Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Algumas ideias insanas do universo quase ‘folclórico’ dos Fones de Ouvido – trazidas aqui, mensalmente:
– O fone ‘ABC’ tem o palco largo demais!
Um ‘profissional’ revisor especialista em fones de ouvido, no YouTube, declarou que um fone considerado de referência, tem “um palco largo demais”, rs…
Sempre reclamamos da questão da falta de duas coisas em profissionais da área – e que beneficiariam inclusive, bastante, todo e qualquer audiófilo: Metodologia & Referência. Se você não tiver um método, critérios e quesitos a analisar, para testar e avaliar, não conseguirá ter uma ideia correta de como algo toca. E se não tiver referência do que é o correto, do que é aquilo que espelha a melhor qualidade sonora, não vai entender nem o que é “um palco largo demais”.
E é a falta de ambos que leva alguém a achar que o palco é largo ‘demais’. Veja, se um palco for largo, isso é um aspecto Qualitativo excelente! E a única maneira de um palco largo demais ser algo ruim, seria em detrimento do foco, recorte e separação dos instrumentos. E esse fone de ouvido específico (chamado aqui por um pseudônimo, por motivos óbvios), eu conheço muito bem, e ele não tem esses problemas. Então o palco largo dele é muito bem vindo.
É um fone de ouvido tradicional, considerado uma referência por muitos, por seu alto nível de correção, especialmente nas frequências médias.
Especialista confuso = usuário confuso.
– Quem não equalizar seus fones de ouvido para ‘melhorá-los’ seria considerado preguiçoso(!)
Especialista em fones de ouvido dizendo que quem não equaliza seus fones de ouvido é preguiçoso, pensando talvez que equalizar seja ‘o Santo Graal’ que irá resolver todos os problemas do dito fone. E que a equalização escolhida pelo usuário seja boa, tire o melhor som do fone de ouvido, sem perdas.
Tirando a rudez e a ofensa dessa afirmação estúpida, eu diria que a verdade é que – em 90% dos casos – a equalização de fones de ouvido é feita para adequar ao gosto pessoal, e não para corrigir problemas ou deficiências. Mesmo que a pessoa tenha algum – pouco – critério técnico no uso do tal equalizador, sempre nos perguntamos: ele tem referência para saber o que, e o quanto, ‘corrigir’?
Já vi muita gente a quem falta Referência, ao irem ouvir o(s) instrumento(s) reais, ao vivo, dizerem coisas como “o som é muito baixo” (significa que ouve seu sistema e fones muito alto), e “está faltando agudo” (esse certamente adora um equalizador e tem a noção bem errada sobre seu uso). Julgar o Real, a Realidade, de acordo com uma visão pessoal de uma ‘fantasia’ ou algo resultante de uma Imaginação, é algo que não tem como ser mais inversão de valores do que já é.
Se eles querem entender o que é Qualidade – antes que a ideia seja totalmente posta fora de moda pelas inversões de valores – precisam parar de olhar para a Realidade achando que ela não se adequa às suas ideias. Saiam estudando e compreendendo, antes.
– Fones com agudo brilhante levando notas mais altas nas avaliações do que fones equilibrados(!)
Um site especializado em fones de ouvido, que dá notas aos produtos avaliados, criando um ranking, tem fones brilhantes, com timbres estranhos, levando notas mais altas que fones com bom equilíbrio tonal, assinatura sônica musical e agradável, e timbres mais naturais.
E o que isso ajuda quem está escolhendo fones de ouvido? Em nada. Primeiro porque, mesmo que o usuário seja um que queira um som diametralmente oposto à realidade (e assim perdendo intensamente Qualidade Sonora no processo, por uma longa série de motivos, muitos deles técnicos), como saber se o ‘gosto pessoal’ do usuário bate com o ‘gosto pessoal’ do revisor? Lembrem-se que existem revisores desse tipo que dizem que um fone tem pouco grave, e revisores que falam que o mesmo fone tem muito grave – e que, diga-se de passagem, o dito fone era decentemente equilibrado, apenas com uma assinatura sônica um pouco mais quente. Ou seja, não era nenhuma das duas coisas ‘achadas’ por ‘especialistas’…
Fones brilhante, ou com excesso de graves, ou com médios ‘lá para trás’ – com uma curva de medição que parece um sorriso – infelizmente vão bastante além de simplesmente terem uma ‘assinatura sônica’, pois suas diferenças de equilíbrio tonal prejudicam outras frequências, prejudicam recorte, inteligibilidade e, consequentemente percepção das texturas e até do palco! E aí musicalidade e organicidade vão logo pro vinagre…
Não, não é uma questão de ‘gosto pessoal’! É uma questão de perda de Qualidades sonoras que são inerentes à música!
A todos um bom Outono fresquinho!