Espaço Aberto: PINK FRAUDE – POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Recentemente o canal do YouTube Art & Intel, resolveu publicar (provavelmente feito por eles mesmos), um ‘disco do Pink Floyd’ feito por Inteligência Artificial, nomeado All in All.

Quando pensei que o título perfeito deste artigo seria ‘Pink Fraude’, procurei sobre fraudes relacionadas à banda, esperando a possibilidade de saber alguma reação dos músicos – e o que eu achei foi a notícia: “Perfis falsos usaram imagens de David Gilmour e Roger Waters para atrair atenção das senhoras solteiras”, o que me fez rir um bocado! rs!
Enfim, dentro do mundo dos medos da IA (Inteligência Artificial) substituir os músicos de verdade – roubar o trabalho deles – eu só posso dar duas opiniões:

1) A IA pode muito bem roubar o trabalho de uma série de ‘criadores’ de música rasa e consumível – a qual abunda há décadas nas paradas de ‘sucesso’ e em várias outras mídias. E vai também enganar bastante gente que têm uma relação de consumo superficial com a música que ouve – como assim foi quando começou o uso desenfreado de sampler na música pop.

2) A IA não vai conseguir roubar nem o trabalho, e nem a maior parte da base de fãs, do Pink Floyd (aqui exemplificado) e nem de uma infinidade de artistas de qualidade. Pelo menos não por enquanto.

Por quê?

A resposta mais simples, acho que é: Inteligência Artificial na melhor das hipóteses consegue Imitar. Não consegue Criar – ainda mais se for para fazer música que se pareça com música que já existe, com estilos e jeitos próprios de artistas consagrados que têm personalidade. Acho que nem conseguiria imitar direito uma mistura de estilos, uma mistura de facetas de vários músicos – porque ficaria claro o pastiche, já que esses músicos nunca tiveram que tocar uns com os outros, porque tocar com outros músicos é uma constante ação e reação. A interação entre eles dificilmente poderá, tão cedo, ser imitada por uma IA.

Acho que a analogia melhor seria com um quadro, uma pintura: você imita um Rembrandt, por exemplo, e sempre vai faltar aquele ‘algo mais’ que a imitação não pode dar, que você não consegue imitar com perfeição porque você simplesmente não é o Rembrandt – a base de informação que o mundo possui sobre o pintor, também não é o suficiente para criar uma nova obra fazendo se passar por ele, e enganar todo mundo.

Eu cheguei a ouvir o disco do ‘Pink Floyd’ na visão da IA – e o mesmo já não está mais no ar no tal canal. Perguntaram para a gestão do canal, onde estavam os ‘Pink Floyds’ e a resposta foi “Confiscados!”. Claro!

Os mais bonzinhos pensariam que eles só estavam querendo mostrar como seria se hipoteticamente a banda viajasse no tempo e fizesse mais um disco. E todas as outras pessoas enxergam algo que oscila entre se apossar de propriedade intelectual (de alguma maneira), e roubo de identidade! Então, o confisco seria óbvio.

Para quem quiser se aventurar, no canal do Art & Intel ainda há um bocado de material de IA, inclusive muito com viés de rock progressivo. Eu escutaria, nem se fosse pela curiosidade. O link está no final do artigo.

A arte da capa do All in All – que ilustra aqui o artigo – me parece mais um resultado de darem LSD para uma impressora colorida e mandarem ela imprimir um livro sobre lógica cartesiana… rs…

E como é a experiência de ouvir o Pink ‘Fraude’ – All in All?

Não passa por um escrutínio sério, soa falso, sem começo, meio e fim, sem pé nem cabeça, sem razão de ser. Depois de ouvir um par de faixas, o ‘David Gilmour’ cantando parece um pouco uma visão simplista do que seria o Gilmour cantando, ou mesmo parece um imitador perfeito que só prestou atenção em um ou dois trejeitos de quem ele está imitando. Muitas vezes, as faixas pegam aspectos específicos da musicalidade e sonoridade do artista original, e dão muita ênfase à eles: não é uma visão profunda e multifacetada, e sim uma visão simplista.

Vários momentos te enganam, à primeira audição, mas em uma análise profunda é um pouco infantil de despreparado. É como se você pegasse alguém falando em uma língua da qual não entende uma palavra, e fizesse uma longa e repetitiva imitação fonética dessa língua – excelente e que, à primeira ouvida, parece a língua, mas ao prestar muita atenção, não é.

A questão é que essa imitação está ficando cada vez melhor – cada vez mais bem feita, mas ainda é um pastiche de vários trejeitos, e não uma expressão do artista.

Agora, se o sujeito que operou a IA, usasse uma voz não conhecida, uma voz ‘nova’ com personalidade própria (o quanto fosse possível), ou mesmo fizesse um disco instrumental, e substituísse a guitarra do ‘Gilmour’ por outro instrumento, como o cello por exemplo, poderia lançar algumas das faixas (ou vários dos trechos) mais interessantes dessa ‘obra’ aí, em um disco, e fazer dinheiro com isso, tocando para os ouvidos de muitos incautos fãs do tipo de sonoridade do Pink Floyd – isso sem informá-los que não tem nenhum músico suando a camisa, apenas um computador ‘pensando’.

Um comentário de um usuário do canal no YouTube, reclamou que não haviam faixas com a ‘voz’ do Roger Waters, e que o Pink Floyd sem Waters não é nada. Não sei se ele pensou o quanto isso é uma distorção de valores em cima de algo que já, em si, uma distorção de valores…

Vai saber quantas faixas ou discos não estão saíndo onde não se usa mais sintetizadores, samplers, sequenciadores, etc – os quais, aliás, podem ser usados com muita propriedade para dar vazão a processos criativos – e sendo substituídos por alguém dando instruções do que ele espera que uma Inteligência Artificial crie.

Vejam bem: eu acredito piamente que a Inteligência Artificial pode muito bem ser uma tremenda ferramenta para músicos, com muitas possibilidades. Mas, como dizia o sábio vulcano Sr Spock: “Lógica é o início da sabedoria, e não o fim”…rs. É para usar as ferramentas disponíveis, e não esperar que elas façam seu trabalho por você – e assim como existirão músicos oportunistas, tem um bocado de gente no mercado que pode lucrar muito com música gerada por IA.

No total geral, esse Pink ‘Fraude’ – All in All, está para o Pink Floyd como uma boneca inflável está para uma mulher de verdade. Já existem bonecas super-realistas – mas nenhuma delas parece viva, né!

O canal Art & Intel acabou por fazer um segundo disco do Pink ‘Fraude’, chamado de The Third Kind, o qual eu não ouvi, e também foi retirado do ar.

Ou seja, essa brecha está diminuindo – e como acontece com obras de arte, logo especialistas terão que dizer para a maioria dos fãs de música, se aquilo que estão ouvindo é fake ou é música de verdade.

Tempos complicados e tenebrosos apontam no horizonte da indústria da música.

Isso porque estamos vendo serviços de streaming tendo dificuldades de fechar as contas, com um de seus diretores tendo o maior acesso de estupidez que eu já vi nessa área, dizendo que a música (que ele chamou de ‘conteúdo’) tem um custo “quase zero” para ser produzida. Mais uma vez o artista é desvalorizado, especialmente em um cenário cheio de ‘donos’ da música e intermediários. O dinheiro sempre vai para algum lugar – e esse lugar não é, infelizmente, o músico.

Fico curioso de saber como esse imbróglio todo fluirá.

Acesse o Canal Art & Intel, no YouTube, na imagem abaixo.

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