Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Fazia tempo que eu queria testar o fone ATH-M70x, já que conheço bem o modelo abaixo, o ATH-M50x.
Queria saber se a diferença de preço era relativa também à performance, já que inúmeros leitores nos questionavam sobre isso.
Como as opiniões são contraditórias em diversos fóruns e sites, não me permitindo nenhuma conclusão (sequer sobre sua assinatura sônica), resolvi solicitar ao fabricante que nos enviasse para conhecê-lo, e compartilhar nossa opinião com vocês.
Para que o leitor tenha ideia da dificuldade de estabelecer um padrão de como esse fone soa, um site internacional famoso costuma publicar suas impressões junto com as dos leitores e fazer uma média de ambas avaliações – cujos quesitos publicados e utilizados no teste são: isolamento/atenuação, durabilidade e qualidade de construção, valor, projeto, conectividade, portabilidade, recurso e conforto.
E não existe um quesito para avaliação da qualidade sonora do fone testado! Vocês acreditam?!
Sério, meu amigo, sobre como o fone avaliado soa, nenhuma linha ou nota final!
Esses provavelmente devem ser defensores de que cada um escuta de uma maneira, então seria perda de tempo uma avaliação de sua performance sonora.
E dos que li que ainda se aventuram por avaliar fones sonicamente, vi testes afirmando que o ATH-M70x soa ‘frio e sem vida’, com pouco grave. E tem os que o defendem por ser um fone voltado para monitoração de gravação e não um fone para uso diário, e também li que alguns acharam os agudos brilhantes e com excesso de grave por volta de 100Hz.
Difícil tentar formar uma ideia da qualidade de um fone com essas informações, você não acha?
Mas as pérolas não param aí. Li conclusões como: “Forte ênfase nos agudos, ao ouvir vocais pop/rock eles eram cortantes demais para meus ouvidos, e os graves eu caracterizo seu desempenho como refrescantes, precisos e claros”.
Antes de descrever minhas impressões, falemos um pouco da construção e ergonomia do ATH-M70x. Ele tem um bom acabamento, um encaixe perfeito na cabeça, suas almofadas de couro sintético são confortáveis e com uma boa isolação do ambiente externo.
Para o tamanho de minhas orelhas, ele se mostrou perfeito!
O padrão de construção é Audio Technica, com ênfase na durabilidade, materiais pensados para conforto e praticidade, e bons cabos. Seu Case é de excelente qualidade, e ele vêm com três tamanhos distintos de metragem de cabo, já imaginando a mobilidade que o usuário necessita tanto para uso doméstico, como profissional.
Eu não esperaria menos que isso nessa faixa de preço.
Para o teste, utilizamos o trio LINA da dCS (DAC, streamer e amplificador de fone de ouvido), além de nosso celular e também do amplificador para fones do pré de linha Nagra Classic.
Interessante que raramente leio nos testes internacionais, ser citado algum período de amaciamento antes de iniciarem as observações.
Preciso dizer a todos que acharam que os agudos são brilhantes, ou que os graves são secos, que o que a Audio Technica nos enviou para teste, depois de 50 horas de queima, perdeu essa sutil predominância. Será milagre? Ou fui agraciado com um fone que melhora seu equilíbrio tonal depois de inteiramente amaciado?
Ironias à parte, meu amigo, vou lhe dar uma dica infalível para você poder saber a qualidade do equilíbrio tonal do seu futuro fone.
Ouça o novo trabalho da cantora Lizz Wright – Shadow e vá direto a faixa 10 – Who Knows Where The Time Goes. Fora sua voz, temos uma bateria extremamente sutil, com tom e chimbal marcando o tempo, prato de condução em dois momentos apenas, duas guitarras, uma no canal direito e outra no esquerdo, baixo, piano e teclado.
Ouça no volume que você costuma escutar uma primeira vez, para se familiarizar com a melodia, e uma segunda audição para ouvir todos os instrumentos. É fácil de acompanhar todos os instrumentos, tudo suave, quase pianíssimo.
Agora vá beber uma água, volte e coloque o volume no menor patamar possível, mas que ainda seja possível ouvir com total inteligibilidade e conforto auditivo, tudo! Se você conseguiu, e nada sumiu, esse fone que você está namorando tem um bom equilíbrio tonal!
Não tem mistério, ou necessidade de pós graduação para descobrir como um fone ou caixa acústica se comportam quando possuem um correto equilíbrio tonal.
Não necessita ir com a mãozinha nervosa equalizar o fone, para dar ênfase a frequências às quais você é tarado sonicamente.
Agora, se no volume mínimo determinado, os instrumentos sumirem, ou determinados instrumentos se tornarem mais proeminentes, e você tiver certeza que a gravação que você escolheu não sofre dessas anomalias de mixagem errada, ouça outros fones, por favor, antes de bater o martelo.
Essa gravação que indiquei – e mesmo o disco inteiro – não sofre desse problema. Foi muito bem gravado e os arranjos são de um bom gosto extremo!
Bem, ouvindo esse disco e uma dezena de outros gêneros e gravações de vários períodos, o ATH-M70x como vem escrito na embalagem que é um fone “Monitor Profissional”, que significa que está justamente preparado para situações extremas de micro-dinâmica à macro-dinâmica.
E que para ser um fone eficiente como monitor de estúdio, seu equilíbrio tonal precisa, no mínimo, ser o mais flat possível.
E no teste do volume mínimo, mantendo a inteligibilidade e ausência de fadiga, ele tem um comportamento primoroso e referencial!
Mas, e quando exageramos no volume, Andrette, como ele se comporta?
Felizmente, ele o avisa que está fazendo uma enorme besteira, e colocando sua audição em risco!
Aí, claro que passando do volume da gravação (insisto, toda gravação depois de mixada, possui um limite de volume também), os agudos parecerão brilhantes e os graves excessivos.
O que me faz concluir que muitos revisores de fones erram em sua avaliação por uma série de quesitos: gravações ruins (insisto das fontes, DACs, smartphones e amplificador de fones), e por ouvir em volumes excessivos.
Pois, se ao avaliarmos esses mesmos fones, não detectamos essas anomalias ou conclusões, alguém se equivocou – tenha absoluta certeza!
O ATH- M70x permitirá ouvir qualquer gênero musical, com volumes seguros, conforto auditivo e um grau de inteligibilidade de bons monitores modernos.
Se é isso que você procura, meu amigo, aqui você encontrou seu ‘porto seguro’.
Agora, se você ainda está na fase de marcar o tempo da música com a própria cabeça, ele não será seu fone jamais!
Gosto muito de indicar, aos que não se convenceram de como um fone com melhor equilíbrio tonal pode tocar qualquer gênero musical, o CD da banda Nine Horses – Money For All, e usar a faixa título como exemplo. Em um fone com predominância na acentuação dos graves, a princípio o ouvinte se empolga com o peso da batida e a marcação do grave.
No entanto, todo o trabalho feito pelo cantor David Sylvian, o coral feminino, as guitarras, teclado e a condução do prato, vira uma sopa batida em um liquidificador.
Ouça essa mesma faixa em um fone mais equilibrado, como o ATH-M70x, e você perceberá que o grau de inteligibilidade torna a música muito mais interessante.
O mesmo ocorre com a segunda faixa, Get The Hell Out, em que existe um brilhante trabalho de sintetizadores por baixo da batida e do contrabaixo, que tem que estar presente na mesma intensidade. Só assim você terá uma compreensão de todo acontecimento musical.
Por isso que nos nossos Cursos de percepção Auditiva, sempre lembro que equilíbrio tonal, textura e transientes fazem um ‘tríplice aliança’, quanto mais coisas, melhor será o resultado.
E no fone ATH- M70x, esse ‘tripé’ é extremamente coeso e coerente.
Você observará informações e detalhes que o farão mergulhar na música com extremo prazer.
Em termos de dinâmica, na macro o ATH-M70x gosta apenas de mostrar sua ‘autoridade’ nos momentos oportunos, mas não se enganem, pois seus fortíssimos serão convincentes.
Sua micro-dinâmica é rica e detalhada. Nada se perde, desde ruídos de chave de instrumentos de sopro, respiros, pedais de piano, etc.
Afinal, o engenheiro de gravação precisa estar atento a tudo que possa atrapalhar ou sujar a gravação.
Se tem algo que eu gostaria de um bocadinho mais, seria no corpo harmônico, pois minhas referências são impecáveis nesse quesito, mas custam bem mais que o Audio Technica.
E não é que seja pobre a apresentação do corpo dos diversos instrumentos, são apenas muito ‘homogêneos’ para o meu padrão de referência, tanto de produtor musical, como de testador de fones e equipamentos de áudio.
Quanto à materialização do acontecimento musical no meio dos olhos ou, para muitos, na testa, em gravações excelentes, os músicos e o deslocamento de ar quase me fazem cócegas. Brincadeira à parte, a sensação de materialização na cabeça é bastante consistente.
CONCLUSÃO
O ATH-M70x é mais um gol de placa da Audio Technica.
Pessoas apaixonadas por música, que precisam de um fone preciso, refinado, confortável e que desejam extrair tudo de suas gravações, devem colocar esse fone em sua lista de opções.
Principalmente aqueles dispostos a gastar até 5 mil em um fone de ouvido final!
Certamente, você deve estar se perguntando: mas será muito melhor que o ATH-M50x BT2?
Não meu amigo, não é muito melhor, mas o suficiente para, se você tiver 3 mil reais, ouvi-lo com enorme atenção. Pois as diferenças entre os dois se encontram nos detalhes, e às vezes são os detalhes que definem o grau de refinamento final.
E se falarmos em refinamento puramente, aí o ATH-M70x é matador!
O que importa para você que é fã dessa marca, é ter duas excelentes opções com preços distintos.
Quem foi ao nosso Workshop Hi-End Show, em São Paulo, pôde ouvir ambos e tirar suas próprias conclusões.
PONTOS POSITIVOS
Excelente construção em um genuíno monitor moderno.
PONTOS NEGATIVOS
Nesse nível, absolutamente nada.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Fechado dinâmico |
Diâmetro do driver | 45 mm |
Ímã | Neodímio |
Bobina de voz | CCAW (fio de alumínio revestido de cobre) |
Resposta de frequência | 5 – 40.000 Hz |
Potência máxima de entrada | 2.000mW @ 1kHz |
Sensibilidade | 97dB |
Impedância | 35Ω |
Peso | 280g (sem cabo e conector) |
Cabo | Espiral destacável de 1.2m / Reto destacável de 3m / Reto destacável de 1.2m – intercambiáveis |