistas, todos temos ‘brinquedos’ nos quais nunca pudemos nem encostar nossas mãos – às vezes nem em sonho! A maior parte de nós cresce, e passa a pensar em outras coisas, e outros são colecionadores – e muitos dos ‘brinquedos’ continuam presentes e valorizados no mercado de usados.
GREAT BRITAIN
Inegavelmente um dos lugares onde o áudio de qualidade nasceu, a então chamada Alta-Fidelidade – impulsionada pelo advento do LP e, logo depois, definitivamente, pelo estéreo – foi no Reino Unido.
Enquanto nos EUA tínhamos pioneiros como Avery Fisher (The Fisher) e James B. Lansing (da JBL), entre vários outros, no Reino Unido tivemos Alan Blumlein (da EMI) praticamente inventando o estéreo e técnicas de microfonação para gravação do mesmo, e Peter Walker (da Quad) com seus amplificadores e suas caixas eletrostáticas, além de uma infinidade de marcas que começaram a produzir caixas como o modelo licenciado LS3/5a (projeto da BBC), da Wharfedale, KEF, Leak etc. Entre essas marcas altamente consideradas de falantes e caixas acústicas – apesar de não ter sido muito longeva – estava a Goodmans, que não fez só caixas como também alto falantes que foram usados nos amplificadores de guitarra e baixo da marca Vox, preferidos pelos Beatles, entre muitos outros músicos. E, poucos lembram, a Goodmans também fez tuners, amplificadores e receivers.
O RECEIVER GOODMANS ONE TEN
Entre 1972 e 1974, a Goodmans produziu em Wembley – um subúrbio de Londres – o One Ten, um receiver totalmente transistorizado FM / AM / Ondas Curtas, com sistema de sintonia PLL, e pesava 12kg!
Com design moderno e bem europeu, com destaque para os botões e para o dial que imitava as clássicas (e lindas!) réguas de cálculo, seu gabinete era em metal, com topo de madeira (em vários acabamentos) e frente de alumínio (prata ou preta). Sua potência declarada era ou de “40W”, ou “50W”, ou “55W” por canal em 8Ω, de acordo com várias fontes. Vários dizem 40W, mas o prospecto do amplificador diz 50W, e alguns dizem que o “110” do modelo é a potência máxima (2x 55 Watts). Inclusive outros modelos da Goodmans seguem esse padrão: o Module 80 tinha 40W por canal, e o Module 90 tinha 45W por canal. O fato é que, mesmo se for 40W em 8Ω, é bastante bom para uma grande quantidade de ambientes e caixas – principalmente em se tratando do Reino Unido, onde os ambientes e as caixas nunca foram tão grandes quanto nos EUA, por exemplo – e representam bem a maioria esmagadora dos ambientes disponíveis ao brasileiro.
Para os que pretendem se aventurar com um Goodmans One Ten em suas experimentações audiófilas, saibam que suas conexões no painel traseiro ainda são da época do DIN, do padrão Philips europeu, que era seguido pelos ingleses (enquanto os japoneses, nada bobos, estavam começando a tomar o mercado americano, e mundial, de assalto).
Nada de RCA ou de bornes de caixas como os vemos hoje. Mas, por uma portinhola lateral (que parece ser uma ideia que tiveram depois que o aparelho estava pronto), o One Ten traz duas conexões para fones de ouvido, e já no padrão internacional com plugue tipo P10, enquanto que muitos outros equipamentos europeus, especialmente os alemães, ainda usavam conexão DIN também para os fones de ouvido.
MODELOS SEMELHANTES
Na própria linha da Goodmans, temos o receiver Module 80, que tem um design ‘antigo’ e tradicional, e o Module 90, que segue a tendência do One Ten de design moderno e bem europeu, trazendo semelhanças com muitas marcas – como a própria Quad inglesa, e certamente a alemã Braun com seu receiver Regie 510, e a célebre B&O com o Beomaster 3000.
COMO TOCA O ONE TEN
Existe, desde o começo do hi-fi, algo que é chamado de “British Sound”, que é uma busca incessante por naturalidade e suavidade, e é centrado nos médios agradáveis e sedutores com médios-graves um pouco mais cheios. As caixas britânicas geralmente dão mais graves e médios-graves dentro das casas britânicas, por causa das paredes lá serem feitas de alvenaria, o oposto das paredes americanas, feitas de drywall, que vão melhor com caixas grandes com woofers de 12 ou 15 polegadas, por exemplo. Mas acontece que a questão não é só de graves, mas sim de todo o equilíbrio tonal, já que muitos produtos americanos ignoraram a ideia de naturalidade e suavidade – e baixa fadiga auditiva – prezada pelos britânicos.
Enfim, o som do Goodmans One Ten é cheio e sedutor, mas sem grande extensão nos agudos e faltando pegada, energia, que era o trunfo dos designs americanos – como o receiver The Fisher, e mais outros típicos do hi-fi americano da época.
Mas o ponto mais alto do One Ten é realmente seu sintonizador de FM, que ultrapassava, à época, todas as expectativas, tanto de precisão de sintonia estéreo, quanto de qualidade sonora, principalmente na separação estéreo.
SOBRE A GOODMANS
A Goodmans Industries foi fundada em Londres em 1923 – e está fazendo, portanto, aniversário de 100 anos! – começando por fabricar caixas acústicas e alto-falantes para PAs.