Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Eu não testava um toca-discos deste fabricante austríaco faz mais de uma década, com certeza.
Então, quando o distribuidor no Brasil me ofereceu a oportunidade de ouvir o novo X8, lançado ano passado, aceitei de imediato.
O fato de não testar, não significa que não acompanhe os passos e os reviews lançados lá fora. E de uma empresa que por longo tempo foi mais conhecida pelo lançamento de toca-discos de entrada e, aos poucos, foi ampliando seu leque de atuação com toca-discos mais sofisticados, e que a partir do modelo Xtension 9 ampliou seu público e ganhou espaço no segmento mais acima, foi o que me levou a ficar mais atento com seus novos lançamentos da linha X.
O primeiro grande diferencial do X8 é seu braço rígido de carbono, Evo, de 9 polegadas, sendo uma evolução dos braços desse fabricante de carbono com alumínio. É feito em uma peça única com rolamentos de esfera ABEC7 em um berço de rolamento pesado em formato de C. Tanto o azimute como o VTA são ajustáveis.
A cápsula escolhida pelo fabricante, incluída no pacote, foi a excelente Ortofon Quintet Blue, MC de baixa saída. O que foi uma surpresa, sinalizando ao consumidor que o X8 é para ser instalado, ajustado e esquecer de upgrades futuros!
O X8 surpreende em todos os detalhes como uma base de MDF em acabamento nogueira, preto, branco ou laca de piano (o modelo que nos foi enviado para teste), e um prato de mais de 5 kg de liga usinado, com 3 cm de espessura. O rolamento principal invertido usa uma esfera de cerâmica com suporte magnético, para um funcionamento suave e para evitar um maior desgaste do rolamento em seu ponto de contato.
Segundo o fabricante, essa fricção é extremamente baixa, possibilitando o prato girar por até 4 minutos sem a correia.
O motor escolhido é eletronicamente acionado, e utiliza uma pequena fonte de 15V. O fabricante explica que, pelo peso do prato, a velocidade leva até 5 segundos para ser totalmente estabilizada, e daí ela é totalmente estável. O motor é incrivelmente silencioso.
E, para fechar o pacote, o X8 vem com uma excelente tampa protetora de acrílico.
Para a instalação, mais uma vez contei com o colaborador André Maltese, que não só ajustou minuciosamente o X8, como didaticamente foi me apresentando os cuidados que se deve ter para extrair desse toca-disco todo seu potencial. E se você não tiver o ferramental para o ajuste, e prática em instalação, você terá dificuldades para extrair o último sumo desse toca-discos!
Para o teste, utilizamos os seguintes prés de phono: Gold Note PH-10 e PH-1000, e o Cambridge Audio Alva Duo. Integrados: Gold Note IS-1000, pré e power Elipson, e nosso Sistema de Referência para o fechamento de nota.
Até pensei no primeiro momento em usar outras cápsulas, para observar o casamento do braço EVO com elas, mas como o ‘pacote’ vem fechado, achei que não valeria a pena. Pois o casamento da Ortofon com o braço EVO é de alto nível!
Como escrevi acima: é instalar, ajustar, ver se o pré de phono está à altura do X8, e esquecer de upgrades futuros. Pois a performance é realmente de alto nível, com uma relação custo/performance muito boa!
Eu bato na tecla apenas que será importante o pré de phono estar no mesmo nível. Pois se com o Alva Duo tudo pareceu correto, o X8 cresceu exponencialmente com o PH-10, mostrando ser o conjunto mais adequado para esse toca-discos.
Então, amigo leitor, a nota final foi com o PH-10, ok?
A Quintet Blue da Ortofon é uma cápsula bastante exigente com os braços, pois se a colocar em um braço unipivô de muito baixa massa, os graves podem soar ocos e magros. Ache o braço certo e os graves terão corpo, peso e velocidade. Acho que os engenheiros da Pro-Ject foram muito felizes na escolha dessa Ortofon para o braço EVO. Pois é audível o quanto esse casamento favoreceu o equilíbrio tonal do setup.
A Quintet sempre foi aberta o suficiente na região média, sem nunca parecer excessivamente transparente ou cansativa, e os agudos ainda que não tenham a última palavra em extensão, possuem arejamento e decaimento corretos. Nesse casamento cápsula / braço, o que predomina é um alto grau de versatilidade e convencimento de se estar fazendo o melhor em qualquer gênero musical.
Isso é essencial em toca-discos na faixa de preço do X8, pois quem investe esse valor, não deseja mais ter restrições no que escuta.
Investe a mais, justamente para poder desfrutar de audições que traduzam de maneira eficaz as qualidades do analógico!
O soundstage é preciso em termos de foco, recorte e planos.
Ainda que falte aquele arejamento final em termos de largura e profundidade, que nos fazem lembrar o quanto o analógico sempre foi muito bom em nos apresentar palcos sonoros tão realistas.
O interessante é que, para levantar essa ‘lebre’ da largura e profundidade, você precisa ouvir setups analógicos mais sofisticados, caso contrário, você nem perceberá. E se for comparar com as mídias digitais, você achará que no analógico não falta nada.
As texturas são outro ponto alto da Quintet Blue com o braço EVO. Lindas as apresentações em detalhes de cada voz, suas paletas de cores e nuances. É possível passar dias ouvindo as mesmas gravações, dissecando detalhes de intencionalidade, fraseados intrincados, sem perder o interesse pelo todo.
Assim como ouvir os transientes dessa cápsula, e sua facilidade em nos marcar o ritmo e andamento de cada compasso.
Claro que não é apenas mérito da cápsula essas virtudes. Não podemos esquecer que no analógico o que temos é a soma das partes, e se essas não estiverem perfeitamente ‘azeitadas’, a ‘magia’ não ocorre!
A dinâmica é como todo bom analógico, parte ‘nobre’ dessa topologia. Quando colocamos o X8 ligado no PH-10, a macrodinâmica cresceu muito. O primeiro disco que ouvi nessa configuração foi justamente a Sinfonia Fantástica de Berlioz, do selo Reference Recordings, uma gravação estupenda para avaliar variação dinâmica, e o X8 se sentiu à vontade, sem nenhum resquício de compressão ou frontalização nos fortíssimos. A micro é excelente, sem se sobrepor ou ter mais evidência que o acontecimento principal.
Impossível falar de algum problema com a reprodução do corpo harmônico com esse setup. É preciso mostrar aos que nunca ouviram um bom setup analógico, a beleza da reprodução dos instrumentos como piano, contrabaixo, órgão de tubo, quando foram bem captados e seu tamanho for ‘real’. Já convenci muito jovem que relutava em acreditar nas virtudes do analógico, mostrando o tamanho dos instrumentos no digital e depois reproduzindo o mesmo disco no analógico.
O acontecimento musical sempre esteve presente e materializado em nossa sala, com esse setup. Mas uma gravação soou surpreendentemente materializada: Armstrong e Ella, no disco do Cole Porter.
Uau!
Que audição inesquecível!
CONCLUSÃO
Falar em gastar 30 mil reais em um setup analógico, pode parecer uma afronta nos dias de hoje, quando muitos sonham em montar seu sistema completo com esse valor. Porém temos realidades e realidades. Distintas, sempre.
E muitos leitores me pedem upgrades finais de toca-discos completos nessa faixa de preço. Por isso mesmo eu tive o interesse de avaliar esse novo Pro-Ject, pois ele se encaixa na expectativa desses leitores.
O que posso dizer em sua defesa, é que se trata de um investimento final, desde que você tenha um pré de phono e o resto do setup no mesmo nível.
Lembre-se que, no pacote, você estará abraçando uma cápsula MC, e que por tanto você terá que ter um pré de phono apto para cápsulas MC. Também será preciso um rack de bom nível para sua instalação, pois ele não poderá, como um TD de entrada, ser instalado em uma estante ou em cima de um caixote de laranja do Ceasa (como vi recentemente um Rega P1).
Com seus devidos pares similares, local adequado, todos que fizerem esse investimento serão retribuídos com um TD de excelente nível, e que o fará ouvir seus discos com alto índice de satisfação!
E o mais legal: descobrir um universo de detalhes jamais escutados!
Se esse é seu grande objetivo para justificar você jamais ter aberto mão de sua coleção de LPs, que seja feita a sua vontade!
PONTOS POSITIVOS
Um excelente toca disco, muito bem planejado e construído.
PONTOS NEGATIVOS
O cabo da fonte é inadmissível para um toca disco que foi tão assertivo em tudo!
ESPECIFICAÇÕES
Velocidade | 33, 45 (comutação eletrônica) |
Tipo de tração | Belt-drive |
Cabo de phono incluso | Connect it E 5P > RCA (1.23m) |
Cápsula inclusa | Ortofon Quintet Blue (MC de saída baixa) |
Pés de alumínio | Amortecidos, e com regulagem de altura |
Prato | 5.1 kg (em alumínio amortecido) |
Rolamento | Rolamento invertido com bola de cerâmica em suporte magnético |
Wow & flutter | ±0,11% (em 33) / ±0,10% (em 45) |
Variação de velocidade | ±0,11% (em 33) / ±0,09% (em 45) |
Relação sinal/ruído | 73 dB |
Braço | 9“ em fibra de carbono (8.5g de massa efetiva) |
Consumo | 5W (0,3 W em standby) |
Dimensões (L x A x P) | 465 x 150 x 350 mm (com tampa acrílica fechada) |
Peso | 15kg |
TOCA-DISCOS PRO-JECT X8 COM A CÁPSULA ORTOFON QUINTET BLUE E PH-10 |
||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 93,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Mediagear
contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 32.000