AUDIOFONE – Editorial: FONES: ‘SONORIDADE ESPECÍFICA’ OU DE REFERÊNCIA?

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

O mundo é composto de gente demais, culturas demais, experiências demais – de novos e profundos aprendizados durante a vida inteira, para passarmos por ela com o sentimento de que o mundo e as coisas têm que se adaptar às nossas vontades e gostos. Ou, talvez, seja apenas um fetiche do ser humano, de moldar o mundo à sua vontade. Ou apenas eu sendo um pouco chato… A verdade é que vivemos na ideia do ‘customizável’, do personalizado.

Calma que eu já explico onde quero chegar.

Quanto ao áudio em geral, eu parto de alguns princípios básicos que eu considero sensatos: verossimilhança quanto ao acontecimento musical ou mesmo ao som original do instrumento musical – e que isso naturalmente resulte em um Equilíbrio Tonal que tenha a ver com essa realidade.

Veja bem: Realidade. E, em termos de música, a Realidade é magnífica!

Diz-se, sobre o áudio em geral, que o mercado é um Faroeste: ‘Sem Lei & Sem Ordem’… rs… Se é assim, então o mercado de fones de ouvido é mais ou menos um faroeste de Quentin Tarantino, ambientado no filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola – com abelhas assassinas em um constante ‘baile funk de morro’. Rs…

Sério! Quando mais se estuda sobre, e ouve-se os fones de ouvido disponíveis no mercado hoje, mais caótico é! Pelo menos existe, dentro do áudio de sistemas de som com caixas acústicas, alguma Referência, alguma ideia do que é uma sonoridade geral.

Mas, em fones de ouvido, prevalece o gosto pessoal de cada um – sem compromisso com Referência. E eu me pergunto, há tempo, o porquê disso.

E a melhor resposta que eu consegui dar a mim mesmo, até hoje – tirando a questão de muitos acharem que o mundo deve se daptar a eles – é que, simplesmente, as pessoas não têm Referência sonora.

Os mais descolados dos especialistas em fones de ouvido, na melhor das hipóteses, têm como Referência outros fones de ouvido, ou mesmo a busca de um conhecimento mais profundo sobre como soariam as gravações originalmente em estúdio – o que é uma busca infrutífera, porque muitos sistemas de som hi-end apresentam não só um som de melhor qualidade, como um detalhamento superior ao do que você ouviria em uma sala de controle, monitoramento e mixagem da maioria dos estúdios que já existiram. Mas, esse aspecto específico seria caso para um artigo dedicado.

O passo seguinte, da ‘Referência’ desses profissionais de fones de ouvido, foi analisar a validade da afirmação de que o disco tem que soar “como era a intenção do artista”. Ora, conheci muitos músicos na vida, e quase nenhum deles era audiófilo (bom tema para outro artigo), por inúmeras razões. Os músicos, geralmente, se importam mais com a forma musical e sua mensagem, do que com a qualidade sonora de seus discos – ou de qualquer outro disco de qualquer outro artista. E, me parece, muitos dos profissionais de fones de ouvido já entenderam isso, e parecem achar que isso os liberta para definir os fones de ouvido ainda mais só por ‘gosto pessoal’.

Claro que, de vez em quando, você topa com algum deles que é uma alma iluminada, que diz que fones têm que ser avaliados com música acústica e que tenha vozes. E por que, caro leitor? Porque esses são ‘instrumentos’ que sabemos como soam. Simples assim!

“Ah, mas cada gravação é uma, e tem ainda o ambiente onde foi gravado, e tem equalização – então não dá para avaliar, então, se cada uma é uma!”. Veja, isso é pensar Quantitativamente, é pensar em “mais” ou “menos”, em quantidade. É desconhecimento de que existem numerosas características Qualitativas no som dos instrumentos – até mesmo do eletrônicos!

E como saber como tocam os instrumentos, para usá-los como Referência? Bom, você já tem voz e violão acústico, por exemplo – além de vários instrumentos de percussão, e de flauta, que são os mais acessíveis ao público em geral. Muitos bares e afins têm apresentações de jazz e de MPB que são, em sua maioria, acústicas. E não, meu amigo, uma apresentação amplificada não serve como Referência sonora.

Claro que é possível, para uma grande parcela da população, procurar uma apresentação de orquestra sinfônica, ou de grupo de música de câmara. “Ah, mas eu sou roqueiro ou gosto de música eletrônica, não tenho vontade ou paciência para ver orquestra, acho chato!”. Veja, a compreensão da sonoridade da música em seus aspectos Qualitativos, é o que lhe dará Referência para escolher os melhores fones de ouvido, e ouvir sua música com a melhor qualidade sonora possível para seu poder aquisitivo. E isso dá trabalho.

Mas, por que a Referência tem que ser essa? Porque não se faz (ou se distingue a qualidade) de bala de morango, ou biscoito de morango, ou iogurte de morango de qualidade, sem se saber como é o gosto de um morango! Não se define que aquele iogurte de morango tem o “melhor” sabor de morango, dizendo que ele é parecido com o gosto do biscoito de morango! Ele tem que parecer os aspectos Qualitativos de um morango fruta real!

Ah, também é preciso ter espírito crítico quando se ouvir os instrumentos acústicos ao vivo. É preciso prestar atenção nos vários aspectos de sua sonoridade. Não é como apreciar arte, e olhar um quadro de longe, com um olhar ‘abstrato’ e ver o que ele desperta de sentimentos e sensações em você, ou não. É para ler um pouco sobre o pintor do quadro, sobre em qual movimento e estilo artístico ele pintou, e analisar um pouco de sua técnica de pincelada, de cores, de luz e sombra, de sensação de profundidade. É uma análise e uma decisão informadas!

Na base da “Sonoridade Específica” – que é a informada apenas por ‘Gosto Pessoal’ – a qualidade sonora real é raramente atingida.

E se você está aqui, lendo essas proverbiais “mal traçadas linhas”, é porque sua preocupação com qualidade sonora é maior do que a usual. Certo?

Audiofilia, ser aficionado por Qualidade Sonora, não é nada fácil. Nenhum hobby ou interesse ‘Qualificado’ é superficial, e nem nunca será. Todos dão muito trabalho, mas são muito gratificantes.

Bom novembro, e boas audições!

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