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TRANSPORTE DE CD ROKSAN ATTESSA

Fernando Andrette

Esse teste era para ser primeiro o integrado Roksan Attessa e, na sequência, o Transporte de CD. Porém assim que ambos chegaram, recebemos a notícia que o integrado havia sido vendido e era o último em estoque.

Então invertemos a ordem, e assim que a Mediagear receber um novo lote, apresentaremos nossa avaliação do integrado.

A princípio fiquei na dúvida se seria interessante testar o Transporte sem seu par de dança, mas assim que o colocamos para trabalhar com o DAC Gold Note e com o Nagra TUBE DAC, ligado pela sua única saída digital (coaxial), vimos que ele era perfeitamente capaz de se juntar a outros DACs e fazer bonito!

Seu design é bastante slim, e possui um painel limpo, que me agrada bastante. Mas não se enganem com essa aparente simplicidade, pois o que ele se propõe a fazer o faz de forma muito precisa e competente, que é a recuperação máxima das informações contidas na mídia, minimizando o caminho do sinal e reduzindo de maneira eficaz o jitter.

Seu comando através do controle remoto é preciso e com botões fáceis de memorizar. A Roksan envia junto com o Attessa até mesmo um cabo digital coaxial, que na emergência pode perfeitamente fazer seu papel de transportar o sinal digital do leitor para o conversor externo.

Aí muitos de vocês devem estar se perguntando: mas não seria mais fácil investir em um CD-Player em vez de um transporte que apenas lê PCM? Depende da situação. Caso você tenha um bom integrado com um DAC incluso, como é o caso de inúmeros bons integrados atuais, será muito mais interessante um bom transporte do que um CD-Player mais caro que o Attessa, e que provavelmente não terá um DAC interno tão bom como dos melhores integrados Estado da Arte.

E a segunda hipótese, para a existência de CD Transporte, é para aquele audiófilo que não caiu pela segunda vez na história do ‘novo padrão’, como caiu na passagem do analógico para o digital, se desfazendo a preço de ‘banana’ de seus LPs. E que, ainda que tenha um streamer, continua ouvindo seus CDs.

Então vá se acostumando, pois inúmeros fabricantes estão voltando a lançar CD Transporte, como a Roksan e a Audiolab, buscando atender os audiófilos que não estão dispostos a investir nos transportes ultra hi-end.

O gabinete é de aço chapeado, e o painel frontal é de alumínio anodizado. No painel você pode manualmente deixar o produto em standby, ejetar o disco, voltar a faixa, pausar e dar play. No controle remoto você terá mais autonomia para uso de todos os controles necessários.

Como já escrevi, o Attessa dispõe de apenas uma saída S/PDIF coaxial PCM (16-bits /44.1 kHz). E reproduz apenas CD/CD-R Red book.

Para o teste utilizamos ele com as 4 caixas disponíveis: JBL L100 Classic, Harbeth Compact 7ES-3 XD (leia Teste 1 nesta edição), Monitor Audio Gold 300 série 5, e Estelon X Diamond Mk2. Os cabos coaxiais foram vários: o da própria Roksan, Chord Clearway Digital, Transparent Audio Reference G5, e Quintessence da Sunrise Lab.

Para os que não acreditam que cabos fazem diferença, ótimo! Pois o cabo que vêm com o Attessa é bastante honesto. Falta maior arejamento nas duas pontas, a região média é um pouco mais escura e, quando se escuta passagens com muita informação, o som tende a chapar e ficar bidimensional, e mais frontalizado. Mas para os que não acreditam em diferenças em como o ‘zero e o um’ estão sendo transmitidos, está tudo certo.

Com o cabo original, o Roksan Attessa seria injustamente sacrificado com a perda de pelo menos 6 pontos. E se o sujeito também não acreditar em cabo de força, e colocar o original emborrachado, o Attessa perderá mais uns 4 a 5 pontos.

E o que são 10 a 11 pontos, não é mesmo?

Então, aos que acreditam que cabos podem melhorar a performance de um sistema hi-end, usem os cabos originais enquanto ganham fôlego para novos upgrades. Mas saibam de antemão, que o produto estará sendo subutilizado.
E uma outra informação (aos que acreditam em cabos): ele melhora muito se os cabos de força e digital forem escolhidos criteriosamente.

Tanto que o testamos ligado a dois excelentes DACs, um de 100 pontos com fonte externa e outro de 105 pontos, e ficou claro que a escolha de cabos para atender as exigências de DACs de alto nível, deu resultado no Roksan Attessa.
Você não vai colocar um Dynamique Apex, ou um Transparent Reference G5, nem tampouco um Quintessence Aniversário. Mas sim um bom coaxial, que possua uma assinatura sônica aberta, detalhada, com boa extensão nas pontas, equilibrado tonalmente e que consiga em passagens com muita informação manter o palco sem chapar ou deixar tudo frontalizado.

De cabos nacionais eu indico as séries mais intermediárias, tanto da Virtual Reality, como da Sunrise Lab, e dos importados gosto muito das linhas atuais da Kimber Kable, Chord, QED e Dynamique Audio. Todos esses certamente atenderão muito bem ao Roksan Atessa.

O mesmo em relação aos cabos de força: um Transparent PowerLink MM2 foi matador. Quem sabe se consegue um usado no mercado por um bom preço, ou um Oyaide, ou os nacionais da Sunrise Lab ou Virtual Reality.

Usei esses quatro com excelente resultado. E com todos recuperamos os 11 pontos perdidos com os cabos originais.
Aos incrédulos, sei que não terei argumentos suficientes. Aos que já ouviram diferenças, entenderão bem aonde desejo chegar: que é extrair o máximo desse Transporte da Roksan.

Gostei de sua maneira de ler os discos, pois possui autoridade, firmeza na apresentação de microdinâmica, velocidade para ditar corretamente o ritmo e tempo da música, corpo harmônico surpreendente para o seu preço, e a macrodinâmica correta – ainda que não leve o ouvinte a pulos e sustos.

O equilíbrio tonal com os cabos corretos, será o do DAC, assim como a apresentação das texturas e da materialização física do acontecimento musical (organicidade).

Mas, para se ter esses três quesitos de maneira correta, significa que o Roksan está cumprindo seu papel de ler corretamente os bits e entregar adiante.

Ele casou muito bem com o Gold Note DS-10. Diria que foi uma grande surpresa, pois o DS-10 com a sua fonte externa é um Estado da Arte de 100 pontos! Então, achei que ele, à princípio, seria muita areia para o caminhão do Roksan, e não foi!

Por isso que me animei, ao final do teste, em ligar o Roksan ao Nagra TUBE DAC e ver se ele despencaria do precipício, ou se manteria sua ‘dignidade’, de ser esforçado e coerente.

E manteve!

Quem tem um sistema ajustado acima de 95 pontos, sabe o drama que é quando algum componente vai para a manutenção, ou foi vendido, o que significa ‘adaptar’ a audição a um elo fraco que entra para ‘quebrar o galho’. Quem já não teve que usar aquele velho e surrado Oppo como transporte, enquanto o seu Transporte foi para o estaleiro? Quantos, por um longo período, não insistiram nessa composição, de pegar a saída coaxial do seu CD/DVD e usá-lo como transporte até perceber que essa composição estava destruindo todo o investimento feito e o gosto em ouvir sua música?

O Attessa não será um estepe, isso eu garanto meu amigo. Em sistemas de 88 a 92 pontos, ele não será o elo fraco de seu sistema, e poderá lhe surpreender em como se esforça para entregar o que prometeu a um custo muito honesto.
Se você possui mais de 500 CDs, não caiu no canto de sereia do streamer já estar no mesmo patamar que o CD, e possui um DAC (seja externo ou interno no seu integrado), faça esse investimento. Garanto que se sentirá feliz por resgatar seus CDs e poder comparar com o streamer, e perceber a burrada que estaria a cometer se vendesse seus discos.

Espero que, em breve, o mercado tenha mais opções de Transportes bons e baratos!

Certamente isso dará, aos que estão sem poder ouvir sua cedeteca, a chance de recuperar essas gravações novamente.

Uma bela surpresa sem dúvida alguma!

Nota: 90,0
AVMAG #293
Mediagear

contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 7.883

CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50

Fernando Andrette

Se você tiver mais de 50 anos, lembrará em detalhes quantos audiófilos e melômanos abriram mão de seus LPs para mergulhar de cabeça no disquinho prateado. Possibilitando muitos montarem suas coleções de vinil gastando de 5 a 25 reais por disco e, às vezes, encontrando raridades e até mesmo discos lacrados!

Eu e muitos dos meus amigos fizemos a festa e garimpamos preciosidades tão desejadas nos anos 80 e 90.

Agora o mesmo processo se repete com o disco prateado, e tenho feito a festa adquirindo gravações excepcionais por menos de 20 reais!

E fico me perguntando, cada vez que visito os sebos em São Paulo, se os que estão ‘entregando’ seus CDs também cometeram esse erro antes com o LP, ou é uma outra geração?

Em uma pesquisa recente feita com consumidores de música em mídia física, na Inglaterra, um dado foi checado múltiplas vezes, pois não fazia o menor sentido: 50% dos compradores de LP sequer têm um toca-discos para ouvir suas aquisições!

Parece piada, mas é verdade!

Jovens estão comprando LPs, e não tem como reproduzir essa mídia. E o máximo que desfrutam desse investimento é olhar e ler o encarte e curtir capa, fotos e letras das músicas.

Essa tendência começa a ser monitorada também com a venda de CDs para um público com menos de 25 anos de idade!

Já falei e escrevi aqui que não abro mão da mídia física por um único motivo: qualidade! Pois ainda que o streamer tenha evoluído muito nos últimos anos (leia Teste 1 nesta edição), a mídia física ainda é insuperável!

Não discuto praticidade, apenas qualidade. E para mim essa questão é recorrente, pois já existia no lançamento do CD, em que muitos audiófilos e melômanos ‘justificaram’ sua troca pelo fato do CD possibilitar acesso direto às faixas e muito mais músicas por mídia. Só que com a praticidade do controle remoto, veio também a possibilidade de o ouvinte pular faixas e até mesmo se negar a ouvir o que não curtia tanto. E muitas coleções foram reduzidas a singles de uma única faixa.

Foi a época em que muitos substituíram a fita K7 com suas playlists personalizadas, por uma troca incessante de discos em um senta e levanta muito maior que o de virar um LP a cada 20 minutos (que foi justamente o ‘álibi’ utilizado pela maioria dos audiófilos que trocou a mídia analógica pela digital).

O streamer inflamou ainda mais essa estranha maneira de ouvirmos música, já que dispomos de uma enorme biblioteca ao alcance de nossos dedos e trocamos freneticamente de disco para disco, sem muitas vezes nem ouvirmos cada música até o final.

Para mim é cada vez mais nítido que as novas gerações estão muito mais interessadas em quantidade e não qualidade.

Vejo que existe uma ansiedade cada vez mais presente, pois muitos até se incomodam se mostramos uma música na íntegra (principalmente se tiver mais que 4 minutos e for um estilo estranho ao gosto do ouvinte). As pessoas nessa situação começam a falar e deixar claro seu desinteresse no que estão escutando!

Basta ver o comportamento do público nos Hi-End Shows, em que a música concorre com a conversa paralela dos ouvintes.

É uma total inversão de valores que estamos vivendo, pois imagino que as pessoas paguem para ir a um evento para conhecerem sistemas que, de outra maneira, não teriam como ouvir. E são expostos a todos tipos de ruídos, deixando muito pouco espaço para realmente conhecerem novos produtos.

É um desrespeito a quem está expondo, e a quem está lá para conhecer esses produtos!

Desculpe, meu amigo, se me alonguei demasiadamente na introdução desse teste, mas o fiz para lembrar a todos que mantiveram suas mídias físicas em CD e SACD, que ainda existem fabricantes dispostos a fornecer players a preços ‘realistas’ para a reprodução dessas mídias.

E uma dessas raridades se chama Arcam CDS50, que em um belo pacote oferece CD, SACD e streamer. Nos fóruns li longas discussões sobre o streamer do CDS50, que foi tratado como ‘limitado’ pelo fato de usar um aplicativo MusicLife que trabalha com Tidal, QoBuz e Spotify, mas não outras plataformas (a maior reclamação é o fato de não trabalhar com Amazon HD).

Ainda que lá fora exista essa reclamação, acredito que para o nosso mercado e pela qualidade de sua performance, o CDS50 é uma das melhores opções a todos que possuem uma coleção de CDs e SACDs, e o streamer deveria ser visto como um bônus a quem deseja ampliar sua biblioteca musical e, no entanto, está ciente de que a mídia física ainda soará superior.

Talvez muito de nossos leitores mais novos desconheçam a história desse fabricante inglês (agora um dos braços do grupo Harman Internacional, que pertence atualmente à Samsung), que foi o responsável em 1986 pela fabricação do primeiro CD-Player no Reino Unido, e que tinha a ‘audácia’ de concorrer com os principais CD-Players japoneses da Sony, Denon, Pioneer e cia.

Quando vi as fotos internas do CDS50, fui buscar as imagens guardadas em arquivo do CDS27 que testamos, e ficou claro que toda a parte mecânica do novo CDS50 é muito semelhante ao CDS27, ainda que o DAC atual seja outro.
Além de reproduzir CD e SACD, o Arcam adicionou a reprodução de rede via Ethernet ou Wi-Fi, e disponibilizou entradas digitais ótica e coaxial, para a ligação de fontes digitais externas usando-o como DAC – e uma entrada USB-A para a reprodução de uma biblioteca externa.

O CDS50 também pode ser usado como transporte, já que possui duas saídas digitais (uma coaxial e uma ótica) e algo raro para sua faixa de preço: saídas analógicas RCA e XLR. E uma conexão RS232 para comutação remota de liga/espera.

Os audiófilos acostumados com os produtos Arcam, reconhecerão seu design simples e objetivo com um grande botão liga/desliga e quatro controles logo abaixo do painel, para o uso básico do CD-Player manualmente. Mas para entrar em todos os recursos existentes, o usuário necessitará de fazer uso de seu controle remoto – que será obrigatório para navegar no modo streaming ou para reprodução USB de uma biblioteca externa.

Sugiro, para facilitar esses comandos, baixar o aplicativo da Arcam. Do contrário será preciso pressionar, na sequência, várias teclas do controle e ao mesmo tempo ficar atento às mensagens do display – algo pouco agradável para a maioria dos audiófilos.

Se o antigo CDS27 usava o DAC Burr-Brown PCM1794, o novo Arcam utiliza o ESS9038Q2M da ESS Technology. O leitor continua sendo o mesmo do CDS27, o Sony KEM- 480AAA, uma unidade amplamente usada nos Blu-ray e nos modelos mais antigos do PlayStation (para permitir a leitura de PCM e DSD). Trata-se de uma gaveta de plástico e com isso tem um certo ruído ao abrir e fechar que, no entanto, por anos de usos em múltiplos equipamentos, se mostrou seguro e confiável (não dá para imaginar em um player de menos de 15 mil reais uma gaveta Luxman ou Esoteric).

Para o teste utilizamos o cabo de força Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e o Power Link MM2 da Transparent. Cabos de interconexão: Virtual Reality Trançado (leia teste edição de junho) e Sunrise Lab Quintessence Aniversário RCA. Ligado aos integrados: Sunrise Lab V8 Aniversário, e Arcam SA30. Caixas: Audiovector QR 7 e QR 5, e Wharfedale Linton 85 anos (leia Teste 3 nesta edição).

Queima de CD-Player com streamer interno é como chupar manga. Ouvimos nossos discos da Cavi Records (CD e SACD), fizemos as anotações iniciais e o colocamos para tocar streamer por 100 horas.

A primeira grande surpresa: não há diferença alguma entre a saída analógica RCA e XLR. Ou seja, o usuário pode escolher a saída que lhe for mais conveniente, para ter o melhor casamento possível seja com um integrado, ou um pré de linha.

Segunda grata surpresa: o leitor é rápido, preciso, e tem um grau de correção de leitura para pequenas imperfeições nos discos prateados superior ao dos players considerados de entrada.

Terceira bela surpresa: ele reproduz com refinamento SACD, muito acima dos Oppos que ainda existem no mercado.
E quarta interessante surpresa: o SACD é um pouco mais detalhado na apresentação de microdinâmica e na amplitude e profundidade do palco sonoro que o CD.

Seu equilíbrio tonal é muito bom para sua faixa de preço. Lembro que em todos os Oppos que tive (foram três modelos), a grande frustração era a falta de extensão nas altas e pouco peso na fundação dos graves. Lembro que o Ulisses da Sunrise cansou de fazer upgrades nos Oppos para ‘arrancar’ um pouco mais nesses quesitos, com mudança de capacitores, tomada IEC, fusíveis, cabeação interna, etc.

O Arcam não sofre dessa falta de ar nas altas e muito menos falta de fundação embaixo! A música flui (independente do gênero musical), com clareza, definição, sem apostar apenas nos médios para enganar o audiófilo de primeira viagem, e depois deixar as audições cansativas ao se descobrir que os médios apenas não farão milagres.

O soundstage pareceu mais amplo na reprodução de SACD, mas nada que não permita ouvir com prazer os planos, foco, recorte e ambiência em PCM. Tudo será uma questão de sinergia, entre o Player e o resto do sistema, pois se todos remarem na mesma direção o resultado será muito convincente.

As texturas se beneficiam de forma clara, de seu equilíbrio tonal bom sem querer reinventar a roda. Com isso será possível não apenas avaliar a paleta de cores do tecido musical, como ter um pequeno vislumbre das intencionalidades captadas nas excelentes gravações.

Ou seja, com o equilíbrio desses três primeiros quesitos de nossa metodologia, o que o CDS50 nos garante é o interesse na audição de nossos discos. O que, para sua faixa de preço, volto a insistir: é muito raro!

Os transientes são corretos, nos dando a correta sensação de tempo e andamento, e mesmo em passagens com enormes variações, como nas viradas de um Vinnie Colauitta, você não perderá o ‘timing’ do que foi feito. Para os amantes de pop, rock, música eletrônica e blues, o ouvinte terá diversão garantida.

A microdinâmica é muito boa, com possibilidade de acompanhamento sem esforço adicional de todos os detalhes existentes na gravação. E a macro é boa o suficiente para nos apresentar com correção os crescendos, ainda que em menos degraus que um CD-Player ou um transporte e DAC separados, de ponta, nos apresentaria.

Mas para esse grau de refinamento na reprodução de macrodinâmica, meu amigo, pode multiplicar o valor desse Arcam por dez, tranquilamente.

Essa é uma discussão que gosto muito de ter, principalmente com os amigos músicos. Pois eles por muitos anos sempre colocaram o ‘dedo na ferida’ do hi-end na hora de reproduzir os fortíssimos. E eu sempre os fiz pensar, que mais que o impacto no deslocamento de ar e energia na reprodução da macrodinâmica, o que precisa ser preservado é a inteligibilidade do que está acontecendo musicalmente. Pois se minha atenção for desviada completamente ao primeiro tiro de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky, o objetivo de ouvir e compreender a intencionalidade do compositor em colocar, no grand finale, aqueles tiros de canhão, foi em vão.

Então sempre será preferível que a macrodinâmica, ainda que ‘relativa’, nos mantenha em contato com o todo. Pois Tchaikovsky não introduziu os tiros de canhão ao final de sua obra, com o objetivo de assustar os ouvintes e muito menos testar se o sistema e as caixas suportam, sem distorcer, tiros de canhão.

Ainda que tenha presenciado em minha adolescência, por duas vezes, uma cápsula pular e ir para no selo do disco danificada, e a outra vez uma caixa JBL Jubal simplesmente danificar seus dois woofers (para a alegria dos ‘amigos audiófilos’ presentes, e desespero dos donos e do meu pai).

O Arcam possui uma reprodução de macrodinâmica suficientemente honesta para mostrar com clareza e definição, e sem riscos para as caixas, as passagens em fortíssimo.

O corpo dos instrumentos é muito bom – aliás foi uma das virtudes desse player que mais me agradaram. Pianos solo têm tamanho de pianos de verdade, assim como tuba, contrabaixo, órgão de tubo, etc.

Com o setup composto pelo integrado Arcam SA30 e as caixas Audiovector QR 5 (com preço mais condizente com o Arcam), a materialização física do acontecimento musical foi excelente. Principalmente nos exemplos com vozes masculinas e femininas, e pequenos grupos como quartetos, trios e quintetos. Deixando nosso cérebro apreciar relaxadamente aquelas gravações.

CONCLUSÃO

Felizmente, muitos de nossos leitores não abriram mão de suas mídias físicas e lutam, à medida que seus players estão desatualizados, buscar uma solução que seja melhor que um simples CD-Player ou um Blu-Ray dos poucos ainda existentes no mercado.

O grupo Harman foi muito feliz em disponibilizar essa opção a um custo acessível, e com uma performance tão honesta. E, ainda por cima, incluir nesse pacote a reprodução de SACD e o streamer, para quem começa a se interessar por essa mídia virtual.

Se você vive esse impasse, e busca uma solução que não comprometa suas finanças e possa encaixar perfeitamente em seu sistema como sua fonte digital, ouça o CDS50. Garanto que ele irá lhe surpreender, assim como surpreendeu a todos nós que o ouvimos!

Para facilitar a compreensão de sua performance, separei as notas dele como CD, SACD e Streamer.

CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50 (COMO STREAMER)Nota: 70,0
CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50 (COMO CD PLAYER)Nota: 90,0
CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50 (COMO SACD PLAYER)Nota: 93,0
AVMAG #295
Mediagear
contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 13.790

CD-PLAYER LINE MAGNETIC LM-515 Mk2

Fernando Andrette

Vá se acostumando amigo leitor, pois você ouvirá muito a respeito desse fabricante chinês especializado em equipamentos valvulados, que vêm consistentemente ganhando espaço nos principais mercados de áudio hi-end no mundo.

Aqui já testamos o integrado Line Magnetic 219IA, na Edição 290, e agora recebemos da Elite Audio o CD-Player LM-515 Mk2.

O grande problema, na minha opinião, de todo produto hi-end chinês está na comunicação, que ainda é bastante precária e precisa vencer a barreira do preconceito no ocidente, conseguindo que mais mídias especializadas testem seus produtos.

Fiquei surpreso quando o Hernani da Elite Audio me disse que faríamos o primeiro teste mundial dessa versão, pois pelas suas qualidades achei que outras mídias e fóruns especializados já haveriam de ter dado seu parecer. Afinal, se existe uma comunidade que fuça e busca ‘grandes oportunidades’, é a audiófila.

E acho que o CD-Player LM-515 Mk2 merece todo reconhecimento que possa ter. Como o integrado por nós testado, ele possui uma construção sólida, um controle remoto decente, e passa confiabilidade no seu uso no dia a dia. E, ao contrário de muitos produtos de áudio modernos, que sem o controle remoto não há como operar, o LM-515 Mk2 pode perfeitamente ser utilizado, caso em um fim de semana você esteja sem reposição de pilhas em casa (que audiófilo já não passou por esse tipo de apuro em um domingo à noite, levante a mão).

Fácil de visualizar todos os comandos no painel e um display que se pode ver mesmo a boa distância. O LM-515 Mk2 é um CD-Player e um DAC, por isso que em seu painel frontal temos a inscrição Compact Disc e DSD.

Mas não confunda, amigo leitor, pois ele não lê Super Audio CD, apenas arquivos DSD que o usuário mantenha em seu computador, que poderão ser reproduzidos via cabo USB.

Seus 10kg mostram o cuidado que os engenheiros tiveram com a implantação de transformadores, tanto para o circuito analógico quanto para o digital, totalmente independentes. O chip decodificador é um ES9038 Sabre da empresa americana ESS. O estágio de saída analógico utiliza duas válvulas 6KZ8. No painel traseiro temos um par de saída RCA, outro XLR, e se o usuário tiver um DAC externo, poderá usar o LM-515 Mk2 como transporte via cabo coaxial ou ótico. E para desfrutar de arquivos DSD, há uma entrada digital USB.

Para o teste utilizamos o LM-515 Mk2 a maior parte do tempo ligado ao nosso Sistema de Referência, com as seguintes caixas: Audiovector QR-7 (leia Teste 1 nesta edição), Harbeth Compact 7ES-3 XD (leia edição de março de 2023), e Estelon X Diamond Mk2. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence Edição de Aniversário, Oyaide Vondita X (leia teste na edição de maio), Dynamique Audio Apex e Transparent Audio PowerLink MM2.

O produto veio amaciado, o que nos possibilitou colocá-lo imediatamente para avaliação, já que existem consumidores esperando encerrarmos o teste para ouvi-lo. Gosto muito de conhecer a filosofia do fabricante para ver se suas ideias são colocadas em prática consistentemente.

E se conheço um pouco da psique do oriental, sei que muitas vezes suas intenções são distorcidamente traduzidas para nós ocidentais.

Como sei disso?

Pelo fato de ter trabalhado por mais de cinco anos em empresas japonesas, e como publicitário ter atendido empresas como Fuji Film, Toyota, Nissin, Yakult, Sony e Ajinomoto. Além de ter sido gerente de marketing da Oliver (empresa do grupo Roland aqui no Brasil). E aprendi que, ao contrário do ocidental, que é extremamente racional e direto, o oriental sublima sua cultura e a coloca ainda que de maneira sutil em todas as suas formas de expressão.

E lendo o texto na apresentação do site da Line Magnetic, uma frase me chamou muito a atenção: “Um jade que não foi esculpido não se tornará um objeto útil, um homem sem aprender não saberá o caminho”. Não tente ler esse velho ditado oriental racionalmente, pois você perderá o âmago do ensinamento que está intrínseco nele.

Pois nesse ditado milenar, a Line Magnetic se baseia para criar seus produtos e oferecer ao mundo. E não se trata de uma analogia floreada oriental, e sim um compromisso de valores que, acredite, serão seguidos à risca pelo tempo em que o CEO da empresa determinar, sem ser questionado por nenhum funcionário.

Eu fui testemunha ocular desse tipo de princípio por exatos cinco anos: depois de determinadas as metas a serem alcançadas, nada irá alterar esse objetivo. Claro que eles também erram, e empresas orientais também quebram, e são extintas ou compradas pelos concorrentes, e ainda assim essa cultura continua sendo o alicerce de toda corporação oriental em pleno século 21!

Voltando ao ditado do jade não esculpido, o leitor atento perceberá a intenção apenas se escutar um produto da Line Magnetic – pelos dois que ouvi e testei até agora, parece que a filosofia consegue ser replicada corretamente em todos os produtos. Pois o que está intrínseco é a filosofia de fazer bem feito, mas procurando dar uma ‘identidade’ a todos os produtos.

E a resposta está em outro trecho da apresentação, em que a Line Magnetic fala do “espirito do artesão”. Ou seja, cada artesão que domina a arte de desenvolver seus produtos, deseja dar sua visão pessoal a seus produtos. E aí a Line Magnetic sintetiza sua filosofia ao descrever que, para eles, o maior objetivo é: “uma voz autêntica, suave, doce, transparente, graciosa e completa”.

Ok, Ok….

Talvez você já esteja ‘vacinado’ de tanto ouvir o ‘compromisso’ de diversos fabricantes com a beleza da arte musical, escrito e dito de inúmeras maneiras, então o que devemos observar? É se o discurso bate na prática, amigo leitor, e isso só sabemos ouvindo. Certo?

Dois produtos é um universo ínfimo para um fabricante que possui um extenso portfólio de produtos, mas que essa ‘filosofia’ está bem presente em ambos produtos que ouvi, não tenha dúvida que está!

Em um mundo cada vez mais virtual, em que 80% de toda música consumida está em streamer, termos fabricantes investindo tempo e dinheiro em CD-Players é no mínimo digno de ser aplaudido. Assim como eu, sei que muitos dos nossos leitores ainda estão firmes em manter sua mídia física. Pois sabem que quando reproduzidos em excelentes sistemas, ainda são imbatíveis!

E o LM-515 Mk2 irá proporcionar audições repletas de emoção e fidelidade.

E o consumidor que imaginar que, por ser um CD com uma saída analógica valvulada, soará ‘vintage’, terá um enorme susto, pois nada lembrará as tentativas dos anos 90 de ‘domar’ a dureza nas altas frequências e o corpo harmônico de ‘pizza brotinho’ com válvulas, pois o LM-515 Mk2 é um CD-Player digno do século 21 – com seu equilíbrio tonal correto, excelente corpo nas baixas e no médio-grave, velocidade, peso, deslocamento de ar, região média quente sem se tornar eufônica, e agudos com ótima extensão, velocidade e decaimento suave.

Muitos leitores nos perguntam se o decaimento suave não está intrínseco se o produto tem boa extensão. É uma pergunta pertinente, pois ter extensão, mas sem decaimento suave, irá ceifar abruptamente as altas. E fica aquela sensação ao tentarmos perceber os ambientes em que as gravações foram realizadas, que todas as salas são idênticas, como se para toda gravação usasse o mesmo reverb digital ou o antigo reverb de mola da década de 70 e início dos anos 80.

Só o decaimento suave nas altas permite sabermos com precisão até mesmo se foi misturada a ambiência da sala de gravação com um reverb digital – sim leitor, tem engenheiro que está tão acostumado apenas com salas de estúdio, que ao gravar em salas de concerto, ainda adiciona reverb digital, e várias gravações dos anos 90 de música clássica cometeram esse ‘crime sonoro’, resultando em: os agudos soarem duros e brilhantes.

No LM-515 Mk2, esses erros de gravações serão explicitamente audíveis. O que só demonstra o quanto seu equilíbrio tonal é correto!

O soundstage, ainda que não tenha a profundidade de Players mais refinados ou transporte e DACs separados de ponta (e muito mais caros), apresenta em gravações com um bom 3D, planos corretos e um foco e recorte ultra cirúrgico.

Explique Andrette, o que vêm a ser ultra cirúrgico? Sabe quando você está escutando um pequeno grupo e a voz soa perfeitamente ao centro e você consegue até ‘ver’ o que ouve e dizer se o cantor(a) está sentado(a) ou em pé, e que existe um silêncio entre a voz e os instrumentos?

Isso é um foco cirúrgico? E o recorte? É quando a gravação da voz foi gravada isolada dos instrumentos. Quando é em tempo real com todos juntos na sala, esse recorte jamais será cirúrgico, pois existe algo chamado ‘vazamento’ entre microfones. Ou seja, isso é uma questão de escolha dos músicos, do produtor e do engenheiro.

Eu sempre escolhi, nas nossa gravações, a opção ‘real time’, pois acho que os ganhos em termos artísticos são mais importantes que o preciosismo do recorte, com aquele silêncio absoluto e negro em volta da voz.

Mas são opções apenas.

Se você ler meu Opinião esse mês, e ouvir o primeiro exemplo de Água de Beber com seis vozes perfiladas lado a lado, perceberá que o recorte de cada uma das vozes não é perfeito, mas pela estética do arranjo era importante que soassem como um arranjo à capela, por isso não deixei as vozes mais afastadas entre si – mas dei um microfone para cada voz.

O Line Magnetic lhe dará a perspectiva na qual a gravação foi feita. E isso, meu amigo, nessa faixa de preço é incrível que seja alcançado.

Os transientes te fazem esquecer que tem saída valvulada, pois são precisos tanto em tempo como ritmo, e não se furtam a reproduzir com autoridade nenhum gênero musical.

Suas texturas são ricas, detalhadas e fidedignas tanto na apresentação da paleta de cores, quanto na intencionalidade.

Eu sempre cito neste quesito minhas gravações preferidas de quarteto de cordas, mas ultimamente tenho usado muito o box de 7 CDs do Wynton Marsalis, com suas gravações no Village Vanguard. Não é todo CD-Player nem tão pouco transporte & DAC separados que se darão bem com essas gravações, pois os metais ficam muito próximos no pequeno palco do Village. É uma gravação espinhosa para qualquer CD-Player, e o LM-515 Mk2 se sai bem, desde que você não abuse do volume e entenda que a captação, para ter menos vazamento possível, foi feita com cada instrumento muito próximo.

Então, dependendo da dinâmica do solo de cada instrumento, o som no volume errado irá endurecer.

O que, neste exemplo, o CD-Player precisa mais do que tudo é de folga para superar esses desafios de variação dinâmica. E o LM-515 Mk2 se esforça bravamente para passar por esse desafio.

Esse é um dos discos mais difíceis que uso para avaliação de textura, e um dos mais belos se o Player tiver ‘garrafas para vender’ e ‘bainha de sobra’! Mantenha o volume correto e o LM-515 Mk2 irá te surpreender.

Sua macrodinâmica é surpreendente, assim como sua microdinâmica graças ao seu excelente silêncio de fundo. Os degraus entre o pianíssimo e fortíssimo são muito corretos, e até surpreendentes para seu nível de preço.

Adorei sua reprodução de corpo harmônico, pois ainda que não seja tão próxima do real dos instrumentos ao vivo, é muito coerente, mantendo perfeitamente as diferenças entre o tamanho dos instrumentos. E, com isso, ele entra na lista dos que enganam nosso cérebro com facilidade.

A materialização física do acontecimento musical dependerá das gravações serem excelentes. Mas quando reproduzimos o CD Anhelo do José Cura, ele se materializou perfeitamente à nossa frente!

CONCLUSÃO

Se você ainda tem uma coleção de CDs, não pretende abrir mão de ouvir seus discos e está à procura de um excelente CD-Player que te leve a um outro patamar de prazer ao ouvir os discos prateados, ouça o Line Magnetic LM-515 Mk2. Ele pode ser o upgrade que você deseja e pode adquirir.

Se tivesse que resumir em uma palavra sua principal característica, eu diria que o LM-515 Mk2 é acima de tudo sedutor. Não apenas pela sua capacidade de nos apresentar a música dignamente, mas sobretudo pela sua facilidade de nos presentear com uma reprodução que nos permite apreciar a música tanto em sua forma como em seu conteúdo.

Antes que você ache que pirei, deixe-me explicar o que difere a forma do conteúdo. Quando ouvimos nossos discos que amamos em um sistema apenas correto, ainda que nos agrade, não haverá nenhuma surpresa ou algo de novo que nos encante. Parecerá mais como uma apresentação ‘burocrática’ e não cativante. Todos nós já experienciamos essa diferença, ainda que não tenhamos externado a nós mesmos que é exatamente esse o ponto que nos faz admirar o produto A e não o B.

O LM-515 Mk2 faz parte dessa ‘linhagem’ de equipamentos que consegue expressar de forma intensa o conteúdo que, às vezes, se encontra sutilmente nas obras que admiramos e, outras vezes, de maneira quase que arrebatadora.
Se captei bem a filosofia da Line Magnetic, só posso concordar que eles ‘aprenderam’ muito bem o caminho!

Nota: 95,0
AVMAG #294
Elite Sound
contato@elitesound.com.br
(19) 99713.5005
R$ 27.000

DACMAGIC 200M DA CAMBRIDGE AUDIO

Fernando Andrette

Eu sei que para muitos de vocês a espera é longa, e pode parecer que não nos empenhamos o suficiente para atendê-los.

A questão é muito mais complexa, pois o que norteia nossa linha editorial é apresentar apenas teste de produtos oficialmente representados no país, e o segundo quesito é com um patamar de qualidade e performance digno de ser testado. Sem esses dois critérios, não testamos. Não publicamos testes de produtos que estão disponíveis no Mercado Livre via Paraguai ou diretamente da Ásia para o consumidor.

O mesmo procedimento temos com a escolha do teste de fones de ouvido, mesmo sabendo que muitos de vocês preferem arriscar a não ter garantia ou assistência técnica, caso o produto necessite de manutenção. São escolhas que cada um deve tomar, e arcar com riscos e benesses.

O mercado mundial está repleto de excelentes opções de DACs baratos, e toda vez que somos procurados pelos fabricantes para ajudá-los a encontrar um representante no País, nos empenhamos ao máximo.

Porém, fechar essa parceria não depende de nós, então o máximo que podemos é passar nossas impressões e como a marca se posiciona no mercado externo, e ficar torcendo para que o acordo se concretize.

O que posso adiantar a vocês é que está bem encaminhada a chegada ao Brasil de duas grandes marcas europeias de DACs e amplificadores de fones – e assim que se tornar oficial, estaremos apresentando testes desses produtos a vocês.

Mas, hoje tenho o prazer de apresentar um DAC que nos surpreendeu pela versatilidade, facilidade de uso e performance. E creio que irá atender a muitos de vocês leitores que desejam um DAC atualizado a um preço acessível.
A Cambridge Audio tem uma história com DACs baratos de muito tempo, o que a coloca em uma posição privilegiada em relação à concorrência, cada vez que sua equipe de engenheiros se propõe a dar um passo à frente. Seu primeiro DAC foi apresentado ao mercado em 1990, e tinha como objetivo melhorar a performance de CD-Players de entrada que possuíam uma saída digital coaxial.

As revistas inglesas, na época, saudaram essa iniciativa como ‘uma lufada de esperança’ na melhoria da reprodução dos disquinhos prateados!

O Dac Magic 200M é a mais recente aposta para todos que necessitam atualizar suas fontes digitais, sem precisar assaltar um banco ou hipotecar a casa. Porém, se engana quem pensa que o 200M seja um DAC simples, minimalista, que apenas fez algumas melhorias pontuais da última versão para se manter no mercado.

Para manter-se firme como uma das referências neste mercado de entrada, os engenheiros da Cambridge Audio pegaram o novo chip DAC ES9028Q2M da ESS, da Califórnia. Trata-se de uma versão que aceita PCM com taxa de amostragem de até 768 kHz, e também decodificação DSD e MQA. Ou seja, o usuário não se sentirá tolhido em suas buscas pela melhor conversão possível de suas fontes digitais.

Para tal existem pares de entradas coaxiais, óticas, para quem ainda possui mídia física via CD-Player, consoles de jogos e, claro, leitores de Blu Ray. Tem entrada USB tipo B para a conexão com um PC ou tablet, e tem Bluetooth aptX.
Além disso, tem saídas tanto RCA quanto XLR, para um power, um pré de linha ou um integrado. E uma saída de 6,3 mm no painel frontal, para ouvir sua música em seu fone de ouvido.

Incrível como couberam todos esses recursos em um gabinete tão minúsculo, que cabe na palma da mão.

Muito antes de ouvir as saídas do 200M, eu acabei tendo o primeiro contato ouvindo o fone Liric da Meze Audio, e gostei muito da apresentação limpa e equilibrada, mostrando a qualidade do amplificador de fone interno Classe AB, com uma nova placa que, segundo o fabricante, oferece maior potência e menor distorção que o modelo da geração anterior.

Voltando ao DAC, o USB tipo B permite até 32-bits/768 kHz e DSD512, e a entrada ótica até 24-bits/96 kHz, e a coaxial 24-bits/192 kHz.

E ainda que o MQA, no atual momento, esteja hibernando, é possível através do Tidal Masters com codificação MQA, usufruir dessas gravações feitas em sua maioria em 24-bits/96 kHz.

O 200M oferece visualização no painel frontal, através de vários LEDs, para apresentar a taxa de amostragem que está sendo lida, tanto para CD como MQA e DSD. O 200M também oferece três opções de filtros: Fast, Slow e Short Delay.
Para o teste, utilizamos o power Gold Note PA-10 (com o Cambridge ligado a ele via cabo XLR), integrado Line Magnetic
LM-805iA (leia Teste 1 nesta edição), streamer Innuos ZENmini Mk3 com fonte externa, pré de linha Mark Levinson Nº5206 (leia teste na edição setembro), nosso Sistema de Referência, e as seguintes caixas: Harbeth 30.2 xd, Boenicke W5 e MoFi SourcePoint 10. Os cabos coaxiais digitais e USB foram inúmeros: Chord, QED, Virtual Reality, Dynamique Audio e Sunrise Lab.

Uma observação sobre o uso de tantos cabos digitais: só tomo esse procedimento quando percebo que o potencial do DAC é alto e possibilita tentarmos descobrir o seu teto em termos de performance, e ver seu grau de compatibilidade e o quanto o cabo pode influenciar ou não sua assinatura sonora.

Cabos de força: utilizei um Transparent Powerlink MM2 – com excelente resultado! Os anos passam e continuo me surpreendendo o quanto esse cabo é versátil e bom!

O produto veio lacrado, então o ritual foi o mesmo de todo produto: ouvi por três dias ele como amplificador de fone, e o deixei em repeat por 10 dias. Quando ele foi para a bancada de teste, estava ultra amaciado.

A boa notícia é que ele pode ser usado zerado sem nos constranger nas primeiras 24 horas, ou nos deixar em dúvida se fizemos a escolha certa.

O 200M segue a linha da série top do fabricante, a Edge, e me lembrou muito como ele resolve a complexidade na variação dinâmica de obras sinfônicas grandiosas sem se eximir de responsabilidades, ou dar a cara a tapa.
Traduza essa frase Andrette!!!!!

Muitos DACs de entrada, quando colocados à prova em situações extremas, ou tentam manter a ‘pose’ colocando tudo à frente das caixas, endurecendo o sinal e fazendo com que instintivamente você baixe o volume – ou seja, tentando dizer que o problema não foi deles e sim da gravação – ou procuram uma saída honrosa, que é não endurecer o sinal, mas buscar enfatizar a região média, já que nessa faixa se concentra muita informação. Essa é uma saída mais digna, pois nos passa a sensação de que o DAC se esforçou em manter seu padrão de fidelidade ao limite de sua capacidade. E, auditivamente, percebemos que muita coisa foi ‘jogada ao mar’, como extensão nas altas, corpo harmônico, micro detalhe, textura, organicidade – mas o som não se tornou fatigante!

O DacMagic 200M, se tiver uma fonte e gravações minimamente decentes tecnicamente, nunca terá que fazer uma dessas escolhas, o que já o coloca em uma posição de destaque em relação aos seus concorrentes nessa faixa de preço!

Gostei muito de seu equilíbrio tonal, pois não pretende ser mais do que pode realmente entregar. E o que ele propõe é extremamente atraente e, o melhor: convincente. Seus graves são honestos, com bom corpo, energia e precisão. A região média possui boa transparência e um grau de naturalidade que nos chama a atenção desde o primeiro momento.

Para os apaixonados por gêneros musicais predominantemente com instrumentos acústicos, irão saborear a maneira com que o 200M nos apresenta as obras. Nada de brilho onde não existe, ou uma ênfase acima do correto na reprodução de toda a região média.

E os agudos, se não possuem a extensão final dos DACs mais sofisticados, não pecam por ceifar ou soarem acanhados nas altas. O que significa que ouviremos menos o tamanho da sala de gravação ou a quantidade de reverb digital colocada pelo engenheiro, mas não teremos a sensação claustrofóbica de tudo soar em minúsculas salas ou ‘câmaras anecoicas’.

E isso se dá graças aos agudos terem um decaimento suave e não abrupto.

O soundstage é excelente em foco e recorte. E um pouco menos em profundidade dos planos. Que são ligeiramente compensados pela largura e altura do palco!

O que é preciso entender de uma vez por todas, é que a relação de profundidade de planos, principalmente em obras de música clássica, é profundamente dependente da qualidade e extensão dos agudos no equilíbrio tonal. Maior extensão e decaimento, mais suave e natural, irão determinar a qualidade da reprodução de ambiência no soundstage. Entendeu?

Pense na construção de uma parede: o equilíbrio tonal é que dará o tamanho final desse muro!

Quando explico e mostro exemplos em nossos Cursos de Percepção, muitos respondem que não são apreciadores de música clássica, então ter mais ou menos ambiência e planos não fazem diferença. Gosto de guardar ‘cartas na manga’ para os que pensam ser fácil contornar essa questão. Aí coloco a famosa gravação de um solo de bateria tocado em uma quadra de basquete de uma escola em Londres. Primeiro mostro essa gravação em um DAC ou CD-Player que não tenha muita extensão nas altas, e que seu decaimento seja bem rápido. E peço a essa pessoa para descrever o tamanho do local em que essa bateria foi gravada. A pessoa se esforça e diz que provavelmente em um salão mais vivo, talvez!

Aí reproduzo essa mesma faixa em uma fonte que possua o decaimento correto, e a sala vem abaixo meu amigo, literalmente! Pois aí fica explícito que o baterista se encontra no meio da quadra com o ginásio completamente vazio, sendo possível as peças da bateria reverberarem por todo o ginásio, e voltarem ao ponto inicial.

Com esse exemplo, eu explico que mesmo que se esteja ouvindo um trio ou um quinteto, a gravação para soar e ‘respirar’, e nos passar aquela sensação de veracidade, necessita da melhor fonte possível!

O Cambridge possui uma apresentação de texturas muito correta e bonita, e como já disse: pessoas que gostam de gêneros com instrumentos acústicos, irão se deleitar com a apresentação da paleta de cores, do mais tênue ao mais intenso.

Os transientes foram outra grata surpresa do 200M, e me fazem pensar o quanto os DACs atuais evoluíram nesse sentido. Lembro da dificuldade que era, nos anos 90 e na primeira década do século 21, conseguir bons DACs de entrada que conseguissem uma reprodução correta deste quesito. Tudo nesses produtos soava mais letárgico, displicente, como se os músicos não estivessem muito empenhados em fazer uma tomada correta!

Hoje isso não é mais problema, pois DACs mais simples possuem uma qualidade surpreendente na marcação de tempo e ritmo.

O Cambridge é preciso, e nos faz gostar de ouvi-lo sem perder a atenção ou o interesse no que está acontecendo à nossa frente.

Quando as pessoas nos dizem que têm dificuldade de entender esse quesito (leia a seção Opinião desse mês pois lá eu descrevo vários exemplos para a memorização de transientes), eu falo que mais que entender é preciso ouvir a importância dos transientes, para nos manter atentos e motivados a continuar apreciando o que estamos ouvindo.

Em um sistema pobre em transientes, a precisão de ritmo e tempo se perde, e consequentemente nosso interesse se desfaz.

Outro fenômeno que também ocorre, é que nosso cérebro não consegue acompanhar a variação de andamento, seja de um único instrumento ou de diversos instrumentos. O importante é conhecermos primeiro a causa para, na prática, ouvirmos as consequências.

Voltando ao Cambridge, este não sofre de indolência. Ele nos permite acompanhar o ritmo e o tempo com enorme facilidade e prazer!

Sobre a dinâmica, eu cantei a bola lá atrás: se a macro não é perfeita (e não dá para ser nessa faixa de preço, mesmo que muitos queiram te vender que DACs baratos conseguem a façanha de resolver a macro como DACs superlativos), ainda assim ele passou com méritos no exemplo ‘encardido’ do Bolero de Ravel, sem termos que ajustar o volume para baixo no fortíssimo do final. E a micro é boa o suficiente, para não termos que aumentar o volume nos primeiros 20 compassos dessa mesma obra.

Então, aqui vai mais uma dica preciosa e de graça! Quer testar a dinâmica de seu sistema? Bolero de Ravel, escolha uma gravação decente bem captada, e determine o volume correto para não perder nenhuma nota dos primeiros 20 compassos – que realmente são tocados em pianíssimo e depois vão crescendo gradativamente. E se, do meio para o final, você não tiver que baixar o volume para ouvir até o fim, e ao final o som não distorcer ou clipar, meus parabéns! Seu sistema passou no exemplo do quesito Dinâmica!

O Cambridge passou também – o que nos fez vê-lo e apreciá-lo com outros olhos, após o término desse teste.
O corpo harmônico é bom, mas não é excelente! Aqui, como na dinâmica, é difícil em um DAC de entrada um corpo harmônico que vá enganar nosso cérebro, de que realmente não estamos mais ouvindo música reproduzida eletronicamente.

Se quiserem vender para você que um DAC de 1000 dólares consegue essa façanha, lembre-se daqueles vídeos que proliferam sobre a cura do Alzheimer, Parkinson, câncer, etc. No nosso mercado também estamos vivendo uma infestação de ‘fake-news’ e falácias sobre performances milagrosas!

Não caia nessa.

O que o Cambridge consegue é reproduzir o corpo dos instrumentos proporcionalmente ao seu tamanho real, dentro de suas limitações. Ou seja: você não corre o risco de não conseguir determinar quem é o contrabaixo e quem é o cello, pelo tamanho. Ou a diferença entre um trombone e um picollo.

O que, convenhamos, já é o suficiente para continuarmos apreciando o que estamos ouvindo.

A materialização física dos músicos a nossa frente, dependerá da qualidade das gravações. Excelentes captações, que não se perderam na mixagem e masterização, nos farão sentir que os músicos estão ali, quase ao alcance de nossas mãos.

CONCLUSÃO

O Cambridge DacMagic 200M é um excelente pacote, que atende a diversas frentes sem quebrar com o seu orçamento.

Eu certamente passarei a indicá-lo, não só aos que procuram seu DAC definitivo, como também aos nossos leitores que desejam um bom amplificador de fone com a possibilidade de ser um DAC de maior qualidade também.

Nos quatro meses que estivemos com ele, deu para ouvir toda sua versatilidade e o quanto ele pode ser uma peça essencial também para os que buscam montar seu sistema definitivo dentro de orçamentos mais enxutos.

Até ligado direto ao power PA-10 da Gold Note, ele nos surpreendeu, mostrando que pode perfeitamente atender aqueles que desejam montar seu sistema sem o uso de um pré de linha.

Não conheço entre os DACs de entrada uma outra opção com esse custo/benefício tão atraente e tão consistente em termos de performance.

Se esse é seu caso, sugiro que não deixe de colocá-lo em sua lista de opções, pois ele pode, como um ‘coringa’, ter as soluções para inúmeras de suas expectativas de um setup objetivo, bom e barato!

Nota: 85,0
AVMAG #298
Mediagear
contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 7.800

MERASON DAC1 MKII

Fernando Andrette

A Suíça tem sido uma fonte inesgotável de áudio hi-end, há muitas décadas! Atualmente é impossível citar o mercado audiófilo ultra hi-end sem ter na lista uma dúzia ou mais de fabricantes suíços como referência. E garanto que essa lista será, nos próximos anos, ainda maior! No entanto, sempre me perguntei: existem fabricantes suíços com o mesmo DNA de precisão, detalhismo e requinte para os pobres mortais? Ou essa opção não existe?

Demorou, mas obtive finalmente essa resposta, e ainda que pareça ser uma iniciativa isolada de um único fabricante pequeno, e com apenas dois produtos em produção no momento, é sim um sinal que pode levar outros a também trilharem esse caminho. Só o tempo dirá se estou certo, ou se sou um otimista ingênuo.

Eu realizo o trabalho de rastrear novos fabricantes hi-end há 30 anos, e à medida que o nosso mercado foi crescendo, consegui ir lapidando tanto minhas ferramentas de procura como a criação de canais de troca de mensagens, para poder sugerir aos nossos distribuidores marcas mais condizentes com o perfil de nosso mercado.

Isso não quer dizer que os importadores acatem todas as minhas sugestões, mas eu garanto, amigo leitor, que todos já o fizeram – sem nenhuma exceção, sejam parceiros comerciais atuais ou ex-parceiros.

E fico feliz que dezenas dessas sugestões se tornaram marcas famosas e bem estabelecidas por aqui.

Tenho um método de ‘radar’ em que classifico as novas empresas em três categorias: pela inovação tecnológica, pelos prêmios e revisões bem avaliados, e pela relação custo/performance.

E quando o produto em análise alcança a mesma ‘pontuação’ nas três categorias, esse produto passa a ser monitorado constantemente, e será o primeiro produto a ser indicado caso algum importador me peça ajuda.

Interessante que, às vezes, determinados produtos não chamam minha atenção de imediato. Foi exatamente o caso da Merason, pois quando li pela primeira vez um teste desse fabricante, foi do DAC mais simples, o Frérot, sem sua fonte externa. E acabei não notando nada de interessante sobre o produto, a não ser o fato de ser inteiramente desenvolvido e produzido na Suíça, e custar menos de 1000 dólares.

Só que aí, na sequência, li dois testes muito positivos do seu outro produto, o DAC1. E vi o produto em três feiras internacionais sendo usado em sistemas com eletrônicas muito mais caras. Isso acendeu a luz amarela em minha mente. Afinal, usar um DAC de 6 mil dólares (era o que custava a versão 1), com pré, power e transporte de mais de 25 mil dólares, e caixa de 32 mil dólares, é algo a ser monitorado.

E foi o que fiz, durante os últimos três anos (sim eu também espero que um novo fabricante se firme e não seja daqueles com fama de 15 minutos, para depois ser engolido e vaporizado). Pois sabemos que nesse mercado o grau de competição é feroz, e só sobreviverão os mais fortes – seja com poder financeiro ou com qualidade.

O fabricante suíço Niedal Audio Lab foi fundado pelo projetista Daniel Frauchiger, que deu o sugestivo nome de Merason aos produtos pelo fato de Mera significar ‘único’! E Daniel sempre buscou, no desenvolvimento de seus dois primeiros DACs, deixar esse conceito de “Som Único”, bem marcado na cabeça de seus futuros clientes.

Quando a Ferrari aceitou nossa sugestão de representar a marca, o DAC1 estava em sua primeira transição para a nova versão MkII, o que atrasou sua chegada em quase seis meses. Mas creio que essa espera foi bastante positiva, pois se a Ferrari tivesse trazido a versão original, os consumidores teriam que desembolsar, para atualizar o DAC1 para MkII, mais de 4 mil dólares, o que seria complicado.

Como não escutei a versão original, só posso contar a vocês o que li, e ouvi nos vídeos de feiras lá fora.

Em resumo, o DAC1 foi extremamente bem avaliado e se tornou o DAC de referência de dois articulistas, pela sua relação custo/performance. Um deles, em sua conclusão, escreveu algo que me chamou bastante a atenção: “Frauchiger realmente alcançou seu objetivo, que era desenvolver um conversor D/A que pudesse reproduzir a sonoridade de um LP ou fita de rolo. O Merason DAC1 me inspira porque me convenceu, em todas as disciplinas. E o mais importante, não é um daqueles DACs que faz tudo certo, mas que no final é chato”.

O que todos os testes sinalizaram, é que se tratava de um DAC extremamente simples de usar sem recursos de upsampling, opções de filtros e reprodução DSD, que trata o sinal PCM da maneira mais fiel possível.

E, finalmente, no final de julho, recebemos a nova versão MkII para teste.

Claro que sempre dá um frio na barriga, pois foi uma indicação sem nunca ter escutado o produto – apenas, como escrevo em minhas anotações pessoais: ‘criteriosamente radiografado’. Mas isso é apenas 80% de índice de acerto, pois 100% só ouvindo em nossa Sala de Referência por meses, com o maior número possível de equipamentos.

Vamos às alterações feitas da versão original para a MkII. Segundo Daniel, a nova versão levou mais de 1 ano e praticamente ocorreram modificações em todos os setores. Tirando o gabinete, que não sofreu alterações de tamanho (apenas na placa superior), a estrutura e o layout de roteamento da PCB foram totalmente redesenhados, resultando, segundo o fabricante, em uma impedância significativamente reduzida e no fornecimento de energia sem perdas para cada componente individual. Além da nova blindagem contra interferências externas, que foi toda aprimorada.

Os componentes da versão MkII são SMD de alta precisão, devido a sua performance comprovadamente superior às peças THT da versão original. Com os componentes SMD foi possível encurtar ainda mais o caminho do sinal, resultando em menores perdas. Os novos capacitores em ambos os filtros passa-baixa, agora possuem dielétrico feito de poliestireno, um material de alto desempenho em áudio.

Daniel também refez todo o conceito térmico, com a montagem de um sofisticado dissipador de calor individual para cada transistor de potência, usando molas personalizadas. Segundo o fabricante, este método complexo permite uma pressão de contato com maior precisão, alcançando a temperatura ideal dos transistores emparelhados. Essa solução reduziu drasticamente a distorção harmônica no caminho do sinal.

Devido a sua nova arquitetura de montagem, Daniel decidiu por dois chips conversores Burr-Brown PCM1794-A, usando um para cada canal. Conseguindo uma faixa dinâmica de 132 dB (cinco decibéis a mais que em um circuito estéreo). Como esse chip possui uma saída de corrente, o sinal de corrente é convertido em um sinal de tensão. No DAC1 MkII, isso não é feito usando amplificadores operacionais, mas sim um circuito complexo e discreto.

O sinal de tensão obtido é armazenado em um buffer no estágio de saída, usando tecnologia Classe A, e surge na saída XLR como um sinal de saída simétrico, e no RCA como um sinal assimétrico.

O processamento do sinal analógico é consistentemente simétrico, desde o módulo conversor até a saída. Filtros passa-baixa com capacitores de mica de prata, e capacitores de acoplamento que estão localizados entre o módulo conversor e a saída, como medida de segurança contra tensão DC indesejada.

Outra modificação na versão MkII, foi feita no layout da placa mãe, para que a relação sinal ruído extraordinariamente alta pudesse ser fielmente alcançada.

Um novo transformador separado é responsável por todo o circuito digital, e a tensão retificada é regulada para trilhos de 5 volts e trilhos independentes de 3.3 volts. Cada unidade funcional possui sua própria fonte de alimentação, sendo no total doze fontes.

O circuito analógico possui um transformador independente. A entrada USB utiliza uma placa de alta qualidade da Amanero – a Combo 384 – placa conhecida pela sua musicalidade (segundo o fabricante). Essa placa possui dois osciladores precisos, um para múltiplos 44.1 kHz, e outro para 48 kHz. Ele fornece um sinal I2S com clock limpo e jitter mínimo na saída. O sinal I2S é enviado aos dois chips conversores de maneira isolada galvanicamente, usando um módulo isolador capacitivo.

Os sinais nas entradas digitais AES e S/PDIF são também isolados galvanicamente por um transformador. O clock desses sinais é atualizado por um módulo receptor da Wolfson, o WM8804, usando um módulo de quartzo e PLL, para que o jitter também seja minimizado e depois repassado para os módulos conversores como um sinal I2S.

As taxas de amostragem PCM são: 44.1/48/88.2/96/176.4/192 kHz. Entradas digitais PCM de 24 bits: USB2, S/PDIF (RCA), TosLink (óptico) e AES/EBU (XLR). Saídas analógicas: 1 par de RCA e 1 par de XLR. Acabamentos: preto ou prata. Peso: 8 kg. Tamanho: 44 cm de largura, 10 cm de altura e 29 cm de profundidade.

Seu painel possui apenas um botão de pressão para liga/desliga, e um pequeno botão para seleção de entrada do sinal digital. Atrás, além das entradas digitais e as duas saídas analógicas, temos a entrada IEC de força.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Streamer ZENmini MkIII, e Transporte CD Nagra. Prés: Classic Nagra e Mark Levinson Nº5206 (leia teste na edição de setembro). Powers: Mark Levinson Nº5302 (leia teste na edição 297) e Nagra HD. Integrados: Line Magnetic 219lA (leia teste na edição 290) e Gold Note IS-1000. Caixas acústicas: MoFi SourcePoint 10, Boenicke W5, Estelon YB e X Diamond MkII. Cabos digitais: Coaxial Argentum (leia teste 3 nesta edição), USB Kubala-Sosna Realization, e AES/EBU Dynamique Apex. Cabos de força: Transparent PowerLink MM2 e Opus G5, e Sunrise Lab Aniversário.

Como o Merason DAC1 MkII veio lacrado, fizemos uma primeira audição com os discos da Cavi Records (nosso procedimento de sempre em avaliação de digital, já que estamos absolutamente familiarizados com as nossa gravações), e duas coisas de imediato nos chamaram a atenção: o grau de relaxamento na apresentação da música, e o enorme palco formado a nossa frente, principalmente no disco Genuinamente Brasileiro Volume 2, apresentando o enorme palco do Teatro Alpha e o espaço físico entre os músicos de maneira precisa.

Para um DAC zerado, foi um começo muito promissor, sem dúvida alguma.

Com 50 horas de queima tocando direto streamer, voltamos a colocá-lo para uma nova audição, e as duas pontas ganharam ainda maior respiro, e uma tridimensionalidade convincente na reprodução de grupos maiores com 8 ou mais músicos. Porém, por precaução, estendi a queima para mais 50 horas, antes de iniciar os testes.

Com 100 horas, as mudanças foram ainda mais interessantes, pois junto com o belo relaxamento, as variações de micro-dinâmica se tornaram mais presentes, mostrando a qualidade do silêncio de fundo do Merason.

Tentei iniciar os testes, mas percebi que tinha amaciado muito mais a entrada USB que a Coaxial ou a AES/EBU. Então precisei mudar de tática e colocar ambas por mais 50 horas, até todas as três estarem amaciadas.

À noite, antes de dormir, ia lá e ouvia uma ou duas faixas de nossos discos, para sentir a evolução das entradas digitais. E percebi que, a partir da terceira noite, as duas faixas passaram para três, até que no quinto dia ouvi tanto o Genuinamente Brasileiro Volume 2 inteiro como três faixas do Lachrimae, do André Mehmari.

Foi aí que me dei conta do que todos os revisores falaram: do grau de sedução do Merason. Sim, ele é bastante convincente em mostrar que pode ser uma companhia e tanto em nossas audições.

Estabelecidas as 100 horas nas três entradas, iniciei a passagem das 80 faixas da Metodologia. Este é o tipo de teste que gostaria que mais vezes ocorresse. Pois você não sente o tempo passar. Ao contrário, como o índice de fadiga é zero, sempre tem tempo para mais uma ‘saideira’.

Se tivesse que criar um novo quesito para nossa Metodologia, esse seria sem dúvida um complemento de Musicalidade, e daria o nome de Conforto Auditivo. Pois existem equipamentos que estão bem lapidados, que a melhor definição para esse esmero se traduz em Conforto Auditivo.

O Merason DAC1 MkII, é daquele DAC que, no primeiro compasso, já sinaliza ao que veio e qual é sua real intenção – seduzir o ouvinte – sem nenhum truque adicional na manga.

Nada de jogar luz onde não têm, ou querer recriar a roda. Se for isso que você deseja que seu DAC faça, esqueça o Merason. Ele apenas lhe dará o que os músicos e o engenheiro de gravação criaram. Se for ruim, isso irá ficar audível. No entanto, como ele não turbina e possui um grau de relaxamento de alto nível, mesmo essas gravações se tornam palatáveis.

O que mais me chama a atenção nesses novos DACs Estado da Arte, é que eles são relaxados apenas quando a música se apresenta assim, se transformando quando o “fff” na partitura surge. Não estar com a ‘faca entre os dentes’ o tempo todo é excelente, além de ser a única maneira possível de nos convidar a imergir plenamente.

Seu equilíbrio tonal é muito mais que correto, é natural. (Entenda o natural como não anabolizar nenhuma frequência, OK?). Graves com corpo, energia e precisão, médios incrivelmente ‘realistas’ e agudos com extensão e decaimento muito suave.

Alguns podem, dependendo das caixas, idade e cabos, achar que falta um ‘brilho’ a mais nos agudos. Eu prefiro exatamente como são. Pois muitos se esquecem que ter um brilho ‘a mais’ nos agudos, em inúmeros instrumentos, será muito mais prejudicial do que positivo.

O que concordo que falta ao Merason, é maior arejamento nas altas. Mas os DACs que possuem esse detalhe, custam de 5 a 20 vezes mais caro que ele.

Então, meu amigo, é preciso olhar tudo dentro de suas reais perspectivas, sempre! E pela perspectiva do preço do Merason DAC1 MkII, seu equilíbrio tonal é fantástico!

As texturas nesse DAC são sublimes! Muito refinadas tanto na apresentação das paletas tonais de cada instrumento, quanto na percepção de intencionalidades. Tão sedutor que merece estar no mesmo degrau dos DACs excessivamente mais caros que ele.

O soundstage dessa nova versão, pelo visto, é um dos seus maiores méritos. Para os amantes de música clássica, diria ser em termos de custo/performance a escolha ideal. Pois o palco é realmente 3D, com os planos impressionantemente bem apresentados. Existem muitos DACs caros que teimam em ser pobres na apresentação de profundidade, com os contrabaixos no canal direito sendo colocados no mesmo espaço que os cellos, e os metais serem quase que colocados no mesmo plano que as cordas nos crescendos.

Isso me incomoda muito ao ouvir obras sinfônicas com grande variação dinâmica. O Merason se comporta como os melhores DACs Estado da Arte nesse detalhe. E não é só os planos 3D – o foco e recorte também são exemplares, com aquele silêncio em volta dos solistas, que estamos acostumados nos DACs ultra-hi-end!

Os transientes têm precisão e ritmo, para nos deixar acompanhar as mais sutis mudanças de andamento e nunca perder o compasso.

E a dinâmica é exemplar tanto na micro (com certeza devido ao seu excelente silêncio de fundo), como nas mais complexas variações dinâmicas. Não irá fazer o sujeito pular 30cm da cadeira com tiros de canhão, mas o levará a perceber sem esforço as mudanças e gradações dinâmicas, tanto crescentes como decrescentes.

Expliquei isso pormenorizadamente no meu Opinião da edição de setembro, se quiserem entender a importância entre macro-dinâmica ‘pirotécnica’ e a intencional. Está tudo devidamente apresentado.

Outro grande trunfo do Merason, é sua apresentação do corpo harmônico em que o digital parece finalmente ter compreendido que estava defasado em relação ao analógico, e começa a mostrar evolução neste quesito (leia meu Opinião nesta edição).

O Merason consegue manter, ainda que menores que no analógico, as devidas proporções de corpo entre os instrumentos audíveis. Para a ‘prova dos nove’, uso uma gravação antiga da Harmonia Mundi, de uma peça tocada em arco para contrabaixo (canal esquerdo) e cello (canal direito), nos melhores DACs o corpo é muito bem retratado em termos de tamanho e decaimento no ambiente. Sendo possível até para uma criança dizer quem é quem pelo tamanho do som.

De zero a dez, diria que o Merason passou nesse difícil teste com 8 para o digital. A média costuma ser 7 em DACs estado da arte nesse exemplo!

A materialização física no Merason é magnífica para gravações excelentes. Em gravações boas, se seu cérebro não se faz enganar, ele já estará tão seduzido pelo ‘canto da sereia’, rs, que nem irá querer saber se está ouvindo reprodução eletrônica ou não.

Lembre-se desse detalhe, meu amigo, quando for fazer um upgrade em seu DAC atual – que ele possua um equilíbrio tão bom em todos os quesitos, que o que ele não fizer com maestria, que o faça com todo empenho solicitado!

Musicalmente falando, o Merason DAC1 MkII acredito ser a melhor tradução de equilíbrio possível em um DAC de menos de 9 mil dólares! Pois ele não possui nenhum defeito que comprometa seu resultado final, em nenhuma situação de uso, com nenhum gênero musical! Desde que esteja em um sistema de alto nível e que não o comprometa, é claro.

Defendo desde sempre que as duas peças desse quebra cabeça, que é um sistema hi end bem correto, é o cuidado extremo com as duas pontas: caixa e fontes. Se você não tiver essas duas peças muito coesas e casadas, com a mesma assinatura sônica, esqueça meu amigo, pois você vai perder dinheiro a rodo.

E se deseja uma escolha segura e este DAC se encaixa em seu orçamento, escute-o! É um dos melhores DACs da atualidade independente do preço.

Como escrevi, seu projetista não quis em momento algum reinventar a roda, ou criar ‘atalhos mágicos’ para se sobressair na multidão. Ele só desejou fazer algo único com o ferramental e conhecimento adquirido, e oferecer uma opção correta, coerente e convincente ao mercado, o qual geralmente tem poucas opções realmente dignas de destaque.

É o equipamento que se encontra em uma faixa intermediária para os padrões econômicos do hi-end, mas está a pegar no calcanhar dos que estão mais acima. Acho excelente quando isso ocorre, pois força muitos outros fabricantes a também prestarem mais atenção nessa fatia, que na minha opinião representa mais de 70% do mercado real audiófilo!

Seja bem-vindo Merason: um produto genuinamente suíço, com louros suficientes para uma carreira brilhante neste trópico!

Nota: 103,5
AVMAG #300
Ferrari Technologies
info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369.3001 / 99471.1477
R$ 69.500

DAC E MASTER CLOCK DCS LINA

Fernando Andrette

Ao testar o Vivaldi Apex, disse que da nova geração de produtos deste renomado fabricante Inglês, só estaria faltando testar o sistema LINA, composto de um DAC com Streamer, um Clock e um amplificador de fones de ouvido.

Pois bem, agora só irá faltar testar o amplificador de fone de ouvido, que será publicado na edição de março de 2024 na Audiofone.

Quando todos (inclusive eu), achavam que a dCS se contentaria em oferecer ao mercado o Bartók como seu DAC e Streamer mais em conta, sem abrir mão de uma performance superlativa, eles mais uma vez mostraram estar atentos às novas tendências de mercado e disponibilizaram o LINA, um trio de componentes que pode ser adquirido separadamente, e atendem desde o audiófilo que tem fones caros e busca um amplificador de alto nível para ouvir sua coleção de fones de ouvido hi-end, até o consumidor audiófilo que sempre desejou ter um DAC dCS, mas o Bartók ainda está acima de suas condições financeiras. Além disso, a dCS ainda disponibilizou um Master Clock para tornar a performance do LINA, tanto no conversor como no streamer, ainda mais refinada!

Na nova versão 2.0, a dCS adicionou mais seis filtros para PCM (eram apenas dois), e para os que possuem arquivo MQA, agora também é possível decodificar esse formato, além do DSD ganhar mais um filtro – agora totalizando cinco opções. Agora, em termos de opções de filtros, o LINA 2.0 se equipara ao Rossini e Bartók.

Mas, na minha opinião, a grande vantagem da nova versão 2.0 é o fato do LINA agora também converter arquivos PCM para DSD128.

As outras novidades são: Controles de Equilíbrio – uma função adicional de controle que permite ao ouvinte ajustar o balanço do canal direito e esquerdo, tanto para fones quanto para as caixas acústicas. Uma reclamação recorrente na versão 1.1, era o tamanho dos textos na tela do LINA, e com a atualização da interface agora é possível aumentar o tamanho do texto no display LED, facilitando a visualização dos títulos e das faixas.

O app dCS Mosaic Control também foi atualizado para fornecer suporte para a versão LINA Network DAC 2.0, juntamente com novos recursos UPnP e rádio na Internet. Com o novo controle é possível acessar músicas de várias fontes e controlar a reprodução, tanto para Android como para IOS, facilitando o gerenciamento e o ajuste de configurações do sistema LINA.

Já com o Bartók Apex, pude sentir o quanto a plataforma Mosaic Control é eficiente e simplista. Eu tive sempre todos os comandos direto no meu celular, e com uma navegação objetiva e sem travamentos ou problemas para reiniciar comandos.

Outro serviço que achei muito interessante, é que o Mosaic identifica as rádios da Internet com melhor qualidade, indicando quais são essas emissoras.

A primeira pergunta racional que todo leitor que está lendo esse teste deve estar se fazendo, é: a diferença de preço entre o DAC /Streamer LINA é compensadora em relação a fazer um esforço extra e ir direto ao Bartók Apex?

Essa foi a pergunta que me fiz durante as cinco semanas que fiquei avaliando o LINA 2.0 – com o Clock externo e sem o Clock.

E, para mim, a resposta que me aquietou a mente foi: dificilmente alguém que nunca tenha tido a oportunidade de conviver em seu sistema com um DAC deste nível de performance, vá querer mais que o LINA.

E acredito que foi essa ideia que permeou o desenvolvimento desse novo produto na dCS.

Seu design, suas ‘aptidões’ e seu apelo visual e performático, estão voltados para um outro nicho de mercado. Tanto isso é verdade, que se você se der ao trabalho de ler os diversos reviews publicados no exterior, por revisores que declaram não ter posses para um dCS, mas que ainda assim se sentiram curiosos em avaliar o LINA, podemos ter a compreensão exata de onde a dCS quis mirar!

E as conclusões são as mais interessantes possíveis: desde revisores fazendo contas para não ter que devolver o produto, aos que passam a concordar que suas convicções sobre limites de valores a serem usados na compra de um DAC terão que ser revistas, e os que disseram ser o amplificador de fones com o DAC componentes essenciais para se extrair o melhor de fones de ouvido hi-end do mercado!

Eu já vivi tempo suficiente para não me surpreender com o ‘choque’ de conceitos que muitos encaram, ao ter um contato com produtos de alto nível.

E se o Bartók já fez um baita estrago quando foi lançado, imagina o LINA, que possui o mesmo DNA sonoro e custa 7 mil dólares a menos que o Bartók Apex, lá fora!

Me perguntou o Martin Ferrari, o que eu estava achando do LINA? E lhe respondi que ele criou um problema: equacionar corretamente a fronteira entre o Bartók Apex e o LINA 2.0 com Clock, quando o interesse maior de um cliente em potencial na aquisição de um DAC Estado da Arte, for o Streamer. Pois o LINA com o Clock externo, que praticamente custa o mesmo preço do Bartók Apex, na reprodução de streaming me deixou coçando a barba!

Reproduzindo streaming sem o Clock externo, o Bartók Apex é melhor – e é um DAC superior. Mas quando se liga o LINA ao seu Clock, as cartas se embaralham, principalmente na reprodução de streaming!

Tanto que, se eu pudesse, ficaria com essa opção junto com o clock, ainda que custando o mesmo que o Bartók Apex.

Pois, para reprodução de streamer, foi novamente o melhor resultado de tudo que testamos até o momento.

Para mim, poder eliminar um cabo USB da jogada, é elementar para se elevar o nível do streamer, pois os melhores cabos USB para os streamers top de linha, são um investimento caro (sempre acima de 2000 dólares!). E tanto o Bartók Apex como o LINA, provaram ser esse o caminho mais sensato, para quem busca melhorar a reprodução de alto nível sem mídia física.

No LINA, quando ligado ao seu Clock externo, as melhoras são muito significativas: maior profundidade de palco, recorte, ambiência e foco cirúrgico, tudo muito mais preciso. Melhor silêncio de fundo, corpo harmônico mais próximo do analógico e, com isso, uma materialização física do acontecimento musical que falta na maioria dos streamers, independente do preço! Fazendo com que a reprodução fique mais agradável e natural!

Tire o Clock, e o LINA passa a estar no mesmo nível dos melhores streamers que já testamos, na casa dos 100 pontos. O que já é incrível, pois os que atingiram essa pontuação, custam de 6 a 7 mil dólares a mais que o LINA!

Então, acho que consegui responder aos que desejam saber se o investimento só no LINA ainda é uma boa escolha?
É uma ótima escolha!

E quando sabemos que podemos melhorar o que já é ótimo, realizando upgrades periféricos sem ter que trocar o produto, aí, meu amigo, é juntar a fome com o banquete servido à mesa!

Não tem como dar errado!

E como DAC, Andrette?

Ele obviamente não tem a performance da nova linha dCS Apex. Mas está no mesmo patamar que o Bartók 2.0, que também testamos. Arriscaria dizer que de tão semelhantes sonoramente, o LINA deve ter herdado as partes essenciais do antigo Bartók. O que o coloca em uma posição ainda mais privilegiada, pois também custa menos do que custava o Bartók 2.0.

Ele tem a folga e o refinamento da geração Apex?

Evidente que não. Mas também não ‘herdou’ dos seus descendentes mais antigos, a ‘faca entre os dentes’.

Ele, como DAC, ligado ao nosso transporte da Nagra com cabo AES/EBU, não ‘expurgou’ parte de nossos discos, ainda que em gravações mais críticas tecnicamente tenha sido essencial domar o volume. Ele realmente aqui lembrou muito o DAC Bartók 2.0. Tanto que dei ao LINA apenas um ponto a menos que o DAC Bartók 2.0!

E como streamer, sem o clock externo, dei a mesma nota do Bartók 2.0!

Coloque o clock externo no LINA, e como os eletrônicos que se beneficiam de fontes externas, o bicho simplesmente se transforma. Esse é o grande ‘pulo do gato’ da mais recente aposta da dCS para ampliar sua penetração no mercado mais abaixo do que sempre atuou. Possibilitar que o consumidor vá refinando a performance, sem se desfazer do LINA.

Vejo nessa estratégia um problema concreto para inúmeros concorrentes, que lutam em se manter no pelotão de frente, pois o jogo e as estratégias estão se tornando cada vez mais sofisticadas.

Imagino que inúmeros leitores que possuem já um Bartók Apex ou o Rossini Apex, ao ler esse teste, já estejam fazendo confabulações mentais para saber o que o Clock LINA pode realizar em termos de upgrades em sua fonte digital.
Se eu tivesse um desses dois DACs, também estaria aqui imaginando como ouvir essa peça!

Foram cinco semanas de enorme aprendizado, pois consegui entender plenamente os objetivos por trás de um projeto que parece ser o oposto de todo o caminho já trilhado por esse fabricante, ao abrir mão de gabinetes meticulosamente planejados, requinte nos mais ínfimos detalhes, para fazer um produto aparentemente ‘despojado’ que, no entanto, não foge em nada ao essencial da marca: performance!

O LINA está perfeitamente integrado às novas tendências de mercado, e com apelo suficiente para seduzir ao jovem que deseja um sistema de alto nível, mas não quer dispor de enormes espaços para compor esse ambiente.

Diria até que ter mirado no consumidor que investe em fones sofisticados, para apresentar seu DAC com Streamer, foi uma jogada arriscada, mas que parece ter sido certeira. Pois inúmeros sites de fones e fóruns também testaram o LINA, e o aprovaram.

CONCLUSÃO

Se você acha que o dCS Bartók Apex é um sonho inatingível, mas sempre desejou ter um DAC desse fabricante, talvez o LINA caiba em seu orçamento.

Trata-se de um investimento que certamente será o definitivo em termos de fonte digital. E com um excelente DAC e um impressionante streamer. E com a possibilidade de ambos poderem ser refinados com a inclusão do Clock externo.

O que posso dizer a você leitor que, daí para cima, os valores ficam cada vez mais proibitivos.

E todos podem perfeitamente ser felizes com o LINA avulso, ou com o seu par de valsa!

DCS LINA COMO STREAMER (SEM O MASTER CLOCK EXTERNO)Nota: 101,0
DCS LINA NETWORK DAC (SEM O MASTER CLOCK EXTERNO)Nota: 102,0
DCS LINA COMO STREAMER (COM MASTER CLOCK EXTERNO)Nota: 104,0
DCS LINA NETWORK DAC (COM MASTER CLOCK EXTERNO)Nota: 105,0
AVMAG #302
Ferrari Technologies
info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369.3001 / 99471.1477
Lina Network DAC: US$ 22.500
Lina Master Clock: US$ 12.800

DAC dCS BARTÓK APEX

Fernando Andrette

Quando escrevo que o hi-end Estado da Arte Superlativo tem muitas semelhanças com a Fórmula 1 em termos de tecnologia e concorrência, muitos de vocês duvidam dessa analogia com os carros de corrida.

E, no entanto, basta ver a velocidade com que as empresas de áudio de ponta estão avançando na performance de seus produtos nos últimos 5 anos, para se ter uma ideia exata do quanto esse mercado se tornou competitivo e o quanto o consumidor está ganhando com esse avanço tecnológico.

Quando testei ano passado a versão Bartók 2.0 (leia teste na edição 288), abri meu teste escrevendo: “As empresas que se encontram no topo por muito tempo, como a empresa inglesa dCS, precisam estar sempre atentas às tendências de mercado e lógico, aos avanços de seus principais concorrentes para poderem se manter atualizadas e dando as cartas”.

A dCS há muito tempo se mantém no topo e, inegavelmente, é uma das maiores referências no segmento digital, ditando inclusive tendências até para seus concorrentes diretos ou não.

Com o lançamento ano passado da tecnologia Ring DAC Apex, primeiramente para o Rossini e Vivaldi, era elementar que em algum momento essa tecnologia também se estenderia para o Bartók.

E se os avanços já haviam sido notórios na versão 2.0, que tivemos o prazer de ouvir e testar ano passado, era de se esperar que a versão Apex viesse a acrescentar saltos ainda mais consistentes.

O que não imaginávamos era que teríamos o privilégio, mais uma vez, de sermos os primeiros a testar a nova versão Apex. Esse mérito é todo da Ferrari Technologies, que conseguiu importar uma das primeiras unidades assim que a dCS liberou sua comercialização.

E que gentilmente foi nos enviada.

De cabeça eu não me lembro quantas vezes tivemos essa ‘honra’, mas acredito que já tenhamos atingido esse feito pelo menos umas cinco ou seis vezes nos nossos 27 anos de existência. Nada mau para uma revista do terceiro mundo, que insiste em seguir adiante apesar de todas as adversidades que enfrentamos desde nossa primeira edição.

Sugiro que os interessados leiam o teste do Bartók 2.0, pois lá descrevi em detalhes o quanto admirei seu streamer (considerando o melhor testado até aquele momento), assim como os avanços no conversor, que deixaram o Bartók ainda mais impressionante que a versão original lançada em 2018.

Mas a nova série Apex tem um layout totalmente reconfigurado, tanto na placa de circuito quanto no seu estágio de saída, resultando em um salto muito consistente em sua performance final, tanto no DAC como em seu Streamer.

Para tentar explicar o que é o novo hardware Ring Dac Apex, terei que voltar nos primórdios da dCS, amigo leitor, e explicar que o Ring DAC foi desenvolvido pela dCS na década de 80, quando ela era uma empresa altamente reconhecida por seu trabalho em radar e telecomunicações. E aí seus engenheiros descobriram que poderiam, com o seu conhecimento nessas duas áreas, desenvolver um conversor digital para analógico de 24 bits. Algo impensável naquele momento, já que todos ainda estavam descobrindo a melhor maneira de converter sinal digital de 16 bits para analógico.

A dCS percebeu que tinha em mãos um avanço tecnológico importante, e o ofereceu primeiramente ao mercado de áudio profissional, desenvolvendo DACs e ADCs e clocks mestres de alta resolução para os melhores estúdios de gravação do mundo.

E só nos anos 90 é que a dCS passou a oferecer seus DACs para o mercado audiófilo. E foi neste segmento que o Ring DAC ganhou fama e respeito. Desde então, ano a ano a dCS vem aprimorando seu Ring DAC, com avanços que o deixaram mais rápido, mais preciso, mais sofisticado e mais avançado.

Em 2017, a dCS lançou sua maior atualização até aquele momento, para o software que controla o Ring DAC, fornecendo algoritmos de mapeamento adicionais que permitiram aos ouvintes ampliar o desempenho de seus sistemas dCS.

Qual seria o próximo passo? Essa era a pergunta que não se calava na mente de Chris Hales, diretor de Desenvolvimento de Produto. Até que ele decidiu voltar o seu foco diretamente para a placa de circuito Ring DAC e seu estágio de saída analógico.

No caso do desempenho analógico do Ring DAC, a dCS usa um método que estuda como reduzir os artefatos gerados internamente e isso permite que os engenheiros detectem áreas em potencial que podem ser aperfeiçoadas. E após um período de investigação e muitas experimentações com novas placas de circuito, eles desenvolveram alguns protótipos. As melhores placas foram montadas e colocadas para longos testes de audição.

E o feedback e os resultados medidos em laboratório confirmaram melhorias significativas no desempenho geral dos DACs e Streamers. O novo Ring DAC Apex, segundo o fabricante, apresenta várias modificações, sendo a primeira a fonte de referência que alimenta a placa de circuito do conversor.

O Ring DAC é essencialmente um DAC multiplicador, que multiplica a tensão de referência pelo valor do código DAC. Consequentemente, qualquer ruído ou sinais periódicos, nessa referência é acoplada diretamente à saída. E a situação ideal neste caso é de uma tensão CC pura sem componente CA e sem ruído.

O próximo passo foi se debruçar sobre os estágios posteriores ao Ring DAC, incluindo os estágios de filtros e, finalmente, o estágio de saída do circuito.

O estágio de saída do Ring DAC é responsável por armazenar em buffer os sinais analógicos gerados pelo Ring DAC. Essa placa analógica é composta de estágios digitais e analógicos. O estágio digital pega os dados que são alimentados pela plataforma de processamento digital, e os submete a uma função de mapeamento. O objetivo do estágio de saída da dCS é permitir o maior grau de compatibilidade com cabos e equipamentos dos usuários possível.
Outra grande alteração feita no hardware do Ring DAC foi a substituição de transistores individuais na placa de circuito por um par composto, e o ajuste de layout dos componentes na placa de circuito Ring DAC.

O resultado dessas alterações é uma placa nova e aprimorada, sendo ainda mais silenciosa, e aproximadamente 12dB mais linear que as anteriores.

Segundo a dCS, foi uma melhoria significativa!

O feedback em sessões de audição com ouvintes foi extremamente positivo, com os participantes notando aprimoramento na resolução, dinâmica, ritmo, tempo e um maior conforto auditivo.

Seu gabinete continua o mesmo da versão anterior, e ainda com duas opções: com saída de fone de ouvido e sem. A que veio para teste era a versão sem fone. As opções de acabamento continuam sendo prata ou preto.

Para os que não leram o teste do Bartók 2.0, farei uma breve descrição do seu painel. Além de limpo e sóbrio, é extremamente funcional. A direita fica a tela de alta resolução, com pequenos botões na sequência da tela, com os comandos do menu, filtro, entrada, saída e mute. E nessa versão sem amplificador de fone, o botão de volume fica do lado esquerdo do painel.

No painel traseiro temos as conexões para saída de áudio RCA e XLR, e as entradas digitais S/PDIF (coaxial e TosLink), AES/EBU (dupla para quem usar transportes também da dCS como o Paganini, Scarlatti e os mais recentes Rossini e Vivaldi), e USB para quem quiser utilizar computador ou alguma unidade NAS. Além de uma entrada de rede Ethernet, bem como uma entrada para clock externo.

Como disse, pela entrada AES dupla o usuário com um transporte também dCS com essa opção, poderá reproduzir SACD criptografados com DSD comutável e upscaling.

O Bartók utiliza, como sua versão anterior, o aplicativo Mosaic, um software proprietário da dCS que permite navegar e reproduzir música de qualquer dispositivo. O Bartók pode ser totalmente comandado pelo seu celular, o que fizemos também no modelo anterior com enorme precisão e conforto. Pois com o aplicativo Mosaic você tem realmente tudo que precisa à mão para usá-lo corretamente.

O Bartók veio diretamente para nossas mãos, e pudemos ficar com ele para teste durante seis semanas.

E o usamos apenas ligado ao nosso Sistema de Referência, no lugar do Nagra TUBE DAC. Com o cabo AES/EBU Apex da Dynamique Audio, e o D-60 Coaxial digital da Kimber Kable. Cabos de Força: Dynamique Audio Apex e Transparent Audio XL G6.

Como ele precisava de período de queima, resolvi começar ouvindo primeiramente o streamer, que já havia me impressionado tanto na versão 2.0, tornando-se o streamer mais bem pontuado até aquele momento na revista!

À medida que o amaciamento foi se estendendo para mais de 50 horas, foi possível perceber que o Ring DAC Apex melhorou a performance geral em todas as frentes, elevando ainda mais a performance também de seu streamer interno.

O fato da dCS optar por colocar o streamer internamente ao lado do DAC, foi uma estratégia muito assertiva e com resultados sonoros que deixam muitos streamers de ponta – que dependem de cabos digitais e DAC externo – em situação no mínimo desconfortável, para ser educado.

Vejo inúmeros que partiram para essa solução, quebrando a cabeça para achar o cabo USB ideal, sendo que alguns fabricantes já oferecem ao mercado esses cabos por mais de 3000 dólares e quando você escuta esse Bartók com o streamer já incluído no pacote, e com esse nível de performance, acho que é hora de fazer conta, ouvir, comparar e ver o que realmente é mais vantajoso.

Se a versão anterior no streamer já havia sido a melhor por nós avaliada, a versão Apex sobe ainda mais alguns degraus, colocando-o isoladamente como o melhor streamer por nós avaliado!

Quanto a usá-lo como pré, para aqueles que desejam eliminar o pré de linha para o sistema ficar o mais minimalista possível, ainda que não seja fã dessa opção, concordo se for temporário ou para economizar mesmo, até se tomar fôlego novamente ele pode ser usado assim também. Mas acredite, sua performance será ainda mais radiante, com um pré de linha à sua altura.

Voltando ao streamer, as melhorias foram todas no sentido que mais sinto falta ainda: maior profundidade, um arejamento ‘real’ entre os instrumentos (dois corpos não ocupam o mesmo espaço), corpo harmônico mais próximo da mídia física, e as pontas com maior extensão.

O Bartók Apex andou em todos esses quesitos em relação à versão anterior. Trazendo o Streamer mais próximo da mídia física. Ou seja, chegará lá! É uma questão de tempo, e de descobrir onde realmente estão os gargalos de fato (pois que tem, tem, e não é apenas um ou dois).

Lembro de travar essa mesma discussão nos anos 90 e virada de século, nos Cursos de Percepção Auditiva Nível 3, em que comparávamos o Analógico com o Digital. E os participantes só entendiam o tamanho da distância, quando comparávamos as mídias com as mesmas músicas. Após os primeiros três exemplos, eu fazia uma pausa e pedia para relembrarem a cena final do primeiro filme Planeta dos Macacos, em que o protagonista acha a Estátua da Liberdade na praia.

Depois do choque de realidade a ficha caia para todos. Se você perde a referência, rapidamente sua audição vai se acostumando com a nova ‘realidade’. Então volte a ouvir a melhor mídia e sua referência auditiva imediatamente se recupera.

Com o Bartók Apex, essa comparação e a distância existente será instantânea, não tem como não entender que ainda existem etapas a serem cumpridas.

Era hora de ouvirmos o DAC e saber o quanto ele era substancialmente superior à versão anterior. Todo audiófilo, quando gosta de um produto e reconhece a superioridade em relação ao seu, não poupa na empolgação e muito menos na lista de adjetivos.

E justamente pela ‘extrapolação’ na euforia, que sempre gosto de lembrar que depois que se atinge um determinado patamar no produto superlativo, os degraus são muito menores.

O que quero dizer com isso? Que não haverá mais fogos de artifícios, impactos retumbantes ou olhares atônitos!

Quando você chega ao auge de um estágio tecnológico atualizado, o que você irá observar são melhorias sutis que, no entanto, são homogeneamente coerentes. Então quando você ler ou ouvir de um audiófilo que as melhorias foram pontuais, e justamente nos quesitos que aquela pessoa mais deseja, fique esperto! Pois produtos superlativos irão se ‘expandir’ sutilmente em todas as direções e não de maneira pontual. Feita essa importante advertência, vamos a descrição dos avanços da versão Apex.

E vou começar pelo resultado audível.

Maior folga!

O que permite que você agora escute os detalhes de maneira mais contundente, sem se perder no detalhe. Entendeu a mágica? Esse é o objetivo, permitir que aquela passagem que sempre parecia difusa, pouco agradável aos nossos ouvidos, tenha perdido aquela dureza e se tornado muito mais palatável.

Todos nós já passamos por exemplos assim, e até descartamos essas gravações quando não conseguimos resolver seus problemas.

Segunda melhoria: a distinção entre as passagens do pianíssimo para o fortíssimo, em que você percebe que havia um intervalo muito maior entre um degrau e outro. Bolero de Ravel é exemplar para nos mostrar esses saltos qualitativos, quando o crescendo nos 6 minutos finais é constante e nosso sistema começa a ter problema para administrar tanta informação sem frontalizar o sinal, ou nos fazer perceber que o volume em que iniciamos a audição da obra estava excessivo para o ‘grand finale’!

O Bartók Apex trabalha nas duas frentes. Com seu incrível silêncio de fundo, permite volumes no início dessa obra bem mais baixos, o que dará folga para que no crescendo não se precise baixar o volume para ouvirmos o final!

Para muitos isso pode parecer fácil de burlar: basta ficar monitorando o volume, mas sabemos todos o quanto desejaríamos ter uma fonte digital que nos permitisse ter folga o suficiente para nunca mais ter que usar desse expediente – principalmente se o controle remoto de nosso pré ou integrado, não for muito preciso ao comando.

Terceira melhoria: um soundstage muito mais próximo do analógico. Esse item, junto com o corpo harmônico, é ainda a pedra no sapato de qualquer digital de qualquer preço. O palco, tanto em largura como em profundidade, sempre foi muito menos arejado no digital. Não importando a qualidade do sistema, da acústica da sala, jamais tivemos no digital os mesmos planos. Ainda que em termos de foco e recorte, o digital há muito chegou lá.

O Bartók Apex, de todos os digitais que testamos nos últimos dois anos, junto com o Nagra HD e o MSB Reference, foram os que mais diminuíram essa distância nesse quesito para o analógico. O digital chegará lá? Agora acredito que sim. E muito em breve, creio eu.

Com um equilíbrio tonal tão correto, não fui surpreendido sobre o quanto as texturas do Bartók Apex evoluíram. Agora, as intencionalidades se tornaram explícitas, como ocorrem no analógico com maior facilidade. É possível ‘vê-las’ só ouvindo!

Isso meu amigo é que deveria ser o objetivo final do áudio hi-end. Permitir que o conforto auditivo seja tão pleno (como é no analógico), que podemos nos dar ao luxo de, enquanto ouvimos, interpretar as intenções por detrás daquela execução.

Para entender como essa intencionalidade pode ser vista através de nossa audição, eu sugiro que, quando o amigo estiver frente a um sistema Estado Da Arte Superlativo, escute vozes ou algum solista virtuoso, e sutilmente você passará a ver o grau de complexidade daquela obra, passagem ou solo. Acredito que mesmo detestando (tem muitos que não suportam ouvir Keith Jarrett pelos seus grunhidos enquanto toca), se você já assistiu algum vídeo de suas apresentações, irá se surpreender que ele muitas vezes toca literalmente em pé, hora curvando seu corpo para longe do piano e outros momentos quase beijando as teclas do piano. Se apenas ouviu seus discos, te garanto que você não fazia a menor ideia do quanto ele se move enquanto toca.

Pois bem, em um sistema de nível superlativo, você perceberia esses movimentos frenéticos instantaneamente. Assim como o movimento dos violinistas virtuoses, que também movimentam seu corpo, para os lados e para frente, e podemos ‘ver’ esses movimentos enquanto só ouvimos esse Bartók Apex ligado a um sistema também do mesmo nível.

Mas se você nunca viveu essa experiência, comece por vozes, pois elas serão mais fáceis de observar suas intencionalidades.

Escrevi que nos testes auditivos do Ring DAC Apex, os convidados citaram com bastante ênfase tempo e macrodinâmica. Sim, concordo. Em termos de precisão de tempo, ritmo e andamento, o Bartók Apex é desconcertante.

Para a prova dos nove, indico o famoso Friday Night in San Francisco – faixa 1 com o Al Di Meola no canal direito e o Paco de Lucia no canal esquerdo. Ouça atentamente em um bom sistema todo o fraseado inicial do Al Di Meola, e todo bom sistema em transientes irá lhe mostrar nota por nota daquela entrada alucinada em alta velocidade. E, no entanto, você terá que escolher entre ouvir o que o Al Di Meola está fazendo esquecendo o acompanhamento do Paco de Lucia, ou ouvir a música e perder detalhes da entrada triunfal de Al Di Meola.

Quando você tem tudo devidamente acertado, você não precisa escolher entre um ou o todo. Pois a precisão, folga, foco, recorte, tonalidade, velocidade, está tudo dentro do mesmo pacote.

É sentar, ouvir e incredulamente balançar a cabeça no final e se perguntar: o que foi isso que acabei de ouvir?

Audições como essas é que nos dão uma ideia exata do patamar que um avanço consistente lá no topo alavancou.
A macrodinâmica acho que dei uma boa pincelada ao falar do final de Bolero de Ravel, mas exemplos grandiosos não faltam para ilustrar o quanto o Bartók Apex é sublime! Pois a folga inerente ao produto permite audições no volume correto da gravação, sem o receio de endurecer, distorcer, ficar agressivo ou tirar o prazer de ouvir aquele fortíssimo como sempre quisemos e nunca tivemos a coragem de tentar.

É a outra pedra no sapato do digital, que ainda está aí (mas parece cada vez mais uma pedra polida sem pontas e bem desgastada), que no Bartók Apex ficou ainda menor. Ouvi alguns naipes de metais, cordas, contrabaixo, órgão de tubo, bastante convincentes tanto em tamanho como em proporcionalidade com instrumentos de vários tamanhos.
Cada vez mais a materialização física se torna mais ‘fácil’ de se alcançar. No entanto, para aquela materialização 3D, em que é possível deixar nosso cérebro satisfeito e querendo mais e mais, poucos têm esse poder.

E o Bartók Apex faz parte dessa pequena lista!

CONCLUSÃO

O Bartók Apex nesse momento é a proposta mais acessível desse seleto grupo de digitais superlativos, que atravessaram mais uma etapa da fronteira digital e anseiam por serem comparados com as melhores fontes analógicas (que para vencer o Bartók Apex, custam mais que ele).

São mais de 40 anos nesse encalço sem fim de superar o analógico, e tenho que admitir que nunca este objetivo esteve tão próximo de ocorrer! E se você colocar na ponta do lápis que nesse pacote tem ainda um excelente streamer, meu amigo, esse é um produto racionalmente tentador.

Se tiveres renda para esse feito, não titubeie e escute-o urgentemente!

DAC DCS BARTÓK APEX (COMO STREAMER)Nota: 104,0
DAC DCS BARTÓK APEX (COMO DAC)Nota: 107,0
AVMAG #295
Ferrari Technologies
info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369.3001 / 99471.1477
Preço sem Saída para fone de ouvido – R$ 179.000

DAC VIVALDI APEX DA DCS

Fernando Andrette

Minha avó, quando eu e meus irmãos éramos pequenos e nos via tensos antes dos exames finais escolares, sempre nos dizia: “se não querem ser surpreendidos, estejam preparados”.

Essa sua frase repetida dezenas de vezes, ecoou em minha mente por longos anos, e foi ela que me veio novamente quando o Heber da Ferrari chegou com a enorme embalagem do conversor Vivaldi APEX.

Como não gosto de deixar os distribuidores que se deslocam de longe para entregar pessoalmente um produto para teste, sem poder ouvir no nosso Sistema de Referência o que trouxeram, costumo deixar todo o sistema já preparado para receber o visitante ilustre. E assim o fiz na noite anterior, ao deslocar parte do meu sistema do rack Pagode da Finite Element para dar espaço ao Vivaldi APEX.

Foi uma audição rápida, tipo visita de médico, em que o Heber se certificou que estava tudo regulado e funcionando, e seguiu viagem de volta a São Paulo. Deixando-me ali com um Vivaldi com apenas 70 horas de amaciamento, para acabar de fazer o burn-in antes de aplicar a Metodologia, e o ritual das 80 faixas que usamos para avaliar todos os produtos.

Minha relação com todos os produtos da dCS são de longa data – o primeiro produto deste fabricante que testei foi em 1998, o Elgar.

De lá para cá, testei literalmente todos os seus produtos colocados em linha. E dessa nova geração, o único produto ainda não avaliado é o conjunto Lina, um poderoso setup para fones de ouvidos Estado da Arte e um poderoso conversor Digital/Analógico. O restante ou tive ou testei absolutamente todos: Puccini, Paganini, Scarlatti e toda a nova safra a partir de 2012: Vivaldi, Rossini e Bartók, tanto as versões originais, como as 2.0 e agora as APEX.

Ou seja, acredito estar apto tanto como revisor crítico de áudio, como usuário por mais de uma década de produtos dCS, a avaliar essa nova versão APEX do Vivaldi.

Como fomos recentemente a primeira publicação em nível mundial a testar o Bartók APEX, me senti no dever naquele momento de explicar minuciosamente o saldo dado da versão 2.0 para essa nova versão. Então peço a gentileza a todos, se quiserem saber todos os detalhes tecnológicos, que façam uma releitura do teste publicado na edição 293.

Aqui farei um breve apanhado dos principais tópicos, pois quero dedicar mais tempo à avaliação sonora do produto, pois há muito o que se dizer.

O próprio fabricante assumiu que o tempo de adaptação à pandemia com as pessoas isoladas em casa, foi o pontapé inicial da equipe de engenharia para estudar o que ainda poderia ser aprimorado da versão 2.0.

E como havia ociosidade suficiente, já que a fábrica e a produção estavam parados, os engenheiros responsáveis pelo desafio resolveram, à princípio, discutir entre eles o que cada um faria se tivesse a oportunidade de melhorar a versão 2.0. E desse exercício saíram dezenas de ideias promissoras e que foram sendo executadas.

Externamente a versão APEX é idêntica à 2.0, aliás para o consumidor saber que se trata da nova versão, têm que olhar no painel traseiro abaixo da entrada IEC, para ver a pequena identificação escrita APEX.

Mas abra o capô do conversor, e até aos olhos do leigo saltará a nova placa APEX PCB com as 48 fontes de corrente por canal, e resistores na saída analógica.

Em atualizações de software, os engenheiros perceberam que a versão 2.0 havia feito todo o processo, não deixando margem para nenhuma nova atualização. Foi então que o diretor de desenvolvimento, Chris Hales, decidiu considerar possíveis avanços nos circuitos analógicos do dCS. E foi aí que as ideias em grupo começaram a eclodir e tomar forma.

A atualização resultante foi a reconfiguração e aprimoramento de muitos componentes do Ring DAC principal, o ajuste do layout dos componentes na placa de circuito, e uma totalmente nova placa de saída analógica. O resultado foi uma redução significativa no nível de ruído e de distorção no segundo harmônico, em mais de 12dB!

Como escrevi, aos interessados nos detalhes de cada alteração, eu expliquei mais detalhadamente no teste do Bartók APEX.

O que eu quero enfatizar neste teste, é o quanto essas melhorias impactaram no Vivaldi APEX e o quanto ele consegue ser ainda mais impressionante que o Bartók APEX.

Para o teste, utilizamos apenas nosso Sistema de Referência com o transporte Vivaldi APEX no lugar do nosso conversor de referência, o Nagra TUBE DAC. Os cabos AES/EBU foram o Dynamique Apex e os Transparent Reference (para a ligação Dual AES).

A pergunta mais frequente que ouço dos leitores é se realmente se escuta tantas diferenças assim entre um bom DAC para um excepcional, e minha resposta costuma causar mais dúvidas do que esclarecimentos: depende, digo eu sempre.

Lembro uma vez em que um sujeito escreveu que a caixa de referência que o Andrette usava era “obsoleta”, e que ele a testou em seu sistema e conseguiu observar o quanto ela era limitada. Interessante que o sistema desse sujeito era muito, mas muito abaixo da caixa, então qualquer conclusão que ele possa ter chegado, está absolutamente errada.

Interessante como tanto os objetivistas como muitos ditos formadores de opinião, não acreditam em elo fraco, e acham que um produto de nível inferior não irá prejudicar o produto de nível acima. Então se você não tem um setup excepcional para avaliar um DAC também excepcional, você perderá grande parte das diferenças entre esse DAC e um de bom nível.

E ainda assim, um ouvido com boas referências poderá observar melhorias importantes como: uma sensação de melhor organização do acontecimento musical, uma sensação de maior arejamento, com foco mais bem definido e muitas vezes até melhorias na dinâmica e na precisão de resposta de transientes. Sem, porém, em um sistema inferior, conseguir dimensionar todas as melhorias para mensurar o quanto esses avanços valem ou não o investimento pedido.

Essa é a maior confusão que permeia as discussões de todos os fóruns, sendo ainda mais acaloradas nos que defendem que, a partir de uma faixa de preço, todos os DACs soarão iguais. Esse é o parâmetro que permeia essas discussões, até que de vez em quando um desses formadores de opinião, tem a oportunidade de ouvir um DAC muito acima do preço por ele estipulado como o sensato para se gastar em um conversor, e todas suas crenças caem por terra.

Já vi isso ocorrer algum bom par de vezes, e certamente nosso leitor também.

A questão aqui essencial não é se o valor pedido é válido ou não, e sim se o produto entrega o que diz fazer. E se ele o faz de maneira mais refinada que a concorrência, ou não.

Esse é o meu trabalho como Revisor Crítico de Áudio, conseguir mapear de maneira segura a assinatura sônica dos produtos enviados para teste, e o quanto eles suplantam em termos de performance seus concorrentes.

Basta uma olhada no nosso Top Five para ver o quanto esse nicho é disputado ponto a ponto, e o quanto os melhores estão se distanciando cada vez mais dos DACs também de excelente nível!

Sempre lembramos que qualquer dos DACs testados acima de 100 pontos, já será uma excelente escolha para qualquer audiófilo. No entanto, no patamar dos cinco melhores, percebemos que todos estão acima de 105 pontos, o que permite uma constatação muito interessante: do quanto os fabricantes estão se esmerando para ir cada vez mais longe na performance de seus conversores, e como estão conseguindo excelentes resultados.

Após o término da análise, e publicação do teste do dCS Bartók APEX, ficou claro que os modelos acima teriam ainda mais a oferecer em termos de precisão, detalhamento, correção tonal e refinamento.

A questão, para mim, era apenas do quanto mais seriam essas melhorias? Finalmente tenho a resposta, e passo a compartilhá-la com vocês.

Antes quero reiterar que qualquer audiófilo experiente pode perfeitamente viver satisfeito com qualquer um dos DACs na lista do Top Five. Pois cada um deles, à sua maneira, possui um pacote de qualidades inatacáveis!

Eu viveria tranquilamente com qualquer um deles.

No entanto tenho que concordar que, se o audiófilo tem bala e deseja extrair o sumo do sumo de seus discos prateados, ele deve buscar aquele que faz o trabalho da maneira mais correta e mais refinada.

E, nesse momento, o Vivaldi APEX, de todos os conversores por nós testados, encontra-se no mais alto degrau do pódio.
Já escrevi diversas vezes que sai da linha dCS (meu último setup digital era constituído pelo Transporte Scarlatti, DAC e Clock), pois à medida que a concorrência foi evoluindo, percebi em audições e testes críticos, que o meu setup expurgava diversas gravações que me eram muito caras emocionalmente, e que outros DACs eram muito mais condescendentes com essas gravações.

Usei até o termo de que meu setup dCS estava sempre com a ‘faca entre os dentes’, mesmo quando a música não necessitava dessa postura. E acabei optando por um upgrade que me resgatou de volta toda a minha coleção de CDs (literalmente).

Quem está no topo sempre tem uma visão do todo muito mais ampla, e claro que a dCS se mexeu e foi à luta. Lançou em 2012 o Vivaldi em substituição ao Scarlatti, e simultaneamente foi reformulando a linha abaixo.

Ficou nítido que, ao reformular toda sua linha, muito das características ‘nervosas’ das séries anteriores foram sendo lapidadas aos poucos.

Mas o grande divisor de águas, na minha opinião, se deu com o Bartók APEX, em que pude observar que aquela tensão existente deu lugar a um maior relaxamento, que já havia notado e tinha me conquistado em diversos produtos concorrentes.

E sem perder as inúmeras qualidades de uma excelente transparência, precisão e requinte.

Para quem está definindo seu futuro com o uso frequente de um streamer, o Bartók APEX é uma escolha exemplar, pois seu pacote é inteiramente coeso e no mesmo nível tudo!

Mas e o Vivaldi APEX?

Aqui as questões são muito mais relevantes, pois diria que existe uma dCS antes do Vivaldi APEX e outra agora.

Ouvi características sonoras no Vivaldi APEX que jamais observei em nenhum outro produto dCS. Começaria exatamente pela questão central do meu incômodo: o da ‘faca nos dentes’. Isso é passado, enterrado, e para ser esquecido. O que temos agora é um grau de naturalidade, resolução, organização e precisão que não ouvi em nenhum outro DAC ainda.

O acontecimento musical à nossa frente, seja simples minimalista ou complexo, com inúmeros naipes e instrumentos solo, ocorre de maneira tão ‘realista’ (no sentido de como sentimos os músicos cada um ocupando seu espaço em uma apresentação ao vivo), que nosso cérebro se pergunta algumas vezes: o que está acontecendo?

O maior exemplo e constatação desse fenômeno psico/auditivo se deu ao escutar a História de um Soldado, de Stravinsky, gravação da Reference Recordings em que os músicos estão quase que perfilados no palco e o espaço de cada músico é respeitado também na reprodução no Vivaldi APEX.

É o melhor foco, recorte e arejamento que escutei na vida! A altura está perfeita, o silêncio em volta de cada solista, a ambiência da sala de gravação e a sensação 3D do palco são impressionantes!

O Vivaldi possui um tempo preciso na resolução do sinal ultra linear, isso permite que qualquer passagem uníssona de dois ou mais instrumentos, sejam exercícios simples de acompanhamento. Para os amantes de jazz, essa característica tão peculiar e tão desejada, torna o Vivaldi APEX uma referência absoluta em termos de apresentação do acontecimento musical.

Acredite, meu amigo, outros grandes DACs vão parecer no mínimo ‘borrados’ ou mais difusos, na construção dessas imagens sonoras.

São esses detalhes somados que vão fazendo seu cérebro relaxar e acreditar que a mágica é real. Ou, para ser mais exato: possível! Afinal não é exatamente isso que todos audiófilos desejam ao final da jornada? Ter seu nirvana musical no momento em que desejar?

O que preciso que você entenda, amigo leitor que começou sua jornada recentemente, é que para se ter esse resultado, todos os quesitos da nossa Metodologia precisam estar perfeitamente alinhados e no mais alto grau possível.

Então, falar da exuberância do seu equilíbrio tonal seria redundante, assim como da beleza das texturas com nuances que outros DACs também superlativos se esforçam para nos apresentar.

Os transientes determinam o quanto a música consegue ou não nos prender, e a precisão que o Vivaldi APEX nos expõe o ritmo, tempo e andamento, nos leva a achar que naquele disco parece que os músicos hoje estão mais ‘animados’ ou focados.

Foi um deleite ouvir os oitos discos das apresentações do octeto do Wynton Marsalis no Village Vanguard. A sensação que tive é que realmente os músicos estavam mais focados e seus solos tinham algo a mais a nos mostrar.

E como é bom ouvir um dCS só mostrar a ‘faca nos dentes’, quando a música assim exige.

Que energia, que resultado visceral no Concerto para Dois Pianos & Percussão de Bela Bartók! Ou no quarto e quinto movimentos da Sinfonia Fantástica de Berlioz.

E nas passagens pianíssimas, tudo voltar à calmaria expressada de maneira tão clara na partitura.

Ouvir interpretações tão fidedignas à partitura, e tão precisamente captadas pelo engenheiro de gravação, é um deleite supremo!

Foram apenas duas semanas de convivência, mas foram de uma intensidade que jamais imaginei que viveria a essa altura da minha vida de editor da revista. Foram dezenas e dezenas de anotações em meu caderno, que à medida que envelheço mais parece um diário de bordo Intermusical, rs!

Detalhes ouvidos em gravações que me acompanham há mais de 30 anos, e que tive o prazer de saborear como se fossem novas versões ainda melhores tocadas.

Esse é o grande diferencial de um produto desse naipe: as gravações que amamos não apresentam alguns detalhes que nunca havíamos escutado, elas literalmente parecem versões atualizadas ainda melhores que o original!
Eu tenho que admitir que a distância do corpo harmônico do analógico para o digital, se resume agora a procurar ‘pêlo em ovo’! Não imaginaria jamais que iria escrever ou constatar essa realidade no digital.

O Vivaldi APEX chegou lá, senhores!

Para ter certeza que não estava delirando, ou seduzido pelos atributos sonoros do Vivaldi, escutei dez gravações que tenho as duas mídias – e em apenas uma o CD ainda se mostrou mais pobre (será a masterização, já que é uma gravação dos anos 60 do Duke Ellington?).

Nas outras nove a diferença é um cisco e nada mais!

O que posso dizer em relação a sua musicalidade? Acho que a melhor maneira de referenciar esse pacote de qualidades, é dizer que não senti nas duas semanas que estive na sua convivência, o desejo de ouvir meu analógico!
Não imagino uma definição melhor para dizer o quanto o Vivaldi APEX me conquistou!

CONCLUSÃO

Meu amigo, como eu sempre digo, não posso jamais afirmar que o Vivaldi APEX seja o melhor DAC da atualidade, pois não testei todos que dizem ser os detentores desse podium.

Mas que ele é, no mínimo, um dos candidatos ao trono máximo, não duvide.

Méritos ele tem em abundância!

Nota: 115,0
AVMAG #301
Ferrari Technologies
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(11) 98369.3001 / 99471.1477
US$ 79.800

PRÉ-AMPLIFICADOR P1F E POWER A2700 ELIPSON

Fernando Andrette

Foi com um misto de curiosidade e interesse que recebi a proposta de testar o primeiro conjunto de pré e power desenvolvidos pela empresa francesa Elipson.

Nossos leitores assíduos sabem que a Elipson é conhecida pela fabricação de caixas acústicas desde 1938, e que nos anos 50 passou a investir forte em desenvolvimento e projetos que foram considerados ‘futuristas’ pelo seu designs ousados e pelo uso de materiais diferenciados na construção de seus cones, e nas soluções de amortecimento de gabinetes.

Por décadas, a Elipson esteve voltada apenas para o mercado Francês, já que toda sua produção anual era consumida em seu próprio país. Foi apenas na virada do século que a empresa começou a dar passos tímidos além de suas fronteiras.

E apenas em 2015 começou a diversificar sua linha de produção, com a apresentação de seu primeiro toca-discos e, agora, foi dado mais um passo com o lançamento de seu primeiro pré e power.

Batizados de P1F e A2700, o pré e o power Elipson seguem a tradição desse fabricante de criar uma ‘identidade’ visual que diferencie todos os seus produtos da intensa concorrência mundial.

Diria que o design de ambos é muito discreto, com um estilo limpo e, o mais importante: muito funcional. Não precisamos sequer ler seus completos manuais para colocar esse conjunto a funcionar.

Por exemplo: para a escolha da entrada que estiver comutada, basta girar o grande botão da esquerda para ver aparecer no painel central todas as entradas disponíveis. Assim que você identifica a entrada desejada, o painel ficará piscando, bastando pressionar levemente esse botão para confirmar sua escolha. Simples e altamente eficiente em termos de comando.

O botão da direita é o de volume, com leitura em decibéis começando em -60 dB e indo até +12 dB. E o volume é aumentado em 0.5 dB a cada toque. E para sua segurança, e das caixas acústicas, não adianta apertar e segurar o volume no controle remoto, que ele não responderá a esse comando. Para evitar sustos, o usuário necessita ir apertando (ainda que rapidamente) e soltando para que o procedimento seja aceito. Eu aprecio muito esse cuidado, pois assim você pode com total segurança achar o ponto ideal de cada gravação. Principalmente para quem possui salas compartilhadas com toda a família, ou querem ouvir música na calada da noite, sem acordar e assustar a família.

Depois que você se familiariza com o controle, se você não tiver paciência, pode usar o comando bem rápido e você irá rapidamente ter alterações de 2 em 2 dB.

O P1F tem a opção de duas entradas RCA e uma entrada XLR, além da opção de adicionar ao pacote um estágio phono MM/MC ou um DAC baseado no chip Sabre ESS9028Q2M, com entradas digitais RCA (coaxial), ótica (TosLink) e USB.

Já o amplificador A2700 é ainda mais limpo em seu design que seu respectivo par. Para ter um gabinete tão compacto como o do pré de linha, o fabricante optou pela topologia classe D, oferecendo uma potência de 400 Watts em 8 ohms por canal, em plena carga com 1% de distorção. E com 100 Watts de potência, apenas 0.005% de distorção.

O power possui entradas RCA e XLR – no entanto, o fabricante aconselha que se o power for usado com o P1F, o ideal será utilizar a opção XLR. O fator de amortecimento, segundo o fabricante, é 1000, e ele suporta picos de curta duração de até 900 Watts.

E para aqueles que desejam ainda mais potência, o fabricante recomenda o uso de um segundo A2700, em mono, com até 1400 Watts por canal.

Para o teste, utilizamos o CD-Player Arcam SA50 (leia teste na Edição de Aniversário 295), e também o CD-Player Line Magnetic LM-515 Mk2 (leia teste na edição 294), ambos ligados ao P1F com os cabos da Sunrise Lab, e os novos top de linha da Virtual Reality (RCA e XLR). As caixas utilizadas foram Audiovector QR 5 (leia Teste 2 nesta edição), Wharfedale Linton 85 Anos (leia teste na edição 295), Harbeth 30.2 XD (leia teste na edição de julho de 2023), e Estelon X Diamond Mk2.

Depois de integralmente amaciados (180 horas ambos) eu, por pura curiosidade, cheguei a separar o par, na mera tentativa de descobrir se algum deles é que ‘carregava’ o outro, mas rapidamente percebi que não. O projeto foi todo muito bem executado, mostrando que ambos até podem trabalhar separados, mas juntos parecem ser a combinação perfeita.

Então decidi apenas publicar minhas observações do conjunto, e não separados.

Assim como o streamer, sobre o qual mensalmente escrevo que ainda existe espaço para ‘lapidações’ antes que ele possa realmente substituir a mídia física digital (óbvio que falo de níveis Estado da Arte), os amplificadores classe D também tem alguma lição de casa a ser feita. Mas também está cada vez mais claro e audível, que os fabricantes que dominam bem essa topologia estão caminhando a passos largos para resolver as pendências ainda presentes.

E quais são essas ‘pendências’? As mesmas que o digital levou décadas para solucionar. O que mais sinto falta nos amplificadores classe D é um melhor corpo harmônico – essa é ainda a maior pedra no sapato do digital, pois é fácil de perceber como todos os instrumentos e naipes de instrumentos soam menores do que na realidade.

E aí entramos na questão crucial do hi-end: é possível denominar um produto como alta fidelidade se ele ainda não atingiu o ponto de fazer nosso cérebro acreditar que estamos ‘vendo’ o que estamos ouvindo? Nosso cérebro não se engana. E sabe, como muitos descrevem, essa sensação de tudo estar corretamente apresentado e, no entanto, não nos levar ao ponto de imersão? A falta de calor, naturalidade ou musicalidade. É a maneira que encontramos para justificar que aquele sistema não nos seduziu o suficiente.

Os primeiros projetos de amplificadores classe D eram notórios em apresentar a música ali, e o ouvinte do lado de cá. Hoje, em gravações extremamente bem captadas e mixadas, com pequenos grupos, os melhores Classe D, conseguem enganar nosso cérebro. Mas não por todo tempo, pois quando ouvimos gravações tecnicamente bem resolvidas, mas não excepcionalmente, imediatamente nosso cérebro volta a nos lembrar se tratar de reprodução eletrônica.

E a segunda questão acho que tem a ver mais com a obsessão de distorções cada vez menores no Classe D, que melhoram impressionantemente o silêncio de fundo, mas correm o risco de passar do ponto, perdendo o ponto de equilíbrio entre a transparência e a naturalidade.

Não entrarei no mérito do percentual de audiófilos que querem esse grau de naturalidade, pois sei bem que uma grande maioria busca em seus sistemas o máximo de transparência. Para esses, acredito que a amplificação Classe D, assim como o digital (em streamer e mídia física), já atingiu plenamente esses objetivos. E, pelo crescimento exponencial dos projetos Classe D, acredito que o audiófilo com esse perfil seja maioria hoje!

Como os Elipson soam conjuntamente?

Em uma única palavra: Surpreendente!

Não estava preparado para o que ouvi desse conjunto, nessa faixa de preço. Pois ainda que a maior qualidade desse conjunto seja seu alto grau de transparência, permitindo ao ouvinte ‘dissecar’ as gravações, o ponto de equilíbrio entre transparência e naturalidade não foi rompido. Essa foi a mais grata surpresa: ao me familiarizar com esse conjunto, e entender sua assinatura sônica, foi possível que essa ruptura não ocorreu justamente pelo seu excelente equilíbrio tonal.

Deixe-me recordar algo que, para muitos de vocês leitores novos, certamente ainda não foi totalmente memorizado: quanto melhor o equilíbrio tonal, maior a possibilidade de termos uma boa neutralidade.

E neutralidade, ao contrário do que muitos audiófilos pensam, é uma meta que deveria ser buscada sempre. Pois ela permitirá que tudo que você aprecia musicalmente, não seja alterado pela coloração de um setup. E quando essa neutralidade surge no setup, também temos um equilíbrio maior entre transparência e naturalidade – o que, acredite meu amigo, é ótimo!

E esse conjunto da Elipson atingiu, e bem, esse ponto de equilíbrio tão crucial!

Em sua faixa de preço foi surpreendente a qualidade do soundstage, principalmente no foco, recorte, apresentação de ambiência, largura e altura do palco. Faltou aquela maior profundidade, que é sempre bem vinda em música clássica. Mas os planos, graças ao foco e recorte cirúrgicos, estão bem delineados.

O que nos surpreendeu foi como o power Elipson ‘domou’ as 4 caixas utilizadas no teste, e as direcionou bem ao lhes fornecer um sinal muito correto e coerente em todos os quesitos da nossa Metodologia.

A apresentação de texturas foi outra bela característica desse conjunto. Pois conseguiu, assim como no equilíbrio tonal, domar o grau de apresentação de paleta de cores de cada instrumento com suas intencionalidades. Confesso que não esperava esse grau de textura em um setup de nível intermediário! Ombreando com prés e powers mais caros!

Se existe um quesito em que o classe D nunca teve problema em reproduzir, foram os transientes. Aqui, os Elipson são referência para qualquer pré e power de qualquer nível de preço. O ouvinte se sentirá nas nuvens ao observar a facilidade e agilidade na apresentação de ritmo e tempo. Ouvi alguns discos de percussão e muitos pianos solo, e todas as apresentações soaram impecáveis e precisas!

A dinâmica, tanto a micro como a macro, são corretamente apresentadas, sem nenhum resquício de falta de degraus nos crescendos e nas sustentações, mesmo que por longos períodos. E na micro, graças a seu alto grau de transparência, nada se perde! Desde barulhos triviais que ocorrem no momento da gravação, como aqueles quase sussurrados que muitas vezes em outros sistemas passam despercebidos.

E o corpo harmônico, ainda que seja o item a ser alcançado, é tão bom quanto de qualquer DAC Estado da Arte, atual. O que significa muito, meu amigo, pois esse power classe D não custa o preço de um DAC Estado da Arte! E sim uma fração do preço.

A materialização física do acontecimento musical (organicidade), só não é maior pela limitação, como já disse, do corpo harmônico. Mas que, em gravações excepcionais tecnicamente, nos coloca com os músicos em nossa sala!

CONCLUSÃO

Já fui questionado centenas de vezes por inúmeros leitores, se não somos demasiadamente exigentes na maneira que avaliamos os produtos em teste. Entendo perfeitamente que possamos passar essa impressão a muitos de vocês.
Mas, pelo tamanho territorial do país e a dificuldade em ouvir o que desejamos comprar em condições adequadas, nos levaram a buscar editorialmente essa rigorosidade na maneira de avaliar e compartilhar com vocês nossas impressões.

Então, é preciso lembrar sempre que nossas conclusões se referem ao que ouvimos de cada produto ligado a seus semelhantes (em preço e performance). E apenas para fechamento de nota (se o produto apresenta maior potencial), utilizamos algum dos nossos produtos de Referência, apenas para saber o limite de performance desse produto em teste.

No caso deste conjunto Elipson, a mais importante conclusão que chegamos é que seu grau de compatibilidade com fontes digitais, cabos e caixas foi excelente! E provavelmente essa compatibilidade tem a ver com seu grau de neutralidade, que foi muito além de nossas expectativas. Porém sabemos que neutralidade é ainda hoje um ‘atributo’ difícil para quem jamais escutou um setup com alto nível de neutralidade. E já dediquei várias páginas falando de seus benefícios, e quão poucos fabricantes estão trilhando essa estrada no momento.

Se você está indo nessa direção, sugiro que ouça esse conjunto da Elipson em seu sistema, para ver se ele é compatível com suas fontes (seja analógica ou streamer), cabos e caixas.

O que alerto é que, com esse pré e power, será possível realizar uma ‘tomografia’ sonora de seu sistema e ver se é o que você deseja ou não. Ele lhe dará a noção exata do que a neutralidade pode proporcionar a um sistema em que tudo esteja na mesma direção.

E quando essa conjunção ocorre, cuidado, pois é muito difícil voltar atrás!

Nota: 93,5
AVMAG #296
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P1F: R$ 26.150
A2700: R$ 29.940

PRÉ-AMPLIFICADOR MARK LEVINSON Nº5206

Fernando Andrette

Sempre tive um enorme interesse por testar prés de linha, sejam valvulados ou transistorizados, pois muito cedo em minha jornada como revisor crítico de áudio, percebi que junto com a fonte e caixas são o componente que mais ‘determinam’ a assinatura sônica do sistema.

Por isso que os chamo de ‘cérebro do sistema’, justamente pela sua responsabilidade em fazer a ponte entre o que entra nele e que é entregue ao power.

Por três décadas escuto que um bom pré passivo ou um DAC com uma saída de pré analógica bem-feita, pode substituir de maneira eficaz um pré de linha. Eu nunca constatei essa possibilidade – pelo contrário, sempre ouvi perfeitamente as limitações de ambas as escolhas.

Então continuo sendo um defensor dos bons prés de linha. Com uma ressalva: é preciso muito critério na escolha deste componente, pois ele é muito pouco condescendente com parceiros que não estejam em seu nível de atuação.

Os excelentes, infelizmente, são caros e por isso mesmo que para a esmagadora maioria dos nossos leitores indico veementemente, quando consultado, amplificadores integrados. Já que esses, nos últimos anos, melhoraram e subiram de patamar exponencialmente.

No entanto, sempre haverá espaço para os pré-amplificadores em sistemas hi-end, e a boa notícia é que as opções são inúmeras e atendem perfeitamente a quem não abre mão de um setup com pré e power separados.

O Mark Levinson Nº5206 é um pré-amplificador duplo mono, que tem o objetivo de se tornar o pré definitivo de todos que chegaram à etapa final de sua busca.

Então, ao receber o produto para teste e o colocar para tocar junto com o seu par de direito, o power Mark Levinson Nº5302 (Edição 297 de julho de 2023), fui também buscar outras opções para sentir seu grau de compatibilidade, pareando-o com os powers Nagra HD, o power Elipson (leia teste na Edição 296), e o PA-10 da Gold Note (leia teste na Edição 293).

Como todo produto desse fabricante, o acabamento é primoroso, desde a embalagem bem projetada para assegurar a segurança do produto, até o seu design que transpira qualidade em todos os detalhes.

E como todo produto Mark Levinson, este pré é feito para oferecer ao usuário um leque de opções, como um excelente DAC, Bluetooth aptX e um surpreendente pré de phono MM e MC. Com duas patentes conquistadas por seu design inovador, o 5206 foi projetado para preservar o máximo possível o sinal, seja ele digital ou analógico. Para se comprometer a esse grau de performance, os engenheiros optaram pelo uso de componentes discretos, cuidadosamente selecionados – com um estágio único de ganho, que utiliza uma rede de resistores para controlar o volume, com uma enorme largura de banda, e um sinal o mais íntegro possível.

O pré de phono para cápsulas MM e MC, utiliza uma topologia batizada de ‘híbrida de ganho’, também com componentes discretos que são os mesmos utilizados na série 500 Pure Phono Stage, de circuito integrado de baixo ruído e alta qualidade para a equalização RIAA. Ele possui entradas separadas para MM e MC, e um filtro subgraves opcional que pode ser ativado em seu menu – assim como o ganho também pode ser pré-ajustado.

Outro enorme diferencial, foi ouvir seu excelente amplificador de fone, desenvolvido exclusivamente para esse modelo, que segundo o fabricante é capaz de conduzir qualquer fone de ouvido do mercado.

Seu DAC de 32-bit utiliza um chip ESS Sabre Pro Series com suspensão de jitter. O conversor D/A utiliza cinco fontes independentes e de baixo ruído, com tensão totalmente balanceada, para um processamento de sinal extremamente preciso e com uma faixa dinâmica estendida. O conversor D/A do 5206 processa sinal Linear PCM com até 32-bit e 384kHz, DSD até 11,2MHz e, também, aceita codificação em MQA. Seu módulo Bluetooth pode receber não apenas em aptX em qualidade de CD, como também em aptX HD em áudio de alta-resolução com até 24-bit e 48kHz.

O Nº5206 possui duas saídas, uma RCA e outra XLR, sendo que as saídas podem ser configuradas de acordo com suas necessidades, incluindo o uso de subwoofer como em um sistema 2.1, com filtro passa-alta discreto que pode ser ativado através de programação. Além de possuir uma interface RS232, uma interface Ethernet RJ45 e uma porta USB para atualizações.

Seu arsenal de entradas é realmente impressionante, com quatro entradas de linha sendo duas XLR e duas RCA, além de seis entradas de áudio digitais: AES/EBU, duas coaxiais, duas S/PDIF e uma USB assíncrona com capacidade para alta-resolução.

Seu gabinete possui o padrão de visualização Mark Levinson, com o botão de ligar em destaque, uma frente levemente curva, abertura de ventilação na tampa superior em relevo. Uma tela de vidro ao centro do painel de vidro, rodeado por uma moldura de alumínio sólido de uma polegada de espessura.

Claro que, quando ligado, é vermelho: é a cor predominante da marca!

Quem leu o teste do power publicado na edição de julho, já deve saber que o casamento mais óbvio a ser feito será esse. Afinal foram concebidos para trabalharem em conjunto em profunda simbiose sônica. Mas é nosso dever ir um passo adiante e descobrir como ambos se sucedem atuando separados. Afinal, sabemos que a dinâmica de upgrades no mundo audiófilo não segue uma lógica matemática.

Muitas vezes a busca não é pelo conjunto e sim apenas por uma das unidades. Geralmente os powers são os que possuem maior grau de compatibilidade com prés de outros fabricantes, sendo que só os prés considerados mais ‘superlativos’ é que navegam por mares mais distantes ampliando sua zona de atuação.

Então, nossa pergunta desde o início foi: como será que ambos se comportariam separados? O power, vimos que se saiu muito bem sem seu ‘par de dança’ preferido.

Mas e o pré, teria o mesmo jogo de cintura?

Para obter essa resposta, utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes digitais: dCS Bartok Apex, DAC 1 Merason Mk2 (leia teste edição de outubro) e o Nagra TUBE DAC. Fontes analógicas: Pro-Ject X8 (leia teste na Edição 297), MoFi StudioDeck +M (leia teste em outubro) e Origin Live Sovereign Mk4 . Fones de ouvido: Meze 109 Pro e B&W Px8 (leia teste na Audiofone). Powers: PA-10 Gold Note, Elipson a2700, Mark Levinson Nº5302 e Nagra HD. Cabos de força: Dynamique Audio Apex e Transparent XL G6. Cabos de interligação: Dynamique Apex. Transporte CD Nagra, e streamer Innuos ZENmini Mk3.

Tive, ao longo desses últimos 30 anos, em nossos sistemas de referência, prés de linha de estado sólido mais que valvulados, então me sinto à vontade em avaliar qualquer pré de linha que venha para teste. E entendo os que são apaixonados por prés valvulados, e suas restrições ao ouvirem prés de estado sólido e acharem que ‘falta calor’ ou aquela ‘musicalidade’ a mais. É realmente uma ‘equação’ difícil de explicar, e nem sei se nesta altura da minha vida pessoal e profissional, tenho vontade de tomar para mim essa responsabilidade.

Como revisor crítico de áudio, o que posso dizer é que para se extrair o melhor de um pré de linha de estado sólido, será muito importante a qualidade das fontes que serão parceiras desse pré. Se houver um simples ‘vacilo’ em termos de assinatura sônica, fatalmente esse vacilo será denunciado claramente. Agora, com uma fonte que possua os dois itens mais importantes em termos de alta fidelidade – que são equilíbrio tonal e folga – um pré de estado sólido pode mostrar nuances e características que dificilmente um pré valvulado conseguirá.

Então, meu amigo, como sempre preciso lembrar que tudo se trata de escolhas.

Vou dar vários exemplos através desse teste, de como a fonte determina a performance do pré de linha.

O que posso começar por dizer do Mark Levinson é que ele tenta, da forma mais honesta e comovente, manter o sinal que recebe o mais fiel possível ao que a fonte está entregando. E isso pode parecer algo óbvio de se afirmar, porém na prática sabemos que é o oposto – pois a maioria dos pré de linha irão modificar esse sinal recebido antes de entregar ao power. Sendo muito raros os que conseguem fazê-lo sem dar seu ‘toque pessoal’ nesse processo.

O Mark Levinson conseguiu nos mostrar com detalhes a maneira com que cada uma das fontes utilizadas processou o sinal que estava lendo. E isso é um mérito e tanto para um pré de linha. E aí é que entra a maior diferença em termos de informações sutis entre um excelente pré de linha de estado sólido e um valvulado.

Como comecei por avaliar o seu pré de phono interno, e tínhamos à mãos três toca-discos de preços distintos, com cápsulas distintas, ouvimos seis faixas nos três, e busquei anotar o quanto soaram diferentes com cada um. Depois fiz uso do nosso pré de referência de phono (que custa o preço do pré de linha da Mark Levinson inteiro) e passamos as mesmas faixas agora pela entrada XLR do Mark Levinson, e as diferenças continuaram sendo todas audíveis, demonstrando que os engenheiros conseguiram dar a todas as opções existentes nesse pré, a mesma assinatura sônica.

E isso é um feito e tanto!

Seu equilíbrio tonal é excelente, com enorme extensão nas duas pontas, região média extremamente detalhada e presente, e agudos que possuem um decaimento bastante suave e preciso. Só não espere deste pré concessões com gravações tecnicamente ruins, pois ele não irá suavizar nada!

Os novos leitores sempre me pedem para dar algumas dicas de como sintetizo a sonoridade dos produtos testados, para facilitar sua compreensão de como o produto toca. Hesito em fazer isso, por um único motivo: nossa radiografia de um produto é restrita, ainda que seja precisa com os setups que tínhamos em mãos naquele momento. Então, ainda que possa ‘sinalizar’ determinadas características, essas dizem respeito àquele momento apenas, OK?

Tentando ajudar esses novos leitores, o que posso afirmar em termos de ‘personalidade’ desse pré, é que ele tende para o Neutro, sem nenhum viés para os extremos (do Analítico ou do Musical).

Alertando sempre aos possíveis interessados, que produtos com essas características devem ser muito bem-casados, para não acabarem por perder esse tênue equilíbrio. Ou seja, produtos com essa personalidade precisam que o audiófilo tenha rodagem suficiente para ‘domar’ essas qualidades. Não se trata de um pré de linha para principiantes, pois demandará acima de tudo paciência e múltiplas audições para a escolha de fontes à sua altura.

O bom é que o grau de compatibilidade deste pré é excelente. Pois se saiu muitíssimo bem com todos os powers que pudemos ouvir com ele.

Óbvio que o seu par perfeito foi o, também, Mark Levinson, mas nenhum outro power teve dificuldades em atuar no mesmo sítio.

Seu soundstage é primoroso, tanto em termos de foco, recorte, como de planos e ambiência. Para os amantes de música clássica, eu diria que dificilmente em sua faixa de preço haverá prés de linha nesse quesito superiores a ele.
Nas texturas, assim como no equilíbrio tonal, tudo dependerá da qualidade técnicas das gravações. Em captações excepcionais, a apresentação de texturas será sempre sublime! Com enorme riqueza na reprodução da paleta de cores, nuances e intencionalidades.

Os transientes são impecáveis, e referências até mesmo a prés de linha ligeiramente mais caros. Nada em termos de andamento se perde ou confunde nossa mente. Ele é um convite explícito à saímos dançando ou a marcarmos o tempo com os pés.

Dinamicamente quando ligado ao power Mark Levinson e ao Nagra HD – nas caixas Estelon X Diamond Mk2 – o resultado foi avassalador. As variações dinâmicas, das mais insinuantes às intensas, são de nos pegar pelo pescoço e nos fazer redobrar a atenção, tamanho impacto! E a microdinâmica é ‘pêra doce’, tanto em termos de inteligibilidade como de conforto auditivo.

O corpo harmônico é reproduzido com tanta fidelidade ao que foi captado, que me lembrou os melhores prés de linha que já testamos, muitos custando até três vezes ou mais seu preço.

Organicamente, a materialização física do acontecimento musical se faz presente à nossa frente com enorme desenvoltura nas gravações excepcionais.

No restante, seu cérebro poderá desconfiar. Mas, se relaxado, embarcar naquela viagem sonora com prazer.

CONCLUSÃO

Todo audiófilo com mais de 50 anos costuma acreditar que sabe como soa determinada marca de cada fabricante.
Pergunte a ele como soa um Krell, um Jeff Rowland, um Audio Research ou um Mark Levinson, e ele encherá o peito para descrever em detalhes o que ele carrega em sua memória auditiva a lembrança de cada uma dessas marcas.

Alguns são mais comedidos em suas descrições, sabendo que nossas memórias nos traem, ou muitas vezes as circunstâncias em que ouvimos determinado setup não eram as melhores.

Já outros não se intimidam e tecem em detalhes suas observações.

Tirando a Jeff Rowland, que tive vários prés e powers – mas que não ouço faz pelo menos uma década – as outras três marcas que citei mudaram muito nessa última década. E todos as três para melhor, acreditem.

Se isso é o suficiente para fazer você rever suas opiniões, eu não sei, mas é fundamental para a nova geração que está chegando ao mercado.

E, na minha opinião, o que difere a Mark Levinson dos outros fabricantes americanos é sua capacidade de buscar monitorar as profundas mudanças tecnológicas que estão ocorrendo no mercado, e se adaptar a essa nova realidade. Eu não vejo seus concorrentes tão preparados nesse sentido.

E o que mais admiro é que estão fazendo a lição de casa sem perder sua identidade original, que é o hi-end! Se eles estão fazendo a coisa certa, só o tempo irá nos dar a resposta, mas que o grau de empenho que estão dedicando na produção desses novos produtos é exemplar, meu amigo!

Se você deseja um pré de linha hi-end Estado da Arte, que faça com maestria seu papel de receber o sinal e mandar adiante alterando-o o mínimo possível, e ainda receber um pacote com um ótimo DAC, pré de phono MM e MC, e um bom amplificador de fone de ouvido, não ouvir esse pré da Mark Levinson será imperdoável!

Pois não estou falando apenas de versatilidade e compatibilidade, estou falando de ótima performance também, e com um grande detalhe adicional: história! Uma marca que por décadas se manteve como um dos alicerces do hi-end.

Quantas empresas podem manter esse leque de atributos nos dias de hoje?

Nota: 100,0
AVMAG #299
Mediagear
contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 112.000

AMPLIFICADOR INTEGRADO LINE MAGNETIC AUDIO LM-805IA

Fernando Andrette

Quando leio em fóruns internacionais os objetivistas proclamarem que válvulas e analógico sequer deveriam ser lembrados como tecnologias de ponta por serem topologias do século passado, me pergunto sempre o que impede essas pessoas de deixarem os números de lado e apenas ouvirem, para saberem se o que as medições indicam bate com o que ouvimos.

Já contei algumas vezes minha primeira experiência com o CD-Player e, como eu, meu pai, e o dono do CD-Player da Sony, e meia dúzia de audiófilos, se sentiram após esse primeiro contato. Eu era o mais novo dos participantes daquela audição, e talvez o menos indignado com o que ouvimos, que de tão decepcionante, levou-nos à conclusão que deveria ter algo errado com o equipamento ou com os dois discos que vieram com ele.

O problema é que essa decepção inicial se estendeu por mais duas décadas, antes de finalmente eu reconhecer que o digital finalmente foi evoluindo e corrigindo suas inúmeras limitações.

Já li e participei de longas discussões a respeito do formato digital, e minha opinião continua sendo que houve uma precipitação no lançamento do formato e, como sempre, o marketing ‘dourou a pílula’ demasiadamente. O que me pergunto sempre é: se a indústria tivesse apenas a referência e opinião dos objetivistas, teríamos corrigido os erros tão audíveis do formato?

Claro que não!

Pois por eles os números já eram magníficos, e nada precisaria ser ajustado ou corrigido. Estaríamos apenas vendo, de geração em geração, números cada vez menores de distorção e ‘upsamplings’ cada vez maiores. Sem jamais se questionar o que significava aquela dureza, som esquelético, timbres artificiais, e enorme fadiga auditiva!

Então, meu amigo leitor, se você dá mais peso para especificações técnicas do que para sua audição, dificilmente você irá se interessar tanto por aparelhos valvulados e por vinil.

E certamente nem a mídia física CD faz parte dos seus planos.

Afinal o streamer é a bola da vez! Felizmente, a vida nos prega inúmeras surpresas, e o imponderável pode perfeitamente estar a segui-lo como uma sombra silenciosa, e pode levá-lo a descobrir que o mundo do áudio é um leque de possibilidades incríveis. Já vi isso ocorrer centenas de vezes, e só posso lhe dizer que quando ocorrer contigo, esteja preparado. Pois esses contatos costumam ser profundos, e nos fazer repensar tudo aquilo que acreditávamos ser irrevogável!

Objetivistas também costumam dizer que os que ainda defendem o uso de válvulas e analógico, na verdade são saudosistas e todos com mais de 50 anos. E que provavelmente estão com sua audição já debilitada, e por isso não percebem o quanto essas opções são obsoletas. Nos fóruns eles têm verdadeiros ‘orgasmos’ ao compartilhar as medições de um DAC ou um amplificador Classe D moderno, e se enchem de orgulho de serem os Guardiões da Modernidade Tecnológica.

Não pensem vocês mais novos, que essa mesma discussão não se deu quando o transistor começou a ser utilizado nos amplificadores dos anos 60. Cada vez que há uma ruptura com o padrão tecnológico vigente, as discussões serão intensas até haver um vencedor.

Até aí, nada de novo.

O que os defensores da ‘modernidade’ no áudio hi-end precisam entender de uma vez por todas, é que não estamos falando de produtos que se tornaram integralmente obsoletos, como máquinas de escrever ou fax. E se essas topologias continuam a ter apreço e procura, algo nelas deve ser muito ‘atraente’, e não podem ser justificadas por mero saudosismo.

Eu jamais avaliei o mercado hi-end por essa perspectiva tão superficial. E também não gosto das explicações que os canais de comunicação tentam dar para descrever o ressurgimento dessas topologias (que na verdade nem poderia ser tratado dessa forma, pois no mercado audiófilo, ambas nunca morreram). Quando leio que as pessoas colecionam LP pelas capas, o manuseio dos discos, o encarte, tenho vontade de implorar para deixarem de usar esses argumentos tão chulos!

Essas características são consequências, jamais o motivo de alguém ainda sentar e apreciar um LP.

O mesmo ocorre com a válvula. As justificativas vão desde a memória de ouvir o rádio valvulado dos avós, até a explicação rasa de ser um som mais quente e ‘sensual’ (não riam, tenho visto ser usado o termo sensual cada vez mais, pelos revisores mais novos).

O que quero dizer para você que me acompanhou até aqui é: esqueça todas as justificativas e argumentos contra e a favor a respeito da sonoridade de um amplificador valvulado, e apenas ouça! E tire suas próprias conclusões. Pois o mundo não tem uma argumentação racional e eficaz o suficiente nem para explicar a sonoridade do vinil e nem tão pouco do valvulado!

E quando tentam lhe explicar de uma forma didática sobre os harmônicos pares, isso também irá ser muito pouco eficiente, se você não souber que diabos são harmônicos pares e como nosso cérebro os codifica.

E o último toque (prometo), não é pelo fato de ser válvula ou analógico, virá com um certificado de satisfação garantida. Isso não funciona assim no hi-end!

Então, mãos a obras, se você deseja descobrir por si se a topologia serve ou não para suas expectativas sonoras.
E se você deseja se embrenhar por essa estrada, eu sugiro que na sua lista esse Line Magnetic seja uma de suas primeiras audições.

Como escrevi nos testes de outros produtos deste fabricante, essa é uma marca que veio para ficar e ser um referencial consistente tanto em termos de preço como de performance. Pois os irmãos Zheng e Zhuhai, os projetistas e fundadores da Line Magnetic Audio, sabem exatamente o que precisam fazer para conquistar corações e mentes de audiófilos em todos os continentes.

O 805iA é um integrado de 48 Watts usando uma única válvula 805 por canal, que trabalha em classe A. No estágio de entrada utiliza duas 6SL7 e duas válvulas 6SN7 no estágio do driver, e um par de 300B. Os transformadores EI possuem uma banda ultra larga para cargas de alto-falantes de 4,8 e 16 ohms.

O acabamento externo é primoroso, e percebe-se que os componentes usados são de alta qualidade, como potenciômetro ALPS, capacitores MIT e Mundorf N-Cap.

O 805iA pesa 42 Kg, o que requer a ajuda de uma pessoa para desembalar ou um Robério à disposição, como foi o meu caso.

As válvulas usadas são fornecidas pela PSvane e Shugang, e todas saem de fábrica impressas como Line Magnetic.

Segundo o fabricante, as válvulas têm uma vida útil mínima de 1000 horas, e as válvulas do estágio de entrada, 5000 horas.

Para proteção de crianças e animais, o LM-805iA vem com uma gaiola removível, e o ajuste para polarização das válvulas e feedback precisa que a gaiola seja removida para ser operado. Nas quatro semanas em que o LM-805iA esteve em teste, depois de ajustada a polarização, não tivemos mais que fazer nenhum ajuste fino.

Gostei bastante do recurso de Feedback Negativo de quatro etapas, utilizado para atenuar a distorção potencial do estágio de saída, e você escolhe qual casa melhor com a caixa que estiver usando. Nas três caixas que usamos no teste, as melhores escolhas foram as opções 1 e 2.

As mudanças foram audíveis, porém se percebe mais como uma alteração estética (nas três caixas utilizadas) alternando o foco e recorte da imagem, e mudando algo em relação a dinâmica de maneira sutil.

Também achei muito interessante o sistema de proteção – ao ligar o amplificador – com seu retardo de 30 segundos antes de estar liberado para uso. Certamente isso ajudará a manter a sobrevida de todas as válvulas.

O painel frontal é limpo, com o botão do lado esquerdo de liga/desliga, seguido dos VUs, duas pequenas chaves para iluminação dos VUs e ajuste de bias, botão de entradas e o botão maior de volume.

Para o teste utilizamos as seguintes caixas: Harbeth 30.2 DX, Audiovector QR 5 e Boenicke W5. O resto do sistema (fonte analógica e digital), foi o sistema de referência da revista. Cabos de força: Transparent PowerLink MM2, e Sunrise Lab Quintessence Aniversário. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Oyaide OR-800 Advance (leia Teste 3 nesta edição).

Minha primeira dúvida era se o LM-805iA, com seus 48 Watts, teria fôlego e autoridade para empurrar caixas tão distintas em termos de sensibilidade, e essa dúvida se dissipou assim que apertei o Play. Claro que, sempre estaremos falando de casamento, e aqui a caixa que melhor casou foi a Audiovector QR 5 – com sua sensibilidade maior que a da Harbeth e da Boenicke – o 805iA se sentiu à vontade para atuar ao seu lado.

E o casamento não foi apenas de controle, mas também de assinatura sônica. E aqui entramos em um tema que o objetivista jamais irá entender ou apreciar, a ‘personalidade’ de um sistema e como suas qualidades podem ser realçadas ou empobrecidas no setup correto.

Amplificadores valvulados geralmente possuem uma ‘personalidade’ forte e incisiva, não deixando muita margem de manobra para o resto do sistema. Eles costumam impor suas vontades (ou melhor de quem o projetou), e o Line Magnetic deixa isso bem claro assim que sua temperatura estabiliza, após os 45 minutos depois de ligado.

Esqueça a sensação de neutralidade ou imparcialidade. Aqui ele dará as fichas e qualquer gravação de qualquer estilo irá sempre tender para uma reprodução mais quente, sedosa e cativante. Isso ocorreu com as três caixas, por mais que tenham características tão distintas.

A QR 5, com sua neutralidade mais evidente, ganhou um grau de calor na apresentação de texturas, que não observamos quando publicamos sua avaliação. Com essa característica, as gravações tecnicamente limitadas se tornaram muito mais ‘palatáveis’.

A Harbeth também teve que sair de sua zona de conforto de um monitor hi-end, para ganhar uma sonoridade mais quente e com agudos com uma ligeira menor extensão sem, no entanto, perder seu excelente equilíbrio tonal.

Como o 805iA é mais quente do que neutro, precisa ser muito bem dosado para não passar do ponto e se tornar enfadonho. Então, minha primeira dica é uma caixa que seja o mais neutra possível, aí o resultado será muito cativante!

Os graves não possuem aquele ímpeto de amplificadores de estado sólido, mas são corretos e com ótima energia e corpo para apresentar a fundação musical com critério e propriedade. E os agudos, ainda que não tenham uma grande extensão, compensam com um decaimento muito natural e suave.

Resultado: longas audições sem o menor resquício de fadiga auditiva!

As texturas são deslumbrantes, tanto em riqueza, como em precisão.

Teimo em dizer – e lembrar aos objetivistas – que não existe medição para traduzir com eficácia as diferenças de apresentação de texturas entre amplificadores da mesma topologia. E este quesito, em amplificadores valvulados bem projetados e cuidadosamente ajustados por ouvidos com referência de instrumentos e vozes não amplificados, atingem um grau de beleza difícil de ser superado por amplificadores de estado sólido.

Isso é um fato, não uma suposição!

O soundstage possui excelente foco, recorte e planos bem apresentados, desde que o ajuste do Feedback Variável do aparelho tenha sido bem casado com a caixa.

Os transientes são corretos, com boa marcação de tempo e ritmo, mas não esperem aquela precisão dos amplificadores de estado sólido ultra hi-end.

O leitor, atento à medida que se familiariza com nossa Metodologia, consegue construir um mapeamento dos produtos testados e rapidamente percebe que tudo é uma questão de escolhas do fabricante, que busca dar ao seu produto a assinatura do que ele deseja ou acredita ser o mais importante na reprodução eletrônica.

A dinâmica do LM-805iA, como todo valvulado, terá uma micro melhor que a macro. Então, o que os melhores projetistas dessa topologia buscam é um ponto de equilíbrio entre a micro e a macro, que soe coerente e sem rupturas que comprometam a reprodução do acontecimento musical.

Para fechar a nota dos valvulados, posso até usar os exemplos que utilizo no teste dos amplificadores de estado sólido. Mas sabendo das limitações, prefiro muito mais usar a faixa Bolero de Ravel, estabelecer o volume correto da gravação e ouvir a obra inteira. Se conseguir, no volume correto, escutar em detalhes o início no pianíssimo da obra, até o fortíssimo final, sem ter que ir baixando o volume para não distorcer a gravação, me dou por satisfeito com o quesito dinâmica do valvulado em teste.

O LM-805iA passou com mérito, na caixa Audiovector QR 5, nesse quesito.

O corpo harmônico é excelente, deixando alguns amplificadores muito mais caros em dificuldades.

E a materialização física com gravações impecáveis tecnicamente, trouxe os músicos à nossa frente.

CONCLUSÃO

Acho que os projetistas do LM-805iA têm o maior orgulho desse projeto, e como o resultado soou coeso, coerente e encantador!

Quando testamos amplificadores acima de 20 mil dólares, tenho sempre para mim que o fabricante precisa justificar integralmente esse valor com resultados altíssimos de performance.

O famoso ‘não fez mais que a obrigação’!

Agora, quando pegamos amplificadores de 4 a 19 mil dólares que conseguem se sair tão bem, o mérito tem que ser dado ao projetista, pois ele mostrou ter total domínio e concretização de suas ideias e desejos.

O LM-805iA pertence a essa safra, e quando pensamos que para chegar a esse nível de performance ele não usou de maior potência para tornar tudo mais fácil, o mérito se torna ainda maior!

Seus 48 Watts são suficientes para uma enorme quantidade de caixas atuais, e suas inúmeras qualidades eclipsam essa potência menor, essa é a verdade.

Se você consegue ouvir a proposta e beleza de um amplificador valvulado bem projetado, e cuidadosamente ajustado para nos fazer esquecer das desventuras e tensões diárias, e deseja ardentemente poder ter algumas horas de prazer na companhia de sua música, o LM-805iA é um convite sedutor e perspicaz para que esse seu desejo se realize!

Nota: 97,0
AVMAG #298
Elite Sound
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(19) 99713-5005
R$ 45.000

Uma leitora recentemente nos enviou um e-mail perguntando se ela algum dia iria conseguir reconhecer a ‘assinatura sônica’ dos equipamentos, como se consegue reconhecer a assinatura sônica dos instrumentos? Senti que sua pergunta tinha um pouco de dúvida, se realmente os equipamentos eletrônicos se comportam como os instrumentos acústicos.

Na minha longa resposta, recorri até ao meu brilhante professor de Percepção Musical da Fundação da Artes de São Caetano, que uma vez falando sobre as várias escolas de violino de Cremona, nos lembrou que as diferenças entre um Guarneri e um Stradivarius, sempre seria mais fácil de reconhecer nas mãos de um Paganini do que um estudante esforçado.

Assim como um piano Yamaha de um Bosendorfer na mão de um Chick Corea.

E disse a ela que, com os equipamentos de áudio, não é muito diferente. Pois com o setup correto em que haja a mais profunda sinergia e equilíbrio tonal, as diferenças de assinatura sônica se tornarão mais perceptíveis. Então que, antes dela se preocupar em ouvir as assinaturas sônicas dos equipamentos, existe uma etapa a ser cumprida: entender as qualidades e limitações de cada equipamento.

Para posteriormente, entendendo como se avalia essas qualidades e limitações, é que podemos nos debruçar sobre a assinatura sônica que mais desejamos para ouvir nossos discos. Por ser uma mulher, tenho esperança que ela tenha entendido minha respostas e use da qualidade feminina de ser mais paciente que os homens e busque não pular etapas. Digo isso a todos que me procuram com essa questão em pauta, porém os homens parecem ter o ímpeto na alma de quererem tudo ao mesmo tempo e, com isso, pagam caro pela sua falta de disciplina e foco.

A questão central desse drama audiófilo, é acreditarmos que por nascermos ouvindo, estamos aptos para escolhermos com precisão o que nos interessa (a quantidade de setups tortos, independentemente do valor investido, está aí para mostrar exatamente o contrário).

Atento a todas essas questões, e buscando nas consultorias diárias um ‘norte’ para escrever tanto os testes quanto os artigos de Opinião, é que quando eu me deparo com um fabricante em que a assinatura sônica está muito evidente, procuro deixar explícito como essa assinatura se comporta. Tanto com seus pares ou com marcas concorrentes mais similares nessa assinatura.

Essa é a tal dica, que faz tempo deixou de ser ‘entrelinhas’ em meus textos, pois quando escrevo me comprometo a tentar falar tanto com o leitor das grandes capitais, como com aqueles das pequenas cidades, isolados, mas ávidos por informações ‘preciosas’ para o ajuste de seus sistemas ou futuros upgrades.

Toda essa enorme introdução, para descrever mais um produto do fabricante italiano Gold Note, e seu mais compacto power, o PA-10.

Seguindo o design do DAC/Pré DS-10, e do pré de phono PH-10, o pequeno power PA-10 possui o mesmo gabinete nas versões prata, preto e dourado.

Muitos leitores, ao se depararem com essa linha compacta da Gold Note, olham com certa desconfiança de que gabinetes tão compactos possam ter tão alto grau de performance.

Por isso é preciso ouvir, caro leitor, para poder saber se eles são a cereja do bolo que tanto desejamos.

O PA-10 é um amplificador totalmente balanceado com um design que os engenheiros batizaram como BTL (Bridge Tied Load), que permite que a unidade seja ajustada e opere como um amplificador estéreo com 75 Watts em 8 ohms, podendo chegar a surpreendentes 600 Watts em 4 ohms em modo mono.

Tanto que a Gold Note indica que, caso você possua uma caixa de boa sensibilidade e uma sala de até 20 metros quadrados, use-o com estéreo. E quando for realizar upgrades na caixa ou na sala, compre uma segunda unidade e trabalhe com eles em mono.

O PA-10 herdou do modelo top – o power PA-1175 MkII – o fator de amortecimento ajustável que permite que ele seja adaptado a qualquer tipo de falante, bastando ajustar a chave no painel traseiro para padrão DF em caixas difíceis de domar, ou DF baixo para caixas de alta sensibilidade.

Em mono, será preciso acionar o botão BTL. Neste modo, apenas as entradas à esquerda de cada unidade deverão ser ligadas ao pré-amplificador. Quando é acionado o modo BTL, o led no painel frontal se torna azul.

Para o teste utilizamos o PA-10 em estéreo, tocando com as seguintes caixas: Harbeth Compact 7ES-3 XD (leia Teste 1 nesta edição), JBL L100 Classic, Monitor Audio Gold 500. Em mono, ouvimos essas três caixas e também a Estelon X Diamond MkII. Os prés foram: Gold Note DS-10 e o Nagra Classic, com ambos ligados pelos cabos XLR da Sunrise Lab Quintessence Anniversary, e Dynamique Audio Apex. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, Oyaide OR-800
Advance, e o Dynamique Audio Apex. Fontes digitais: streamer do DS-10, CD via Transporte Roksan Atessa (leia Teste 3 nesta edição). Fonte Analógica: pré de phono Gold Note PH-1000, toca-discos Origin Live Sovereign Mk4 e cápsula ZYX Ultimate Astro G.

Os dois PA-10 vieram lacrados, e para início do teste abrimos apenas um para funcionar com as três caixas acima descritas em estéreo. Primeira impressão: assim como todos os outros produtos já testados da Gold Note, eles saem tocando muito bem, o que permite que o comprador possa acompanhar seu amaciamento sem arrancar os cabelos ou roer as unhas.

O amigo leitor não imagina o quanto aprecio poder ir fechando outros testes e poder ouvir as melhorias diárias de um produto em queima.

Segunda impressão: a assinatura sônica do PA-10 é deveras semelhante à do integrado IS-1000 que testamos e nos impressionamos. Assim como do DS-10, PH-10 e PH-1000.

A Gold Note, mais que uma assinatura sônica muito evidente, tem uma forte identidade do que busca e deseja em todos os seus produtos. E isso, no meu modo de entender audiófilia, é excelente! Pois não é daqueles fabricantes que desejam abraçar o universo de consumidores, desenvolvendo diversas linhas para agradar a gregos e troianos. Pelo contrário, o consumidor ao ouvir um Gold Note, saberá de prima se é isso que ele deseja ou não.

Diria que os produtos Gold Note são feitos sob medida para audiófilos que não tem pressa e muito menos impulsividade no momento de suas escolhas.

Um Gold Note jamais soará impetuoso ou pirotécnico! Se é isso que o leitor busca e aprecia, nem perca seu tempo. Sua assinatura sônica exprime precisão estética, folga, domínio pleno da articulação, silêncio e harmonia.

Agora que consegui pleno domínio das qualidades do pré PH-1000, entendo perfeitamente o que os engenheiros da Gold Note desejam.

Tenho avaliado vários prés de phono nos últimos dois anos, e alguns bem mais caros que nossa referência, e o que percebo é que o que difere o PH-1000 de outros excepcionais phonos, é sua coerência técnica a serviço de uma performance, e recursos que outros fabricantes sequer cogitaram em oferecer.

Ter tantas equalizações disponíveis (três opções mono, para atender a três períodos diferentes) e a facilidade de ajustes por um toque em um único botão à frente do painel, é algo que eu como revisor não tenho como abrir mão.

Agora, junte todos esses recursos com sua sonoridade tão precisa e neutra, e aí é possível entender o conceito por trás de tão impressionante produto. E o que mais me agrada é que esse conceito também se reflete na linha de entrada. Tanto na construção, design, versatilidade, performance e assinatura sônica.

Voltando ao PA-10: em modo estéreo, ele dirigiu magistralmente as três caixas usadas no teste, deixando-as fluir com enorme autoridade e firmeza. Mas devo acrescentar que, a caixa que melhor casou com o PA-10 foi de longe a Harbeth (leia Teste 1 nesta edição). Foi um casamento que chamo de raro, pois parecem que nasceram para soarem em conjunto. Pois as assinaturas possuem o mesmo propósito de deixar a música soar de maneira natural e integral.

O realismo na medida certa, a energia sem rompantes de pirotecnia, mas com os tempos e crescendos fidedignos, e aquele realismo que nos coloca como cúmplices auditivos nas salas de gravação.

Seu equilíbrio tonal é corretíssimo, com ambas as pontas com enorme extensão e uma região média onde não predomina o super detalhamento e sim a naturalidade e fidelidade.

O soundstage é uma referência para powers muito mais caros, tanto em largura como profundidade, foco e recorte.
Com as três caixas tivemos apresentação de um palco uniforme, com os planos bem delineados, e instrumentos solo com seu foco preciso, e aquele silêncio essencial à sua volta.

O Gold Note parece que tem a mesma obsessão que nós por texturas precisas, que vão muito além de mostrar a paleta de cores dos instrumentos e nos proporcionar um mergulho consciente no universo das intencionalidades presentes em cada composição, arranjo, execução, etc.

O dia que o amigo leitor tiver a oportunidade de ouvir um setup que o coloque frente a frente com as intencionalidades, te garanto que você jamais abrirá mão de ouvir essa qualidade em seu sistema. Pois ela é que permite nosso cérebro relaxar e parar de analisar se o que ouvimos está ou não correto. A intencionalidade leva você e seu cérebro para o outro lado.

Lembro quando tentava, na minha infância, descrever o gosto do doce de cupuaçu para os primos e coleguinhas da escola. Todo meu esforço era simplesmente inútil, até o dia que pedi para a minha mãe fazer o doce e levar na escola, e deixar os colegas experimentarem.

Aí todos começaram a exclamar: “Olha, é doce e azedo ao mesmo tempo!”, “Verdade, parece com a textura de chupa chupa!”. E fiquei impressionado como eles haviam guardado todas as frases que usei exaustivamente para descrever o Cupuaçu. Só faltava eles mesmos experimentarem para concordar com a minha descrição.

O mesmo agora se repete com a intencionalidade, amigo leitor. Acredito que só vocês ouvindo para entenderem a magnitude de um sistema reproduzindo corretamente a intencionalidade, para entenderem o que separa um sistema Estado da Arte de sistemas hi-end!

Os transientes do PA-10 são excelentes, nos dando uma correta noção de tempo e ritmo, sem atropelo ou congestionamento.

E na dinâmica temos duas situações distintas: uma com o PA-10 em modo estéreo e outra com dois PA-10 em modo mono. O que me leva à seguinte conclusão: dependendo do seu gosto musical, tamanho de sala, se puder no futuro adquirir um segundo PA-10, sua macrodinâmica irá para um outro patamar, amigo leitor. E, em Bridge, você não irá reconhecer a transmutação auditiva que esse pequeno grande power é capaz de realizar!

Novamente, é preciso ouvir para acreditar.

No momento que adicionei o segundo PA-10, estava ouvindo a L100 Classic e um LP do Jaco Pastorius Ao Vivo no Japão, com uma bela big band. Tomei um susto com a diferença de dinâmica do naipe de metais, e da percussão, quando coloquei os dois em bridge.

O PA-10, assim como não tem a menor dificuldade como os planos 3D, também não se intimida em apresentar o corpo harmônico dos instrumentos em gravações com boa captação desse quesito.

Tanto que novamente ele coloca em dificuldades muitos powers mais caros nesse quesito, ao mostrar os contrabaixos da Nona de Beethoven, no Quarto Movimento, que em muitos powers parecem ser um ou dois contrabaixos apenas. Esse é um exemplo muito fácil de se usar para demonstrar esse quesito aos iniciantes que não sabem o que precisam escutar para saber se o corpo harmônico está ou não correto.

O PA-10 cria aquela parede na caixa no canal direito, com os 4 a 6 contrabaixos (dependendo da orquestra), soando em uníssono, tocados com arco. E não uma pizza brotinho, soando timidamente na caixa direita, como centenas de vezes escutei!

Se tivesse testado o PA-10 apenas na Harbeth, a nota de organicidade seria maior que nas outras duas caixas. Por isso, testamos todos os produtos com o maior número possível de componentes. E o fato é que, tanto o PA-10 quanto a Harbeth, primam por uma materialização física impressionante.

Se o leitor deseja esse ‘fenômeno’ em seu sistema, a boa notícia é que tanto a Harbeth quanto o Gold Note são ‘especialistas’ nesse truque sonoro!

CONCLUSÃO

Se você possui o pré-amplificador DS-10, minha pergunta é: o que está esperando para ter o PA-10? Eles foram feitos para trabalhar juntos. A não ser que você possua ainda tanto mídia física (LP e CD), pois aí a única entrada analógica do DS-10 complica a vida desse usuário. Mas se você só escuta streamer atualmente, meu amigo, e tem o DS-10, ouça o quanto antes o PA-10. Se a grana estiver curta, comece com um e depois faça o upgrade!

Como escrevi: com caixas acima de 86 dB e salas até 20 metros, um PA-10 dará tranquilamente conta do recado.

E se você possui um outro pré-amplificador que gosta, e está na dúvida se vende para comprar um integrado, ou se faz um upgrade no seu power atual, ouça-o e veja se ele casa com seu pré e suas caixas atuais.

E depois, se for o desejo, parta para o segundo, pois em mono ele é simplesmente matador! Cresce em macrodinâmica e tem reserva de energia para trabalhar com qualquer caixa.

Cada novo produto deste fabricante italiano é uma nova surpresa. Pois seus produtos sempre estão acima do seu valor, sempre! A Gold Note está provando que é possível, sim, oferecer produtos que são verdadeiras obras ‘sonoras’ sem custar um caminhão de verdinhas.

Se você ambiciona ter um sistema Estado da Arte, sugiro que comece por ouvir os produtos deste fabricante.

AMPLIFICADOR GOLD NOTE PA-10 (EM MODO ESTÉREO)Nota: 95,0
AMPLIFICADOR GOLD NOTE PA-10 (EM MODO MONO BRIDGE)Nota: 97,0
AVMAG #293
German Audio
comercial@germanaudio.com.br
(+1) 619 2436615
R$ 19.700

AMPLIFICADOR DE POTÊNCIA MARK LEVINSON Nº5302

Fernando Andrette

Faz tempo que estávamos na fila para testar a nova série 5000 da Mark Levinson, lançada em 2020 no meio da pandemia, constituída do novo amplificador Nº5302, do pré-amplificador Nº5206, do streaming Nº5101 e do toca-discos Nº5101.

Nesse primeiro momento, recebemos o amplificador e o pré – e pelo alto nível de performance de ambos, resolvemos separar os testes. Nossa avaliação do pré será publicada na edição de setembro de 2023.

Segundo Jim Garrett, diretor sênior de estratégia e planejamento de produtos da Harman Luxury Audio, o novo 5302 é um amplificador fenomenal que possui o DNA da Mark Levinson levado ao extremo, com a capacidade de acionar praticamente qualquer falante, seja no modo estéreo ou mono.

Segundo o fabricante, para se atingir esse nível de versatilidade e desempenho, os canais de classe AB são totalmente discretos, e utilizam um transformador toroidal de 1100 VA superdimensionado, com enrolamentos secundários individuais para os canais esquerdo e direito.

Seu estágio de ganho de tensão emprega topologia similar do amplificador top de linha, o modelo Nº534 que, como este, possui um estágio de saída composto por dois transistores de driver de alta velocidade, operando em classe A, e seis transistores de saída de 260V, 15 Ampéres. Dois dispositivos Thermal Trak em uma configuração exclusiva, garantem uma saída estável, independentemente da carga ou temperatura.

Utiliza quatro capacitores de 10.000 microfarades por canal, localizados diretamente na placa de circuito de estágio de saída, fornecendo corrente suficiente para 135 Watts por canal em 8 ohms, 270 Watts em 4 ohms e 550 Watts em mono ou ponte.

Utiliza conectores de entrada XLR ou RCA, e para integração com outros produtos Mark Levinson: entrada IR, e entrada e saída de gatilho 12V.

O acabamento segue o padrão Mark Levinson em todos os detalhes, como: uma frente maciça de 1 centímetro de espessura, jateada com esferas de vidro no painel central anodizado em preto, com as alças de alumínio anodizado em cinza. Nas laterais do gabinete temos as aletas de resfriamento que se fundem perfeitamente com as linhas de todo o design.

Aceso, o painel segue o padrão de cor vermelha com um aro ao centro do painel, que fica levemente piscando quando em standby. São 31 kg, e não aconselho ninguém a desembalá-lo sem ajuda.

Agora, se você for daqueles audiófilos que são extremamente ansiosos e loucos para ver e escutar seu novo ‘brinquedo’, tire-o da caixa pelas alças, para não correr nenhum risco.

Para o processo de amaciamento, ligamos o power e o pré, já que ambos vieram lacrados. E à medida que fomos escutando sua evolução, percebemos que poderíamos perfeitamente mistura-los com outros equipamentos, para poder sentir seu nível máximo de performance.

Mas a nota final será a média dos dois prés que melhor casaram com o Nº5302, OK? Usamos os seguintes prés: Mark Levinson Nº5206 (leia teste na edição de setembro), pré-amplificador P1F E power A2700 Elipson (leia teste na edição de junho), e o Classic Preamp da Nagra. Sempre com cabo de interligação XLR QED Reference (já que nenhum leitor se interessou em comprar esse excelente cabo que coloquei a venda por um valor irrisório pela sua performance, voltei a utilizá-lo nos nossos testes), e o Dynamique Audio Apex. Fontes analógicas: toca-discos Pro-Ject X8 (leia Teste 2 nesta edição), Bergmann Modi e Origin Live Sovereign Mk4. Pré de phono Gold Note PH-1000. Fonte digital e streamer: Innuos ZENmini Mk3, Transporte Nagra, DAC dCS Bartok Apex, e Nagra TUBE DAC. Caixas acústicas: Harbeth 30.2 XD (leia Teste 3 nesta edição), Audiovector QR 5, Boenicke W5 e Estelon X Diamond Mk2.

A primeira dica é para todo ansioso: se quiser desfrutar da performance desse power, vai ter que aprender a controlar sua ansiedade. Pois ele necessita de pelo menos 180 horas de amaciamento. Ou seja, de 20 a 30 dias para saber o nível de performance desse belo amplificador.

Belo na aparência, belo na construção, belo no silêncio de fundo e belo quando ligado a um sistema no mesmo nível. Claro que o power junto com seu pré, é a escolha mais óbvia a se fazer.

Porém, a realidade sempre pode ser bem distinta do ideal, e o audiófilo estar apenas buscando naquele momento um upgrade em seu power. Aí entra o nosso trabalho em descobrir o grau de compatibilidade dele com outros prés.

E com 200 horas de amaciamento, separamos os Mark Levinsons e os colocamos para trabalhar com o pré da Elipson e da Nagra, e no caso do pré da Mark Levinson: com o power da Elipson, com o power da Gold Note P-10 e com os monoblocos Nagra HD.

O power Mark Levinson possui excelente compatibilidade, o que só lhe acrescenta pontos adicionais quanto a esse quesito. E o que mais nos surpreendeu foi o quanto ele se sentiu confortável com prés tão distintos como o Elipson e o Nagra.

O mesmo nos surpreendeu quanto às quatro caixas utilizadas no teste, no qual o Mark Levinson as conduziu com enorme autoridade e precisão.

OK que nenhuma das caixas eram obstáculos intensos, mas a Estelon é bastante exigente com seus pares, e o Mark Levinson não teve a menor dificuldade em a dirigir.

Seu equilíbrio tonal é muito correto, com graves perfeitamente bem definidos, articulados, velozes e com enorme energia. Ouvir solos de contrabaixo no 5302 é um deleite, assim como bumbos, tímpanos e órgão de tubo. Não há restrições ao seu grau de deslocamento de ar, se a caixa o acompanhar. Para os amantes de música com instrumentos eletrônicos, será muito prazeroso entregar essas gravações para ele.

A região média, a princípio (antes das 200 horas), parecia que tenderia a soar mais para o ‘ultra realista’ do que o normal, porém se tratou apenas de falta de queima, e o médio-grave encaixar corretamente e abrir, e ampliar a resposta de corpo harmônico.

Quando tudo foi para o lugar, os médios mantiveram uma incrível precisão na apresentação de microdinâmica, mas não se tornando o protagonista do evento musical.

“Exemplos, Andrette, compartilhe exemplos!!!!!!!”

OK! Quer saber se a microdinâmica está ocupando mais espaço do que deveria? Ouça instrumentos que estejam soando na região de 800 a 5000 Hz, como várias percussões, sopros de madeira, em que no meio do acontecimento musical aparece uma ou duas notas, ou coral de apoio. E se quando esses elementos entram, eles tomam o lugar do tema e tiram sua atenção do todo, a região média está ‘hiper realista’ e alterando o equilíbrio tonal nesta região.
É comum isso ocorrer? Em sistemas em que a eletrônica quer ser mais ‘real’ que a realidade, sim. E isso muitas vezes é feito de forma consciente pelo projetista, pois ele quer que sua eletrônica tenha esse diferencial. Um dos truques utilizados é baixar o máximo possível o ruído de fundo para que essa microdinâmica se torne mais audível.

O problema é que se paga um preço por essa escolha.

Qual?

Fadiga auditiva! Pois cada vez que você desconcentrar do todo para ouvir um detalhe que te chamou a atenção, sua desconcentração vai sendo acumulada.

Escolhas, meu amigo, sempre escolhas!

Confesso que até as duzentas horas, temi que o power da Mark Levinson tivesse essa característica, mas foi apenas falta de amaciamento.

Isso me lembra duas coisas: os que não acreditam em queima de equipamentos e os que enchem o peito para dizer que todos os amplificadores de estado sólido bem construídos soam iguais!

Fico me questionando se essas pessoas realmente acham que têm capacidade auditiva para avaliar produtos? Pois quando cito esse exemplo da mudança que foi a região média depois de 200 horas de queima, se torna impossível defender que eletrônica não precisa de burn- in.

Pois as diferenças são todas audíveis!

E à legião que defende que bons powers bem construídos soam todos iguais, minha única resposta é: passem 27 anos testando uma centena de powers e integrados, e descobrirão que isso é uma falácia!

Os agudos antes das 200 horas soam duros e engessados. O que certamente coloca aquela dúvida na mente do audiófilo inseguro: “será que esse agudo irá melhorar”? Irá sim, meu amigo, e muito! Ganhará uma enorme extensão, decaimento correto, corpo, velocidade e perderá todo o brilho excessivo das primeiras 200 horas!

O soundstage desse Mark Levinson é excelente, com planos extremamente bem focados, recortados e 3D.

Casado com o Nagra Classic Preamp, que é um pré à válvula, o palco ficou absolutamente divino e com um 3D muito próximo ao que ouço nos powers Nagra HD! O que é um mérito e tanto, devido à diferença de preço entre ambos.

O foco, assim como a recriação de ambiência e o arejamento em volta dos instrumentos solo e vozes, é nível referencial dos melhores entre os top!

As texturas são fáceis de acompanhar, observar a qualidade dos instrumentos, a técnica do músico e suas intencionalidades, com esforço zero.

Seu cérebro se rende e segue apenas o rastro da música à sua frente.

Os transientes foram um dos quesitos que mais me chamaram a atenção, mas quando o power está ligado ao seu par de natureza (o pré também da Mark Levinson), a faixa 3 do disco I Ching do grupo UAKTI ficou simplesmente magistral em termos de tempo e precisão nesse conjunto da Mark Levinson. Diria que, aos apaixonados por rock e blues, o ideal é não separar essa dupla. Eles conseguem nos convidar a dançar, e aos mais tímidos a baterem os pés sem perceber.

O fabricante não mentiu quando disse que o power está pronto para todo desafio. Sua reprodução de macrodinâmica é exemplar, e pode colocar um ponto final na questão de que 135 Watts em 8 ohms seja muito pouco para determinados gêneros musicais. A questão, como sempre lembramos, não é a quantidade mas sim a Qualidade desses Watts!

Nem à Abertura 1812 de Tchaikovsky, nos famosos tiros de canhão, o Mark Levinson se curvou. É assustador, meu amigo, ouvir e ver o que o woofer precisa fazer para reproduzir esses tiros e com que autoridade o Mark Levinson imprime as caixas nesse desafio!

A micro, como já escrevi, depois de todo o processo de amaciamento, voltou para o seu devido lugar em um sistema realmente hi-end, e tudo que foi captado e não sofreu perda no processo final, estará lá.

O corpo harmônico é de uma fidelidade só presente nos melhores powers da atualidade, e a materialização do acontecimento musical à nossa frente, idem!

Muitos leitores me perguntam qual a diferença no quesito organicidade, de trazer o acontecimento musical para o nosso quarto, e de ser transportado para o local do acontecimento musical? Essa resposta darei em breve no Opinião, quando tratar especificamente da organicidade.

Mas o leitor que possui uma sala acusticamente tratada, com dimensões acima de 30 metros quadrados e um setup bem ajustado Estado da Arte, certamente já experienciou as duas possibilidades.

O que estou querendo dizer com isso?

É que a segunda hipótese, de você ser transportado para o local do acontecimento musical, só ocorre se todas as etapas da busca pelo melhor ajuste foram realizadas. Do contrário, o máximo que conseguimos é: nas excelentes gravações, em um sistema de bom nível e bem ajustado, materializar o acontecimento musical em nossa frente.
A questão então é: qual das opções é mais impressionante?

Essa resposta darei em detalhes, quando falar a respeito de Organicidade, no Opinião.

O que importa é que esse power da Mark Levinson faz bem a lição de casa, e colocou o tenor José Cura, do disco Anhelo, materializado a dois metros à minha frente, em pé com a orquestra toda em arco à sua volta! O que, para sua faixa de preço, é digno de aplausos!

CONCLUSÃO

Lá fora, este power custa 9000 dólares e concorre com uma legião de powers de marcas famosas e estabelecidas também há décadas no mercado.

Eu diria que seu grande diferencial é que ele custa, em média, apenas 2 a 3 mil dólares mais caro que powers da Bryston, Parasound, Legacy, etc, e 5 mil dólares a menos que powers também famosos lá fora. E esse é seu grande diferencial. Pois está muito acima em termos de performance que os powers até 6 mil dólares, e muito próximos dos melhores powers até 16 mil dólares!

Ou seja: é um senhor ‘best buy’ em todos os aspectos que se avalie, sejam eles explicitamente racionais ou de algum componente emocional como paixão pela história da marca, design, etc.

Diria que, com essas qualidades todas, ele está nadando de braçada em um mar calmo em que ele dita as regras.
Se você busca para o seu sistema um power com um histórico como empresa desse nível, e uma performance tão alta que o ‘desloca’ da concorrência abaixo e acima, você precisa ouvi-lo com total interesse.

Foi uma das grandes surpresas do ano até esse momento!

Nota: 100,0
AVMAG #297
Mediagear
contato@mediagear.com.br
(16) 3621.7699
R$ 126.000

CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE LINTON 85 ANOS

Fernando Andrette

Ainda que o ditado popular nos lembre que: “Santo de casa não faz milagre”, continuarei a lembrar a todos os nossos leitores que, em matéria de caixas acústicas, nunca tivemos tão bem servidos de opções para todos os bolsos e gostos.

Hoje é possível, por exemplo, com 4 mil reais comprar um par de books da Elac, by Andrew Jones, série Debut, e viver feliz com ela ligado a um bom integrado usado, como os Creek, Arcam, Rega, Cambridge dos anos 90 e virada do século, e ouvir sua música com enorme satisfação e prazer.

Integrados dessas marcas em bom estado que você irá encontrar na faixa de 3 a 7 mil reais!

E para os que dispõem de uma verba maior para realizar o tão sonhado upgrade nas caixas, definitivo, as opções entre 8 e 15 mil reais são cada vez mais promissoras! E o melhor: de uma consistência desconcertante!

Não vá dizer que não lhe avisei, amigo leitor, quando você começar com aquela velha lamúria que o hi-end está cada vez mais caro e inacessível. Pois isso não é verdade!

É possível sim, com calma e foco, realizar excelentes negócios! Faço isso para os amigos faz meio século! E o meu prazer em ajudar a todos que me procuram, continua o mesmo! Pois ver alguém que ama música poder realizar o sonho de ter um sistema bem ajustado e sinérgico, é muito gratificante!

E nesta Edição de Aniversário, mais uma bela caixa vai se juntar ao grupo de produtos cuja performance é muito maior que o seu custo. Estou falando da Wharfedale Linton 85 Anos. Uma caixa lançada originalmente em 1965, que foi o carro chefe de vendas da Wharfedale por 5 anos consecutivos. Seu sucesso estava em conseguir soar alto e ainda assim não distorcer. Tocando aberto e com grande autoridade.

A última versão dos anos 70 foi o modelo 3XP, com três vias, e que marcou época pelo seu tamanho e ousadia!
Com a moda de caixas tipo vintage, o diretor de design acústico da Wharfedale, Peter Comeau, resolveu aceitar o desafio e criar uma nova Linton, comemorativa de 85 anos da empresa, mantendo o conceito original de uma sonoridade natural, mas com um apelo moderno no acabamento e na performance.

As surpresas serão sucessivas desde o primeiro instante, começando pelo seu tamanho para uma ‘bookshelf’, o seu acabamento impecável sem bordas, seu peso, o pedestal dedicado (que precisa ser comprado junto com as caixas), pés protetores de borracha para não riscar o gabinete acabado em madeira real (mogno ou nogueira), e não acabamento de vinil tão utilizado em sua faixa de preço.

Além de um manual incrivelmente impresso como um pergaminho personalizado.

O pedestal acompanha os mesmos detalhes de design e acabamento, e ainda permite que se use o vão entre suas quatro colunas para a colocação de LPs!

No painel traseiro, os dois dutos ficam na parte inferior do gabinete: terminais da caixa que são banhados a ouro, e uma placa de bronze com o emblema de 85 Anos cobre grande parte do painel traseiro.

Suas grades frontais não devem ser retiradas, segundo o fabricante, e são muito bem acabadas, emoldurando todo o enorme gabinete e remetendo ao design das caixas dos anos 60 e 70.

O pedestal da caixa, como disse, segue o mesmo padrão de acabamento das caixas e comportam até 50 LPs cada. Sendo uma mão na roda para salas pequenas em que não há muito espaço no chão para deixar os discos que serão ouvidos em cada audição. Eu mesmo fiz uso dessa ideia brilhante, para facilitar a escolha dos discos usados no teste da Linton.

O falante de graves de 200 mm utiliza cone de Kevlar com chassi fundido, o falante de médio de 135 mm também com cone de Kevlar possui seu próprio gabinete interno, e o tweeter de 25 mm com cúpula de tecido macio utiliza um ímã de ferrite de alto fluxo.

O crossover da Linton foi totalmente redesenhado para ter as passagens de um driver para o outro de forma mais natural e suave possível, e no gabinete foi feito um rigoroso estudo para amortecimento interno, sendo que a escolha final foi para um sanduíche de três camadas de MDF – Aglomerado-MDF, para anular as ressonâncias de gabinete.

O crossover corta em 640Hz e 2400kHz, com uma resposta plana de 40Hz a 20kHz (+ – 3 dB), possui uma sensibilidade de 90dB e impedância nominal de 6 ohms (mínimo de 3.4 ohms). Sua altura é de 565 mm, largura de 300 mm e profundidade de 360 mm, e pesa 18.4 kg.

Com o seu pedestal personalizado, o tweeter fica um pouco acima do ponto de escuta ideal, com o ouvinte sentado.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: streamer Innuos ZENmini Mk3 com fonte externa, CD-Player CDS50 (leia Teste 2 nesta edição), CD-Player Line Magnetic LM-515 Mk2 (leia Teste 2 na edição de março), Transporte Nagra, TUBE DAC Nagra. Fonte Analógica: toca-discos Bergman MODI com braço Thor e cápsula ZYX Ultimate G. Pré-amplificador Nagra Classic, powers Nagra HD, e integrados Arcam SA30 e Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário. Cabos de caixa: Dynamique Apex e Virtual Reality Trançado.

A caixa veio totalmente zerada, e ficou evidente que seria preciso pelo menos 150 horas para ela abrir as altas, estabilizar as médias que soam frontalizadas ao tirar da embalagem, e pescar os graves que parecem totalmente submersos. Então, meu amigo, se essa for sua futura caixa definitiva, nada de sair chamando os amigos audiófilos, pois não vão rolar favoráveis impressões de imediato. Segure sua ansiedade, respire fundo e deixe as caixas uma virada de frente para a outra, inverta a polaridade de uma das caixas, cubra com um edredom e as deixe em repeat ou com streamer por 5 dias pelo menos. Aí sim, você pode chamar os amigos, a sogra, o cunhado invejoso e o vizinho mala e mostrar orgulhosamente sua nova caixa.

Não se esqueça que, se o amigo for adepto ainda do vinil, colocar em cada pedestal os melhores discos que você tem e ir mostrando disco por disco desses armazenados sob as caixas. Aí, meu amigo, você irá arrasar com o ritual ‘anos setenta’ e com a performance digna do século 21!

Pois a Linton 85 tem virtudes de sobra, para impactar até o audiófilo mais cético que você conheça.

Seu equilíbrio tonal é exemplar para a sua faixa de preço. Pois além de correto tonalmente, não buscou (como muitas caixas mais de entrada) acentuar determinadas características tonais. Se você ama caixas vintage pelo alto índice de coloração nos graves, médios aveludados e agudos apagados, esqueça, pois essa é a Linton versão século 21.

Essa versão comemorativa conseguiu o mérito de ter a transparência que as fontes atuais proporcionam, mas ao mesmo tempo ser convidativa, para que a música não se perca na frieza analítica.

Outro mérito que estamos acostumados a ouvir apenas em caixas muito mais caras: seus graves têm peso, articulação, deslocamento de ar e precisão. Seu médio-grave tem corpo e presença na medida correta. Médios e médios-altos são naturais, e os agudos com excelente extensão, velocidade, corpo e decaimento suave.

Os apaixonados por soundstage irão se surpreender com a largura de imagem, com inúmeros acontecimentos musicais soando para mais de 1 metro na lateral da caixa, altura exemplar e muito boa profundidade.

Seu foco, recorte e planos, ainda que não tenham a precisão cirúrgica de caixas muito mais caras, estarão na medida exata para nos manter concentrados em todo o acontecimento musical.

Suas texturas seguem os passos do equilíbrio tonal, com uma excelente paleta de cores e um grau de intencionalidade que nos faz ser otimista do quanto as caixas ditas de entrada evoluíram neste quesito.

Impressionante as intencionalidades apresentadas em exemplos difíceis, como as obras para quartetos de cordas de Villa-Lobos e Shostakovich, que exigem do ouvinte uma total atenção, e as nuances são ouvidas sem nenhum grande esforço.

Se o ouvinte ama música com complexas variações de tempo e ritmo, ele veio no local certo. Pois as Linton 85 são uma bela surpresa na reprodução de transientes. Nossos exemplos de fechamento de nota neste quesito, foram reproduzidos com total autoridade e precisão. E, meu amigo, são exemplos cascudos, como a faixa 5 do SACD do André Geraissati – Canto da Águas. Se os transientes não forem corretos, não dá para ouvir essa faixa!

A microdinâmica é ‘mamão com açúcar’, e a macro é de deixar muita coluna muito mais cara envergonhada. É impressionante como a Linton suporta variação dinâmica sem ruborizar ou dobrar os joelhos. Ouvimos todos os nossos exemplos mais cavernosos deste quesito, exceto os tiros de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky.

Tudo passou com muito mérito!

O corpo não é de book, então pode colocar o exemplo que você desejar que ela irá reproduzir com o tamanho que está na gravação.

A materialização do acontecimento musical também não será nenhum problema para a Linton, desde que a gravação tenha captado e preservado essa magia de materializar o acontecimento musical à nossa frente!

CONCLUSÃO

A caixa (também book mas ainda maior e custando o dobro da Linton) que mais se aproximou nesses últimos dois anos de atender todos audiófilos e melômanos que sonham em uma caixa de alto nível, que caiba em seu orçamento, foi a L100 Classic da JBL. Testada por nós e que teve uma excelente avaliação e pontuação pelos seus inúmeros méritos. Mas vários leitores nos disseram ainda serem caras para suas realidades.

E continuamos nossa peregrinação buscando uma book que possa trabalhar em salas a partir de 16 metros até salas de 40 metros, e que fosse ainda mais barata que a JBL.

E essa caixa existe e custa menos da metade da L100 Classic! Se sua sala tem mais de 16 metros quadrados, possui um integrado de pelo menos 60 Watts correto, e uma fonte equilibrada, a Wharfedale Linton 85 precisa ser ouvida.

E se você possui um integrado moderno que esteja na faixa de 90 a 95 pontos, e agora sua busca é pela caixa definitiva, essa Linton 85 precisa ser ouvida.

Ela só precisa de um pequeno respiro entre as paredes de pelo menos 1 metro às suas costas, e 60 cm das paredes laterais, para dar o melhor de si.

Ligado a uma eletrônica correta, sinérgica, com cabos como o Trançado da Virtual Reality, sua música soará como você sempre sonhou!

Essa jóia raríssima custa, com o seu pedestal personalizado, menos de 15 mil reais! Se você estava juntando de 8 a 10 mil reais para realizar um upgrade nas caixas, faça um esforço e junte mais um pouco, para ter essa belezura em seu sistema.

Santo de Casa não faz Milagre – então ouça por você mesmo e depois me diga o que achou!

Nota: 89,0
AVMAG #295
KW Hi-Fi
fernando@kwhifi.com.br
(48) 98418.2801
R$ 14.600 (com pedestal)

CAIXAS ACÚSTICAS HARBETH COMPACT 7ES-3 XD

Fernando Andrette

A vantagem de se avaliar, na sequência, um novo modelo do mesmo fabricante, é que podemos rapidamente compreender as diferenças e semelhanças existentes entre os produtos.

E a desvantagem é que, se o primeiro produto testado for muito melhor, temos que ser muito criteriosos para não cometermos injustiça com o modelo inferior.

Agora, quando temos a ‘sorte’ grande de avaliar produtos de um fabricante que possui uma longa história de bons serviços prestados ao mercado de áudio, certamente que as incertezas serão rapidamente dissipadas.

Na edição de dezembro, tive a oportunidade de avaliar a SHL5plus XD, e acho que não deixei dúvidas do quanto apreciei esse monitor hi-end. E poder ouvir na sequência a 7ES-3 XD (o modelo logo abaixo da SHL5plus XD), foi um misto de curiosidade e muitas dúvidas.

Não em relação a assinatura sônica, conceito e filosofia, mas sim no sentido de saber o quanto a 7ES-3XD poderia ser uma excelente aquisição para os que possuem um orçamento menor, salas mais modestas, e não querem abrir mão das qualidades inerentes a todo projeto Harbeth.

E a curiosidade só aumentou quando li que a Compact 7ES-3 XD é a ‘menina dos olhos’ do projetista Alan Shaw, já que se trata de um projeto que saiu de sua imaginação e desejo de construir um novo monitor compacto, e que fugisse um pouco do padrão de monitoramento BBC, que sempre norteou todos os produtos da Harbeth. Aguçou minha curiosidade o quanto Alan abriria mão de projetos seguramente vitoriosos, para realizar algo que tivesse um toque mais pessoal.

Posso adiantar que, ainda que a 7ES-3 XD tenha audivelmente uma assinatura sônica ‘peculiar’, o conceito filosófico e de design estão presentes o suficiente para nos dizer, em segundos, ser uma genuína Harbeth como todos os outros modelos.

A todos que mostrei as duas Harbeths que vieram para teste, se espantaram como o tamanho do gabinete não condiz com o peso das caixas. E isso tem a ver com o conceito da Harbeth de controlar as ressonâncias do gabinete com dispositivos de amortecimento internos em vez de aumentar a massa dos painéis. Para o leitor ter ideia, a maioria dos fabricantes de caixas hi-end usa aglomerado de MDF de 19mm, e a Harbeth, ao contrário, utiliza um painel frontal de 18mm e os laterais e traseiros de apenas 12 mm.

Segundo o fabricante, a placa usada nos gabinetes é de fibra de alta densidade folheada de ambos os lados, essa técnica de revestimento interno e externo do gabinete permite melhor controle climático e garante estabilidade das ressonâncias internas.

Além do material ressonante em pontos críticos dentro dos gabinetes, a Harbeth utiliza fixações com 12 parafusos, que prendem o painel traseiro aos dois painéis laterais e aos painéis superior e inferior.

As grades de todas as Harbeths são feitas de tecido com uma armação de aço macio, que se encaixa perfeitamente no painel frontal de maneira firme e profunda. De maneira tão precisa, que é um claro sinal do fabricante que você não precisa remover a tela para ter a melhor imagem de suas caixas.

Tanto que eu não aconselho você a fazê-lo se não tiver paciência e uma espátula de plástico, para não danificar o gabinete.

Eu ouvi ambas caixas com e sem tela, e garanto a você que se elas forem corretamente posicionadas, estar com a grade não irá alterar nem seu equilíbrio tonal e muito menos o foco e recorte. Agora, se você gosta de ficar olhando para o seu falante de médio-grave enquanto escuta, aí faça a retirada da tela com a maior paciência e cuidado!
A primeira pergunta que todo fã da Harbeth fez a Alan Shaw foi: quais as diferenças entre a linha de aniversário de 40 anos para a nova linha XD?

A resposta de Shaw foi que, ao adquirir recentemente alguns novos equipamentos de teste, ele conseguiu detectar algumas limitações que o incomodavam tanto em termos de ressonância de gabinete, como na construção dos falantes e no crossover. E com essas medições mais minuciosas e precisas, ele pode atacar os problemas de forma eficaz. Por isso a denominação XD (eXtended Definition).

No crossover agora são utilizados capacitores poliácidos, um novo cabo de puro cobre OFC, novos terminais de caixa que se conectam diretamente à placa de circuito interno, onde está o crossover, encurtando drasticamente o sinal.
O falante de médio-grave de 200 mm (8 polegadas) é agora moldado por injeção, e usa a segunda geração de um cone de polipropileno desenvolvido em parceria com a Universidade de Sussex. O tweeter é resfriado por ferrofluido com uma cúpula de 25 mm (1 polegada) protegida por uma malha de metal preto.

Segundo o fabricante a, C7ES-3 XD responde de 45Hz a 20kHz, com impedância de 6 ohms e sensibilidade de 86 dB.
Para o teste utilizamos os integrados: Sunrise Lab V8 Anniversary e Krell S300i. Powers: Gold Note PA-10 (leia Teste 2 nesta edição) e Nagra HD. Pré de linha: Gold Note DS-10 (como pré ligado ao PA-10, e como DAC quando ligado ao Transporte Roksan Atessa). Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, Oyaide OR-800 Advance, e Dynamique Audio Apex. Fonte analógica: toca-disco Bergman Modi com braço Thor, com cápsula ZYX Ultimate Astro G. Pré de phono: Gold Note P-1000. Fonte digital: Transporte Roksan Atessa (leia Teste 3 nesta edição), DAC Gold Note PS-10 e Nagra Tube DAC.

A caixa veio com 50 horas de queima. Pela experiência com a caixa anterior, muito abaixo do ideal de 200 horas. Então fiz apenas uma rápida audição para as anotações iniciais, e a deixamos em amaciamento por mais 150 horas.
A Harbeth C7-ES-3 XD irá precisar dessas horas a mais, ainda que com esse tempo de amaciamento já seja possível ouvir as caixas enquanto amaciam, sem ranger de dentes ou com dúvidas pairando pela mente. Com 220 horas a caixa estabilizou completamente, e pudemos finalmente iniciar o teste.

Antes que você me pergunte se ela se parece ao menos com a SHL5plus XD? Sim, e muito. Diria que as diferenças maiores estão no maior arejamento e refinamento das altas da SHL5plus, e com um pouco mais de peso na sustentação dos graves.

Mas em termos de timbre e maneira de apresentar a música, com aquele realismo inerente aos melhores monitores hi-end, esse está todo presente. E por um preço mais convidativo e perfeito para salas de até 20 metros quadrados.
O posicionamento precisa, como em toda Harbeth, ser milimetricamente pensado, com respiro em relação às paredes laterais, mais do que à parede às costas da caixa. O tweeter não pode estar à altura da orelha do ouvinte em sua posição de escuta, ficando muito mais plano e arejado se tiver alguns centímetros acima da orelha.

Quanto ao ângulo de audição, dependerá muito da distância entre as caixas e o ponto de escuta, e o gosto do ouvinte quanto a uma apresentação mais perto ou mais para trás das caixas.

Eu sempre desejo que a imagem toda esteja formada para trás das caixas, então eu busquei manter as caixas com pouco toe-in (apenas 15 graus para o ponto de escuta, com uma distância entre as caixas de 2,80 m). Nessa posição, com qualquer setup consegui uma imagem tridimensional consistente e com todos os planos muito bem definidos, assim como o foco e recorte.

Como escrevi no teste da Harbeth SHL5plus XD em dezembro, o que mais impressiona nas caixas desse fabricante é a capacidade de recriar a sala de gravação com detalhes e um grau de refinamento genuinamente hi-end!

É uma apresentação realista, detalhada, orgânica e sedutora. Parece fácil descrever esses atributos, porém difícil é conseguir esse resultado na prática de maneira tão coesa e harmoniosa. Harbeth não é para todo tipo de audiófilo, pois certamente muitos desejam apresentações com maior peso, maior deslocamento de ar e aquela sensação de coice no peito nas notas graves. Para esses audiófilos com um pé no hi-end e outro no pró-áudio, nenhum monitor book irá atender suas expectativas.

Então para quem esse belo monitor hi-end irá ser perfeito? Para todos aqueles que querem sentir a sensação de ter estado lá, de maneira quase que cúmplice do acontecimento musical. E poder sentir aquela magia de ouvir os mais sutis detalhes de interpretação e execução. É o estar lá da perspectiva do engenheiro de som, sentado na mesa e moldando sua primeira mixagem, para ver como os instrumentos vão se costurando até fazer aquela colcha sonora. Ou então participar da mixagem finalizada, fazendo a primeira passagem da master, avaliando se as alturas de cada instrumento estão corretas, se as entradas e saídas estão como o planejado, se o panpot – posição de cada instrumento no palco imaginário – corresponde ao planejado. A avaliação que toda boa master necessita, e que só um excelente monitor de duas vias pode proporcionar.

Existem monitores que nasceram para essa função, e que por isso mesmo não se adequam às expectativas da esmagadora maioria dos audiófilos.

Mas e se for um monitor hi-end?

Esse é o caso justamente dessa Harbeth, feita sem ter no seu DNA inicial o peso de ter sido construída para as necessidades da BBC, mas que carrega em seu projeto todas as benesses que um excelente monitor de estúdio possui, aliado às necessidades de um setup puramente hi-end. Isso a diferencia de todos os outros produtos deste fabricante e, por isso, ele carrega o ‘emblema’ de ‘menina dos olhos do CEO da Harbeth. Bastante compreensível que assim seja, e mais justificável ainda quando ouvimos e a comparamos com outros modelos da própria Harbeth.

Ela tem uma graciosidade, uma agilidade em construir as sonoridades que reproduz, que passados poucos segundos, ninguém mais estará avaliando absolutamente nada. Pois a música se fará muito mais presente que qualquer tentativa de avaliação.

Já escrevi que, quando me deparo com produtos com essas características, não gasto meu tempo e energia tentando remar contra a correnteza que emerge à minha frente. Busco fazer minha avaliação de maneira reversa, procurando entender o que aquele produto não consegue entregar, mesmo que essa entrega seja essencial para fazermos nossas escolhas racionalmente.

Não espere desse monitor hi-end graves com deslocamento de ar e peso, não espere o último detalhe em termos de tamanho da sala de gravação. Mas quanto ao resto desse quesito tão primordial, espere: naturalidade, refinamento e acima de tudo timbres realistas, seja de instrumentos acústicos, eletrônicos ou vozes!

Quanto às texturas, o grau de intencionalidade, assim como da paleta de cores, serão sempre evidentes e precisos.
O seu soundstage só não será cirúrgico se a sala (com seu tamanho e deficiência acústica), não permitir.

Na nossa sala, os planos, assim como foco, recorte, altura e profundidade foram exemplares. Tirando o quesito ambiência, que não foi tão perfeito assim, mas em nenhum momento diminuiu o prazer de ouvi-lo em todos os exemplos que utilizamos para fechar as notas.

Os transientes são uma das maiores virtudes desses monitores hi-end. Preciso tanto em tempo, como em ritmo!
A dinâmica, obviamente, será melhor a micro que a macro, no entanto a Harbeth não se curva aos crescendos no fortíssimo, desde que em volumes adequados ao seu tamanho. Na nossa sala de home-theater de apenas 12 metros quadrados, ouvimos com satisfação obras como: Quadros em Exposição de Mussorgsky, Sagração da Primavera de Stravinsky, Sinfonia Fantástica de Berlioz, e Os Planetas de Holst.

Tenho escrito faz um bom tempo que as melhores books da atualidade surpreendem cada dia mais pela sua capacidade de recriar o corpo harmônico dos instrumentos, e a Harbeth merece um pedestal para o seu feito nesse quesito. Pois conseguiu reproduzir alguns pianos solo, contrabaixos e cellos como poucas books conseguiriam até esse momento.

E em relação a materialização física do acontecimento musical, a organicidade, junto com a reprodução de texturas ambas são realmente o ‘clímax’ dessa caixa! Você não precisará fazer nenhum esforço para ‘ver’ o que você está ouvindo à sua frente. Mostrando o que um monitor hi end é capaz de nos proporcionar, sem esforço ou o pagamento de um caminhão de dólares!

CONCLUSÃO

Durante três meses escutei por semanas essa caixa, e a cada nova audição, com dezenas de gravações diferentes e de qualidade técnica distinta, foi possível perceber o quanto um monitor hi-end pode nos emocionar e nos questionar se realmente precisamos de algo a mais para sermos realmente felizes ao ouvir nossa música.

Se você é um audiófilo que sempre objetivou estar no meio do acontecimento musical , co- participando de todas as etapas do processo de gravação, eu sugiro que você escute essa caixa com muita atenção! Pois ela pode o levar a descobrir que, em algum momento, teremos que fazer uma última escolha: se queremos seguir a procura do sistema mais realista que a própria realidade (já que esse sistema sempre terá a perspectiva dos microfones e não do ouvinte na plateia) ou se queremos o oposto, que é estar sempre na plateia apreciando nossas gravações como se estivéssemos lá!

Não existe uma terceira via, amigo leitor. No final desse apaixonante hobby, teremos que escolher uma dessas duas estradas finais.

Se a sua escolha já foi definida, e o que você deseja é estar presente em cada gravação que você ama, uma ponte segura para essa estrada passa inevitavelmente por essa caixa!

Nota: 90,0
AVMAG #293
KW Hi-Fi
fernando@kwhifi.com.br
(48) 98418.2801
R$ 34.770

CAIXAS ACÚSTICAS HARBETH M30.2 XD

Fernando Andrette

Esse será o terceiro modelo da Harbeth testado por nós. Começamos pela impressionante SHL5Plus XD (leia teste na Edição 291), depois a Compact 7ES-3 XD, e agora a M30.2 XD.

Acredito que já possa afirmar ter uma ideia consistente da assinatura sônica das caixas Harbeth, e da razão de ter tantos admiradores espalhados pelo mundo. E já aviso que ganharam mais um admirador, pois dos três modelos avaliados, a impressão que todas me deixaram foi a melhor possível.

E também adianto que a M30.2 XD está entre as minhas books preferidas de todos os tempos, mais adiante explico em detalhes as razões.

Eu não gosto nem de clichês nem de estigmas. Acho que tentar explicar o motivo de determinado produto ter ‘tais e tais características’ se dever à sua origem (como por exemplo dizer que caixas inglesas têm ‘som britânico’) é simplificar demasiadamente suas qualidades e limitações – que todas as caixas, independente do projeto ou preço, têm.

E esses ‘clichês’ não ajudam muito os mais jovens a compreenderem o que se está querendo definir com ‘som britânico’. Diria até que inúmeras caixas que testei recentemente, da Wharfedale, Neat, Q Acoustics e Harbeth, fogem bastante dessa definição, se tornando caixas com uma assinatura sônica muito mais contemporânea e universal.

Claro que, o início de todas essas marcas inglesas certamente tinha algum resquício (ou muito) do ‘padrão BBC’ de monitores, e que, como marketing, foi uma ferramenta e tanto para diferenciá-las dos produtos americanos e asiáticos.

Mas os tempos são outros e os audiófilos, ao escolherem sua caixa acústica, utilizam inúmeros critérios de escolhas e não apenas se aquela marca um dia foi um monitor de estúdio da BBC.

Óbvio que o início da Harbeth está intrinsicamente costurado ao desenvolvimento do famoso monitor BBC LS3/5a, já que seu fundador Dudley Harwood era o engenheiro responsável pelo departamento de pesquisa da BBC, e ganhou enorme respeito ao desenvolver e popularizar o uso de cones de falantes de polipropileno. E que Alan Shaw, o atual proprietário da empresa, ao comprá-la de Harwood em 1986, propôs abrir o leque de produtos, mantendo alguns modelos e conceitos originais dos monitores BBC, e alguns novos modelos como, a 7ES-3XD.

Porém não pense você leitor que os modelos derivados dos monitores se pareçam sonicamente com os modelos originais, pois foram amplamente atualizados e melhorados em todos os aspectos.

Acredito que este seja um verdadeiro ‘dilema’ para muitos fabricantes ingleses, que parece estar sendo solucionado com a volta do modismo ‘vintage’, que possibilita relançar ´ícones’ dos anos 70, totalmente repaginados tecnicamente.
Com alguns se saindo muito bem nessa remodelação – e outros nem tanto.

No caso da Harbeth, esse movimento não foi necessário, pois ela continua fiel ao design original de todos os seus modelos, só avançando no que pode ser atualizado, e diria que esse é o seu maior trunfo em relação à concorrência. Pois que fabricante não deseja poder estar atualizado sem ter que revirar toda sua história?

Já descrevi nos outros dois testes as características essenciais do conceito e filosofia da Harbeth, mas não custa reforçar os aspectos centrais. Os gabinetes continuam, desde sempre, sendo finos, leves, com amortecimento muito pontual em pontos estratégicos, em vez de buscar um gabinete sólido, pesado e inerte.

Funciona? Sim, meu amigo, e muitíssimo bem. Levantando a questão de se existe apenas um caminho correto e todos os outros equivocados.

Mas, ouça e poderá tirar suas próprias conclusões.

Shaw é um projetista metódico e firmemente convicto de seus pontos de vista. Para ele, antes de uma caixa soar bem com música, precisa se mostrar correta na reprodução de vozes falando. E para ele, uma caixa que possa reproduzir corretamente a voz falada, estará apta a se sair bem tocando música. E parece que essa sua convicção, na ‘prática’, se mostrou absolutamente correta!

A M30.2 é uma caixa derivada do monitor muito famoso da BBC, o modelo LS5/9, que era usado como monitor de gravação tanto de programas musicais de pequenos grupos como nos estúdios de radiodifusão. A nova M30.2 XD utiliza o famoso falante de médio-grave de 8 polegadas batizado de Radial2, e o tweeter é um soft dome resfriado por ferrofluido de 1 polegada, fabricado pela SEAS sob especificações da Harbeth.

Resposta de frequência é de 50 Hz a 20 kHz, impedância de 6 ohms, sensibilidade de 85 dB, e a sugestão do fabricante é para usá-la com amplificadores a partir de 25 Watts, sendo sua potência máxima de 150 Watts. E seu peso é de apenas 12 kg!

Ainda que suas dimensões não sejam tão pequenas, você fica com a pulga atrás da orelha dela ser tão leve para o seu tamanho. Não se preocupe, pois essa dúvida irá acabar assim que você a amaciar e sentar para ouvir suas virtudes.

Segundo o fabricante, a nova versão XD é uma atualização da linha 40 Anos, com vários ajustes, incluindo um novo crossover com uma total revisão dos componentes internos da caixa. E a maior mudança é o uso do mesmo falante de 8 polegadas da caixa de referência, a 40.3.

O modelo enviado foi com acabamento Tamo Ash, que eu acho de extremo bom gosto, por ser clean e combinar com o design retrô da caixa.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: pré e power Elipson (leia teste na edição de junho 2023), integrado IS-1000 da Gold Note, e nosso Sistema de Referência Nagra. Os cabos de caixa foram: Oyaide OR-800 Advance, Virtual Reality Trançado e o Dynamique Audio Apex. As fontes analógicas: toca-discos Project XL- 8 (leia Teste 2 nesta edição) e a nossa referência Origin Live Sovereign Mk3. Prés de phono: Cambridge Audio Alva Duo e Gold Note PH-1000. Fontes digitais: streamer Innuos ZENmini Mk3 com fonte externa e transporte Nagra com TUBE DAC.

Muitos leitores, depois dos testes das duas caixas Harbeth, me questionaram se gostei mais de ouvi-las com ou sem tela? E, pela primeira vez na vida, gostei de escutar com as telas. Achei que principalmente no modelo 5L, que tem dois tweeters com a tela ficou muito confortável em gravações tecnicamente brilhantes, e com gravações equilibradas a tela não atrapalha. Com o modelo 7, eu tirei e coloquei várias vezes e, como não ouvi diferença, depois de ajustada a posição na sala, eu decidi fazer o teste todo com as telas.

Já no teste da 30.2 XD, eu nem me dei ao trabalho de tirar as telas, sequer na queima de 200 horas.

Como toda caixa Harbeth, o usuário terá que ser muito cuidadoso com seu posicionamento e altura da caixa em relação ao ouvido. São caixas que, apesar de seus tamanhos, necessitam respirar. E de uma distância mínima entre as paredes, para poder extrair o seu melhor.

Vejo reviews de caixas Harbeth em que o revisor reclama de pouca profundidade, e as caixas estão a menos de 50 cm da parede nas costas, ou enfiadas nos cantos. Minha vontade é gritar para esses revisores: “Harbeth não é caixa Audio Note, meu amigo!”. Elas precisam ter o mínimo de espaço entre elas e das paredes.

E o que é esse mínimo, Andrette? Pelo menos 2.40 m entre elas, e ao menos 50 cm das paredes laterais, e 90 cm da parede às costas das caixas. Não precisa girar a caixa muito para o ponto de audição, mas também não podem ficar totalmente paralelas às paredes laterais (nem tanto à terra, nem tanto ao mar).

O mais essencial: altura dos pedestais. Nada do tweeter muito acima das orelhas, nem abaixo. O ideal é que os tweeters estejam, no máximo, a 5 cm acima da orelha do ouvinte sentado.

Tomadas todas essas precauções, pode iniciar o amaciamento escutando as caixas. Não haverá nenhuma agressividade nos agudos, e nem tampouco ausência de graves.

Você só precisa se lembrar que a caixa é uma book, e que responde a partir de 50 Hz.

Mas não se trata de um 50 Hz tímido ou anoréxico, pelo contrário. Pois têm corpo, peso, energia e velocidade suficiente para reproduzir qualquer gênero musical que não seja turbinado nos graves.

As pessoas com um pé no objetivismo, e a mente respaldada por números, sempre me perguntam se 50 Hz é o suficiente para ouvir música. É mais do que suficiente, diria até que para salas entre 9 e 16 metros quadrados é o que basta!

Mas essas pessoas não acreditam… Nesse caso, ouça! Tire suas próprias conclusões.

As books que mais gosto e tenho como referências absolutas, nenhuma responde abaixo de 50 Hz, e todas elas tocam em nossa sala de 50 metros quadrados, sem nenhuma restrição de gênero musical. Claro que não sou nenhum ‘grave dependente’, e sei que as books bem ‘resolvidas’ em termos de equilíbrio tonal e corpo harmônico, irão contornar essa limitação com enorme graciosidade e maestria!

As duas books que mais admiro, e estão na minha lista de desejos futuros, são a Boenicke W5SE (leia meu Espaço Aberto nesta edição) e agora essa Harbeth 30.2 XD. E posso garantir, meu amigo, que nenhuma delas precisa da condescendência de nenhum audiófilo, ficando ‘com dedos’ no volume com medo de deixá-las constrangidas. Elas aceitam desafios e os resolvem com uma agilidade e graciosidade impressionantes!

Como elas conseguem, é uma verdadeira incógnita, mas suas performances garantem a elas um lugar de destaque absoluto no pódio!

Das três Harbeth que testei, a 30.2 XD soou a mais neutra das três, tornando-se um monitor hi-end interessantíssimo. Pois foi possível observar sem esforço a facilidade com que ela apresenta a assinatura sônica das gravações, da eletrônica e dos cabos.

Seu equilíbrio tonal permite que ela tenha uma folga imensa com gravações tecnicamente limitadas, sem nos fazer aposentar aquela gravação. Seu grave, como já escrevi, tem todos os atributos para não sentirmos falta da fundação dessa frequência, e a região média é puro deleite, sem soar aveludada, nos transmitindo com precisão o que foi captado, mixado e masterizado. E os agudos são corretos, abertos, com grande extensão, e decaimento suave o suficiente para ouvirmos as salas de gravação.

Ela, com os pares certos, é um convite a horas intermináveis de audição sem fadiga auditiva!

O soundstage dependerá exclusivamente do usuário fazer a lição de casa, mantendo os arejamentos necessários em relação às paredes, e a altura correta das caixas em relação ao ouvido. Tomadas todas as precauções, a Harbeth é um requinte na apresentação de foco, recorte e planos. Tanto na profundidade, quanto na largura e altura.

As texturas, como diria meu pai: “são quase que palpáveis”, e não há nenhum esforço adicional para se acompanhar todas as linhas melódicas e ouvir as intencionalidades em toda sua beleza!

Meu amigo, vou te contar um segredo (fica só entre nós, ok?), nenhum monitor de estúdio de pro-áudio tem essa capacidade de apresentar as texturas de maneira tão implacável!

Os transientes são ‘pêra doce’, e absolutamente precisos e corretos em tudo: velocidade, time e ritmo.

Quanto à dinâmica, ainda que a macro tenha que ser avaliada com determinada cautela – não há restrições se os volumes forem os corretos – a 30.2 XD equilibra sua limitação na macro, esforçando-se por fazer de maneira correta o que está em seu campo de atuação.

“Exemplos, Andrette, por favor!!!!!!”

Na Sagração da Primavera, de Stravinsky, não haverá nos fortíssimos aquele baita deslocamento de ar nos tímpanos, no entanto ela não comprime esse fortíssimo a ponto de parecer estar cuspindo e não soando.

Outra qualidade: você não deixa de escutar toda a orquestra nessas passagens (o que é muito comum em todas as books: terem que fazer escolhas antes de entrarem em colapso).

Concerto para Dois Pianos & Percussão, do Bartok: aqui a grande sacada é manter o primeiro plano intacto, ou seja, os dois pianos soarem sem compactar, como se estivéssemos a misturar os dois pianos e colocá-los em uma bola de papel alumínio. Com isso, ainda que as percussões pareçam estar em segundo plano (o que não foi a intenção do compositor nos fortíssimos), o discurso musical como um todo, continua inteligível.

Se é isso que as grandes books podem, no atual estágio, fazer para contornar sua limitação física, a 30.2 XD o faz com propriedade.

Já a microdinâmica, para essa Harbeth, é ‘mamão com açúcar’. Tudo que foi captado e preservado até o estágio final do processo de gravação, estará lá.

Para uma book além da macrodinâmica, o corpo harmônico é outro enorme obstáculo. Aqui, graças ao uso do mesmo falante de 8 polegadas do modelo de referência 40.3, essa questão do tamanho dos instrumentos foi bem resolvido. O exemplo que mais me chamou a atenção, foi na reprodução de todos os pianos solo, em que fechando os olhos os pianos estavam com um tamanho capaz de deixar meu cérebro em dúvida se eram eles na minha frente ou não.

Todo monitor hi-end tem como maior objetivo te colocar dentro da sala de gravação, com os músicos, e não ao contrário – como as melhores caixas hi-end. Nesse quesito, a Harbeth 30.2 é a referência mor das books! Ela faz essa ‘mágica’ com extrema precisão e graciosidade.

CONCLUSÃO

Se me perguntarem se, então, com todos esses atributos a Harbeth pode ser a book final de todos audiófilos? A resposta será, depende do que esse audiófilo espera ou deseja em termos de performance. Se ele tiver o interesse de viver com uma book monitor hi-end, não existe opção melhor, em minha opinião. Agora, se ele deseja mesclar esse grau de ‘aproximação’ tão estreita com o acontecimento musical, com audições em que ele se encontra na plateia, como quando estamos na Sala São Paulo, ela não será sua book definitiva.

Entendeu onde se encontram as virtudes e as limitações de todas as caixas?

Nenhuma jamais irá atender a todas as possibilidades feitas pelos engenheiros de gravação.

“Exemplos, Andrette, exemplos!”

Calma, apressado, darei um único exemplo bem conhecido pela maioria dos audiófilos com mais de 40 anos. A gravação de Belafonte at the Carnegie Hall – ouvindo essa gravação tanto na Harbeth e depois na Boenicke W5, a Boenicke apresentou de forma muita mais fidedigna o ambiente e atmosfera da gravação que a 30.2 XD. Já no exemplo do Joe Satriani, o CD de capa laranja, a Harbeth foi muito mais feliz em sua recriação da sala de gravação, e me colocou em posição privilegiada bem perto dos músicos.

Me fiz compreender?

Se seu gosto musical é muito mais para gravações de estúdio, pequenos grupos e música quase que estritamente com instrumentos eletrônicos, a Harbeth 30.2 é o monitor hi-end que você precisa, para em cada audição ser transportado para aquela sala específica junto com os músicos.

E se você tiver ‘bala na agulha’, provavelmente a Harbeth 40.3 atenda aos que desejam mais adrenalina na reprodução da macrodinâmica.

Nota: 92,0
AVMAG #297
KW Hi-Fi
fernando@kwhifi.com.br
(48) 98418.2801
R$ 42.000

CAIXAS ACÚSTICAS AUDIOVECTOR QR 5

Fernando Andrette

O audiófilo segue determinadas linhas de raciocínio que certamente o diferem do aficionado por outros hobbys tecnológicos, pois ele não age em termos de escalas ascendentes ao pensar em upgrades, ele leva em consideração muitos fatores tão pouco racionais que, aos olhos de quem está apenas acompanhando um audiófilo em sua jornada rumo ao nirvana sonoro, devem parecer estranhos e, às vezes, completamente sem sentido.

Demorei décadas para entender esse comportamento oscilante, que às vezes é direcionado por ideias fixas que, em algum momento, ele acreditou serem o caminho mais seguro. Outras vezes, procura seguir sua ‘razão’ a qual, na verdade, tem uma memória totalmente emotiva para lhe dar um norte de onde ir.

E por muitas vezes, até estritamente por impulso, levando-o nesse caso a profundos arrependimentos e até rompimentos com o hobby, dependendo do estrago que esse ‘impulso’ possa ter causado nas suas expectativas e no seu bolso.

Meu pai sempre descreveu o audiófilo como um ser que precisa ser lembrado constantemente que o único sentido para se embrenhar nessa jornada, é o desejo inato de conseguir dar sentido pleno à música que ama. E que, se esse desejo não for tão verdadeiro assim, ele rapidamente se tornará uma ‘aparelhófilo’, que utiliza algumas poucas músicas para definir seu próximo setup!

Com meio século de estrada, já consigo identificar instantaneamente o Audiófilo do Aparelhófilo. E as diferenças são muito explícitas. Todo audiófilo é na verdade um melômano, apaixonado verdadeiramente por música. Basta conversar meia hora com ele, ou ter a possibilidade de conhecer sua coleção de discos, e você verá que sua paixão tem coerência e consistência nos gêneros musicais que ele aprecia. Você não verá na discoteca de um melômano, apenas gravações de Best Off, ou discos de promoção de R$9,90. Ou de orquestras e regentes inexpressivos, ou de coleções de artistas de jazz de começo de carreira mal gravados, e muitas vezes até gravações piratas.

Converse com um melômano amante de rock progressivo, e ele te dará uma aula completa e te apresentará bandas que você jamais ouviu falar. Esse melômano sonha em poder ter um sistema que amplie sua percepção dos gêneros que ele tanto ama, e quando (se puder), ter um sistema hi- end, será feliz por muitos e muitos anos. E seu sistema, depois de ajustado, ficará por anos sem ser alterado.

O Aparelhófilo não. Desde o começo, está apenas interessado em realizar upgrades, para ouvir algumas faixas (agora com as plataformas de streaming essa questão ficou ainda mais evidente), e as usa apenas para garantir que cada peça colocada em seu setup trouxe algum detalhe novo às suas faixas de referência. E como ele usa a música apenas para abalizar seus upgrades, quando um amigo o visita e pede para ouvir alguns discos, e esses não soam adequadamente no sistema, o drama existencial infinito do aparelhófilo volta à tona como um tsunami. E o rescaldo é: começar novamente do zero.

Quem nunca viu essa descrição acima, levante a mão!

Você pode ser o que desejar, amigo leitor, mas os que estão começando essa jornada, precisam saber das escolhas possíveis, antes de decidir que estrada tomar.

O que posso afirmar categoricamente é que a busca do aparelhófilo não tem fim – é como um saco sem fundo. A do melômano/audiófilo, acaba assim que o sistema que amplia sua percepção dos discos que ama, foi encontrado.

Essa longa introdução foi para lembrar a todos vocês que, a indústria de áudio há muito percebeu essas duas tendências cada vez mais bem definidas, e produz equipamentos para ambas. E as caixas da série QR da Audiovector tem como objetivo atender justamente os que amam a música acima de seus equipamentos.

Isso para mim ficou evidente no teste da QR 7 (leia o teste na edição 294), e essa percepção só se reforçou ao testar o modelo logo abaixo, a QR 5.

Para facilitar os leitores que gostam que se vá direto ao ponto, o que difere ambas é apenas em relação ao tamanho da sala em que cada uma se sente adequada, e pode mostrar todos os seus atributos sonoros! Pois em termos de assinatura sônica, são exatamente da mesma linhagem sem nenhum desvio de características e performance.

Depois de dois meses com a QR 5, arrisco dizer que essa é ‘a caixa’ dessa série! Pois ela tem uma capacidade de se adaptar a diversos tamanhos de sala que a QR 7 não consegue ter. Ambas precisam de um mínimo de arejamento à sua volta em relação às paredes. No entanto, pelo tamanho, a QR 7 precisa obviamente de mais espaço.

A QR 7 será subutilizada em salas menores de 20 metros. A QR 5, com salas de no mínimo 12 metros (como nossa sala de home), conseguem se adaptar. A QR 5 pode perfeitamente trabalhar em salas de 12 a 30 metros quadrados. Já a QR 7, de 20 a 50 metros quadrados.

Então, se você pensa em investir em uma das duas, saber exatamente o tamanho da sua sala irá definir qual será a melhor escolha.

O modelo enviado para teste foi, agora, a versão laca de piano, com excelente acabamento, e a mesma impressão de bom gosto e detalhes que, no primeiro momento, enchem os olhos. E que, ao escutá-las, nos deixa confiante pela sua performance.

Perto da QR 7, ela parece menor do que na verdade é. Pois se trata de uma coluna de 110 cm de altura. São esguias e fáceis de posicionar em salas menores, mas que pelo seu tamanho e acabamento serão certamente a atração da sala.

Quando Mads Klifoth, filho do fundador da empresa, lançou a linha QR, ele tinha como estratégia mostrar ao mercado a book QR 1 e a coluna menor de duas vias e meia, a QR 3, e ver como o mercado reagiria, já que era a primeira empreitada nessa direção da Audiovector (buscar o público mais ‘de entrada’ do hi-end). Com o sucesso desde o lançamento em 2016, Mads voltou à bancada por mais dois anos até definir o próximo passo, com os modelos QR 5 e 7.

No lançamento, em 2019, em uma coletiva de imprensa, explicou as mudanças sofridas nos novos modelos, e explicou que ambas possuem novos falantes, novo crossover e um novo tweeter, para um desenho em três vias.

O novo falante de médio trabalha na faixa de 300 a 3500 Hz, e os dois woofers de 6 polegadas respondem de 30 a 300 Hz, justamente para atender ao mercado de entrada que desejava maior extensão nos graves que os das QR 3, e maior refinamento nos agudos.

Mads também deixou claro que a QR 5 são mais tolerantes com amplificadores de baixa potência valvulados (sensibilidade de 90 dB). Todos os falantes são produzidos pela Audiovector, o que facilitou o ajuste fino, e no desenvolvimento do crossover e até mesmo na escolha do material de amortecimento do gabinete.

Não vou repetir os detalhes que escrevi no teste da QR 7, já que volto a afirmar que as diferenças entre ela e a QR 5, são apenas de peso, extensão e deslocamento nos graves. O resto são tão similares, que ouso arriscar que em uma sala de 25 metros, dependendo do gosto musical do ouvinte, e pela diferença de 20 mil reais entre ambas, esse ouvinte provavelmente irá escolher a QR 5!

O único detalhe que acho importante lembrar é que a versão produzida pela Audiovector do seu tweeter AMT, difere dos seus concorrentes como a Elac, Adam Audio, Emotiva, Martin Logan, Monitor Audio e Precide (empresa Suíça), por utilizar um filtro acústico que neutraliza (segundo o fabricante) a nitidez das sibilantes. Esse filtro lembra aquela ‘meia’ usada em frente aos microfones para tirar ruídos e estalos de boca dos cantores. O princípio é o mesmo: com uma malha ultra fina colocada na frente da membrana, e que por ser dourada foi batizada pelo fabricante de ‘Folha de Ouro’.

Para o teste utilizamos o pré e power da Elipson (leia Teste 1 nesta edição), o power Gold Note PA-10 (estéreo), o pré Elipson ligado com o Gold Note, e o integrado SA20 da Arcam. Para a definição de nota, o pré Classic Nagra e os powers Nagra HD. Cabos de caixa: Trançado Virtual Reality, e Apex da Dynamique Audio. Fontes: Innuos ZENmini Mk3, dCS Bartok Apex e Transporte Nagra com TUBE DAC Nagra.

Como a QR 7, a boa notícia é que dá para ir ouvindo enquanto amacia. Se o leitor soubesse o quanto isso ‘soa como música’ para o ouvido do revisor crítico de áudio! Pois tirar e colocar na Sala de Testes caixas tipo coluna, é um trabalho complicado.

Claro que o som nas primeiras 100 horas é engessado, como se o tweeter estivesse constipado e os graves embotados, mas ao menos não soa brilhante, estridente ou com médios frontalizados. Poder ouvir enquanto se amacia, tem uma função didática maravilhosa, pois muitas vezes podemos estar escutando com uma música que gostamos, exatamente no momento em que o grave começa a encaixar ou os agudos ganham extensão. Eu já presenciei essa alterações dezenas de vezes, e quando leio testes em que o revisor descreve determinada característica sônica de uma caixa, sei exatamente afirmar se o revisor teve ou não paciência para amaciar completamente a caixa, ou se já foi avaliando o produto assim que saiu da embalagem (acreditem, muitos fazem isso, infelizmente!).

O tempo de queima da QR 5 foi 20 horas menor que a QR 7. Então ganhei praticamente um dia em relação ao modelo maior, e usei esse tempo para ouvir alguns LPs que comprei recentemente em sebo.

Por ser ainda mais slim, a QR 5 pode tranquilamente ficar e um mínimo de até 2.50 m distante entre elas – mas o ideal foi 3.20 m em nossa Sala de Testes. Assim como a QR 7, não necessita de acentuar o toe-in, podendo ficar quase que paralelas às paredes laterais.

Seu palco com maior arejamento é magnífico, tanto em largura, como altura e profundidade. Seu foco e recorte é exemplar, e depois de totalmente amaciada é possível perceber com requinte de caixas muito mais caras, o tamanho exato de salas de espetáculo em gravações de música clássica. Esse mérito é todo do impressionante tweeter AMT, com absoluta certeza.

Seu equilíbrio tonal é excelente, e desde que ela esteja em ambientes para o seu tamanho, não vejo como alguém achar falta de graves. Eles são corretos, rápidos, precisos, e com excelente deslocamento de ar e peso.

Não senti falta de nada com nenhum gênero musical.

A região média é sedutora e equilibrada como a da QR 7, e na nossa sala de home de 12 metros, a distância de audição de apenas 2.70 m, permitiu ouvir detalhes na região média que passaram despercebidos na sala de 50 metros (mesmo colocando nosso ponto de audição a 3.70 m das caixas). E o agudo, não há a menor diferença em relação à QR 7. Para ter absoluta certeza, ouvimos os mesmos discos.

Para salas entre 12 e 20 metros, em que o ouvinte irá ficar no máximo a 3.80m das caixas, ter um tweeter tão correto e com uma timbragem tão rica, extensa e natural, é um verdadeiro bálsamo a quem deseja fidelidade e preservar sua audição!

As texturas são ricas, paletas uniformes naturais, refinadas e com um grau de intencionalidade – como escrevi no teste da QR 7 – de caixas custando até o triplo de seu preço. É um assombro a apresentação de texturas nas caixas QR 5 e 7!
Os transientes são também exemplares, assim como as texturas!

E a dinâmica é, talvez, a maior diferença entre as duas QR. A escala de degraus na QR 7 é mais detalhada e com maior impacto e deslocamento de energia e ar. Mas isso na sala de 50 metros. Pois com os mesmos discos tocados na sala de 12 m, a QR 5 resolveu melhor esses degraus de crescendos, pois nem a sala e muito menos o ouvinte ficariam confortáveis em uma sala menor, com essas passagens de fortíssimos com longo decaimento.

Na microdinâmica, nenhuma diferença!

O corpo harmônico é evidente que na QR 7 é mais fidedigno à captação da gravação, mas novamente é preciso lembrar que a QR 7 irá ser para distâncias entre as caixas e o ponto de audição, maiores. Para salas menores, o corpo harmônico da QR 5 é bastante convincente, acredite!

Materializar o acontecimento à nossa frente é ‘pêra doce’ para ambas. Não vi a menor diferença em nenhum ambiente, para esse quesito, entre ambas. O ouvinte nem precisa fechar os olhos para sentir e ouvir os músicos à sua frente.

CONCLUSÃO

Se você leu atentamente minha introdução a este teste, e se identificou como melômano/audiófilo, e seu desejo verdadeiro é possuir uma caixa final para reproduzir seus discos com enorme fidelidade e prazer emocional, ouça a Audiovector QR 5.

Se sua sala está nas dimensões especificadas para ela, e seu sistema está condizente com suas exigências, não vejo como se frustrar com um projeto tão bem elaborado e executado por um dos mais reconhecidos fabricantes de caixas hi-end da atualidade (basta ver o número de revisores no mundo que utilizam um modelo Audiovector, e seus prêmios conquistados nessa última década).

A linha QR da Audiovector irá causar inúmeros estragos na concorrência. Disso não tenha dúvida!

Nota: 93,0
AVMAG #296
Ferrari Technologies
info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369-3001 / 99471-1477
R$ 49.900

CAIXAS ACÚSTICAS MOFI SOURCEPOINT 10

Fernando Andrette

Fico impressionado quando questiono os participantes do nível básico de nosso Curso de Percepção Auditiva, quantos respondem não saber por onde começar a montagem de um sistema hi-end.

E mais surpreso ainda ao perceber a cara de espanto, quando respondo que todo sistema hi-end deveria começar a ser escolhido pela caixa, antes de tudo!

E explico a razão, confirmando que será a caixa que dará a assinatura sônica final do sistema. E se não soubermos o que desejamos de uma caixa acústica, tampouco saberemos decifrar as peças que irão se encaixar melhor na montagem desse quebra-cabeça.

A caixa acústica para o audiófilo e o melômano, é como o instrumento musical para o músico!

E assim como um músico iniciante pode cometer erros na escolha de seu primeiro instrumento de estudo, o audiófilo/melômano também certamente o cometerá, se não souber exatamente o que precisa buscar em termos de sonoridade em uma caixa hi-end.

Sem querer assustar os nossos leitores que irão começar sua trajetória, o fato de ter tantas opções no mercado mais atrapalha do que ajuda o iniciante. Por isso que insisto com eles que é preciso ouvir todas as opções possíveis, com seus discos e sem nenhuma pressa. Seja em lojas, casas de amigos, eventos.

E se possível na sua própria sala com seu sistema. Pois são inúmeras variáveis que precisam ser levadas em conta, como: acústica da sala, compatibilidade com o sistema, gosto musical e se a assinatura sônica da caixa lhe agrada ou não.

Meu pai tinha uma frase ótima – para todos que pediam sua opinião sobre caixas acústicas, ele respondia: “esposa e caixas acústicas, de nada serve a opinião dos amigos”.

E se na época eu achava graça de como ele saia pela ‘tangente’, para não ter essa responsabilidade sobre os ombros, hoje eu acho que ele realmente tinha razão.

Pois percebo em minhas consultorias o quanto os leitores têm dificuldade em descrever o que eles esperam de uma caixa acústica. Podem falar em detalhes o que desejam da eletrônica, dos recursos que o sistema oferece, design da eletrônica e mobilidade. Porém, descrever o que esperam em termos de sonoridade das caixas é um problema. Podem descrever em detalhes o que agrada ou não em termos estéticos, mas traduzir em palavras suas expectativas sônicas se limita a afirmar se gosta de mais ou menos grave, de um palco sonoro grandioso, e os volumes em que apreciam suas músicas.

Raramente escuto de um leitor que o seu desejo é ter uma caixa com excelente equilíbrio tonal, com um caráter neutro, boa dinâmica, uma enorme ausência de fadiga auditiva e que esteja em harmonia com sua sala de audição.

Pedir a um iniciante que tenha todos esses cuidados é pedir demais, eu sei. Mas para audiófilos rodados que já passaram por inúmeros upgrades em sua trajetória, deveria ser mais comum. E, no entanto, não é.

O que insisto todos os meses nessas páginas é que caixas, com todos os atributos descritos acima, irão durar por vários upgrades na eletrônica, cabos e ajustes acústicos, antes de se tornarem obsoletas.

Então redobrar a atenção na escolha de uma caixa acústica, não só trará benefícios sonoros, como também às nossas finanças, e nos permitirá ir fazendo os ajustes finos necessários em torno do componente que dá o ‘caráter’ sonoro final de nosso sistema.

O que é mais empolgante nesse processo, é o fato das caixas terem evoluído tanto nos anos recentes, que agora temos opções excelentes em várias faixas de preço. Basta uma consulta às três últimas edições Melhores do Ano, para constatar esse fato.

E isso é animador, meu amigo, pois permite que todos dentro de seus orçamentos busquem a melhor solução para o seu sistema.

Mas, e quando temos quebra de paradigmas tanto em termos de tecnologia como de performance, como devemos divulgar esses avanços? Como faremos agora no teste da MoFi SourcePoint 10. Então sente, coloque uma boa música e relaxe, pois temos novidades bastante interessantes para compartilhar!

Antes de falar do produto, preciso falar do homem por de trás do produto, pois ainda que seja um projetista bastante conhecido e respeitado, não falar de sua importância no mercado de caixas hi-end, seria uma enorme injustiça. Estamos falando de Andrew Jones, o veterano projetista inglês que, por onde trabalhou deixou sua marca com caixas que se tornaram referências, e deram uma enorme dor de cabeça para a concorrência. Na KEF, Infinity, TAD, Pioneer, Elac e, agora, na Mobile Fidelity.

Nós testamos os dois modelos que Andrew projetou para a Pioneer, e cinco modelos lançados pela Elac, e lembro muito bem da ‘desconfiança’ que causou a chamada de capa da coluna da Pioneer na edição 231, em que escrevi: ‘Sim: Uma caixa hi-end com preço de mid-fi’. O que importa é que dezenas de leitores e amigos compraram, e estão felizes ainda hoje com o produto!

A linha Debut da Elac, ainda que tenha causado uma desconfiança menor, também foi motivo de muita discussão em inúmeros fóruns pelo mundo.

O que eu admiro no Andrew Jones, é sua capacidade de aceitar desafios de qualquer ordem e encontrar soluções dentro do orçamento proposto, que resultam em produtos altamente corretos dentro de sua faixa de preço!

As Pioneer (book e coluna) custando menos de 200 dólares, são as caixas corretas mais baratas que testamos nos 27 anos da revista. E ainda que tenham limitações, conseguem um grau de performance impressionante, que levou a concorrência a ter que correr atrás, para não ficar comendo poeira!

Com um orçamento mais flexível, ele produziu na Elac três séries excepcionais, e a de entrada a Debut, foi um novo salto na faixa acima de 200 dólares, com books tão bem ajustadas que são usadas como monitores de mixagem em muitos estúdios de gravação. Além de estar em centenas de salas de audiófilos e melômanos pelo mundo!

E as colunas Debut, com sua bela resposta nos graves, podem ser a caixa definitiva de muitos audiófilos que buscaram por anos um par estéreo nessa faixa para seus sistemas.

Casos de usuários satisfeitíssimos com essas caixas do Andrew Jones, no planeta, não faltam, amigo leitor.

Desde que Andrew Jones saiu da TAD, em que ele pode desenvolver caixas acima de 20 mil dólares, sua trajetória foi na direção oposta, de caixas de entrada. Então a pergunta que sempre ficou no ar, foi: quando ele novamente irá trabalhar com o nicho de maior fatia no segmento hi-end, o de 3 a 6 mil dólares?

Que cartas na manga ele terá para apresentar ao mercado?

E a resposta finalmente está sendo dada com dois modelos: a SourcePoint 10 e, agora, a 8, lançada em maio na feira de Munique. E pelos prêmios (a 8 acabou de receber o prêmio EISA) e os excelentes reviews de todas as mais renomadas publicações, temos a resposta da carta da manga de Andrew.

Quando um projetista bem sucedido nesse mercado acha uma fórmula bem ‘azeitada’, é de se imaginar que independente do próximo lançamento, ele mantenha essa fórmula. E as ‘sacadas’ que ele lançou nas séries desenvolvidas para a Elac, se mostraram tão promissoras, que era de se supor que ele manteria também nos primeiros lançamentos pela MoFi.

No entanto, Andrew mais uma vez inovou e nos trouxe uma caixa com um alto falante coaxial de 10 polegadas em que o falante de grave/médio tem um tweeter de 1,25 polegadas de domo macio no centro.

O gabinete segue o padrão vintage tão em moda, e que pelas suas proporções é difícil admitir que possa ser denominado de book, mas isso falaremos mais adiante.

Continuando a observar os detalhes, chama a atenção que o falante de 10 polegadas de cone de papel não utiliza borracha à sua volta, tendo um contorno ondulado que remete aos falantes dos anos cinquenta. Ser assim foi absolutamente pensado, pois Andrew precisava que um cone com esse diâmetro não tivesse muito movimento ao reproduzir baixas frequências.

Em inúmeras entrevistas após o lançamento, perguntaram a Andrew os motivos para essa escolha e design, e suas respostas sempre foram que todos os seus designs de projetos concêntricos eram caixas de três vias (com o tweeter no centro do falante de médio), e com esse seu primeiro projeto concêntrico de duas vias apenas, o falante de 10 polegadas não pode se mover muito. Pois com muito movimento a frente de onda do tweeter (reflexão) atrasada do cone causa interferência na resposta de frequência.

Por isso a necessidade de um driver de 10 polegadas, e não de 4.5 ou 5 polegadas que ele usou em seus projetos anteriores – pois com uma área muito maior é possível reduzir o movimento do cone pela metade.

O outro obstáculo a ser superado por essa escolha, era do falante de 10 polegadas começar a responder em 40 Hz e ir até 1600 Hz. Como combinar a dispersão mais ampla do tweeter?

E a sacada foi projetar o tweeter de baixa frequência de ressonância, para reduzir sua atuação até 1.6kHz, e ter uma passagem limpa e sem sobreposição de frequências nessa faixa tão crítica.

E como o cone do falante de 10 polegadas funciona como um guia de ondas, é preciso projetar esse cone em 3D para ver quais seriam as características de diretividade e estudar os diversos materiais para ele.

O papel, depois de diversos estudos com inúmeros materiais, se mostrou o mais eficaz e correto. Pois para Andrew, o cone de papel não sofreu deformação com baixas frequências, respondendo linearmente até 3kHz.

Resolvido a questão do falante de grave/médios, Andrew e sua equipe se debruçaram no projeto do tweeter. Tentaram diversos tweeters de mercado, e nenhum se encaixou como deveria. A única coisa que ele queria era que o diâmetro fosse maior que 1 polegada, para uma dispersão mais homogênea e uma capacidade de resposta extra abaixo de 1.8kHz (que é a faixa que muitos tweeters estão ainda começando a operar).

Sua obstinação por um tweeter maior que 1 polegada se mostrou correta. Aí partiu-se para o passo mais complicado: desenvolver o campo concêntrico e estabilizar esse campo de modo que o sinal em todo o espectro audível da caixa tivesse o limite mais ampliado possível, para a quantidade de energia magnética que você precisa para uma resposta linear do tweeter até acima de 20kHz.

A solução foi criar uma estrutura onde os imãs do woofer e do tweeter somassem o campo magnético um do outro, resultando em uma densidade de fluxo maior do que qualquer falante alcança individualmente.

À princípio, Andrew batizou essa sua ideia inovadora de ‘estrutura magnética composta’, mas a direção da MoFi sugeriu por Twin Drive.

Os leitores veteranos devem estar se perguntando, que diabos tem de novidade se inúmeros outros fabricantes também fazem a décadas falantes concêntricos?

O resultado meu amigo. O pulo do gato certamente está em dois pontos: os falantes e suas características e a solução dos imãs para um único campo magnético, pois isso na prática resultou em uma melhora substancial na diminuição da distorção dos falantes, o que em termos sonoros resultou em uma apresentação de microdinâmica assustadora!
Suas dimensões estão mais para uma JBL L100 Classic do que para uma Harbeth LS7 DX.

E para se extrair toda sua beleza em termos de soundstage é essencial, ou melhor: obrigatório o uso de seu pedestal.

Pesando mais de 20 Kg, sugiro ajuda ou muito cuidado ao colocá-la no seu pedestal. E sugiro que se teste tanto ela em pé, como deitada, para ver qual imagem em termos de planos mais se adequa a acústica da sala. As mudanças podem parecer sutis, mas em termos de altura são bastante relevantes.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados: V8 Aniversário, Gold Note IS-1000 e Line Magnetic LM-805IA (ler teste na edição de agosto de 2023). Powers: Elipson A2700, Gold Note PA-10 , Mark Levinson Nº5302 e Nagra HD. Prés de linha: Mark Levinson Nº5206 (leia Teste 1 nesta edição), Nagra Classic, e Elipson P1. Fontes analógicas: toca-discos MoFi StudioDeck +M (leia teste edição de outubro), Pro-ject X8, e Origin Live Sovereign. Fontes digitais: streamer Innuos ZENmini Mk3, DAC Merason DAC 1 Mk2, e Nagra TUBE DAC. Transporte CD: Nagra. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, Dynamique Apex.

Se você não possui uma sala maior que 20 metros, minha sugestão é que ouça a versão 8, pois a versão 10 é para salas acima de 20 metros quadrados. Na nossa sala, com 50m, ela tocou sem nenhuma necessidade de um subwoofer.

Mas é uma ‘book’ que precisa de respiro em relação às paredes, principalmente às suas costas. Pouco toe-in, diria que o mínimo apenas (a não ser que esteja a menos de 20 cm das paredes laterais. Distância mínima da parede atrás das caixas de 1 metro, e entre as caixas de pelo menos 2.50m.

Aqui ela trabalhou melhor em pé, pois deitada parecia que todos os músicos e cantores estavam sempre sentados.
Seu foco, recorte e planos são impressionantes desde o primeiro minuto, mas ela precisa de rodagem para soltar os graves e melhorar a extensão nos agudos. De resto, você pode sentar e ouvir desde o início, pois ela já irá colocar todos seus atributos na mesa.

Prepare-se, pois você irá descobrir detalhes nas gravações que você jamais escutou em caixa alguma! Não estou blefando! Todos que já a adquiriram aqui no Brasil, já relataram esse feito! Isso é certamente consequência da diminuição de distorção dos falantes.

Não consigo imaginar um engenheiro de gravação, depois de trabalhar uma tarde com esses monitores, abrir mão dessa ferramenta. Assim como melômanos e audiófilos, que desejam ‘destrinchar’ suas gravações, voltarem a seus sonofletores anteriores após uma audição em condições corretas com a SourcePoint 10.

Todos que ouviram excelentes caixas concêntricas sempre falam do prazer de perceber a posição exata de cada instrumento no imaginário palco sonoro. Porém muitos reclamam que muitos projetos concêntricos têm dificuldade de manter o foco e recorte quando a música tem muitos instrumentos soando na mesma frequência.

Na MoFi isso não ocorre: passamos gravações encardidas, complexas, com enorme variação dinâmica e de tempo, e sua conduta foi simplesmente exemplar!

Outra queixa de muitos que entendem o quesito sonoro, é que falantes concêntricos tendem a deixar os instrumentos agudos como flautim, trompete, violino, com um tamanho reduzido ao de um triângulo. Novamente, a SourcePoint 10 não comete esse deslize.

Depois de 200 horas de amaciamento, seu equilíbrio tonal é magnífico, e não há como ter fadiga auditiva mesmo em gravações que não sejam um primor técnico. Claro que erros grosseiros serão apresentados, mas não de forma que você não consiga escutar o disco.

Também no rosário de queixas em relação a falantes concêntricos está que são muito criteriosos com os volumes em variações dinâmicas muito intensas. A MoFi adora ser ‘cutucada’ – não haverá alteração de comportamento se a dinâmica exigir o melhor dela (desde que os volumes da gravação sejam respeitados, óbvio).

Os graves, depois de 200 horas, são exemplares – e só me lembro de ter uma resposta tão semelhante com a JBL L100 Classic. Nenhuma outra book desce com tanta autoridade e precisão. Deixando inúmeras colunas ruborizadas e encostadas na parede, literalmente.

A região média é tão ‘realista’, que vozes (que são as referências mais fáceis que todos temos de memória) levam alguns segundos para entendermos o que estamos ouvindo de ‘diferente’. É tão real, que podemos sem esforço detectar a técnica vocal de cada cantor ou cantora. É possível, por exemplo, observar quando o cantor mantém a nota no peito ou como ele modula para cantar em falsete a mesma nota. Ou entender como a voz, com os anos, vai sendo remodelada, como no caso da Ella Fitzgerald.

Ou no caso de instrumentos, ver a evolução técnica e de qualidade de instrumentação de virtuoses como Yo-yo Ma ou Wynton Marsalis, nos seus primeiros anos de carreira e na atualidade.

Pode, para muitos de vocês, parecer algo irrelevante, no entanto é importante lembrar que essas ‘qualidades’, até alguns anos atrás, eram descritas como recursos só existentes em caixas acima de 100 mil reais – e estamos falando de uma caixa que, com o pedestal, custa menos de 40 mil reais!

Os agudos da MoFi, ainda que não sejam os mais estendidos em comparação com essas referências de 100 mil reais, têm a capacidade de serem muito corretos, e nos proporcionarem sermos transportados para as salas de gravação sem nenhum esforço.

Suas texturas são inebriantes, e capazes de mostrar em detalhes intencionalidades que inúmeras outras caixas, passam ao largo. Tudo será exposto de maneira tão clara, que ficamos nos perguntando a razão da MoFi fazer essas ‘revelações’ de forma tão simples e natural. Para uma apresentação de intencionalidades nesse nível em book, a única outra caixa que ouvi foi na W5SE da Boenicke – que custa o dobro da SourcePoint 10.

Velocidade, precisão, tempo e ritmo, é a coisa mais simples para ela – faz com tanta desenvoltura que você irá querer ouvir muito mais melodias que tenham uma marcação de tempo e ritmo bem vincado. Pois ela nos faz querer acompanhar com o corpo o que estamos escutando.

E aí chegamos na pedra do sapato de qualquer book: macrodinâmica. Ouço um burburinho no fundo da sala, de alguns incomodados em classificar essa caixa com esse tamanho de book. Em minha defesa, só posso dizer que ela não é a primeira e nem será a última a causar essa dúvida. Mas se ela precisa de um pedestal para estar apta a dar seu melhor, não tenho como dar outra designação a ela.

Sua apresentação de macrodinâmica é tão surpreendente quanto a JBL L100 Classic!

Não precisa que o ouvinte se desespere em ter que baixar o volume nos últimos 5 minutos de Bolero de Ravel, ou nos fortíssimos do Pássaro de Fogo de Stravinsky. Se o volume for o correto desde o início, os sobressaltos virão no ‘gran finale’ com o impacto e deslocamento de ar da obra, e não de sustos com o volume clipando!

E a microdinâmica, essa é realmente a ‘cereja do bolo’ dessa book. Impressionante a recuperação de detalhes extraídos de gravações que, em quase todas as caixas, independente do preço, não reproduzem.

Quem possui a gravação Bach de The Goldberg Variations, do Glenn Gould (a de 1981), irá ficar paralisado com a quantidade de sussurros e grunhidos típicos desse virtuose, que simplesmente não se escuta em outras excelentes caixas. É tão impressionante que você consegue mentalmente ‘ver’ os sussurros mais distantes do teclado e dos mais próximos, e como sua modulação, ao cantar junto as notas, se altera progressivamente.

Em todas as gravações ao vivo de qualquer disco que ouvi nas SourcePoint 10, teve surpresas. E nos discos de estúdio, as ‘revelações’ são ainda mais impactantes, principalmente em passagens longas de temas em pianíssimo de naipes de cordas ou metais.

O corpo harmônico era minha maior dúvida, pois em toda caixa concêntrica que ouvi ou testei, a diminuição dos instrumentos na região aguda é realmente um problema. Andrew resolveu isso com maestria, pois ainda que os instrumentos possam soar menores que no real, em gravações analógicas (LP), que ainda são os melhores exemplos para esse quesito, o trompete, violino, flautim e sax soprano, soaram muito convincentes!

Com todos esses recursos e qualidades, materializar o acontecimento musical é a coisa mais ‘natural’ para a 10. Os músicos estarão à sua frente, e em muitas gravações de música clássica bem feita você será transportado para a sala de concerto!

CONCLUSÃO

É enriquecedor testar produtos tão relevantes, que mudam de patamar o atual estágio em que as books se encontram. O mesmo ocorre cada vez que testamos um novo integrado e vemos o quanto eles podem ser o substituto de um pré e power Estado da Arte.

É preciso entender que o mercado precisa evoluir, e encontrar soluções que atendam aos atuais e futuros audiófilos.
E o caminho é esse: dar a oportunidade de mais e mais consumidores, com uma book desse nível de performance com um integrado semelhante, ter um sistema definitivo mais minimalista, objetivo e impressionante!

Andrew Jones foi tão assertivo em sua nova proposta, que até os amantes de valvulados de baixa potência poderão ter uma caixa de boa sensibilidade para fazer par com seus amplificadores.

Altíssima compatibilidade com todos os amplificadores testados e, o mais importante: uma sonoridade cativante e integralmente convincente!

Que o mercado de caixas se inspire nas ideias de Andrew Jones, e tenhamos mais opções tão relevantes e com preços cada vez mais condizentes com a nova realidade mundial.

A caixa da MoFi é um nítido divisor de águas em termos de bookshelfs: ‘Antes da SourcePoint 10’ e ‘Depois da SourcePoint 10’!

Se você é daqueles leitores que não aceitam sequer a ideia de ouvir uma book, pois acham que elas jamais poderão superar uma coluna bem feita, crie coragem e escute a MoFi SourcePoint 10.

Conheço audiófilo que fez e reviu esse preconceito integralmente!

E hoje está a espalhar aos quatro cantos a magia que essa caixa possui!

Nota: 95,0
AVMAG #299
German Audio
comercial@germanaudio.com.br
(+1) 619 2436615
preço com pedestal: R$ 36.600

CAIXAS ACÚSTICAS AUDIOVECTOR QR 7

Fernando Andrette

Nossos leitores mais antigos certamente se lembrarão deste fabricante de caixas dinamarquês, já que na virada do século ela foi distribuída no Brasil pela Audioland.

Lá se vão duas décadas, e eis que finalmente a Audiovector volta ao país nas mãos da Ferrari Technologies.

Eu sempre nutri um profundo respeito pela marca por dois motivos: é o mais antigo fabricante de caixas hi-end a oferecer ao consumidor upgrades de suas séries em que se pode subir de patamar trocando o crossover e os falantes, mas mantendo o gabinete.

E por ainda ser uma empresa genuinamente dinamarquesa, com grande parte de sua produção verticalizada, construindo muitos de seus falantes de forma quase artesanal. Algo raríssimo nos dias de hoje, em que a grande maioria dos fabricantes buscam diminuir custos, levando toda sua produção para a Ásia e mantendo apenas no país de origem sua equipe de desenvolvimento técnico.

A Audiovector continua sendo uma empresa familiar, agora sob o comando da segunda geração, e que nos últimos anos se tornou uma das referências no segmento Estado da Arte com sua linha R, tornando-se a caixa de referência de inúmeros revisores e publicações especializadas em todos os continentes.

Os dinamarqueses são reconhecidos pelo seu extremo perfeccionismo em marcenaria, e excepcionais luthiers que emprestam seu talento à construção de gabinetes primorosos! Não tem como não se impressionar com o acabamento das caixas R 6 e R 8 Arreté, e quando a performance tem o mesmo nível de beleza que os gabinetes, é o que chamo de unir o útil ao agradável em todos os sentidos.

Para mim, ao ler sobre a nova linha de entrada, a série QR, ficou claro que o objetivo é atender ao audiófilo que está iniciando sua jornada, com preços muito competitivos para conseguir maior participação de mercado e fidelizar esse cliente para conhecer as séries acima.

O problema (se pode achar que seja um problema) é que a Audiovector está em um patamar tão alto em termos de qualidade, que mesmo sua série de entrada não fez concessões que outros fabricantes habituados a trabalhar no mercado mais ‘pé no chão’, acabam fazendo para diminuir o preço final do seu produto.

Nem a embalagem da série QR é despojada, impressionando pelo seu volume: uma embalagem de papelão rígida dupla na busca de segurança para todo tipo de transporte: marítimo, aéreo e rodoviário. E quando você abre a embalagem, o acabamento da caixa, da tela, dos spikes, também impressionam, ainda que a linha QR não siga o mesmo padrão de gabinetes com a frente maior que o fundo, presente em todas as outras séries.

Aqui temos um gabinete ultra convencional, mas extremamente bem acabado. A QR 7 é uma coluna imponente, ideal para salas acima de 20m quadrados (para salas de 12 a 18m, o ideal será a QR 5), que realmente precisa de espaço entre ela e as paredes, e uma distância de pelo menos 2.80m entre as caixas, para se extrair um impressionante soundstage 3D!

Elas têm 1140 mm de altura, 250 mm de largura e 400 mm de profundidade. Os acabamentos são Dark Walnut (o exemplar enviado para teste), Piano Black e White Silk. É uma caixa de três vias com dois woofers de 8 polegadas, um falante de médio de seis polegadas e um tweeter AMT (Air Motion Transformer) folheado a ouro.

A linha QR vem com um único par de terminais – ao contrário de todas as outras séries, que aceitam biamplificação ou bicablagem.

Depois de ouvir a QR 7 e, agora, estar amaciando a QR 5 (leia teste na edição de junho), para mim ficou claro que o objetivo da linha QR é facilitar a vida do usuário, mas já o deixar totalmente satisfeito, para manter acesa a ‘curiosidade’ de ouvir as linhas acima.

E, para se conseguir tamanho feito, a empresa colocou toda sua equipe de desenvolvimento trabalhando por dois anos para criar uma série que mantivesse todas as principais qualidades reconhecidas pelos consumidores de Audiovector, e fosse extremamente competitiva com as principais marcas que atuam no segmento de 1500 a 7 mil dólares!

Voltando ao gabinete, todas as superfícies são acabadas em folheado de madeira, com o gabinete assentado em uma base retangular separada por alguns centímetros da base, para que o duto apontado para baixo possa atuar.
Todos os cones dos woofers e do falante de médio são feitos de duas camadas de alumínio com um material de amortecimento patenteado pela Audiovector. Os falantes utilizam a tecnologia também deles do Pure Piston Technology, que segundo o fabricante permite que eles operem em toda sua resposta com um índice baixíssimo de distorção.

Os woofers respondem de 28Hz a 425Hz, entregando daí em diante para o médio que, por sua vez, entrega o sinal ao tweeter Air Motion em 3kHz. O tweeter, também construído pela Audiovector, possui uma malha de dispersão banhada a ouro rosa, para o controle de todo tipo de sibilância. O fabricante batizou essa malha de ‘filtro S-Stop’.

Os filtros do crossover são de 6dB por oitava, tudo de primeira ordem, permitindo uma resposta linear de todos os falantes muito além do corte do crossover.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: integrado Audiolab 6000 A (leia teste edição de junho), Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário, e powers Nagra HD. O pré de linha foi o Nagra Classic. Fontes digitais: CD-Players Line Magnetic (leia Teste 2 nesta edição), Arcam SA50 (leia teste na edição de maio), Transporte Nagra, e o DACs TUBE DAC Nagra, e dCS Bartok APEX (leia teste na edição de maio). Os cabos de caixa foram: Dynamique Apex e Oyaide OR 800 Advanced (leia teste edição de junho). Fonte analógica: Bergmann Modi (leia teste na última edição Melhores do Ano), cápsula ZYX Ultimate Gold, e pré de phono Gold Note PH-1000.

Como toda caixa que nos chega zerada, nosso trabalho é fazer uma breve audição, anotar o básico (que nível se encontra o equilíbrio tonal de saída, se a apresentação é 3D, ou bidimensional, como se comporta o corpo harmônico e escala dinâmica), e vai para o grupo de queima na ‘sala de tortura’, e ficará lá sem intervalos pelas 50 horas iniciais (isso para caixas), e volta para uma nova rodada de repetição, como os mesmos exemplos musicais, mesmo setup, mesmo volume e mesma posição inicial!

Não está satisfatório, volta para a tortura por mais 50 horas. Se, na segunda volta para a sala de testes, já tiver alterações consistentes, ampliamos o tempo de audição, inserindo novas gravações específicas do quesito em que escutamos melhorias.

Todas as mudanças são registradas em meus famosos cadernos de anotações (já estão na edição 41), que como já citei muitas vezes serão incinerados com meu corpo no crematório. Pois não quero que nenhuma anotação jamais seja lida ou divulgada posteriormente.

Feita as anotações, volta para mais 50 horas, até que notemos, depois de uma audição de pelo menos 4 horas passando toda a Metodologia, que o produto está estabilizado.

Então, meu amigo, se você não acredita em ‘burn-in’ de equipamentos, certamente me achará um doido de pedra em realizar todo esse ritual há 30 anos (contando meu tempo de revisor na Audio News).

Mas se não me achar um doido varrido, acredite, burn-in é essencial para ser justo com todos os produtos que nos são enviados semanalmente para teste. E ainda que alguns, como cápsulas, precisem muitas vezes menos de um dia de amaciamento, outros como caixas às vezes precisam de mais de 500 horas! E o revisor que não respeitar o tempo exigido de burn -in, irá cometer erros ‘grotescos’ em suas conclusões. Eu já vivi tempo suficiente para constatar esses erros!

Ainda falando nesse tema, de burn-in, outro dia li de um ‘formador de opinião’ de fones dizer que não temos memória de longo prazo! Não cai da cadeira por estar confortavelmente deitado em minha cama, repassando a correspondência do dia.

Alguém negar a memória auditiva de longo prazo, está no mesmo patamar do Terraplanista!

Voltando ao teste, ainda que a QR 7 esteja literalmente engessada nas suas primeiras 50 horas, suas qualidades já são tão ‘audíveis/evidentes’ que será possível acompanhar todo seu burn-in sem escorrer uma lágrima de dúvida, ou roer unhas de ansiedade, sobre se fez a escolha certa.

As virtudes da QR 7, como disse um amigo que a ouviu com apenas 31 horas de queima, ‘transbordam’ à nossa frente.

Com tantos anos de estrada, parece que desenvolvemos um ‘feeling’ de quando algo está acima da média, ainda que tenhamos plena certeza que irá melhorar ainda mais com o fim do burn-in.

Adoro ter a oportunidade de testemunhar esse momento, em que você pressente o potencial do produto, mas não sabe se ele irá chegar aonde você previu ou se irá se sobressair um pouco mais. Esse é o lado prazeroso do meu trabalho, descobrir ‘pérolas’ em um mar de mesmice e muita propaganda oca.

A QR 7 faz parte das genuínas ‘pérolas’ que, quando totalmente encerrado o burn-in , ultrapassam com facilidade o que previmos. Eu digo sempre aos leitores mais atentos, nas minhas ‘entrelinhas’, que os equipamentos que irão se sobressair na multidão, não são aqueles que despontam em um ou dois quesitos da Metodologia, e sim aquele que consegue manter-se coeso e coerente em todos os oito quesitos.

Pois esse é o objetivo maior. Pois o que adianta o produto ser uma referência em um quesito e em outro ser mediano? Eu sempre levanto essa ‘lebre’ nos Cursos de Percepção Auditiva, e lembro a todos que por muitas décadas se vendeu que o maior diferencial de um setup hi-end sobre um mid-fi era o soundstage. Quantos participantes, depois de anos e anos de estrada, não descrevem o soundstage do seu sistema com o peito estufado? E, no entanto, convivem com erros óbvios no equilíbrio tonal, na resposta de transientes, corpo harmônico, etc.

Não, meu amigo, os melhores e mais corretos produtos, são os que conseguem manter o equilíbrio em todos os quesitos, não escolhendo alguns para sobressair, em detrimento de outros.
E a QR 7 tem essa bela virtude.
E produtos assim irão claramente se sobressair. E sabe como você descobre essas características, mesmo sem ouvir o produto? Quando você observa em distintos testes, que o DNA sonoro do produto foi observado por todos os críticos, ainda que os sistemas que ouviram sejam completamente diferentes, em setup, acústica e gosto musical.

E se você ler esse meu teste, e tiver o interesse também de conhecer outras críticas, irá observar que algumas conclusões foram muito semelhantes.

O equilíbrio tonal da QR7 nas duas pontas é de um refinamento que estamos apenas acostumados em caixas bem mais caras. Uma coluna com essa dimensão responder a partir de 28Hz é algo pouco provável nessa faixa de preço, e o fazer com tanta segurança e autoridade, mais raro ainda!

E, no outro extremo, ter uma resposta tão estendida e com tamanha precisão, meu amigo, coloca muito concorrente com tweeters muito mais caros, em apuros! E falo de fabricantes com enorme participação e renome no mercado.

E quando falamos da região média da QR 7, aí o caldo entorna por completo para muitas caixas custando até o dobro de seu preço!

Descrito dessa maneira, o leitor pode ficar com a sensação de que a caixa é ultra transparente, e capaz de detalhar o mais sutil dos ruídos que toda gravação tem. E não é assim que a QR 7 se comporta, pois ela não abre mão de ser extremamente coesa tanto na forma de apresentar o acontecimento musical, como de organizar a música.

Então não pense que o ouvinte irá ficar pulando de detalhe em detalhe, perdendo o todo. Essa não é sua proposta central. Ao contrário, ela quer que você acompanhe o discurso musical, sem jamais perder o todo.

E para fazer isso, meu amigo, a caixa e todo sistema tem que conseguir dar o mesmo peso e medida a todos os quesitos da Metodologia. Um quesito não pode ter mais luz, deixando o outro na sombra.

E não pense que alcançar esse objetivo seja algo que todos os fabricantes de caixa conseguiram. Para se estabelecer esse patamar de performance, o fabricante tem que saber exatamente o que ele deseja e como produzir esse resultado.

Sem esquecer o compromisso de custo/performance, e o que ele abrirá mão na linha de entrada, que ele tem de sobra na sua linha top.

Pois sabemos que tudo no áudio parte de escolhas – e que estas precisam ser realistas e viáveis.

A série QR, pelo que ouvi no modelo 7 e começo a entender no modelo 5, é que a assinatura sônica nessa linha de entrada é absurdamente coerente e que em relação à série Arreté. E ainda que o grau de lapidação seja uma fração do que irá se ouvir na série mais nobre, o conceito e filosofia, estão muito bem representados de baixo até a linha no topo.

E conseguir esse ponto de equilíbrio, meu amigo, é a tarefa mais árdua que todos fabricantes de caixa terão em toda sua jornada.

Levante a mão quantas vezes você não escutou dois ou três modelos de um mesmo fabricante, e não havia a ’coerência’ sônica que você esperava em todas as séries.

Alguns fabricantes tentando se desvencilhar desse obstáculo, o que fazem? Criam marcas distintas na tentativa de não haver comparação entre os modelos que foram assertivos e aqueles que ainda não chegaram lá.

No caso específico deste fabricante, eu lhe digo que se um dia você vier a ter um modelo da série QR e quiser subir de degrau, você irá se surpreender o quanto as linhas acima mantém de virtudes da série de entrada.

Mas não confunda essa coerência de ‘cima abaixo’ com o ‘ouviu um ouviu todos’!

Dê à QR 7 uma sala em que as caixas possam respirar, ficando a pelo menos 0.60cm das paredes laterais, 1m da parede às costas, e pelo menos 2.80m entre elas, e o ouvinte será arrebatado pela apresentação 3D dessa caixa!

Serão planos e mais planos à sua frente em uma apresentação de uma orquestra sinfônica ou de uma big band!

E nas gravações de pequenos grupos como quartetos, quintetos e sextetos, o foco recorte e ambiência irão deixar o ouvinte maravilhado com a precisão cirúrgica em termos de altura, largura e profundidade.

As texturas, em consequência do ótimo equilíbrio tonal, são reproduzidas com uma intensidade impressionante de cores e detalhes. E as intencionalidades estão no mesmo nível de caixas muito mais caras.

Uma das questões que sempre levanto nos nossos Cursos de Percepção Auditiva é a importância do tweeter, além de extensão e decaimento suave, ter a velocidade correta e corpo, para reproduzir, por exemplo, pratos de bateria.

Pois não é suficiente, para ser uma caixa hi-end, o tweeter apenas reproduzir bem a extensão e não conseguir reproduzir o tempo com precisão, já que em determinados gêneros musicais a marcação de tempo se faz justamente nos pratos de condução, e quando a caixa consegue ter um agudo em todos esses quesitos correto, o prazer em ouvir a marcação de tempo se torna inebriante.

O tweeter da Audiovector mais simples, que é o da série QR, já soa lindamente (fico imaginando como será o agudo da R8 Arreté).

Ouvindo os sete discos do trompetista Wynton Marsalis, gravados no Village Vanguard, fica evidente a qualidade do andamento no prato de condução, muitas vezes em variações de tempo complexas, e esse tweeter da QR 7 jamais se perdeu, atravessou ou ficou turvo!

Lá atrás eu escrevi que a QR 7 não escolhe gênero musical, certo?

E descobri isso da maneira mais prazerosa possível: ouvindo várias obras clássicas, como as impactantes quinta e oitava sinfonias de Shostakovich, de ficar com o coração na boca, ao escutar a variação dinâmica que essas duas sinfonias apresentam.

E ainda mais encantado de, ao ouvir obras como Quadros em Exposição de Mussorgsky ou os Planetas de Holst, nas passagens repletas de microdinâmica, não ter que fazer o menor esforço ou perder o todo para ouvir aquele triângulo soando sutilmente, e chegando até você no meio de todo naipe de metais soando simultaneamente.

Quando o equilíbrio tonal de uma caixa é excelente, a microdinâmica é muito favorecida e isso ocorre sem a caixa ter que sacrificar nada para apresentar esses sutis detalhes.

Em breve estarei escrevendo, nessa nova série Opinião, sobre essa ‘simbiose’ entre Equilíbrio Tonal e Microdinâmica – aguardem.

Certamente que s colunas sempre reproduzirão melhor o corpo harmônico do que caixas bookshelf. No entanto, colunas de porte médio como a QR 7 reproduzirem o corpo harmônico tão próximo de colunas com o dobro ou o triplo de seu tamanho, é que as coloca em uma posição privilegiada em relação aos seus principais concorrentes.

E ela o faz com autoridade e destreza, levando nosso cérebro a acreditar que aquele contrabaixo tocado com arco realmente soa com seu corpo real!

E materializar o acontecimento em nossa sala, dependerá muito mais da eletrônica e da gravação do que da QR 7. Pois com toda sua ‘coerência’ em todos os quesitos, essa questão está muito bem resolvida.

Quando nosso leitor entende finalmente que musicalidade não pode ser um atributo isolado, e sem nenhuma correlação com os outros quesitos, ele deduz que em um produto que consiga a mais correta harmonia entre todos os quesitos, a musicalidade fatalmente será excelente. E a QR 7 tem uma musicalidade encantadora! Fazendo que o todo em termos de resultado musical, seja muito maior que as partes!

Esse é outro trunfo que poucos produtos considerados intermediários alcançam.

CONCLUSÃO

Não tenho dúvida que a Audiovector irá colher enorme sucesso com a linha QR. Pois seus atributos estão acima de atender a nichos específicos audiófilos, podendo agradar uma ampla parcela de consumidores, que buscam dar a seus sistemas uma assinatura correta, e nada mais que isso.

E quando falo correta, não cabe nenhum subjetivismo, gosto pessoal ou modismos. Correta no sentido literal do termo. Sem concessões para deixar o som mais aveludado, ou com médios mais proeminentes, ou que irão encantar mais a determinadas topologias.

Não! A QR 7 é uma caixa feita para atender a audiófilos e melômanos que desejam apenas melhorar seus sistemas parando de privilegiar quesitos específicos, e olhar a reprodução eletrônica e suas múltiplas facetas como um ‘todo’.

Se você chegou à conclusão que esse é o melhor caminho a seguir, a QR 7 é uma das mais belas expressões dessa possibilidade!

Nota: 98,0
AVMAG #294
Ferrari Technologies
info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369-3001 / 99471-1477
R$ 67.500

CAIXAS ACÚSTICAS MONITOR AUDIO PLATINUM 200 3G

Fernando Andrette

Alguns produtos me chamam a atenção em um primeiro momento pelas discussões ‘calorosas’ que ocorrem nos fóruns internacionais.

Muitos com argumentos tão bizarros, que me levam a questionar o quanto de tempo o ser humano gasta com banalidades. Fico até me questionando se essas pessoas tão assíduas em grupos de discussão, tem tempo de ouvir seus sistemas, ou descobrir novas gravações incríveis.

Aliás pouquíssimas dicas de discos existem nesses fóruns.

O fato bizarro que citei foi de um membro em um fórum objetivista, que compartilhou ter escutado as Platinum 200 3G e ter se impressionado com sua performance e acabamento primoroso. E ser questionado de sua escolha, já que são caixas caras e que existem muitas outras opções melhores e mais baratas, já testadas por esse fórum.

Aí cada membro dá sua opinião, e a discussão caminha para outro lado, sem que ninguém mais toque no assunto central que gerou esse post. A bizarrice é pelo fato de alguém ter gostado e pelo visto comprado, uma caixa que ainda não foi testada no fórum. E para piorar, é cara, segundo o conceito de custo/performance do fórum objetivista.

Eu me pergunto o quanto nessas discussões existe realmente de argumentação consistente, e o quanto de inveja ou ciúme?

Com apenas 12 anos, nas visitas em que acompanhava meu pai em seus clientes, já conseguia perfeitamente discernir das críticas (sempre veladas, enquanto o anfitrião se ausentava da sala) o que era pura inveja, de alguma observação realmente válida!

E buscava sempre nessas situações tirar minhas próprias conclusões, para não ser influenciado pelas opiniões alheias. O que me deu uma noção, desde muito cedo, de que ser caro nunca foi sinônimo de excelência sonora.

Pelo contrário, muito rapidamente consegui entender que o risco de se errar com os equipamentos mais onerosos, era realmente tão alto quanto o investimento feito. Nessas situações, eu bombardeava meu pai com perguntas, ávido por respostas que me fizessem montar em minha mente aquele quebra-cabeça.

Meu pai nunca me deu respostas prontas que respondessem às minhas perguntas mais importantes. Ele sempre começava esses questionamentos com uma ‘contra-pergunta’ – o que, dependendo do meu grau de dúvidas, me irritava profundamente.

Sua técnica era brilhante, pois o que ele queria que eu realmente aprendesse, era que ao vivenciarmos uma situação nova e pertinente, devemos, antes de compreender ou ter respostas, assimilar o quanto aquilo pode ou não ser relevante para a nossa formação pessoal e profissional.

Então, antes dele me dar as respostas desejadas, me perguntava se eu achava que as críticas levantadas eram feitas com embasamento lógico ou apenas de cunho pessoal.

Aprendi muito nesses embates com ele, e descobri o mais importante: confie apenas em quem realmente tem como mostrar resultados satisfatórios! E poucos audiófilos podem, por inúmeras razões!

E os membros desse fórum objetivista, que desdenharam da escolha de um dos seus participantes pela Monitor Audio Platinum 200 3G, erraram feio. E poderiam muito bem realizar um ‘mea culpa’, e ouvir essa bela caixa da série mais refinada da Monitor Audio.

Nós testamos diversas caixas deste fabricante inglês, e tivemos o prazer até de receber o fundador da Monitor Audio, Mo Iqbal, em 1997 para duas palestras em São Paulo, compartilhando suas ideias sobre materiais para cones e sua paixão pela música.

A nova série Platinum 3G da Monitor Audio é constituída de quatro modelos (um canal central, 250, uma book modelo 100) e duas colunas: a 200 e a top de linha 300.

A Platinum 200 3G é uma esbelta coluna de três vias, de tamanho moderado e que se encaixa perfeitamente em salas a partir de 16m até salas de 50m. Possui um tweeter MPD série III, um falante de 4 polegadas para os médios e dois falantes de graves de 6 polegadas. Todos também da atual série.

Segundo o fabricante, os novos falantes dessa série refinaram ainda mais a sonoridade e o equilíbrio tonal em relação a linha Platinum anterior, elevando o grau de performance para um novo patamar.

O gabinete de toda série Platinum é um dos pontos altos dessa linha, pois apresenta um grau de acabamento e detalhes impressionantes. Pesando quase 35 kg, além de ultra-rígido possui linhas suaves que ornam perfeitamente com qualquer tipo de decoração, da mais tradicional à mais moderna. São várias camadas de laminados MDF para a criação de um gabinete curvo e reforçado de 21 mm na parte traseira, e um defletor de 36 mm na parte dianteira.

A Platinum 3G recebe 16 camadas de laca para um resultado luxuoso em opções de branco acetinado, preto piano e nogueira.

Em medições em câmara anecóica, os novos falantes MPD III, tiveram sua distorção reduzida significativamente e a resposta de frequência ainda mais plana. Resultado: uma resolução muito mais detalhada em qualquer volume e com uma apresentação sempre rica e natural.

Os novos cones Rigid Diaphragm Technology III (RDT), tem três novas otimizações em relação a série de falantes anteriores. Começando por uma nova camada traseira com duas camadas uniformes de fibra de carbono, para reduzir oscilações no cone, e uma nova borracha otimizada com novo desenho em sua borda. O resultado, segundo o fabricante, são falantes de médio e grave com uma distorção ultra baixa e mais plana que qualquer falante produzido anteriormente pela Monitor Audio.

Os falantes são fixados em estruturas de alumínio fundidas individualmente, criando duas camadas de isolamento entre o chassi do driver e o gabinete.

Cuidados com a vibração de baixas frequências também foram reavaliados, levando os engenheiros a criar uma nova base estabilizadora do gabinete, com um conjunto de pés para a formação de uma plataforma sólida e estável, tanto para pisos duros quanto em carpetes.

A 200 3G permite biamplificação ou bicablagem, e seus dutos traseiros lembram os possíveis donos dessa joia que elas precisam uma distância mínima da parede às suas costas, de pelo menos 1m.

O fabricante indica duas respostas de frequência da caixa: uma em campo livre – 32 Hz a 60 kHz, e em sala – 23 Hz a 60 kHz. Sensibilidade de 88 dB, impedância nominal de 4 ohms e impedância mínima de 2.5 ohms. Os cortes são feitos em 825 Hz e 3 kHz.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Integrados Arcam SA30 e Gold Note IS-1000. Powers: Gold Note PA-10 e Nagra HD. Pré de linha: Nagra Classic. Digital: Transporte e DAC dCS Vivaldi Apex, Transporte Nagra, e TUBE DAC. Streamer: dCS Lina com clock externo (leia Teste 2 nesta edição) e Innuos ZENmini Mk3. Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex.

As caixas chegaram zeradas, em uma embalagem muito segura e inteligente, que permite que o produto seja retirado sem risco de danificação. Sugiro então, aos mais afoitos, que vejam passo a passo como proceder para não danificar a embalagem desnecessariamente.

Como escrevi, o acabamento é deslumbrante. Posicioná-las antes de totalmente amaciadas, será um desperdício de tempo e esforço físico. Sugiro que apenas as deixe queimar por pelo menos 100 horas antes de iniciar as primeiras audições críticas, pois elas mudarão muito nessa fase. Os graves precisam realmente soltar, para que o ouvinte tenha uma ideia de como essas caixas realmente descem. Os agudos precisam de menos tempo que os graves, mas também é preciso ter paciência para que ganhem maior arejamento e decaimento mais natural.

Em nenhum momento fizemos uso de bicablagem ou de biamplificação. A queima e o teste foram inteiramente realizados com o uso apenas dos bornes de baixo das caixas – e só no final tiramos os jumpers originais e utilizamos nosso jumper de Referência da Sunrise Lab. E chegamos à conclusão que será um preciosismo substituir o jumper original por outros mais sofisticados.

O mais importante é realmente ter paciência e amaciar as caixas, pois elas irão abrir muito até 250 horas! Daí em diante, estabilizaram totalmente e pudemos iniciar os testes.

Seu equilíbrio tonal foi o mais correto e consistente de todas as Monitor Audio já testadas por nós. Da primeira série Platinum para essa terceira geração, o salto foi impressionante. Os graves, depois de amaciados, possuem energia, velocidade e peso, permitindo ouvir obras sinfônicas com autoridade e prazer. Esqueça ‘coices’ no peito, pois as 200 3G não se adequam a essas pirotecnias.

Mas o grave que ela entrega é preciso, e nos permite ouvir camadas de graves de contrabaixos e cellos em uma orquestra, mesmo quando soando em uníssono, como no início do Segundo Movimento da 7a de Beethoven. Todos que apreciam essa sinfonia, concordam o quanto esse início do movimento determinará a dramaticidade na introdução e no desenrolar do tema, com o crescendo dos violinos e das violas, até a entrada dos metais e dos tímpanos. Lembro aos participantes do Curso de Percepção Auditiva, o quanto pode ser frustrante ouvir esse movimento em caixas que não tenham uma fundação sólida para os contrabaixos, que faz que a música soe sem peso e sem precisão.

As Platinum 200 3G não sofrem desse problema. Sendo um prazer escutar inúmeras obras sinfônicas que necessitem de um grave sólido e bem articulado.

Sua região média é extremamente detalhada e correta. Alguns talvez queiram uma região média mais ‘monitores BBC’, dos anos 60. Se for esse seu caso, essa não será sua caixa, acredite! Estamos falando de médios com incrível grau de transparência, mas que não pulam no barco do analítico e frio. Ao contrário, conseguem um tênue equilíbrio entre esses dois polos.

E os agudos, são típicos de tweeter de fita, com enorme amplitude de resposta, velocidade, corpo e belo decaimento. Permite-nos determinar com precisão os locais das gravações com requinte de preciosismo!

Em resumo, são caixas para longas audições sem o menor vestígio de fadiga auditiva.

Vi que, em relação a apresentação do palco sonoro, as opiniões se dividem. Uns consideraram muito boa e outros acharam que a largura é excelente, mas falta profundidade. Eu sempre pergunto aos meus botões: será que esses revisores nunca se questionam se o problema não pode ser suas salas? Vamos ao que observamos.

Primeira lição que tiramos no posicionamento da 200 3G: ela precisa para se sentir ‘confortável’, estar distante no mínimo 1m da parede às costas dela, e no mínimo 0.50m das paredes laterais.

Segundo: quanto maior a abertura entre elas, menos toe-in elas necessitam. Se você teimar em deixar elas mais que 3m entre um tweeter e outro, e deixar elas muito voltadas para o ponto de audição, estará comprometendo a profundidade da imagem. Volte um pouco e perceberá como o palco cresce em profundidade, sem perder nada em largura.

Terceira conclusão: se quer ter um grave consistente, nada de aberturas acima de 4m. Esqueça essa possibilidade. Em nossa sala elas ficaram a 3.60m entre elas (de tweeter à tweeter), 1.60m da parede às costas e 1.20m das paredes laterais. E com apenas 15 graus voltadas ao ponto ideal de audição.

Meu amigo, nessas condições o soundstage foi 3D, tanto em termos de largura, altura e profundidade, como de foco, recorte, planos e ambiência. A cadeira ficou a 3.85m das caixas (25 cm a mais que a abertura entre elas).

Essas caixas precisam realmente de arejamento à sua volta para se expressarem. As texturas são encantadoras. Zero esforço para acompanhar várias linhas, tanto melódicas como de base. Intencionalidades e paleta de cores perfeitas, com destaques para naipes de cordas e madeiras em obras clássicas.

Tempo, ritmo e andamento, se mostraram – em qualquer gênero musical – ‘pêra doce’ para essas Platinum. Ouvi inúmeras gravações de piano solo, e ao final os Concertos para Piano e Orquestra de Bartók, obras caras para inúmeras caixas neste quesito, de transientes.

A micro-dinâmica é excepcional e a macro muito convincente. Os crescendos são retratados como um devido crescendo, sem pular degraus, engasgar ou se sentir acuado. Não será uma macro de cofre de uma tonelada caindo entre suas pernas, mas será impactante o suficiente para o que você estiver ouvindo não parecer decepcionante.

Para o corpo harmônico, utilizei tanto o setup dCS Vivaldi Apex, como nosso setup de Referência analógico. E me impressionou como a 200 3G consegue reproduzir o corpo de um sax barítono, um trombone, um baixo acústico.
Materializar o acontecimento musical não será nenhum trabalho árduo para a Platinum 200 3G. Entregue-lhe a eletrônica correta, e a materialização será feita!

CONCLUSÃO

Depois de seis semanas com a 200 3G, fico imaginando o que a 300 3G será capaz de entregar!

Eu só não vou afirmar ser a Platinum 200 3G a melhor caixa da Monitor Audio que ouvi na vida, pelo fato de não ter escutado ainda a 300 3G. E muito menos ouvi a nova caixa revolucionária deles, a Hyphn, que custa 70 mil dólares!!!

Então serei comedido, e só afirmarei ser a Platinum 200 3G a melhor caixa ‘até o momento’ por nós testada deste fabricante inglês.

E constatei que a Monitor Audio conseguiu, nessa nova terceira geração de sua série Platinum, dar um gigantesco salto à frente!

Se você deseja uma caixa definitiva, com um acabamento exuberante e uma performance digna de caixas Estado da Arte, ouça a Platinum 200 3G. Mas, lembre-se: ela necessita de uma sala em que possa se sentir ‘livre’ de paredes lhe apertando os calcanhares, e uma eletrônica a sua altura.

Garanto que, nessas condições, será muito difícil você resistir a seus encantos visuais e sonoros!

Nota: 98,0
AVMAG #302
Mediagear
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(16) 3621.7699
R$ 98.950

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