Espaço Aberto: AFINAL MÚSICA NÃO-AMPLIFICADA É A MELHOR REFERÊNCIA?
maio 5, 2022
Teste 4: TAPETE PARA TOCA-DISCOS YELLOW BIRD DA HEXMAT
maio 5, 2022

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Desde que tive meu primeiro toca-discos, aos 18 anos, eu me interesso por clamps. Tive e testei com certeza mais de trinta ao longo dessa jornada, e acho que todo audiófilo deveria em sua busca pelo aprimoramento de seu setup analógico, se dedicar com afinco a escolher o clamp mais adequado para o seu toca-discos e seu gosto pessoal.

Pois clamps possuem diferenças audíveis, assim como um upgrade de cápsulas ou troca de braços.

Por muitas décadas, fabricantes deste acessório abordaram que o ideal é ter um clamp pesado, e que tenha uma longa superfície de contato com o disco. E o mercado então foi invadido por clamps feitos de diversos materiais, como metais fundidos, madeiras tropicais, estruturas cilíndricas com esferas, e também peças em que o usuário podia acrescentar massa ou tirar, para ver qual obtinha o melhor resultado.

Por uma década tive um Stillpoint, que se caísse no meu pé ou em um disco, acabaria com ambos. E por mais que em determinados setups, e com gravações tecnicamente piores, ele tivesse a tendência de secar o corpo das gravações, e os graves ficarem parcialmente ‘difusos’, achava que este era o preço a se pagar para manter um clamp que em gravações de qualidade tinha uma boa performance.

E em relação a todos os outros clamps que testei nesse período, ele foi o de melhor performance.

Ficou claro para mim que o uso de um clamp era uma escolha com perdas e ganhos, era necessário. Até que recentemente ao adquirir o toca-discos da Origin Live com o braço Enterprise C Mk4 de 12 polegadas, decidi ouvir o clamp Gravity One da marca (leia teste na edição 278), e comparar com o meu Stillpoint e ver se tudo que falavam a respeito do Gravity One era fato.

Pois bem, não só era, como para mim ficou claro que havia uma nova abordagem de como utilizar este acessório, que mudava radicalmente de direção. Com muito mais benefícios do que problemas, fazendo com que as gravações tecnicamente mais limitadas, ganhassem o direito de serem apreciadas novamente!

E achei que a jornada de busca pelo clamp ideal havia terminado (desde que com o setup todo Origin Live). Aí entra a Hexmat que, ao nos enviar seus tapetes para teste, nos fez a gentileza de enviar junto seu clamp Molekula, que acabara de ser lançado! E veio para balançar o coreto novamente.

Com apenas 17 gramas de peso (ele consegue ser mais leve que o Origin Gravity One), e seis esferas de contato com a superfície do selo do disco, esferas translúcidas com um revestimento especial de alguma resina, que têm apenas 7 mm de diâmetro. O clamp é feito da mesma mistura de polímeros que o tapete Eclipse usa, para que o melhor coeficiente de amortecimento seja alcançado.

E, ao contrário de qualquer clamp que possui uma área de contato maior com o selo do disco, o Molekula assenta no disco apenas nesses seis pontos, através das esferas, para transferência do torque, mas amortecendo eficientemente as ressonâncias e frequências prejudiciais causadas por todo tipo de contato e atrito mecânico, que ocorre na leitura do disco.

Segundo o fabricante, o seu clamp pode ser usado com qualquer tapete do mercado, com os mesmo benefícios. E ainda segundo a Hexmat, as melhorias são similares às dos seus tapetes: dinâmica aprimorada, maior inteligibilidade em todo o espectro audível, um som muito mais relaxado e uniforme, e precisão inigualável na resposta de transientes.

E lá fomos nós fazer a avaliação do Molekula. Eu e o nosso colaborador internacional, Tarso Calixto – leia o Segunda Opinião na sequência.

Para o teste utilizei nosso setup analógico de referência, com os dois tapetes da Hexmat, mais o tapete da Origin Live e o de feltro antiestático. E, claro, fiz a comparação diretamente com o nosso clamp de referência Gravity One.

Com o tapete de feltro antiestático, as diferenças entre os clamps existiram, porém não foram tão evidentes. Diria que o que torna o Molekula mais adequado e eficiente é na recuperação da microdinâmica, e na organização dos planos em passagens com enorme quantidade de informação (com muitos instrumentos). Mas em termos de equilíbrio tonal, apresentação de texturas e transientes, seria uma questão de gosto a escolha de um ou outro.

Com o tapete da Origin Live, imaginei que o resultado seria inteiramente favorável ao Gravity One – e, pasmem, não foi! Aqui as diferenças em alguns quesitos (com gravações tecnicamente mais limitadas), penderam claramente para o Molekula. Tornando a música mais fluida, orgânica e prazerosa de se acompanhar. Isso graças ao grau de descongestionamento alcançado pelo Molekula, com o tapete da Origin Live – as qualidades inerentes aos produtos da Hexmat ficaram bem mais evidentes e audíveis aqui.

E com os dois tapetes da Hexmat, as diferenças só aumentaram vertiginosamente. Com todos os quesitos da Metodologia audivelmente melhores. O equilíbrio tonal ganhou maior extensão em ambas as pontas, os médios maior transparência e organicidade, o soundstage foi aprimorado em termos de planos e largura e profundidade, se ampliou o silêncio de fundo em volta dos instrumentos solistas, vieram texturas muito mais precisas e um grau de intencionalidade que foi como se tivéssemos trocado de cápsula e não de clamp! Transientes assustadoramente mais incisivos e precisos, e micro e macro totalmente descongestionados!

E o Gravity One, se beneficia ou não do uso dos tapetes da Hexmat? Sim amigo, se beneficia e muito, e pode ser uma opção muito interessante, desde que você o tenha (como eu e como o Tarso), e opte por primeiro adquirir o tapete da Hexmat (esse no meu modo de ver obrigatório). Mas não tenham a ilusão que seja o mesmo resultado que fazer o upgrade para o Molekula, pois não é.

Todo conjunto Hexmat no toca-discos é a opção mais sensata e o upgrade mais seguro e barato que se pode fazer. Afirmo que será como trocar de cápsula ou de pré de phono, para que o amigo leitor tenha uma ideia do impacto positivo que foi conhecer esses acessórios.

Se desejas extrair o sumo do sumo de seu analógico sem gastar uma fortuna com um upgrade de cápsulas, braços e prés de phono, o caminho é esse!


Tarso Calixto
revista@clubedoaudio.com.br

Tudo que sei, é que nada sei – O contínuo aprendizado Caros leitores e leitoras, na edição 278 compartilhei a incrível experiência que o clamp Gravity One da Origin Live agregou ao meu sistema. É importante ressaltar que não sou um revisor profissional, sou apenas um entusiasta de música e áudio que, conforme a passagem do tempo, tem a oportunidade de aprender, e compartilhar sobre este assunto fascinante. Ao terminar o mencionado artigo, honestamente achei que minha jornada em estabilizadores de discos havia chegado ao fim – meu pensamento foi: “É isso aí, o Gravity One é o estabilizador definitivo no sistema, agora vamos escutar música”.

Estou aqui para lhes contar que, mais uma vez, aprendi que esse não era o caso, introduzindo o Hexmat Molekula.

A Hexmat é uma empresa Húngara, que desenvolve há quinze anos e oferece a linha de acessórios para toca-discos usando design único e fabricação de alta precisão, com matéria-prima patenteada. O clamp Molekula segue o mesmo princípio do mínimo ponto de contato de superfície para o controle de vibrações espúrias, empregado nos tapetes isoladores de discos Yellow Bird e Eclipse. O dispositivo usa sete pontos de contato, seis no disco e um no pino do prato no toca-discos. O acoplamento ao disco é com mínima área de contato, já no pino ele é rígido. A minha impressão é que o processo de controle utiliza a placa hexagonal como um dissipador mecânico, no qual as vibrações são controladas durante a reprodução do disco.

De uma maneira muito semelhante a narrada no artigo anterior, minha reação quando manuseei o dispositivo foi de descrença, com o pensamento: “Hmm, não acho que fará uma grande diferença, afinal de contas o Gravity One é um dos melhores no que se refere a estabilizadores de discos”. Seguido do segundo pensamento: “O Molekula é uma plaquinha com seis esferas, com o peso total de 17 gramas, como é possível que este produto produza resultados melhores ainda?”. E, por último: “Será que a diferença é tanta que justificaria o upgrade?”.

Bem, a lição estava prestes a começar.

Para evitar o plágio do meu próprio artigo da outra edição, essas foram minhas impressões sobre o Gravity One: “…a impressão mais marcante é a reprodução das frequências dos médios: as vozes dos artistas e o timbre dos instrumentos tornaram-se mais destacados, com um tremendo foco e belíssimo recorte, e ao mesmo tempo, sem comprometer o palco sonoro. A dinâmica tornou-se mais equilibrada com tal riqueza de detalhes e sutilezas causando um aumento superlativo na resolução do sistema, e novamente sem alterar a precisão tonal da obra. Outra característica notadamente interessante, é o aumento do conforto auditivo – não há fadiga e tampouco pressa em abreviar a sessão de audição. O efeito psicoacústico é que o dispositivo desembaraça a informação sônica do disco, revelando e maximizando a transparência, a clareza, a nitidez, e as texturas. Mesmo em volumes baixos, a riqueza de detalhes na reprodução da música é estarrecedora”.

Como ponto inicial, usei o Gravity One, afinal de contas venho utilizando o dispositivo em todas as minhas audições. Para manter uma perspectiva neutra, utilizei um disco que nunca havia escutado, o Just as I am do Bill Withers, de 1971. Essa cópia é uma re-prensagem de 2007. Escutei as faixas Harlem, Ain’t No Sunshine, e Grandma’s Hands. Sem surpresas, a reprodução musical foi primorosa, os detalhes do dedilhar nas cordas da guitarra, a voz do artista, e a ambiência da gravação. Tudo proporcionou uma excelente experiência auditiva.

Ao instalar o Molekula, notei o acoplamento mais rígido com o pino do prato, e repeti a mesma sequência das faixas. Minha primeira impressão foi que o sistema estava desligado, pois não escutei mais o começo do disco. Aumentei o volume e de repente a música iniciou, me assustando. Abaixei o volume, me recompus, e comecei a escutar as faixas com a atenção devida. De imediato, notei que o ruído de superfície do disco e o ruído de fundo da gravação estavam consideravelmente atenuados – eis o porquê achei que o sistema estava desligado – e a reprodução musical muito mais clara. Ainda na dúvida, repeti o processo algumas vezes mais.

Depois do álbum do Bill Whiters, escutei a interpretação de Buddy Guy com a participação de Tracy Chapman, da Ain’t No Sunshine do álbum Bring ‘Em In, de 2018, que apresenta o belíssimo alcance vocal dos cantores e o recorte dos instrumentos. Seguindo com o método comparativo dos dois produtos, o realismo da música tornou-se estarrecedor com o uso do Molekula: a intencionalidade, a ambiência e o detalhamento foram exacerbados graças ao controle de vibrações e a redução do ruído.

Escutei, então, alguns dos meus álbuns favoritos: Greensleeves do Shoji Yokouchi Trio (faixa Moanin’), e o Swing Sessions do Eiji Kitamura (faixa Avalon), ambos de 1978. Essas gravações já são naturalmente silenciosas, e ao utilizar o dispositivo da Hexmat o silêncio de fundo é praticamente inaudível, atribuindo uma qualidade incrivelmente reveladora às gravações, resultando em um extasiante conforto auditivo. Em suma, impressionante o resultado do produto utilizado com gravações hi-end.

Mudei a temática, escutei os shows ao vivo do Kraftwerk, Minimum-Maximum, de 2004, faixas The Man-Machine e Numbers, e depois o Dead Can Dance In Concert de 2013, faixa Children of the Sun. De imediato nota-se a ambiência e a holografia – o Molekula revela a informação musical explicitamente, tornando o evento mais realista. O corpo harmônico não só se torna mais amplo, como também proporciona uma grande folga na reprodução dos álbuns com um agradável conforto auditivo.

Decidi então expandir o teste do Molekula – fui à casa de um amigo e repetimos os testes. Escutamos o álbum Violence do Editors (faixa Cold), de 2018. De imediato notamos a apresentação mais destacada dos elementos da música, devido à redução dos ruídos, resultando em aumento significativo da resolução do sistema. Como eu, meu amigo, ficou impressionado com o resultado do dispositivo.

Levando em consideração as faixas acima descritas, e recapitulando as impressões da edição 278, multiplique estas por várias grandezas de magnitude! As propriedades de atenuação de ruído do Molekula fizeram com que a experiência musical se tornasse ainda mais marcante: o dedilhar nas cordas da guitarra tornou-se explícito, a intencionalidade do instrumentista é claramente audível, a voz do artista e a ambiência da gravação são extremamente realistas A dinâmica aflorou de tal forma, que toda informação tácita contida na gravação tornou-se explícita – o recorte dos instrumentos e o palco acústico atingiram tal nitidez, resultando no aumento substancial da resolução do sistema. Todas essas características sem apresentar a menor fadiga, e associadas a um perfeito conforto auditivo.

As leitoras e leitores devem estar se perguntando: “Ora, eu já comprei o Gravity One! Isso quer dizer que tenho que gastar ainda mais dinheiro com o Molekula?”. A resposta mais simples e direta é “não” – o dispositivo é excelente e de maneira alguma possui deméritos, e se você está feliz com o atual resultado, e não tem interesse em investir em um upgrade, o produto é excelente.

E quanto ao Molekula? Como este se enquadra no arsenal de estabilizadores de acessórios? Vale à pena? A resposta com convicção é o imediato: “absolutamente!”. Funcionando em diversas configurações de sistemas, este dispositivo apresenta tudo atribuído ao produto anteriormente mencionado, com a adicional redução do ruído e o consequente aumento da resolução do sistema, proporcionando uma característica extremamente reveladora, com incrível transparência e tremenda riqueza em detalhamento da informação musical. O efeito psicoacústico é que os elementos da gravação, as vozes, e os instrumentos estão todos mais pronunciados.

Não posso deixar de ressaltar a todos o quão importante é escutar e testar esses produtos antes de se decidir na compra – e, idealmente, no sistema de cada indivíduo. Essas notas de forma alguma são prescritivas, são meramente impressões que esperançosamente sirvam de referência a auxiliem os caros leitores a formarem suas próprias opiniões, e eventualmente se decidirem, ou não, a investigar mais profundamente o assunto de experimentar o Hexmat Molekula.

Uma das lições que aprendi é que os projetistas da indústria de áudio hi-end estão sempre inventando e desenvolvendo. O Hexmat Molekula é o exemplo claro da engenhosidade e criatividade para adereçar o controle de vibrações, a otimização da reprodução musical no domínio analógico. Cabe a nós estarmos dispostos a descobrir e aprender com esses novos lançamentos e propostas.

Desejo registar os meus votos para os caros leitores e leitoras, que continuem a divertirem-se com o hobby, escutando músicas, e compartilhando suas experiências. Agradeço sua atenção e, como sempre, desejo ótimas audições.

Sistema 1: toca-discos Acoustic Signature Storm 2018, braço Origin Live Illustrious com cabo Silver Hybrid. cápsula ZYX Ultimate Omega Gold, pré de phono Sunrise Lab, amplificador Sunrise Lab V8 Signature Edition, caixas acústicas Dynaudio Contour 60i, e cabos (força caixas, e interconexão RCA) Sunrise Lab Quintessence.

Sistema 2: toca-discos Pro-Ject Debut Carbon EVO, braço Pro-Ject Carbon, cápsula Ortofon 2M Red, amplificação Marantz AVR NR1403, caixas acústicas Blueroom/Scandyna Minipod Mk2.

Referências:

ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



Hexmat
info@hexmat.net
www.hexmat.net
€ 120

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