Christian Pruks
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Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio
O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.
Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!
MADE IN EUROPE
A Philips era uma gigante no ramo de eletrônicos, na Europa, na década de 70. Inclusive montes de empresas européias de áudio usavam componentes eletrônicos, alto-falantes, e tecnologia licenciada pela Philips, como Grundig, Telefunken, B&O e ITT.
A relevância da empresa era grande, assim como sua disposição para riscos e inovação.
AS CAIXAS ACÚSTICAS PHILIPS MFB
As MFB – Motional Feedback – são um tipo de caixas acústicas que a gigante eletrônica holandesa lançou entre as décadas de 70 e 80. Eram caixas amplificadas para serem usadas ligadas a um pré-amplificador de linha ou saída ‘pre-out’ de integrado ou receiver. Usavam alto-falantes decentes e tinham uma série de regulagens especiais: atenuação de graves e agudos, sensibilidade de entrada, correção para proximidade com paredes traseiras ou laterais, etc.
Sua distinção era ter um acelerômetro piezoelétrico ligado ao cone do woofer, que permitia um circuito da caixa comparar o sinal no woofer com o sinal que estava na entrada do amplificador, e se necessário modular os graves e o comportamento do woofer. O resultado disso era distorção extremamente baixa com altos volumes de som e em picos, e com conteúdo que tivesse grande dinâmica. Além de uma extensão de graves maior do que a esperada para um gabinete reduzido.
O sistema MFB em si, hoje, não é um grande segredo, e é usado já faz algum tempo em alguns subwoofers ativos, e caixas ativas – principalmente de estúdio. E, claro, a tecnologia hoje é mais moderna, e o sistema de comparação entre entrada e saída, e controle e correção dos graves é, frequentemente, feito no âmbito digital.
Na verdade, a ideia desse feedback dos woofers com correção dos graves, já chegou a ser estudada e patenteada por décadas, antes da Philips, por várias empresas e engenheiros hoje desconhecidos, até antes da década de 50! E, na década de 60, um sistema semelhante chegou a ser patenteado pela japonesa Matsushita (National Panasonic).
A Philips simplesmente foi a primeira a fazer um produto comercial – o qual, aliás, não foi muito bem sucedido, mas que hoje é objeto de colecionadores e até de engenheiros de gravação e mixagem. Até porque, caixas ativas sempre tiveram seu mercado maior no pro-audio, e só nos últimos tempos voltaram a seduzir audiófilos. Eu mesmo acho que uma boa caixa ativa, bem projetada, é altamente promissora em matéria de qualidade sonora, chegando a ser superior à maioria dos conjuntos de caixas passivas e amplificador, do mesmo nível de recursos e preço.
Mesmo à época, as qualidades sonoras do segundo modelo da linha, a RH544, a tornaram a mais querida, porque era uma book com tamanho de book mas com 3 vias e um som que agradou audiófilos mais ‘atirados’ e muitos engenheiros de som.
O resultado: a RH544 foi utilizada em estúdios de gravação e mixagem, por décadas, mesmo após parar de ser produzida. Andy Jackson, o engenheiro de gravação e mixagem que trabalhou com o Pink Floyd desde logo após o The Wall, até o último disco deles, The Endless River, afirmou que a RH544 foi usada nos estágios finais de mixagem de álbuns como The Final Cut e The Division Bell, e no Pros & Cons Of Hitchhiking, disco solo de Roger Waters, que tinha acabado de sair da banda.
O gerente de produtos da Philips, na Holanda, que criou a linha MFB, foi Piet Gouw, com o modelo RH532 no começo da década de 70 e, depois, em 1975, com seu apoio ao projeto e acompanhamento frente à empresa, vieram a primeira linha principal das MFB, que continha quatro caixas tipo bookshelf: RH541 de 2 vias, RH544 e RH567 (mais rara) de 3 vias, e a maior, a RH545, uma book grande com woofer de 12 polegadas (do mesmo jeito que são as ‘books’ grandes de hoje em dia, que necessitam de pedestais específicos), também de 3 vias.
MODELOS SEMELHANTES
O primeiro par de caixas da Philips com o sistema Motional
Feedback foi a RH532, uma book grande de 3 vias, cuja moderada aceitação levou Piet Gouw a convencer a Philips a investir em uma linha completa, a RH.
Depois da RH, já na virada da década 80, veio a evolução da linha, com circuitos mais modernos e falantes melhores: dois modelos de bookshelf de 2 vias AH585 e AH586, e a book grande de 3 vias e AH587 – todas com um design mais avançado, e tweeters e médios de domo de tecido.
A terceira linha de caixas MFB da Philips seria a iniciada pela F9638, uma pequena torre de 3 vias, com diafragmas planos nos woofers e médios, e tweeter tipo ribbon, lançada no meio da década de 80, e sem grande sucesso comercial, infelizmente.
Ainda na década de 70, a dinamarquesa Jamo lançou uma linha com quatro modelos de caixas ativas usando a tecnologia MFB, que são: MFB-90, 100, 200 e 300.
Não muito tempo depois, já na década de 90, a Sony lançou um system de boa qualidade, chamado La Scala 1, cujo diferencial real eram as caixas: as SA-S1, ativas, amplificadas, com um tweeter eletrostático e um woofer com sistema de Motional Feedback. Até onde eu sei, essa foi a única caixa assim que a Sony fez – e é bastante cobiçada e valorizada por colecionadores e aficionados.
COMO TOCAM AS PHILIPS MFB
Como ponto fraco, o tweeter de domo de poliéster – muito usado em várias caixas europeias na década de 70 – deixava a desejar, principalmente em relação a arejamento, extensão e naturalidade tímbrica. Tanto que a própria Philips, na segunda geração, já usava domo de tecido.
O som das MFB originais é bastante correto, limpo, cheio – e musical para a época. Mas o ponto forte eram os graves, que eram articulados, fortes, profundos e cheios, principalmente para o tamanho das caixas. Seu som, considerado bastante correto, acabou levando as caixas para estúdios de gravação e mixagem.
SOBRE A PHILIPS
Não tem muito o que dizer sobre a Philips, a não ser que é uma gigante de produtos eletrônicos de consumo, e também fornecedora de tecnologia em várias áreas, principalmente de semicondutores.
Passando por nossas vidas, da Philips, tivemos todo tipo de eletrodomésticos e utensílios eletrônicos para cozinha, aparelhos de barba (que venderam 300 milhões de unidades), escovas elétricas, televisores, lâmpadas (tanto incandescentes como de LED) e fones de ouvido. E equipamentos de som, como amplificadores, receivers, caixas-acústicas, toca-discos, tape-decks cassete e rolo.
A Philips foi a inventora da fita cassete, co-inventora do CD com a japonesa Sony, e co-inventora do DVD. E fundou os selos de gravação de discos Philips Records e PolyGram.
Com várias mudanças de rumo, e deixando de atuar em várias linhas de produtos, a Philips hoje continua em pé, mesmo sem ser o mesmo gigante que já foi.
Um bom setembro cercado de muitos aparelhos de som!