Espaço Analógico: O ANTI-SKATING & AS IDEIAS ERRADAS

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Uma nova seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil

Um dos ajustes absolutamente necessários para a extração da melhor qualidade de som de um toca-discos de vinil, é o Anti-skating. E, por mais que pareça óbvio, direto e específico, e especificado pelos próprios fabricantes de toca-discos e de braços, ainda assim a Internet – representada por uma série de teóricos de áudio (que eu chamo de Complicadores Mitológicos Profissionais, os ‘CMP’) – consegue, literalmente, portanto, complicar. E sem resultados que possam ser considerados superiores.

Existem dois tipos de ‘soluções’ analógicas vinílicas a serem instaladas em um sistema de áudio: 1) os toca-discos que já vêm regulados de fábrica, que basta tirar da caixa, conectar, por um disco e aumentar o volume, e cujas regulagens quase nunca podem ser alteradas – mas que são, por definição, equipamentos simples e bem limitados em matéria de resultado sonoro. 2) os toca-discos de melhor qualidade, com estrutura, mecânica e afins altamente elaborados e pensados, e que têm todas as regulagens necessárias para que você não só possa fazer upgrades da cápsula, tirando assim uma sobrevida do aparelho subindo-o de patamar, como também essas regulagens todas são o que permite tirar o melhor som do aparelho que você já tem.

E, acreditem: se não regular direito, você não faz a menor ideia do que o seu toca-discos é capaz. Tanto que só a regulagem pode ser a diferença entre tocar bem e tocar mal, que conheci mais de um que vendeu o toca-discos porque não estava a contento, ou estava para vender, acabou regulando corretamente (dá trabalho e exige conhecimento), e ficou olhando como um bobo para o quanto ele começou a tocar melhor.

Quer seu toca-discos tocando seu melhor? Então absolutamente todas as regulagens têm que ser levadas em conta.
O assunto de hoje é o Anti-skating. O movimento circular do disco, e do sulco contínuo onde a agulha está pousada, trabalhando, fazem com que a agulha e braço sejam puxados para o centro do disco – a chamada força centrípeta. Uma força oposta, de acordo, precisa então ser aplicada – a tal força centrífuga.

Alguns dizem que não é a força centrípeta que puxa o braço para o centro do disco, e sim a fricção com o sulco. Bom, se isso fosse verdade, em um LP liso ou coisa semelhante, o braço não seria puxado para o centro. E ele é – fato.

Mas, por que isso é crítico? Porque quando puxa para o centro, a agulha pressiona a parede do sulco em um dos canais, e quando puxa para fora ela pressiona a outra parede, o outro canal. Um anti-skating bem regulado causa um equilíbrio dessas forças, resultando na pressão igual dos dois lados do sulco. E isso faz uma diferença enorme no som! Agora, só para começar, imagine o monte de toca-discos que não têm regulagem de anti-skating, ou mesmo têm algum mecanismo fixo de compensação… Carta fora do baralho – simples assim.

O que tem de teoria para regulagem de anti-skating, na Internet, não está no gibi. E, por ‘teoria’ quero dizer: mirabolantes e que simplesmente não podem dar bom resultado, por um simples motivo: diferem da prática que, efetivamente, dá bons resultados.

E qual é a prática certa? Usar a escala dada pelos fabricantes dos braços – com um par e sugestões minhas de ajuste fino, baseadas na prática:

1) se a cápsula opera com pesos de 2.0g para cima, usar o mesmo valor no anti-skating, ou um ponto acima. Ex: peso de 2.0g, usar anti-skating de 2.0, ou mesmo de 2.1 – e isso vai variar de braço para braço, e de cápsula para cápsula. Uma pequena variação no valor do anti-skating, funciona como um ajuste fino (variações entre 0.05 e 0.1, na escala).

2) se a cápsula usar pesos de 1.5g para baixo, usar um valor de anti-skating um ponto menor. Ex: peso de 1.5g, usar anti-skating de 1.5 a 1.4. Resultado varia, também, de caso a caso. Mais uma vez: pequenas variações, um ajuste fino do anti-skating fazem ele chegar ao ponto ideal, ao melhor resultado.

Sulco – Canais esquerdo & direito

Por que esse é o melhor resultado?

Por que ele é melhor que as metodologias ‘científicas’ encontradas na Internet?

Por um simples motivo: é o que dá o melhor resultado sonoro. E, meu amigo, ter bom resultado sonoro é o fim e o objetivo de todo o sistema de áudio, sempre.

Todo mundo busca a compensação de forças, centrífuga contra centrípeta – mas aparentemente muitos preferem ignorar que o fabricante do braço já ‘descobriu’ como fazer essa compensação com precisão suficiente para, simplesmente, dar o melhor resultado sonoro.

E qual é esse resultado? Largura de palco e foco corretos, com palco natural e arejado. Mas, lembre-se, estas qualidades só se obtêm se suas caixas estiverem minimamente bem posicionadas, dando um palco decente, por exemplo, quando ouvindo digital.

Isso tudo me leva a crer que todos os inventores de técnicas diferenciadas, ou não ouvem (e não confiam ou mesmo treinam seus ouvidos), ou têm deficiências sérias e até congênitas em seus sistemas.

Terrível!

Com uma cápsula que trabalha com 2.0g, por exemplo, a maioria esmagadora das metodologias ‘científicas internéticas especialísticas’ resulta sempre em um anti-skating nada próximo de 2.0! E, além disso, tentei com várias cápsulas de 2.0g, utilizar vários valores de anti-skating – e palco largo, arejado, natural com foco e separação entre os instrumentos, somente ocorreu quando o valor de anti-skating estava próximo do valor de peso utilizado, tanto no começo quanto no fim do disco. E que esses ‘especialistas’ durmam com um barulho desses!

Os resultados dos métodos sugeridos todos me parecem como receita de ovo frito, onde cada um diz como ‘perfeito’ e ‘mais preciso’, algo diferente: ovo queimado, ovo no ponto (com equipamento de milhares de dólares para fritar), ovo quase cru e, por fim, ‘sem ovo’ (porque aumenta o colesterol). rs…

Portanto: use a escala de anti-skating dada pelo fabricante do braço. Simples assim. Não procure proposições e metodologias ‘técnicas’ mirabolantes.

Algumas das ‘mirabolantes’:

  • Superfície lisa, como a de um LaserDisc (ou algum Disco de Testes e Ajustes, que costuma ter um lado ou faixa lisa, para tal) – A ideia é que a agulha deslize livremente sobre a superfície lisa, e se faça ajustes progressivos do anti-skating, até que ‘as forças se compensem’. O problema é que o atrito, a resistência imposta à agulha, em uma superfície lisa, é diferente da imposta pela parede do sulco – simplesmente o ajuste de anti-skating desse jeito acaba não batendo com muita frequência. Eu, tentando várias vezes isso, com várias cápsulas e braços, usando um LD de um filme obscuro do Jackie Chan, que eu nunca assisti, resultou sempre em uma valor longe do indicado pela escala do anti-skating posta lá, no braço, por seu fabricante. Por exemplo: 1.7 em uma cápsula trabalhando com peso de 2.0g, ou mesmo 2.5 para uma cápsula em 2.0g. Aí eu ouvia, não tinha foco, não tinha palco – e quando não tem foco, o equilíbrio tonal fica estranho e as texturas também. Punha, então, o ajuste em 2.0 (ou próximo), e tudo se encaixava e funcionava.
  • Aparato que suspende o braço no ar – para que se faça esse ajuste com o braço suspenso. Esse é óbvio que não funciona, já que não está compensando forças que não estão ocorrendo. Alguns luminares tecnológicos usam isso para aplicar os tais 10% citados no próximo parágrafo, devido ao baixíssimo valor.
  • Pesquisas ‘científicas’ que dizem que o anti-skating tem que ser 10% do valor do peso – Seriam 10% para agulhas cônicas, e 11% para agulhas elípticas (porque essas teriam maior fricção dentro de um sulco). E, isso, para braços de 9 polegadas – porque a lenda (audiofilia ama uma lenda) diz que um braço de 12 polegadas não precisaria de anti-skating. Só que quem inventou essa regra precisa me explicar porque tocam melhor os de 12 quando se usa anti-skating. Esse método é, para mim, simplesmente ridículo.
  • Frequências (300Hz) em LPs de teste – Usando essas faixas de teste, gravadas no vinil em várias intensidades, e aí medindo se aparece distorção em algum canal. Na teoria, a distorção seria porque as forças centrípeta e centrífuga estariam empurrando a agulha contra algum lado do sulco, porque o anti-skating não está regulado, não estaria equilibrado. A faixa de teste – por sua intensidade anormalmente grande – provoca uma ação mais radical por parte da agulha contra o sulco, que eu tenho minhas dúvidas se corresponde com a realidade.
Efeito do anti-skating na agulha

Alguns vídeos que eu vi com esse teste, consideraram não haver problemas de distorção quando o volume dos 300Hz estava em uma intensidade mediana, normal – resultando em usar 2.0 de anti-skating em uma cápsula usando peso de 2.0g (!). Mas, quando a intensidade dos 300Hz ficava muito alta, mediu-se alta distorção em um dos canais, pedindo um anti-skating mais alto, o qual chegou a 3.0 e, ainda assim, não aplacou totalmente a distorção. A impressão é que o teste foi mesmo além das condições normais de uso.

E alguns LPs de Teste usavam intensidade mais alta que outros, em suas faixas de 300Hz. E eu penso que me interessa mais o resultado das faixas com baixa intensidade, ou intensidade ‘normal’, que me parecem expressar melhor a realidade – e essas deram como a melhor opção usar 2.0 de anti-skating em uma cápsula trabalhando em 2.0g (!). Incrível!

E, claro, o teste das faixas de 300Hz necessita de um LP de Testes, que é importado, e instrumentação para medir a distorção.

Este tipo de ajuste específico me traz à cabeça duas expressões: “Matar mosca com canhão”, e “Algumas pessoas fazem de tudo para não terem que usar seus ouvidos”.

Os Tipos de Anti-skating:

Temos, basicamente, três tipos de sistemas de compensação anti-skating, nos braços encontrados no mercado.

  • Anti-Skating por Mola – esse é o mais comum, mais utilizado desde a década de 70, encontrado em quase 100% dos toca-discos japoneses, até o final dos anos 80. E é o que eu considero o mais preciso e o mais fácil de usar, praticamente elementar, funcionando sem percalços. Muitos braços modernos, como os SME ingleses, Jelco e Ortofon, entre vários outros, continuam usando esse sistema.
  • Anti-Skating por Contrapeso – esse é o segundo mais comum, que vem desde os tradicionais SME 2009 da década de 60, e ainda está presente com grande frequência em muitos braços modernos (e excelentes) como os Origin Live e os VPI, e nos toca-discos da Pro-Ject. É um sistema bastante bom, mas mais chato de se fazer ajuste fino, principalmente.
Anti-skating por Contrapeso
  • Anti-Skating Magnético – esse é o mais impreciso e o pior para se mexer e encontrar a melhor regulagem. A proximidade de um ímã ao eixo do braço, é o que define a força a ser exercida para ‘puxar o braço para trás’. O problema aqui é que o ímã se comporta de maneira diferente quando o braço está mais leve ou mais pesado – coisas que se alteram não só com o peso de trabalho da agulha sobre o sulco, mas também com próprio peso inerte da cápsula, que eu já vi de 4g até quase 15g, o que altera a massa efetiva do braço. Esse sistema é normalmente encontrado nos braços da Rega e da Clearaudio, assim como em alguns braços antigos da Thorens, entre outros.
Anti-skating Magnético

Trocando em Miúdos:

Não use métodos mirabolantes. Use seus ouvidos, e ponha – com regulagem fina – o mesmo valor de anti-skating que estiver sendo usado como peso de trabalho da cápsula (se a cápsula trabalha em 2.0g, use 2.0 na escala do anti-skating). E a dica é: se a cápsula trabalhar com 1.5g ou menos, utilize um valor de anti-skating um pouco mais baixo (1.5g use 1.4, ou se for 1.2g use 1.1, por exemplo), e se o peso for alto, como um 2.0g, use 2.1 no anti-skating.
Experimente, faça ajuste fino, e chegará no melhor resultado.
Dúvidas sobre vinil? Mande-nos um e-mail em: christian@clubedoaudio.com.br

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