Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Jazz Fusion / Jazz Latino
Formatos Interessantes: Vinil Nacional / Importado
A melhor coisa que é possível trazer a esta coluna mensal, são LPs cujas prensagens nacionais têm excelente qualidade de som – tornando o acesso a essas obras muito mais fácil para o audiófilo-melômano brasileiro, principalmente com os preços dos vinis do jeito que estão.
Definir a obra de Egberto como simplesmente “jazz fusion”, é uma limitação tremenda! Assim como tudo que tenha algum cunho jazzístico, que se origine da América Latina, é chamado de “Latin Jazz” – e a música brasileira com tempero de jazz já é tão diferente entre si, tão variada, imagina então querer compará-la (ou colocá-la no mesmo saco) que o Latin Jazz dos vários países de origem hispânica do cone sul, como o tango jazzístico de Piazzolla na Argentina. Ou, indo mais longe, o jazz cubano tão bem demonstrado no disco e documentário do Buena Vista Social Club.
Eu diria que a música de Egberto Gismonti é uma visão de alta capacidade instrumental, de erudição musical, sobre a música folclórica e popular brasileira. Eu gosto de chamar de ‘world music instrumental com influência de jazz’. E, assim, Gismonti soa como: Gismonti!
Dança das Cabeças – em parceria com o percussionista pernambucano Nana Vasconcelos – é seu primeiro disco pelo célebre e elaborado selo alemão ECM de jazz, música instrumental e world music, gravado no final de 76, em apenas três dias, no Talent Studio em Oslo, na Noruega. O disco foi lançado em 1977 através do selo ECM e, no Brasil, pelo selo EMI, por onde Gismonti já gravava.
É o 11º título da discografia do artista – que hoje compreende mais de 40 discos de estúdio.
O conhecimento e a proficiência musical de Egberto vêm de ter começado a aprender piano aos cinco anos de idade, depois expandindo seus estudos para flauta, clarinete e violão, no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro, depois pesquisando música popular e folclórica brasileira, e no final da década de 60 música dodecafônica e análise musical – com Nadia Boulanger, que foi professora de grandes compositores como Leonard Bernstein e Astor Piazzolla, entre muitos outros.
A eterna dedicação à pesquisa musical, levou Gismonti ao choro com o violão de oito cordas, aos sintetizadores, e à música indígena brasileira do Alto Xingu. Sua musicalidade e proficiência o levaram à colaborações com Nana Vasconcelos, Charlie Haden, Jan Garbarek, André Geraissati, Jaques Morelenbaum, Hermeto Paschoal, Airto Moreira e Flora Purim. E a qualidade de sua obra levou-a a ser tocada por grandes instrumentistas como Pedro Aznar, Delia Fischer, Esperanza Spalding, Hamilton de Holanda e André Mehmari.
Dança das Cabeças foi premiado como Disco do Ano pela revista audiófila americana Stereo Review, em 1977, assim como pela revista americana especializada em jazz, Down Beat. Na obra, Gismonti toca violão de 8 cordas, flautas de madeira, piano e voz, e Nana Vasconcelos: percussão, berimbau e voz. O disco também foi responsável por lançar no exterior a carreira de Vasconcelos, que passou a ser considerado um dos melhores percussionistas do mundo.
Para quem é esse disco? Para todos que gostam de música brasileira, jazz, música instrumental da melhor qualidade, em uma excelente gravação. Cuidado, pois causa interesse profundo na bela e prolífica obra de um dos melhores músicos, arranjadores e compositores brasileiros.
Claro que, pela ECM Records, há prensagens japonesas, alemãs e americanas da década de 70 (todas desejáveis, nessa ordem). Mas, para quem não quer fazer esse garimpo, e pagar os preços nervosos do mercado de vinis, é fácil de encontrar a prensagem nacional pelo selo EMI, que é surpreendentemente boa! Para os mais abonados, em 2016 a ECM prensou Dança das Cabeças em 180 gramas, na Alemanha e nos EUA.
Boa música a todos!