Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
É muito bom poder, na sequência, testar dois excelentes produtos do mesmo fabricante, pois além de facilitar a realização de comparações diretas, nos permite saber o patamar que cada um dos produtos se encontra, e conhecer a que público cada um se destina.
Da Meze já testamos o 99 Classics, o 109 Pro, o Elite, e o seu top de linha Empyrean. Portanto me sinto bastante familiarizado tanto com a proposta do fabricante para o mercado, como consigo reconhecer as semelhanças e diferenças sônicas de cada um dos modelos testados.
Ao contrário dos ‘revisores’ que desdenham da memória de longo prazo, a minha continua ótima, e apoiado pelas minhas longas anotações minuciosas de cada produto por nós avaliados, consigo saber com extrema precisão o que difere, em determinados exemplos e passagens de nossa Metodologia, e o que desejo saber a respeito de cada produto.
E quando temos a chance de estar com três produtos simultaneamente de um fabricante em mãos – como no caso do teste do Liric, em que temos o 99 Classics (uma de minhas referências), o 109 Pro que testamos mês passado (e também passou a ser uma referência em sua faixa de preço) – temos a chamada colher de ‘sopa no mel’!
Antes de descrever o produto, gostaria apenas de mencionar que o Liric, ainda que se coloque exatamente no meio entre o 99 Classics e o Empyrean top de linha, ele se encontra muito mais próximo do Elite que do 109 Pro. Digo isso para que você, leitor, entenda que utilizar o Liric ligado a DAPs como o Astell & Kern SP 2000T, ou o novo Cayn C9, será o mínimo necessário para se extrair o melhor desse fone.
Pois, assim como o excepcional Elite (que para mim é o melhor custo/performance da Meze), o Liric merece ser ligado ao melhor amplificador de fone que você puder ter em sua casa. Pois não vejo as pessoas usando o Liric para sair na rua, e correr o risco de atrair ‘abutres’ e perder um fone de 3.300 dólares!
Feito esse adendo preliminar, vamos às informações técnicas.
O Liric é um fone fechado (como o 99 Classics), para atender o público audiófilo que divide seu espaço físico com a família, e precisa incomodar o mínimo possível os outros quando estiver ouvindo sua música.
Para atingir seus objetivos em termos de performance, mais uma vez a Meze confiou à empresa Rinaro o desenvolvimento dos novos drivers para o novo Liric. A ideia foi aplicar a mesma tecnologia do driver MZ4 Isodynamic Hybrid Array do top de linha, Empyrean, no novo fone.
Para se conseguir avançar no projeto inicial, foi preciso reduzir e ajustar esses drivers MZ4 para oferecer um alto padrão de performance a um preço mais condizente com a realidade de mercado. O desafio era conseguir esse grau de performance agora em um fone fechado!
A maior diferença em relação ao MZ4 original, foi a inovação do sistema batizado de Phase-X, para aprimorar a ambiência e a imagem espacial, mais difícil de se conseguir em fones fechados que nos abertos de alto nível e desempenho.
Cada driver é montado manualmente, e testado exaustivamente, na fábrica da Rinaro.
Para se conseguir tamanho feito de mais ‘arejamento’ em um fone fechado, a Meze fez uso de um sistema de ‘Equalização de Pressão’ que, segundo o fabricante, tem um grande impacto em como o cérebro percebe o som ao seu redor.
Esse processo é uma saída de ar controlada, que minimiza a pressão interna do fone e aumenta o arejamento. Parece uma solução óbvia, mas pouco usada ainda pelos fabricantes de fones fechados.
Como todo produto Meze, sua apresentação é impecável, e ainda que o Liric não faça uso de um estojo de alumínio, o fabricante oferece uma bonita bolsa rígida semelhante à do 109 Pro, porém com forro de veludo para não riscar o fone.
No kit do fone temos dois cabos TPE macios, um de 1.5 m e outro de 3.5m. Além de um adaptador de 6.3mm, bem como um adaptador para uso em avião.
No primeiro instante, ao olhar o Liric fora da embalagem, senti falta do acabamento de madeira, já que esse modelo faz uso de um preto fosco para a proteção dos drivers.
Mas basta focar nos garfos de metal, a faixa de couro genuíno para apoio da cabeça, para ver que o padrão e requinte Meze estão presentes mais uma vez!
A estrutura de metal é toda muito semelhante aos dois fones top, assim como as almofadas posicionadas simetricamente para permitir um melhor fluxo de ar para, nos dias de calor, diminuir a desagradável sensação de suor e umidade.
Li que alguns revisores gostaram da pressão do fone, para melhor ajuste, e outros acharam excessivamente apertado. Acho que isso tem a ver com o diâmetro da cabeça de cada um.
O Liric, para mim, encaixou perfeitamente, melhor que o 109 Pro e que o 99 Classics.
O importante é que ele tem uma ampla estrutura para se adaptar a sua cabeça de forma firme e segura, até mesmo para movimentos mais bruscos – coisa com a qual, no 109 Pro, preciso ser mais cuidadoso.
As hastes são de cobre, e os fones são de magnésio com acabamento em tecido de couro do lado de fora.
A escolha do formato oval angulado para mim foi perfeita para isolar-me totalmente do mundo externo, e seu conforto e ergonomia estão no mesmo padrão do Elite e do Empyrean.
O peso de 391 gramas pode parecer muito, mas é totalmente compensado pela distribuição de peso, e o conforto do fone quando corretamente ajustado.
Para o teste utilizamos apenas o amplificador de fone de ouvido do Classic Preamp da Nagra. Minha melhor referência para avaliar produtos Estado da Arte!
Como todo produto enviado para teste, não abrimos mão de fazer uma primeira audição assim que o produto chega, para registrarmos nossas primeiras impressões e depois o colocamos em tortura absoluta pelo tempo indicado pelo fabricante, ou até percebermos que não há mais variação no equilíbrio tonal do mesmo.
O Liric ouvimos, anotamos nossas observações iniciais, e o deixei em repeat com streamer por 30 horas. A diferença não foi substancial, mas significativa para estabilizar as duas pontas, e observarmos o quanto os agudos do Liric são impressionantes em relação aos nossos fones de referência, e ao 109 Pro também da Meze.
Ele nos remeteu, instantaneamente, a buscar as mesmas faixas que usamos para fechar a nota do Elite, nos agudos.
Como o Elite, a extensão e velocidade nos agudos é muito mais que apenas impactante, elas são de uma naturalidade que nos convida a buscar o volume correto de cada gravação, pois não sofrem de brilho excessivo ou irão nos causar sustos, fazendo abaixar o volume no meio da audição.
A região média possui o que chamamos de ponto de equilíbrio entre a transparência e musicalidade, e se o Liric não atinge o grau de neutralidade do Elite, ele sem a ‘sombra’ desse modelo por perto, pode ser comparado sem nenhum problema com fones até muito mais caros que ele. É uma região média com uma folga impressionante. Se você quer um bom exemplo para entender o que estou tentando descrever, ouça as faixas 3 e 4 do disco WomanChild da cantora Cécile McLorin Salvant.
Sua poderosa extensão do médio-grave ao agudo, é um desafio e tanto a qualquer fone e caixa acústica. E para deixar o ‘desafio’ ainda mais interessante, temos um piano que também passeia por todas as oitavas para complicar mais um pouco, na faixa 3. E na faixa 4 temos, além do piano, um contrabaixo e uma bateria.
Quando ouvimos essa primorosa gravação em um fone em que o equilíbrio tonal, além de excelente, possui folga, arejamento e realismo, parece se tratar de ‘mamão com açúcar’. No entanto, basta um erro no equilíbrio tonal e o piano soa duro, assim com os crescendos na voz de Cécile.
E, por último, os graves. Li que para alguns revisores o grave do Liric é impecável, já para outros falta mais ‘peso’. Como sempre tenho muito cuidado em levar em consideração o que outros articulistas concluíram, pois raramente eles colocam os discos e muitos até omitem os equipamentos usados. E sem essas informações fica difícil saber o motivo de tais conclusões. O que posso dizer a você que nos lê: o grave do Liric é excelente!
Quer você mesmo tirar suas conclusões, caso venha a ter a oportunidade de escutar o Liric? Ouça o disco Descent Into Madness do baterista Vinnie Colaiuta, as faixas 4 e 7.
Meu amigo, tanto o contrabaixo como o bumbo, e os tom-tons, são absolutamente fidedignos ao que foram gravados. É uma gravação em que os graves, quando não são corretos, tornam o som cansativo, pois não conseguimos acompanhar as intencionalidades e a complexidade de tempo e andamento. Gravação difícil para qualquer fone e caixa acústica – e o Liric tira de letra essas duas faixas.
Ainda que as texturas não sejam do mesmo refinamento que do Elite, são impecavelmente sedutoras, e nos permitem compreender o quanto fones desse ‘naipe’ nos conduzem ao mais íntimo grau de imersão no tecido musical.
Ouvindo a faixa 2 do disco do baterista Vinnie Colaiuta, em que temos um naipe de metais, no Liric é possível ouvir cada um dos sopros montando o acorde, e não perder – nem por uma fração de tempo – o todo! Esse grau de envolvimento com a música, e de ser conduzido pelas texturas individuais de cada voz para compreender a genialidade do arranjo, da execução e virtuosidade, é primoroso e só entendendo esse padrão de fidelidade é que podemos justificar a nós mesmos o investimento em um fone de 3.300 dólares!
Os transientes podem perfeitamente ainda serem avaliados com precisão pela faixa 3, ainda do disco do Colaiuta, pois o andamento da bateria se contrapõe às cordas que estão em um andamento totalmente distinto dos metais. E se os transientes não forem corretíssimos, a música vira uma massaroca totalmente inaudível!
Quer um outro exemplo para avaliação de transientes? Ouça nesse mesmo disco, na sequência, a faixa 4.
A macrodinâmica do Liric é muito similar à do Elite, mas pelas minhas anotações com os exemplos usados para a nota desse quesito, a diferença é que no Liric o usuário terá que estar atento rigorosamente ao volume da gravação, sem nenhuma folga – o que no Elite ainda foi possível negociar.
Mas nada que não nos faça adorar sua apresentação de fortíssimos, nos volumes seguros.
A micro dinâmica é magnífica, e vou dar dois exemplos, de um mesmo disco, What It Is: Montreal 7/7/83, do Miles Davis. Vamos à faixa 5 e à faixa 8: repare em volumes corretos e seguros, o trabalho do percussionista todo o tempo principalmente no agudo.
Inúmeros fones, simplesmente, dependendo da quantidade de informação existente, mostram e somem com todo o trabalho feito pelo percussionista. Como se o som submergisse e depois voltasse à tona. O Liric, meu amigo, esteja ocorrendo o que for em primeiro plano, você não perderá nem o mais ínfimo detalhe do que o percussionista está a realizar.
Na faixa 8, para piorar a situação, o primeiro solo do saxofonista está muito alto, dificultando bastante toda microdinâmica, não só do percussionista como também do próprio Miles tocando teclado na cama harmônica que ele cria para os solistas brincarem. E depois, temos o primeiro solo do guitarrista dobrado com o saxofonista.
O Liric resolve isso com tamanha folga e graciosidade que, finalmente, entendemos onde está a ‘fronteira’ entre os ótimos fones e os excelentes! O Liric nos coloca no meio do acontecimento musical, seja uma gravação de estúdio ou uma sala de espetáculo, em que a ambiência foi perfeitamente captada!
Aqui não percebi nenhuma diferença da ‘mágica’ que o Elite faz tão bem. E com uma vantagem: o Liric custa muito mais barato que o Elite!
Definir sua musicalidade é semelhante ao ouvirmos a mesma música com dois intérpretes distintos, um está ainda iniciando sua jornada, e o outro se encontra no estágio de domínio total dessa arte. O Liric sempre irá lhe dar a versão mais completa, primorosa e fidedigna do que está a ouvir, mantendo como o Elite o grau de neutralidade necessário para não adicionar nada a mais do que foi planejado pelos músicos e pelo engenheiro de gravação.
CONCLUSÃO
O Liric se coloca tão mais próximo dos dois melhores fones da Meze, que arrisco dizer que eles criaram uma lacuna considerável a ser solucionada entre o 109 Pro e o Liric, e que espero que o departamento de marketing deles resolva em breve essa questão.
Com seu grau de refinamento e consistência de sua proposta em levar um passo adiante o padrão e assinatura sônica da Meze, o Liric é um fone que irá dar muito trabalho não só à concorrência, como ao próprio Elite.
Se todo fabricante de ponta tivesse esse problema, o mercado de fones hi-end estaria um patamar acima do atual, pois o que a Meze conseguiu com o Liric e o Elite, em termos de performance, é algo digno de ser comemorado por todos que desejam fones seguros, corretos tonalmente, e lindamente projetados!
Com esse grau de conforto auditivo e neutralidade, a concorrência que abra os olhos e entenda que fones corretos tonalmente, jamais precisam ser ‘equalizados’ para mostrar todo seu potencial!
Se você tem bala na agulha para um fone dessa magnitude, ouça-o!
PONTOS POSITIVOS
Um fone fechado que possui as melhores qualidades
dessa topologia, e algumas só encontradas nos melhores fones abertos.
PONTOS NEGATIVOS
O preço.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo de driver | Rinaro Isodynamic Hybrid Array MZ4 |
Princípio de operação | Aberto |
Acoplamento aural | Circumaural |
Resposta de frequência | 4 a 92.000 Hz |
Impedância | 30 Ω |
SPL nominal | 100 dB (1 mW / 1 kHz) |
SPL máximo | 130 dB |
Distorção Harmônica Total (THD) | <0.15% |
Peso do fone | 390 g |
Formato do driver | Oval |
Tamanho do driver | 92 x 63mm |
Peso do driver | 71 g |
Tipo de diafragma | Rinaro Isoplanar MZ4 |
Área ativa do diafragma | 3507 mm2 |
Peso do diafragma | 0.08 g |
Massa acústica | 6.5 kg/m4 |
Limites de resposta de frequência do driver | 4 Hz / 92.000 Hz |
FONE DE OUVIDO EDIFIER X3S | ||||
---|---|---|---|---|
Conforto Auditivo | 12,0 | |||
Ergonomia / Construção | 11,0 | |||
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 96,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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