Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Esse será o terceiro modelo da Harbeth testado por nós. Começamos pela impressionante SHL5Plus XD (leia teste na Edição 291), depois a Compact 7ES-3 XD, e agora a M30.2 XD.
Acredito que já possa afirmar ter uma ideia consistente da assinatura sônica das caixas Harbeth, e da razão de ter tantos admiradores espalhados pelo mundo. E já aviso que ganharam mais um admirador, pois dos três modelos avaliados, a impressão que todas me deixaram foi a melhor possível.
E também adianto que a M30.2 XD está entre as minhas books preferidas de todos os tempos, mais adiante explico em detalhes as razões.
Eu não gosto nem de clichês nem de estigmas. Acho que tentar explicar o motivo de determinado produto ter ‘tais e tais características’ se dever à sua origem (como por exemplo dizer que caixas inglesas têm ‘som britânico’) é simplificar demasiadamente suas qualidades e limitações – que todas as caixas, independente do projeto ou preço, têm.
E esses ‘clichês’ não ajudam muito os mais jovens a compreenderem o que se está querendo definir com ‘som britânico’. Diria até que inúmeras caixas que testei recentemente, da Wharfedale, Neat, Q Acoustics e Harbeth, fogem bastante dessa definição, se tornando caixas com uma assinatura sônica muito mais contemporânea e universal.
Claro que, o início de todas essas marcas inglesas certamente tinha algum resquício (ou muito) do ‘padrão BBC’ de monitores, e que, como marketing, foi uma ferramenta e tanto para diferenciá-las dos produtos americanos e asiáticos.
Mas os tempos são outros e os audiófilos, ao escolherem sua caixa acústica, utilizam inúmeros critérios de escolhas e não apenas se aquela marca um dia foi um monitor de estúdio da BBC.
Óbvio que o início da Harbeth está intrinsicamente costurado ao desenvolvimento do famoso monitor BBC LS3/5a, já que seu fundador Dudley Harwood era o engenheiro responsável pelo departamento de pesquisa da BBC, e ganhou enorme respeito ao desenvolver e popularizar o uso de cones de falantes de polipropileno. E que Alan Shaw, o atual proprietário da empresa, ao comprá-la de Harwood em 1986, propôs abrir o leque de produtos, mantendo alguns modelos e conceitos originais dos monitores BBC, e alguns novos modelos como, a 7ES-3XD.
Porém não pense você leitor que os modelos derivados dos monitores se pareçam sonicamente com os modelos originais, pois foram amplamente atualizados e melhorados em todos os aspectos.
Acredito que este seja um verdadeiro ‘dilema’ para muitos fabricantes ingleses, que parece estar sendo solucionado com a volta do modismo ‘vintage’, que possibilita relançar ´ícones’ dos anos 70, totalmente repaginados tecnicamente.
Com alguns se saindo muito bem nessa remodelação – e outros nem tanto.
No caso da Harbeth, esse movimento não foi necessário, pois ela continua fiel ao design original de todos os seus modelos, só avançando no que pode ser atualizado, e diria que esse é o seu maior trunfo em relação à concorrência. Pois que fabricante não deseja poder estar atualizado sem ter que revirar toda sua história?
Já descrevi nos outros dois testes as características essenciais do conceito e filosofia da Harbeth, mas não custa reforçar os aspectos centrais. Os gabinetes continuam, desde sempre, sendo finos, leves, com amortecimento muito pontual em pontos estratégicos, em vez de buscar um gabinete sólido, pesado e inerte.
Funciona? Sim, meu amigo, e muitíssimo bem. Levantando a questão de se existe apenas um caminho correto e todos os outros equivocados.
Mas, ouça e poderá tirar suas próprias conclusões.
Shaw é um projetista metódico e firmemente convicto de seus pontos de vista. Para ele, antes de uma caixa soar bem com música, precisa se mostrar correta na reprodução de vozes falando. E para ele, uma caixa que possa reproduzir corretamente a voz falada, estará apta a se sair bem tocando música. E parece que essa sua convicção, na ‘prática’, se mostrou absolutamente correta!
A M30.2 é uma caixa derivada do monitor muito famoso da BBC, o modelo LS5/9, que era usado como monitor de gravação tanto de programas musicais de pequenos grupos como nos estúdios de radiodifusão. A nova M30.2 XD utiliza o famoso falante de médio-grave de 8 polegadas batizado de Radial2, e o tweeter é um soft dome resfriado por ferrofluido de 1 polegada, fabricado pela SEAS sob especificações da Harbeth.
Resposta de frequência é de 50 Hz a 20 kHz, impedância de 6 ohms, sensibilidade de 85 dB, e a sugestão do fabricante é para usá-la com amplificadores a partir de 25 Watts, sendo sua potência máxima de 150 Watts. E seu peso é de apenas 12 kg!
Ainda que suas dimensões não sejam tão pequenas, você fica com a pulga atrás da orelha dela ser tão leve para o seu tamanho. Não se preocupe, pois essa dúvida irá acabar assim que você a amaciar e sentar para ouvir suas virtudes.
Segundo o fabricante, a nova versão XD é uma atualização da linha 40 Anos, com vários ajustes, incluindo um novo crossover com uma total revisão dos componentes internos da caixa. E a maior mudança é o uso do mesmo falante de 8 polegadas da caixa de referência, a 40.3.
O modelo enviado foi com acabamento Tamo Ash, que eu acho de extremo bom gosto, por ser clean e combinar com o design retrô da caixa.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: pré e power Elipson (leia teste na edição de junho 2023), integrado IS-1000 da Gold Note, e nosso Sistema de Referência Nagra. Os cabos de caixa foram: Oyaide OR-800 Advance, Virtual Reality Trançado e o Dynamique Audio Apex. As fontes analógicas: toca-discos Project XL- 8 (leia Teste 2 nesta edição) e a nossa referência Origin Live Sovereign Mk3. Prés de phono: Cambridge Audio Alva Duo e Gold Note PH-1000. Fontes digitais: streamer Innuos ZENmini Mk3 com fonte externa e transporte Nagra com TUBE DAC.
Muitos leitores, depois dos testes das duas caixas Harbeth, me questionaram se gostei mais de ouvi-las com ou sem tela? E, pela primeira vez na vida, gostei de escutar com as telas. Achei que principalmente no modelo 5L, que tem dois tweeters com a tela ficou muito confortável em gravações tecnicamente brilhantes, e com gravações equilibradas a tela não atrapalha. Com o modelo 7, eu tirei e coloquei várias vezes e, como não ouvi diferença, depois de ajustada a posição na sala, eu decidi fazer o teste todo com as telas.
Já no teste da 30.2 XD, eu nem me dei ao trabalho de tirar as telas, sequer na queima de 200 horas.
Como toda caixa Harbeth, o usuário terá que ser muito cuidadoso com seu posicionamento e altura da caixa em relação ao ouvido. São caixas que, apesar de seus tamanhos, necessitam respirar. E de uma distância mínima entre as paredes, para poder extrair o seu melhor.
Vejo reviews de caixas Harbeth em que o revisor reclama de pouca profundidade, e as caixas estão a menos de 50 cm da parede nas costas, ou enfiadas nos cantos. Minha vontade é gritar para esses revisores: “Harbeth não é caixa Audio Note, meu amigo!”. Elas precisam ter o mínimo de espaço entre elas e das paredes.
E o que é esse mínimo, Andrette? Pelo menos 2.40 m entre elas, e ao menos 50 cm das paredes laterais, e 90 cm da parede às costas das caixas. Não precisa girar a caixa muito para o ponto de audição, mas também não podem ficar totalmente paralelas às paredes laterais (nem tanto à terra, nem tanto ao mar).
O mais essencial: altura dos pedestais. Nada do tweeter muito acima das orelhas, nem abaixo. O ideal é que os tweeters estejam, no máximo, a 5 cm acima da orelha do ouvinte sentado.
Tomadas todas essas precauções, pode iniciar o amaciamento escutando as caixas. Não haverá nenhuma agressividade nos agudos, e nem tampouco ausência de graves.
Você só precisa se lembrar que a caixa é uma book, e que responde a partir de 50 Hz.
Mas não se trata de um 50 Hz tímido ou anoréxico, pelo contrário. Pois têm corpo, peso, energia e velocidade suficiente para reproduzir qualquer gênero musical que não seja turbinado nos graves.
As pessoas com um pé no objetivismo, e a mente respaldada por números, sempre me perguntam se 50 Hz é o suficiente para ouvir música. É mais do que suficiente, diria até que para salas entre 9 e 16 metros quadrados é o que basta!
Mas essas pessoas não acreditam… Nesse caso, ouça! Tire suas próprias conclusões.
As books que mais gosto e tenho como referências absolutas, nenhuma responde abaixo de 50 Hz, e todas elas tocam em nossa sala de 50 metros quadrados, sem nenhuma restrição de gênero musical. Claro que não sou nenhum ‘grave dependente’, e sei que as books bem ‘resolvidas’ em termos de equilíbrio tonal e corpo harmônico, irão contornar essa limitação com enorme graciosidade e maestria!
As duas books que mais admiro, e estão na minha lista de desejos futuros, são a Boenicke W5SE (leia meu Espaço Aberto nesta edição) e agora essa Harbeth 30.2 XD. E posso garantir, meu amigo, que nenhuma delas precisa da condescendência de nenhum audiófilo, ficando ‘com dedos’ no volume com medo de deixá-las constrangidas. Elas aceitam desafios e os resolvem com uma agilidade e graciosidade impressionantes!
Como elas conseguem, é uma verdadeira incógnita, mas suas performances garantem a elas um lugar de destaque absoluto no pódio!
Das três Harbeth que testei, a 30.2 XD soou a mais neutra das três, tornando-se um monitor hi-end interessantíssimo. Pois foi possível observar sem esforço a facilidade com que ela apresenta a assinatura sônica das gravações, da eletrônica e dos cabos.
Seu equilíbrio tonal permite que ela tenha uma folga imensa com gravações tecnicamente limitadas, sem nos fazer aposentar aquela gravação. Seu grave, como já escrevi, tem todos os atributos para não sentirmos falta da fundação dessa frequência, e a região média é puro deleite, sem soar aveludada, nos transmitindo com precisão o que foi captado, mixado e masterizado. E os agudos são corretos, abertos, com grande extensão, e decaimento suave o suficiente para ouvirmos as salas de gravação.
Ela, com os pares certos, é um convite a horas intermináveis de audição sem fadiga auditiva!
O soundstage dependerá exclusivamente do usuário fazer a lição de casa, mantendo os arejamentos necessários em relação às paredes, e a altura correta das caixas em relação ao ouvido. Tomadas todas as precauções, a Harbeth é um requinte na apresentação de foco, recorte e planos. Tanto na profundidade, quanto na largura e altura.
As texturas, como diria meu pai: “são quase que palpáveis”, e não há nenhum esforço adicional para se acompanhar todas as linhas melódicas e ouvir as intencionalidades em toda sua beleza!
Meu amigo, vou te contar um segredo (fica só entre nós, ok?), nenhum monitor de estúdio de pro-áudio tem essa capacidade de apresentar as texturas de maneira tão implacável!
Os transientes são ‘pêra doce’, e absolutamente precisos e corretos em tudo: velocidade, time e ritmo.
Quanto à dinâmica, ainda que a macro tenha que ser avaliada com determinada cautela – não há restrições se os volumes forem os corretos – a 30.2 XD equilibra sua limitação na macro, esforçando-se por fazer de maneira correta o que está em seu campo de atuação.
“Exemplos, Andrette, por favor!!!!!!”
Na Sagração da Primavera, de Stravinsky, não haverá nos fortíssimos aquele baita deslocamento de ar nos tímpanos, no entanto ela não comprime esse fortíssimo a ponto de parecer estar cuspindo e não soando.
Outra qualidade: você não deixa de escutar toda a orquestra nessas passagens (o que é muito comum em todas as books: terem que fazer escolhas antes de entrarem em colapso).
Concerto para Dois Pianos & Percussão, do Bartok: aqui a grande sacada é manter o primeiro plano intacto, ou seja, os dois pianos soarem sem compactar, como se estivéssemos a misturar os dois pianos e colocá-los em uma bola de papel alumínio. Com isso, ainda que as percussões pareçam estar em segundo plano (o que não foi a intenção do compositor nos fortíssimos), o discurso musical como um todo, continua inteligível.
Se é isso que as grandes books podem, no atual estágio, fazer para contornar sua limitação física, a 30.2 XD o faz com propriedade.
Já a microdinâmica, para essa Harbeth, é ‘mamão com açúcar’. Tudo que foi captado e preservado até o estágio final do processo de gravação, estará lá.
Para uma book além da macrodinâmica, o corpo harmônico é outro enorme obstáculo. Aqui, graças ao uso do mesmo falante de 8 polegadas do modelo de referência 40.3, essa questão do tamanho dos instrumentos foi bem resolvido. O exemplo que mais me chamou a atenção, foi na reprodução de todos os pianos solo, em que fechando os olhos os pianos estavam com um tamanho capaz de deixar meu cérebro em dúvida se eram eles na minha frente ou não.
Todo monitor hi-end tem como maior objetivo te colocar dentro da sala de gravação, com os músicos, e não ao contrário – como as melhores caixas hi-end. Nesse quesito, a Harbeth 30.2 é a referência mor das books! Ela faz essa ‘mágica’ com extrema precisão e graciosidade.
CONCLUSÃO
Se me perguntarem se, então, com todos esses atributos a Harbeth pode ser a book final de todos audiófilos? A resposta será, depende do que esse audiófilo espera ou deseja em termos de performance. Se ele tiver o interesse de viver com uma book monitor hi-end, não existe opção melhor, em minha opinião. Agora, se ele deseja mesclar esse grau de ‘aproximação’ tão estreita com o acontecimento musical, com audições em que ele se encontra na plateia, como quando estamos na Sala São Paulo, ela não será sua book definitiva.
Entendeu onde se encontram as virtudes e as limitações de todas as caixas?
Nenhuma jamais irá atender a todas as possibilidades feitas pelos engenheiros de gravação.
“Exemplos, Andrette, exemplos!”
Calma, apressado, darei um único exemplo bem conhecido pela maioria dos audiófilos com mais de 40 anos. A gravação de Belafonte at the Carnegie Hall – ouvindo essa gravação tanto na Harbeth e depois na Boenicke W5, a Boenicke apresentou de forma muita mais fidedigna o ambiente e atmosfera da gravação que a 30.2 XD. Já no exemplo do Joe Satriani, o CD de capa laranja, a Harbeth foi muito mais feliz em sua recriação da sala de gravação, e me colocou em posição privilegiada bem perto dos músicos.
Me fiz compreender?
Se seu gosto musical é muito mais para gravações de estúdio, pequenos grupos e música quase que estritamente com instrumentos eletrônicos, a Harbeth 30.2 é o monitor hi-end que você precisa, para em cada audição ser transportado para aquela sala específica junto com os músicos.
E se você tiver ‘bala na agulha’, provavelmente a Harbeth 40.3 atenda aos que desejam mais adrenalina na reprodução da macrodinâmica.
PONTOS POSITIVOS
Uma book monitor hi-end de altíssimo nível.
PONTOS NEGATIVOS
Ela, apesar do seu tamanho, é crítica com o arejamento e
altura do pedestal.
ESPECIFICAÇÕES
Drivers | • 200 mm médio-grave Harbeth RADIAL2 • 25 mm tweeter domo com ferrofluido |
Resposta de frequência | 50 Hz a 20 kHz (±3 dB) |
Impedância | 6 ohms |
Sensibilidade | 85 dB (2.83V / 1m) |
Amplificação sugerida | 25 W / canal |
Potência máxima | 150 W |
Dimensões (L x A x P) | 277 x 460 x 275 mm |
Bornes | 4 mm Harbeth |
Peso | 11.6kg cada (sem embalagem) |
Cor da tela | Preta |
AMPLIFICADOR DE POTÊNCIA MARK LEVINSON Nº5302 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 13,0 | |||
Organicidade | 13,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 100,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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