S Teste 1: PRÉ-AMPLIFICADOR NAGRA HD PREAMP

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Parece irônico que um revisor crítico de áudio, que sempre defendeu o desenvolvimento da percepção auditiva para aprendermos a andar com as ‘próprias pernas’, tenha tido a maior experiência sonora de sua vida graças a esta busca infindável pela ampliação de nossa capacidade de ouvir corretamente.

Só posso traduzir este momento como um ‘prêmio’ após tantos anos de dedicação e paixão. E após assimilar esta experiência tão enriquecedora, fico a me perguntar se eu conseguiria reconhecer a magnitude deste produto se não tivesse me preparado suficientemente e por toda uma vida.

A vida nos ensina, de tantas maneiras, as lições que precisamos, que acredito cada vez mais que o acaso é apenas uma desculpa para o que não conseguimos compreender em sua plenitude. E me sinto verdadeiramente realizado por ter tido a chance e a ‘percepção’ necessária para entender que conhecer este pré-amplificador da Nagra seria um divisor absoluto entre ele e todos os prés de linha aqui avaliados até este momento.

Para os que necessitam de uma razão para algo ser tão diferenciado em relação aos seus semelhantes, acomodem-se em suas poltronas, liguem seu sistema e coloquem uma música de fundo que ajude a criar um clima acolhedor e inebriante. Pois este teste será realmente longo. Afinal é preciso ‘compreender’ o que faz do Nagra HD Preamp um produto tão exuberante e único!

Vamos lá!

Com mais de 60 anos de vida, a Nagra é a empresa de áudio suíça mais antiga em atividade. A filosofia da empresa sempre foi dar extrema atenção aos detalhes e ter domínio total das técnicas de fabricação. Com este conceito presente desde sua fundação, inúmeros produtos Nagra feitos há muitas décadas, ainda estão a funcionar perfeitamente e trazem aos seus donos a mesma alegria que fizeram no primeiro dia de uso.

Seus gravadores de rolo (que já deram dois Oscars para a empresa, por seu uso na indústria cinematográfica) são a prova de que esses suíços sabem exatamente o que estão a desenvolver. Mas foi apenas em 1997 que a Nagra deu seu primeiro passo na direção do mercado de áudio hi-end, com o lançamento do pré-amplificador PL-P, um pré valvulado classe A, e seu pré de phono.

Estava estabelecido o pontapé inicial da Nagra no mercado hi-end, para também traçar o mesmo sucesso que alcançaram no segmento de pró áudio. Consumidores satisfeitos e ávidos por acompanhar as novas evoluções e descobertas tecnológicas da empresa: um grau de fidelidade que poucas empresas do segmento atingiram.

Vinte anos depois do PL-P, a Nagra lança o HD Preamp, também valvulado, porém sem ser uma evolução do PL-P. Partindo do zero, o novo pré de referência possui um novo design e várias tecnologias de patentes pendentes (falaremos mais adiantes dessas patentes).

O SOM DO SILÊNCIO

Desde o primeiro momento, os engenheiros da Nagra decidiram que este seria o pré de linha mais silencioso do mercado e estabeleceria um novo parâmetro de referência. O silêncio de um circuito eletrônico é o principal critério de avaliação do ouvinte, seja consciente ou inconscientemente. Nosso sistema auditivo sempre estabelece o ruído de fundo como principal obstáculo para o que estamos a ouvir. Quanto menor o limiar de ruído, maior o espaço em que a gama dinâmica pode se expressar, e nosso cérebro define este ‘espaço’ como aberto, limpo, natural, arejado, etc. (olha novamente a importância da ampliação de nossa percepção auditiva).

Essas qualidades ‘traduzimos’ como um som mais realista, agradável e isento de fadiga auditiva! Depois de se fixarem neste objetivo, a equipe responsável por este novo projeto conseguiu a façanha de estabelecer para o pré HD um piso de ruído de menos 160 dB em toda a largura de banda, algo totalmente inimaginável, para um amplificador valvulado – sendo pelo menos 60 dB a menos que qualquer outro pré valvulado e pelo menos 30 dB a menos que qualquer pré estado sólido!

Tornando-se, neste quesito, o pré ideal e dos sonhos de qualquer audiófilo pela complexidade do feito e a forma com que atingiram tal feito. Todo fabricante de produtos hi-end de padrão superlativo busca soluções de encurtar ao máximo o caminho do sinal, a fim de preservar a fidelidade entre o que entra e o que entrega na próxima etapa. E existem inúmeras maneiras de se conseguir este objetivo. A Nagra optou por uma topologia de circuito mono sem nenhum tipo de gabarito negativo em qualquer lugar ao longo do caminho do sinal.

Um estágio duplo tríodo cuida da amplificação, enquanto a fase de saída de amplificação de tensão é passivamente feita com um transformador de áudio toroidal patenteado e projetado pela própria Nagra, e fabricado por eles. Tornando o grau de verticalidade de produção altíssimo.

Eles são acoplados através de uma bancada de capacitores de filme medida e selecionada após longas sessões de audição. O sinal de áudio do pré HD Preamp não passa por qualquer tipo de potenciômetro. Em vez disso, o ganho total é ajustado aos transformadores especiais cuja a relação de tensão é controlada digitalmente (outra patente já requerida pela Nagra), através de um microprocessador. A variação é de -80 dB a 0 dB em uma base de degraus de 0,5 dB.

A saída do HD Preamp fica ‘flutuando’ através do transformador de áudio, portanto, sem nenhum loop de aterramento.

O primeiro prêmio veio já no lançamento na CES de 2018, outorgado ao engenhoso controle de volume, pela sua brilhante e criativa evolução tecnológica. No texto publicado pela CES em conjunto com a Nagra, a empresa explica: “A amplificação de tensão é feita passivamente com transformadores de áudio toroidais blindados, cuja taxa de tensão é variável e controlada digitalmente. A variação da taxa de tensão é feita comutando os vários enrolamentos dos transformadores. Vários relés são utilizados para este fim, enquanto o circuito alternativo de controle de volume ignora os transformadores e os enrolamentos que estão sendo comutados, impedindo qualquer tipo de ruído de comutação. Com esta técnica simples, porém revolucionária, o sinal de áudio permanece intacto a conversão de tensão-corrente ocorre através do transformador. A transferência de energia fica muito próxima do ideal. Sendo totalmente diferente de qualquer controle de volume baseado em resistor, pelo fato que, nessas tecnologias, parte do sinal é transformada em calor pela resistência atenuante”.

Além desta engenhosa solução, a Nagra disponibilizou dois controles de volume motorizados (um para cada canal) que seguem os passos um do outro. Assim que tocar em qualquer um dos volumes, o outro corresponderá ao que você está movendo. Para ajuste fino do balanço entre os canais, você pode desbloquear temporariamente um controle para compensar o outro, e, em seguida, o outro voltará a acompanhar o deslocamento.

DESCRIÇÃO DOS CHASSIS

O HD Preamp utiliza dois chassis separados, um totalmente dedicado ao circuito de áudio e o outro batizado de HD PSU, a nova fonte.

A linha Classic, para sanar problemas de vibrações externas, disponibiliza suas bases VFS (leia mais detalhes no teste do amplificador Classic que será publicado na próxima edição). Porém, com o peso do novo pré HD e sua fonte e com seus gabinetes com maior área de placas de alumínio, os engenheiros precisaram rever o conceito e chegaram à conclusão que o ideal para a linha HD seria um conceito ‘flutuante’, em que os componentes dentro dos gabinetes estivessem desacoplados do solo. Da teoria à prática, chegou-se a um gabinete com quatro hastes inseridas em quatro pilares metálicos pesados e rígidos. Com pés ajustáveis em cada canto do chassi, as hastes são mecanicamente isoladas do pilar com material de amortecimento, de modo que não tem nenhum contato direto metal/metal entre as hastes e os quatro pilares. Uma solução engenhosa e de resultados práticos muito convincentes. Já os pilares são fixados a uma base de VFS para uma referência mecânica estável. Os pés de cada chassi são macios, para permitir que os dois fiquem empilhados.

Ambos gabinetes são feitos de alumínio usinado, e a frente e as costas em painéis de alumínio mais grossos (14 mm). Internamente foi colocado um outro chassi de lâminas mais finas, tornando o gabinete ultra rígido. Os pés de ambos gabinetes são feitos de sorbothane e a densidade e espessura só foram definidos após longas sessões de escuta. Os parafusos existentes nos gabinetes foram desenhados e colocados em pontos estratégicos para distribuir inteligentemente para as cargas mecânicas, para que nenhum pico de ressonância apareça em nenhuma frequência audível (afinal estamos falando de um pré valvulado).

Tanto a altura quanto a horizontalidade de cada chassi são ajustados girando cada pé em torno da coluna.

No painel frontal do chassi do pré HD temos, à esquerda, o interruptor de intensidade de luz do modulômetro – é o nome do VU de todos os produtos Nagra – sendo que, para cima, o usuário terá maior intensidade de luz, e para baixo menor intensidade. A Nagra disponibiliza 7 níveis de intensidade. O modulômetro indica o nível de entrada ou saída em dB (referência 0dB= 1V). Depois temos o interruptor de seleção de monitoramento entre o nível de entrada e de saída. Seguido, o controle de volume esquerdo e direito. Sincronização dos dois controles de volume, interruptor de Mute com um LED para lembrar o usuário que o mesmo está acionado. Outro LED de lembrete que o pré está em aquecimento de 2 minutos e meio para a estabilização dos circuitos e das válvulas (este processo é inerente toda vez que o pré é desligado), e a chave de escolha entre as entradas RCA ou XLR. Depois o seletor de liga/desliga e as opções de entradas.

No painel traseiro temos as saídas XLR e RCA, e bypass XLR, tomada IEC, ponto externo de aterramento, e 3 entradas RCA e 2 entradas XLR. Além de entradas RS-232 (para uso de automação), e os terminais dos dois cabos que necessitam ser conectados à fonte de alimentação HD PSU.

Esta longa descrição foi necessária para que o amigo leitor tenha uma ideia do esmero e o requinte de todas as etapas no desenvolvimento deste novo pré de linha. Seu acabamento é deslumbrante e, para se entender a razão de existir uma legião de audiófilos em todos os continentes apaixonados pelo ‘efeito Nagra’, somente tendo a oportunidade de um contato tátil/auditivo para ‘assimilarmos’ essa enorme veneração!

Sem esse contato com o produto Nagra, qualquer tentativa de descrever suas qualidades será o mesmo que explicar o sabor do Cupuaçu para quem nunca sequer viu uma foto desta fruta tão peculiar da região norte deste Brasil.

Gostei da introdução do revisor crítico de áudio da Hi-Fi News, que se defendeu das possíveis críticas ao preço do Nagra HD Preamp ao lembrar aos seus leitores que os jornalistas do mercado automotivo não precisam iniciar sua avaliação pedindo desculpas aos leitores pelo preço da nova Ferrari que estão avaliando. No entanto, nós revisores críticos de áudio temos que ‘pisar em ovos’ ao descrever as qualidades de um produto de nível superlativo, como se fossemos ‘culpados’ pelos seus valores. Como se este mesmo fenômeno não acontecesse no mercado de joias, relógios, canetas, vinhos, etc.

Com a idade, acabei com essas ‘milongas’, afinal compra quem quer e quem pode. E quem não pode, como eu, agradece a oportunidade de poder conviver com ele por três semanas. Este pré de linha deixará muitas ‘cicatrizes’, tanto na memória de curto como na de longo prazo. Posso afirmar que nada mais será como antes, principalmente ao se avaliar outros pré-amplificadores também considerados Estado da Arte, depois deste Nagra. Pois, para ser extremamente honesto com vocês leitores, colocar o Nagra HD Preamp no mesmo nível que os melhores que já tive a oportunidade de testar, ouvir e ter, é uma enorme injustiça para com ele. Pois até o simples fato de definir sua sonoridade é um enorme desafio. É o pré-amplificador valvulado que menos soa como válvula, e ao mesmo tempo passa ao ‘largo’ de soar como um pré estado sólido. Seria preciso criar uma nova classe para poder tentar explicar sua assinatura sônica e todos os seus predicados sonoros.

Com todos os anos dedicados a ouvir equipamentos e compartilhar minhas observações com vocês, meu conhecimento, falta-me palavras que o descrevam de forma simples, objetiva e direta. Então terei que seguir um caminho mais tortuoso para conseguir levar até vocês minhas observações. E deste mosaico de imagens sonoras, espero humildemente que algumas sejam entendidas.

Todos sabem da minha enorme admiração e respeito por pré-amplificadores (de linha e de phono). São, na minha opinião, os produtos que exigem uma expertise e um conhecimento acima do comum dos projetistas mais capacitados. São tantos desafios e obstáculos que até a escolha de que caminho seguir é torturante, pois é preciso levantar todos os prós e contras, muito antes de definir nicho de mercado e preço final do produto.

Imagine pegar um sinal na entrada ínfimo, amplificá-lo sem perda da fidelidade do que entrou e entregar este sinal ao próximo estágio de amplificação sem adulterar nada. E sabendo que existem grandes vilões no meio do sinal chamados potenciômetro, resistores – ou seja lá que topologia o projetista tenha escolhido para monitorar o volume – que irão influir diretamente no sinal, alterando de forma sutil ou não todo o sinal até aquele ponto.

Já vi e ouvi tantas soluções distintas e criativas que até já havia aceitado resignadamente que as opções dos melhores prés eram o que tínhamos de melhor para o momento. Algumas bastantes engenhosas, como do pré da CH Precision, o do Dan D’Agostino (pré que é minha referência atual), dos prés top de linha da japonesa Accuphase (que também utilizei como referência) e, com certeza, pelo menos mais uma dezena de prés Estado da Arte que buscaram as melhores soluções para tão tortuoso problema.

Conseguiram contornar o problema? Claro que sim, alguns de forma muito correta e por vencer este desafio se tornaram referências em sua categoria.

Um ditado popular sempre nos lembra que nossa referência de branco é perfeita até que apareça o branco ainda mais alvo! Ou adoramos os lençóis de nossa cama de 200 fios até dormirmos com os de 400 fios! O ser humano é mesmo um ser inquieto e ávido por descobrir novas maneiras de avançar naquilo que já está consagrado e bem definido.

Pois o pré da Nagra HD é este salto, que coloca tudo que achávamos perfeito de pernas para o ar e não nos permite voltar à ‘normalidade’ após conhecê-lo. O choque foi tão visceral, que para poder voltar à minha rotina de melômano, me poupei de ouvir alguns discos ‘de cabeceira’ nele, pois sabia que os ouvir depois no meu sistema seria impossível. E não falo de detalhes de maior transparência ou de conforto auditivo. E sim de realismo e naturalidade. Este é o ponto crucial que separa todos os grandes prés do Nagra HD: seu grau de realismo e naturalidade. Todas as outras qualidades estão intrínsecas, neste duplo alicerce. Como em uma sólida construção, todo o resto se ergue nesta plataforma. Seja o equilíbrio tonal, as texturas, soundstage, transientes, dinâmica, etc. Se queres realmente alcançar o nirvana sonoro, depois de ouvir este pré em condições ideais, você irá perceber as diferenças entre a física de Newton e de Einstein.

Para nós que aqui estamos neste planeta, a Lei da Gravidade, além de correta, pode ser sentida todos os dias de nossa existência. Mas quando ampliamos este microuniverso que sentimos e vivemos para a imensidão do cosmos, precisamos nos ater às leis da Teoria da Relatividade restrita, para entender e explicar os fenômenos cósmicos que nos cercam.

E aí compreendemos que a Terra, o nosso minúsculo e lindo planeta, é parte destas leis mais abrangentes de tempo e espaço. Desculpe ter ido tão longe, caro leitor, mas para entender o Nagra HD é preciso também entender que todos os 8 quesitos da Metodologia ele ‘executa’ melhor que todos os outros prés semelhantes e concorrentes, por ele ter como base algo que seus concorrentes ainda não alcançaram: realismo e naturalidade!

Seu grau de realismo e naturalidade é tão superior, que os quesitos inerentes a este contexto – para a avaliação auditiva – se fazem de forma tão confortável e com tanta folga, que parece que os outros se esforçam para conseguir realizar o seu trabalho corretamente, enquanto o Nagra o faz com os pés nas costas!

Achava eu que a soma dos oito quesitos de nossa Metodologia é que determinava o grau de realismo e naturalidade de um equipamento Estado da Arte. E descubro, aos sessenta e um anos de idade, que é justamente o contrário. Os cuidados em todos os detalhes e em todas as fases de desenvolvimento e a percepção de que se pode ir além do que já foi feito, é o que solidifica este novo patamar. Elevando o grau de reprodução eletrônica à um novo estágio.

Os audiófilos já escutaram tantas vezes que o produto ‘n’ venceu a fronteira final tantas vezes que, como a história do Menino e o Lobo, ninguém mais acreditou quando o menino, à plenos pulmões, gritou que agora era o lobo de verdade!

Somos bombardeados por um arsenal de marketing tão impiedoso que deixamos até de prestar atenção ao que as empresas nos oferecem como a última e mais incrível novidade.

Estamos anestesiados por tanta informação falsa e verdadeira que esquecemos de dar crédito a informações que nos indicam que determinado produto realmente é distinto de todos os seus concorrentes.

Acompanho a linha HD da Nagra desde seu lançamento, e ainda que os testes e apresentações nos Hi-End Shows pelo mundo sejam muito elogiosos, e as salas da Nagra tenham ganho muitos prêmios de melhor sistema do evento, nada disto foi o que me chamou mais a atenção. E sim o que vinha nas entrelinhas das matérias, que de forma unânime relatavam ser esta linha HD detentora de uma assinatura sônica “distinta” de outros grandes produtos.

Quando você é um articulista de áudio, rapidamente você entende o que outros articulistas deixam transparecer em seus textos, quando um produto os agradou muito. Não falo dos adjetivos explícitos, mas de termos ou analogias que são bastante contundentes, principalmente se o articulista for um cara ‘rodado’ e que já recebeu os melhores produtos em sua sala de audição.

Vou mostrar alguns exemplos. Ken Kessler, que escreveu o teste do pré HD para a revista inglesa Hi-Fi News, dá várias ‘pistas’ aos seus leitores do quanto gostou deste pré. Ele começa sua avaliação compartilhando sua admiração desde o primeiro instante com o produto, e narra este momento da seguinte maneira: “Mesmo para um veterano como eu, a sensação de ocasião era palpável. Demorou, oh, três segundos para perceber que eu estava na presença de algo especial”. Mais adiante, ele abre um novo parágrafo com o subtítulo “Efeito Bola de Neve”, para descrever o efeito que saiu de sua caixa de referência, e escreveu: “Fiquei perplexo, pois aqui havia um pré-amplificador com um som tão quente como se Harvey Rosemberg tivesse descido do céu – quando o material exigiu, havia uma exuberância que devia ser o resultado desses E88CCs” – as válvulas do estágio de amplificação do pré da Nagra.

‘Veteranos’ na avaliação de produtos de áudio, que já ouviram de tudo, costumam ser bastantes comedidos com produtos bons e ótimos, e precisa ser algo como um ‘ponto fora da curva’ para os levarem a sair de suas ‘tocas’ e compartilhar sua descoberta como seus leitores. Se você se interessar, leia também outros testes da linha HD e verá que este encantamento é bastante evidente.

O que significa isto? Como o leitor que está do outro lado da linha, recebe essas informações? Eu realmente não sei, pois com o aumento exponencial do nosso público, toda esta nova legião de leitores provavelmente deva olhar tudo que aqui foi escrito a respeito deste pré-amplificador como se estivesse folheando um artigo de ficção científica. Mas, para os nossos leitores que acompanham a revista há muitos anos, acredito que o desejo de ouvir este produto tenha crescido, pois ainda que seja fora da minha e sua realidade, meu amigo, ter a chance de desfrutar por algumas horas da companhia deste pré-amplificador fatalmente mudará por completo sua maneira de ‘perceber’ o que significa um produto Estado da Arte de nível superlativo.

As consequências são imediatas, pois se for um audiófilo ou melômano que tenha a cultura de música ao vivo não amplificada, ele reconhecerá imediatamente características muito consistentes de uma apresentação muito mais próxima do real, como ele nunca antes ouviu em sistema algum (mesmo que ele tenha um mega sistema até semelhante em preço ao Nagra). E esta apresentação se torna única, por causa do que já escrevi acima: maior realismo e naturalidade!

Os desdobramentos são todos audíveis, mas o mais impressionante é o tamanho do soundstage deste pré. As caixas não somem da nossa sala, por estarem bem posicionadas e serem excelentes em reproduzir planos nas três dimensões (altura, largura e profundidade), mas sim pelo fato deste pré ter uma capacidade de expandir a ambiência e os planos como nenhum outro pré consegue nesta proporção. E não se iludam que ele faça isto com algum truque de turbinar o tamanho (corpo) dos instrumentos. Pelo contrário, o corpo harmônico também é o mais realista de todos os prés que ouvimos ou testamos.

Então como se dá este fenômeno de um palco tão realista? O incrível silêncio de fundo, meu amigo. Volte alguns parágrafos e leia o que descrevo sobre a obsessão dos engenheiros de conseguirem o menor ruído possível de fundo, para justamente ‘libertar’ o sinal de qualquer tipo de amarra.

Mas, prossigamos nas vantagens desse baixo ruído: a recuperação de microdinâmica é a mais impressionante que pudemos ouvir. Não teve um único disco da Metodologia que não nos surpreendeu pelo detalhamento e pela capacidade de resgatar o que parecia inaudível! Só que este descobrimento ‘arqueológico sonoro’ não se dá às custas de uma perda de naturalidade ou musicalidade, pois tudo cresce na mesma proporção (soundstage, microdinâmica, foco, recorte, ambiência).

Imagine novamente pintarmos oito pontos referentes à metodologia em uma bexiga. Milimetricamente distantes um ponto do outro, usando cores distintas para maior visualização desses pontos (bexiga branca, equilíbrio tonal amarelo, soudstage vermelho, textura azul, transientes verdes, dinâmica vermelho, corpo harmônico preto, organicidade lilás, e musicalidade cinza) em um sistema Diamante de entrada, conseguimos com um pouco de esforço separar os pontos, entre eles, para 3 cm. Em um sistema Diamante de Referência, com um pouco mais de esforço, ampliamos a distância entre os pontos para 4 cm. Em um sistema Estado da Arte, fazendo quase que um esforço hercúleo, passamos a ter estes pontos a 6 cm de distância entre eles! E neste Nagra, apenas ligado a excelentes pares Estado da arte (como foi o nosso caso): 10 cm!

Quanto chegaríamos em um sistema Nagra todo HD? Também gostaria de ter esta resposta meu amigo, mas certamente não a saberei nunca!

Usei a analogia com a bexiga e os pontos, para você ter uma ideia, de como este pré não escolhe características que sejam mais agradáveis ou ao gosto dos engenheiros da Nagra.

Na equipe de engenheiros da Nagra, temos músicos, produtores musicais e engenheiros de gravação e masterização, além de uma parceria de anos com os organizadores do festival de Jazz de Montreux, que lhes permite acesso a todas as masters das apresentações anuais.

E isto certamente explica muito a assinatura sônica de todos os novos produtos da Nagra (linha HD e Classic) que são muito semelhantes (leia o teste do power da linha Classic na próxima edição).

Não se optou por assinatura sônica que agrade audiófilos ou que seja ao gosto da equipe de engenheiros da Nagra.

Não, pelo contrário. Como o projeto foi pensado de dentro para fora e do zero, a única referência como já disse foi: realismo e naturalidade como escutamos em um acontecimento musical ao vivo!

Desculpe ser chato e bater pela terceira vez nesta tecla, mas este foi o mote, a essência da ideia, que da teoria, ganhou forma e podemos apreciar seja por algumas horas em um show room, um hi end show ou na casa de um amigo audiófilo “abonado”.

O Fabio Storelli (CEO da German Audio), me pediu para trazer alguns clientes seus para ouvir o pré da Nagra, ligado aos powers Nagra da linha Classic, junto as nossas novas caixas de referencia a Sasha DAW e as fontes digitais dCS Scarlatti e analógica Boulder 500, toca disco Storm (leia teste 3 nesta edição) e cápsula Hyperion 2 da Soundsmith. Clientes com bastante rodagem em equipamentos tops hi end e uma grande cultura musical de música ao vivo não amplificada. Independente do gosto pessoal de cada um, e suas preferencias por marcas de produtos, todos (unanimemente), compreenderam o que é este ‘ Efeito Nagra’ de naturalidade e realismo.

Aquela sensação de conforto e folga auditiva tão intenso, que não há preferência por parte do pré Nagra HD por estilos musicais ou variações dinâmicas.

Sejam um duo de violões ou uma obra sinfônica de alta complexidade e variação dinâmica e o tratamento é sempre o mesmo. Total controle e nunca se perde a compostura e o conforto auditivo, nunca! Você não vai a Sala São Paulo assistir a Sagração da Primavera temendo que nos fortíssimos a orquestra não dê conta e o som endureça ou se torne agressivo.

Afinal salas de concerto bem construídas acusticamente, foram projetadas para suportar qualquer pressão sonora gerada nela por instrumentos acústicos.

Pois o pré da Nagra HD Preamp, também foi preparado para esses desafios de variações dinâmicas.

Deem uma gravação bem-feita, no volume correto da gravação e os powers e as caixas suportarem, não haverá nenhum sobressalto ou decepção. Nenhum ranger de dentes ou lágrimas de sangue.

E senhores o Nagra HD não foi testado com seus melhores powers os também HD com o dobro de potência do Classic. Então ficarei pelo resto dos meus dias imaginando como soariam a Abertura 1812 ou a Sinfonia Fantástica, nas caixas Alexx da Wilson Audio (me daria por satisfeito com esta, não precisaria ser a Alexandria XLF) e os monoblocos HD.

Como diria meu pai; “Imaginar não se paga nada”!

Para os que duvidam da capacidade na reprodução de dinâmica desta linha Nagra HD, sugiro que ouçam em um bom fone de ouvidos os vídeos feitos pela Nagra e dispostos em seu site da última feira de Munique 2019. Lá você terá um ‘leve’ gostinho do que estou tentando descrever e relatar que ocorreu em nossa sala de referências com um sistema, bem mais modesto que o utilizado em Munique! Um dos quesitos mais críticos de nossa metodologia para qualquer pré-amplificador em teste, é o equilíbrio tonal nas altas. Dificilmente testamos um pré que tivesse excelente extensão, com decaimento correto, que em muitas gravações o agudo na última oitava de determinados instrumentos como: violino, trumpet, flautin, vibrafone e piano, não tragam um certo desconforto de endurecimento ou sensação de frontalidade nesta última oitava.

Já escrevi a este respeito centenas de vezes nesses 23 anos. Em inúmeras seções e nos próprios testes. O que os fabricantes de prés fazem para contornar este problema de tão difícil solução?

Diminuem a extensão e aceleram o decaimento, para contornar ou atenuar o problema.

E o audiófilo o que faz? Tenta amenizar ou esconder debaixo do tapete o problema, com cabos, fonte ou tweeters que não tenham muita ‘ luz’ nesta região, ou em um ato de radicalização: expurgam em definitivo os discos que teimam em mostrar o problema. A questão é que todos esses ‘ acertos’ além de paliativos, são feios.

E a ouvidos ‘ bem treinados’ imediatamente detectam a ‘gambiarra’ e tornam as audições menos prazerosas. Mesmo pré-amplificadores Estado da Arte renomados e aclamados em uma ou outra gravação (principalmente de piano solo), dão suas escorregadas.

Nas três semanas, eu coloquei uma centena (literalmente) de gravações de todos os instrumentos que citei, e o Nagra HD para o nosso espanto, passou em 100% das gravações com louvor!

Aí alguém grita: Perai, perai! É um pré valvulado!

Prés valvulados contornam este problema mais facilmente, pois por topologia, tem menos extensão!

Desculpe meu amigo, volte algumas páginas atrás e leia o que escrevi, sobre a dificuldade de determinar a assinatura sônica do Nagra HD, pois ele não soa como valvulado e muito menos estado sólido. E para nos deixar ainda mais sem chão: possuem a maior extensão e o decaimento mais natural (olha aí de novo), que qualquer pré que já tivemos ou testamos.

E não é um pouco mais de extensão, é muito mais extenso. E seu decaimento é absurdamente lento e de uma precisão cirúrgica! Você escuta os decaimentos dos instrumentos na sala, até a volta do silencio absoluto. Dando-nos a oportunidade de apreciar o acontecimento musical literalmente na integra, tanto em termos de performance como de ideia. Possibilitando uma nova perspectiva também na nossa forma de ouvir e compreender o que escutamos.

Senhores vejam quantas palavras recorri para explicar o que este pré-amplificador possui de diferenciado e como ele forçará a concorrência a se mexer e sair de suas zonas de conforto.

Trata-se de uma revolução que não será nada silenciosa e os próximos atos serão muito interessantes de conhecer. Pois como na fórmula 1 e na corrida aeroespacial, a dinâmica do hi end é bastante semelhante. Nada se mantém por muito tempo sem a concorrência a morder o calcanhar do que se encontra na frente. No entanto, arrisco dizer que a Nagra está alguns passos de vantagem por dois motivos: seu grau de verticalização em seus projetos, que permitem uma autonomia e uma menor dependência de fornecedores e seu staff de projetistas, o que lhes dá uma referência do que buscar , que poucos possuem ( de cabeça, na Suíça, somente o fabricante de caixas acústicas Boenickie possui este expertise e também atua nas duas frentes ( engenheiro de desenvolvimento de produtos e de gravação).

Se vocês acham pouco ter esta capacidade de se referenciar pela música ao vivo, para o desenvolvimento de produtos hi-end, sugiro que ouçam com mais atenção a assinatura sônica desses fabricantes com as dos fabricantes que vocês mais apreciam. Independentemente de suas conclusões você perceberá que os equipamentos ‘desenvolvidos por esta ‘linha mestre’, são muito mais condescendentes com as gravações tecnicamente inferiores e as gravações primorosas soam com um grau de musicalidade sublime!

A diferença, dos fabricantes de áudio hi-end que seguem este ‘norte’ é abissal em relação aos que apenas se esforçam em aprimorar suas topologias já existentes.

Pois saber como um instrumento ao vivo soa, e transportar essa referência para a reprodução eletrônica é um feito e tanto, almejado por muitos fabricantes, desde que a alta fidelidade nasceu! E atingir este grau de fidelidade que a Nagra conseguiu para seus novos produtos é um feito ainda não alcançado por nenhum outro fabricante de equipamentos eletrônicos Estado da Arte.

Não neste nível de refinamento e musicalidade!

Se puderes por uma hora, ouvir este pré-amplificador, não deixe de fazê-lo meu amigo.

Garanto que todas as suas convicções audiófilas, que você tanto preza, ruirão como castelos de areia!


Pontos positivos

A música em nossa sala, como sempre almejamos.

Pontos negativos

Fora da realidade de 99,99% dos mortais.


ESPECIFICAÇÕES
Saída máxima (<1% THD)13V (balanceado)
Entrada máxima (<1% THD)13V (balanceado)
Impedância (20 Hz – 20 kHz / 100 kHz)71-73 Ohms / 90 Ohms
Resposta de frequência20 Hz – 20 kHz / 100 kHz (+ 0,15 a – 0,0 dB / + 0,5 dB)
Sensibilidade de entrada (0 dBV)525 mV (entrada RCA / saída XLR)
Relação Sinal / Ruído (0 dBV)160 dB
Distorção (20 Hz – 20 kHz, 0 dBV)0.0056 – 0.0135%
Consumo de energia38 W
Dimensões (L x A x P)438 x 121 x 396 mm
Peso 30 kg (total)

PRÉ-AMPLIFICADOR NAGRA HD PREAMP
Equilíbrio Tonal 15,0
Soundstage 14,0
Textura 14,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 13,0
Organicidade 14,0
Musicalidade 15,0
Total 110,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



German Audio
contato@germanaudio.com.br
US$ 98.000

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