Playlist: MÚSICA PARA APRECIAR E AVALIAR SEU SISTEMA

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

De todos os nossos eventos, o que para mim fica de mais primordial, é poder ouvir e conhecer melhor nossos leitores.
Nada substitui o contato presencial – nós humanos necessitamos dessa troca de energia, do poder olhar nos olhos, cumprimentar as pessoas e ouvir atentamente o que elas têm a nos dizer.

E no nosso Workshop de abril último, em São Paulo, tive excelentes feedbacks sobre a revista, nosso trabalho, e o que precisamos melhorar para nos tornarmos ainda mais assertivos.

Uma das seções muito comentadas pelos participantes, além dos testes, que ainda parecem ser o interesse central da publicação, são as seções sobre música, que tanto eu como o Christian Pruks, gostamos muito de produzir.

E quanto à Playlist, que está sob minha responsabilidade, o que mais solicitaram foi: “Apresente os lançamentos, Andrette, mas procure discos que nos ajudem a ajustar nossos sistemas. Exemplos simples, objetivos e que se tornem ferramentas indispensáveis”.

Interessante que, nesses anos todos, sempre tive essa preocupação, mas às vezes tem determinadas gravações artísticas que merecem ser compartilhadas – mas que não atendem tecnicamente as necessidades do leitor.
Eu não irei abrir mão de indicar essas gravações artísticas, mas procurarei, quando possível, aliar os dois benefícios, OK?

OUÇA BUT WHO’S GONNA PLAY THE MELODY?,
NO QOBUZ.
OUÇA BUT WHO’S GONNA PLAY THE MELODY?,
NO TIDAL.

CHRISTIAN MCBRIDE & EDGAR MEYER – BUT WHO’S GONNA PLAY THE MELODY (MACK AVENUE, 2024)

Eu uso essa recente gravação para avaliar também fones de ouvido. Trata-se de dois baixistas virtuosos, que nunca haviam tocado juntos, e no primeiro encontro produziram um disco artisticamente e tecnicamente impecável!
Engana-se o audiófilo que imagina que essa gravação seja apenas para avaliar os graves e médios-graves. Pois com ela, será possível também observar o comportamento do corpo harmônico, textura e transientes. Os baixistas vão se revezando nos solos, na sua maioria tocados com arco, o que permite termos uma ideia exata de como nosso sistema se comporta nesses quatro quesitos de nossa Metodologia.

Não se engane, meu amigo, pois ainda que, ao ouvir esses virtuoses, pareça ser fácil reproduzi-los, o sistema será colocado à prova desde a primeira faixa. E se sua sala tiver problemas acústicos entre os 60 e 120 Hz, a limitação ficará evidente assim que você apertar o play.

Com esse disco, você poderá também avaliar uma caixa book e observar como ela se comporta na resposta entre 41 Hz (a nota mais grave de um contrabaixo afinado na primeira corda em Mi), em 55 Hz (a segunda corda afinada em Lá), 73.4 Hz (a terceira corda afinada em Ré) e em 98 Hz (a quarta corda afinada em Sol).

Ou seja, cada vez que o instrumento toca essas quatro cordas soltas, poderemos avaliar a resposta de nosso sistema e da caixa de 41 Hz a 98 Hz. Uma região que, certamente em salas não tratadas, pode ser um grande problema.

E aí já escuto a primeira pergunta de inúmeros leitores, a ressoar em minha mente: “Andrette, minha caixa responde a partir de 52 Hz, então o que ocorrerá com a corda Mi solta do contrabaixo, eu não a ouvirei fidedignamente?”. Se você quer fidelidade absoluta, não. Pois a fundamental não irá ser reproduzida, mas a primeira harmônica sim, e soará na sua caixa em 82 Hz – possibilitando você reconhecer imediatamente o instrumento.

Mas, se você deseja um sistema que realmente não lhe tire o prazer de ouvir a fundamental da nota Mi do contrabaixo, você terá que ter uma caixa que responda pelo menos a partir de 38 Hz, OK?

E, por isso mesmo, será primordial que tanto o posicionamento das caixas, quanto a eletrônica, e um mínimo de tratamento acústico exista, para não perder muito da inteligibilidade das baixas frequências.

Eu sugiro, aos que desejam ter uma ideia exata de todas as fundamentais de todos os instrumentos para escolher suas caixas acústicas, a leitura do meu Opinião partes 1 e 2 – É Preciso Saber o Básico Para não Cometer Erros Tolos (edições 293 e 294, de março e abril de 2023).

OUÇA RACHMANINOFF FOR TWO, NO QOBUZ.
OUÇA RACHMANINOFF FOR TWO, NO TIDAL.

DANIIL TRIFONOV & SERGEI BABAYAN – RACHMANINOFF FOR TWO (DEUTSCHE GRAMMOPHON, 2024)

Ao mostrar a um amigo músico esse disco, ele me respondeu: “Se já é difícil reproduzir dignamente um piano solo, imagine dois tocando Rachmaninoff?”.

Pois é, meus amigos, as três gravações escolhidas para essa nova série são todas em duos. Justamente para dar uma dimensão artística (pela virtuosidade dos músicos das três gravações) assim como pela técnica exuberante dessas gravações.

Esse é um daqueles discos que você precisará de inúmeras audições para saborear todos os detalhes. E ele exigirá muito de sua percepção auditiva, e muito mais do seu sistema.

Ele irá expor as entranhas do seu sistema e da acústica de sua sala de audição.

Agora, se o seu sistema passar pelo desafio, e você puder apreciar toda a magnitude dessa estupenda gravação, parabéns!

Tanto seu sistema, quanto sua percepção auditiva estão realmente apurados!

OUÇA AFTER A DREAM, NO QOBUZ.
OUÇA AFTER A DREAM, NO TIDAL.

ANTONIO MENESES & CRISTIAN BUDU – AFTER A DREAM (AZUL MUSIC, 2023)

A terceira gravação escolhida não se trata de um duo de idênticos instrumentos, mas sim de cello e piano.
E justamente com o genial Antonio Meneses.

Uma gravação lançada em 2023, e que merece ser apreciada e guardada entre os melhores trabalhos artísticos lançados ano passado.

Aqui nenhum sistema será colocado à prova em termos de ‘tensão’, como nos dois exemplos anteriores, mas sim na capacidade de reproduzir de maneira correta as sutilezas e intencionalidades.

Tudo se resumirá na capacidade do equipamento reproduzir as texturas, transientes, micro-dinâmica e sobretudo o grau de musicalidade.

Parece fácil, não?

Ledo engano, meu amigo. Não se iludam, pois se você já provou na pele o termo “menos é mais”, aqui essa questão será levada ao pé da letra.

Para começar, o sistema que irá reproduzir essa gravação, precisa ter um excelente silêncio de fundo, sem, no entanto, soar frio ou analítico.

Ou seja, precisará andar o tempo todo sobre uma corda esticada em um precipício, e não pender para nenhum dos lados.

É o tipo de gravação que, de tão bem captada, necessitará de um sistema o mais ‘neutro’ possível para exprimir com louvor sua beleza e requinte.

E aí que separamos o joio do trigo, pois em uma reprodução mais quente ou eufônica, perderemos muito dos sutis diálogos entre o cello e o piano.

E em sistemas analíticos, nos perderemos nos detalhes que ficarão a saltar em nossos ouvidos.

Se deseja entender definitivamente o que significa, em nossa Metodologia, a Neutralidade, eis um exemplo excepcional para ter em sua biblioteca musical.

Com ele, você rapidamente saberá com precisão qual a assinatura sônica de seu sistema.

Boa sorte com as três gravações, meus amigos.

Mês que vem tem mais!

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