Teste 4: CLAMP PARA TOCA-DISCOS ORIGIN LIVE GRAVITY ONE

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Tarso Calixto
revista@clubedoaudio.com.br

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O acessório que revigora qualquer sistema.

No hobby de audiófilia notei que passamos horas a fio pesquisando sobre um específico tópico, e depois esquecemos. Quando resolvi procurar por novas opções de estabilizadores e clamps para o toca-discos Rega, assisti um vídeo do Paul Rigby no qual vários produtos são apresentados e descritos – entre eles, o clamp da Michell Engineering, os estabilizadores da Avid (incluídos com os toca-discos), da Soundeck, Oyaide, e da HRS.

E, ao final do vídeo, estava o dispositivo da Origin Live, o Gravity One, que não se classifica como clamp e tão pouco como estabilizador. Inspirado no japonês Shun Mook, este produto é de uma classe ímpar de acessórios para controle de vibrações em discos de vinil. O desacoplamento é feito através de combinação de elementos unidos com folga, sem rigidez.

Acabei por optar pelo clamp da Michell, com um preço mais acessível. Dado que já estava usando o estabilizador da PatheWings, os outros produtos não chamaram minha atenção. Muito menos o Gravity One, devido ao seu elevado custo e à ausência de peso.

Enfim, depois da compra do clamp não só esqueci do assunto, mas também do vídeo! Recentemente, durante uma visita ao Fernando Andrette, fui reintroduzido ao produto. Ao chegar na sua residência, depois de mais de um ano de pandemia, eu estava curioso para saber das novidades, tanto da indústria de áudio no Brasil quanto nos experimentos que ele estava trabalhando na sua sala de audições.

O Fernando me mostrou o Gravity One, perguntando “você conhece?”. Minha resposta foi negativa: não lembrava do acessório e muito menos do vídeo acima mencionado. Ao segurar o dispositivo, meu comentário foi com puro desdém: “Ora Fernando, isso é só um pedaço de plástico. Não deve fazer nenhuma diferença!”. Com seu calmo semblante, sorrindo, ele respondeu: “Sente-se aí na cadeira do meio, vamos fazer uma comparação”. Um disco foi selecionado e escutamos cuidadosamente – sem dizer nada ele voltou o braço do toca-discos e gentilmente pôs o dispositivo. Escutamos a mesma faixa uma vez mais. Incrédulo, pedi a ele para repetir o teste novamente. Ao terminarmos o teste, com a sala em silêncio, comecei a processar o acontecimento. Minha maior dificuldade foi compreender o fenômeno de controle de vibrações: como está funcionando esse dispositivo? E o mais importante, como é possível tanta diferença? As perguntas persistiram e custaram a chegar em respostas conclusivas.

O dispositivo seria ‘snake oil’? Ora, se eu não estivesse presente na audição, minha resposta teria sido um assertivo “sim”. Entretanto, eu estava lá na sala, e escutei e presenciei as diferenças do teste várias vezes: o dispositivo resulta na melhora substancial da reprodução da música. Ao final, estava o Fernando olhando para mim rindo e dizendo: “Tive a mesma reação! Não esperava tamanha diferença”.

Na edição 274, escrevi que clamps e estabilizadores não eram necessários no toca-discos Acoustic Signature Storm, pois a música soava com a dinâmica comprometida. Esse não foi o caso com o Gravity One. Após a encomenda, o dispositivo não demorou para chegar. Como o visto na sala do Fernando, a minha unidade era idêntica. Refiz o teste, selecionei o disco Greensleeves, do Shoji Yokouchi Trio, do selo Three Blind Mice.

Ao receber o Gravity One, o primeiro impacto é a ausência de peso, ao ter o pacote nas mãos a impressão é que a caixa estava vazia. Ao abrir, lá estava o Gravity One em toda sua leveza de aproximadamente 70 gramas. Com este na mão, a sensação é mais estranha ainda, o dispositivo parece um brinquedo de plástico com um pedaço de madeira grudado na parte de baixo. E, ao virá-lo, os elementos se movem parecendo que este está quebrado ou mal montado. Nesse ponto inicial é que nos perguntamos: “será que encomendei o produto certo? É isso mesmo que era para vir na entrega?”. Realmente uma situação cômica digna de um roteiro de filme de comédia – só faltava o elenco.

Passado o choque inicial, e ao pôr o dispositivo no disco, a impressão mais marcante é a reprodução das frequências dos médios: as vozes dos artistas e o timbre dos instrumentos tornaram-se mais destacados, com um tremendo foco e belíssimo recorte, e ao mesmo tempo, sem comprometer o palco sonoro. A dinâmica tornou-se mais equilibrada com tal riqueza de detalhes e sutilezas, causando o aumento superlativo da resolução do sistema, e novamente, sem alterar a precisão tonal da obra. Outra característica notadamente interessante é o aumento do conforto auditivo, não há fadiga e tampouco pressa de abreviar a sessão de audição. O efeito psicoacústico é que o dispositivo desembaraça a informação sônica do disco, revelando e maximizando a transparência, a clareza, a nitidez, e as texturas. Mesmo em volumes baixos, a riqueza de detalhes na reprodução da música é estarrecedora.

Sabemos que esse hobby é repleto de relativismos e subjetivismos, seria irresponsável da minha parte meramente recomendar o acessório sem considerar propriamente a situação relativa da audiência desta revista. Minha recomendação consiste em pensar na adição do Gravity One ao sistema somente quando os componentes da cadeia na fonte analógica estejam devidamente assentados e amaciados. Seria um equívoco acrescentar um componente externo sem que tudo esteja devidamente acertado. Não há razão para ter pressa, aprecie cada passo e melhoramento: usar a metodologia japonesa Kaizen – de melhorias sem um investimento significativo – ajuda muito com a implementação continua de aprimoramentos em nossos sistemas e, principalmente, aprimoração de nossa sensibilidade auditiva.

E quanto à questão mais importante dessa nota: “realmente vale à pena investir neste dispositivo? Os resultados agregados justificam tal investimento?”. A resposta curta é um seguro e afirmativo “sim!”. O desempenho geral do seu sistema será mais resolutivo e você terá ainda mais prazer durante as audições.

E esses são os meus sinceros votos, que as leitoras e leitores estejam a se aventurar, atrever, experimentar, inventar, construir, e principalmente aprender. Quanto mais compartilhamos nossas experiências, mais oportunidades teremos de aprender com esse hobby fascinante. Agradeço a atenção e desejo, sempre, maravilhosas audições!

Setup Analógico:

Toca-discos: Acoustic Signature Storm 2018
Braço: Origin Live Illustrious com cabo Silver Hybrid
Capsula: Benz-Micro Wood SL
Pré-de-fono: Sunrise Lab
Cabo de interconexão RCA: Sunrise Lab Quintessence Line

Referências:

Origin Live: www.originlive.com
Shun Mook Audio: www.shunmook.com/hifiproduct_1.html
Audio Video Magazine, edição 274: https://clubedoaudio.com.br/edicao-274/hobby-domando-a-tempestade/
The Audiophile Man: www.theaudiophileman.com/gravity-one-origin-live-review-accesory-vinyl-turntable/

ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



Timeless Audio
contato@timeless-audio.com.br
(11) 98211.9869
R$ 2.100

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Quando combinei com o nosso colaborador, Tarso Calixto, para ele compartilhar conosco suas impressões referentes ao clamp Gravity One, ele (como sempre), foi tão eficaz e profundo, que ao ler seu depoimento inverti as bolas, fazendo sua estreia como nosso mais novo articulista, do outro lado do Atlântico.

Assim, eu irei apenas acrescentar minhas observações pessoais a este incrível acessório, que pode ser a ‘cereja do bolo’ de um bom setup analógico.

Muitos de vocês, que começam a se interessar pela montagem de um setup analógico, sempre nos perguntam sobre o que há de mais essencial na hora de escolher um bom toca-discos. E sempre parece que saio pela tangente ao esclarecer que, tudo em um setup analógico é por demais relevante, e que mesmos os mais rodados e experientes audiófilos, com dezenas de anos buscando a perfeição na reprodução de seus LPs, têm algo a aprender e modificar em seus sistemas.

Não falo isso de modo algum para assustar o iniciante, e sim para alertá-lo que este é um ‘brinquedo’ que exige muito conhecimento e paciência, pois nos últimos 20 anos cada componente que envolve a fabricação de um toca-discos sofreu melhoras tão significativas, que vale a pena (para se poupar tempo e dinheiro), pesquisar antes de sair definindo o que comprar.

E clamps/estabilizadores de disco, são um dos acessórios fundamentais quando falamos em diminuir vibrações espúrias, muitas vezes criadas pelo próprio conjunto braço/cápsula, já que o rastreamento físico das vibrações existentes nas ranhuras dos sulcos é ampliada pelo atrito entre agulha e o mesmo. E este atrito cria vibrações que degradam o sinal de inúmeras maneiras, como: menor inteligibilidade, frequências que podem ser alteradas em seu equilíbrio tonal, perda de corpo, etc.

E, ainda que os fabricantes de toca-discos, cápsulas e braços tenham avançado muito no conhecimento deste enorme problema, e desenvolvido materiais com o objetivo de minimizar e atenuar essa questão, o fato é que não existe ainda, a solução definitiva. E aí entram os fabricantes de clamps e estabilizadores tentando auxiliar neste enorme problema.

Eu já testei e usei dezenas de clamps em meus sistemas analógicos. Desde meu primeiro Thorens TD 160, com braço original e cápsula Stanton 500, comprado em 1980, eu utilizo clamps - então minha jornada com este acessório é longa e duradoura. E a cada upgrade, minha percepção sempre foi de que os avanços eram relativamente pequenos, mas o suficiente para não desistir de seu uso: era melhor tê-lo do que não tê-lo. Até que conheci o clamp da Stillpoints, e percebi que seus benefícios eram audíveis e com uma compatibilidade muito maior em diversos toca-discos, do que todos os outros clamps que tive. Me lembro de ter relutado na época, em pagar 700 dólares por um clamp, mas ao escutar seus benefícios, acabei por me convencer que valeria a pena o investimento.

Cada vez que testava um novo clamp, para fechar minha conclusão lá estava meu fiel escudeiro, como a Referência a ser vencida. As diferenças eram sempre o descongestionamento que o Stillpoints oferecia, ainda que em algumas situações percebi que outros tinham as pontas mais estendidas, ou que as texturas em determinadas gravações eram mais ‘naturais’.

Assim, meu clamp de referência ficou mais de uma década como meu principal (ainda que tenha uma meia dúzia de opções que guardei para avaliação de toca-discos mais simples).

Quando defini fazer o upgrade de meu toca-discos Acoustic Signature Storm para o Origin Live Sovereign, e a troca do meu braço SME Series V pelo braço Enterprise MK4 - também da Origin Live - o interesse em ouvir seu clamp se tornou inevitável.

E lá fui eu pedir à Timeless Audio, se não seria possível o envio para teste. Enquanto aguardava o produto chegar, fui bisbilhotar no site e nos fóruns as observações, tudo sobre esse Clamp, e o que mais ficou na cabeça foi que todos, ao receberem, tiveram uma reação ‘negativa’ ao ver que pesava apenas 70 gramas, e que mais parecia um ‘brinquedo’ do que um clamp a ser levado a sério!

Um dos consumidores até escreveu que ele deveria receber o apelido de ‘peso pena’, e outros estranharam por ele nem ao menos prender os discos no prato, o que ‘contornaria’ seu ridículo peso!

Mas, já ciente de que o projetista e CEO da Origin Live, o sr. Mark Baker, é um cara que sempre pensou fora da zona de conforto, e se tornou um especialista em controle de amortecimento e ressonância, dei um voto de crédito ao produto.

No site da Origin Live, em inúmeras passagens, Mark nos fala que muitos confundem amortecimento com uso de força bruta, sendo que este caminho (na sua opinião), cria muito novos problemas. Ele, inclusive, dá o exemplo de se bater com o dedo em um fino copo de cristal e em uma tigela de metal, para nos lembrar qual irá ressonar por mais tempo ao toque do dedo. E que as ressonâncias dependem muito mais da escolha do material do que da força bruta! E que se amortecermos demais, cada novo toque do dedo terá que ser cada vez mais intenso para se ouvir a ressonância.

E que este princípio o norteou no desenvolvimento de todos os seus produtos, inclusive seu clamp de apenas 70 gramas!

O Gravity One utiliza uma combinação de dispositivos de amortecimento que parecem ‘simplórios’ demais para trazer algo que o analógico tanto necessita em relação a vibrações espúrias. Feito de um polímero que sugere algo semelhante a plástico, revestido internamente por uma cunha fina de madeira entalhada, rodeada dos mesmos parafusos brancos existentes no braço do toca-discos Sovereign.

Mark nos pede que, antes de ouvirmos seu clamp, façamos o teste de escutar sem volume o atrito do braço no LP. Quando fazemos isso, ouvimos ruídos (alguns até bem audíveis, do que está gravado nos sulcos), principalmente das altas frequências - usando seu clamp de referência. Depois troque para o Origin Live Gravity One, e o ruído irá diminuir drasticamente ou até mesmo desaparecer.

Como sou pior que São Tomé, foi a primeira coisa que fiz, assim que o clamp chegou. Escutei sem volume algum uma faixa de um disco do The Police com o meu clamp de referência, e lá estavam nitidamente as frequências agudas audíveis, sem nem mesmo ser necessário encostar a orelha perto do braço! E com o clamp da Origin Live, o som diminuiu drasticamente, a ponto de ficar aparecendo e sumindo! Ponto para o produto, que provou ser capaz de provar o que escreve em seu site.

Era hora, então, de ouvir e testar o mesmo. Na sua chegada, estavam em teste as cápsulas ZYX R50 Bloom3, e Hana Umami Red. Então utilizamos ambas para o teste do clamp.

Como escrevi, nosso clamp de referência sempre foi superior, principalmente em termos de organização do acontecimento musical e inteligibilidade, principalmente em música com muita informação na região média. No entanto, em gravações tecnicamente com excesso de brilho ou menor corpo, sempre esses ‘problemas’ no Stillpoints ficaram mais evidentes.

O Origin Live, de uma só tacada, se mostrou melhor em inteligibilidade, ampliando o soundstage nas três dimensões, trazendo melhor foco, recorte e planos, maior arejamento, micro e macrodinâmica, muito melhor equilíbrio tonal e, consequentemente, texturas mais naturais e melhor conforto auditivo em qualquer gravação, independente de boa ou não tecnicamente!

Não teve segundo round para o nosso clamp de referência: foi nocaute técnico!

Interessante que a limpeza que este Clamp proporciona não é o de secar as vibrações espúrias, e sim de fazer com que o sinal se apresente acima dessas vibrações. Como se tudo que estava abaixo das vibrações emergisse.

Para ter certeza que era este o caminho traçado pelo projetista Mark Baker, passei uma semana ouvindo solistas e pequenos grupos de trio e quartetos, em inúmeras prensagens, para poder ter ideia do tamanho do ‘milagre’.

E realmente é surpreendente como uma série de ruídos que sempre achei serem culpa das prensagens nacionais mal feitas, diminuíram drasticamente. Pois o que o meu clamp de referência fazia era acentuar determinados ruídos (principalmente nas altas), e secar em baixo.

O melhor exemplo com o Gravity One foi o álbum branco do pianista Keith Jarrett, que só tenho a prensagem nacional, e que ao ouvir o lado A do disco 1, percebi nitidamente uma diminuição drástica dos ruídos de alta frequência, e um ganho significativo no corpo no médio-grave, que tornou o equilíbrio tonal muito mais interessante.

CONCLUSÃO

Com clamps, jamais diga que este será unânime, e que será a solução para qualquer toca-discos.

Já vivi tempo suficiente para não cair nesta armadilha, ainda que nos fóruns estejam testemunhos minuciosos de audiófilos que já testaram o mesmo em uma dezena de toca-discos, e todos com excelente resultado.

O que posso testemunhar é que o clamp Gravity One navega solitariamente em águas nunca antes navegadas! E vai na contramão de tudo que ouvimos e testamos em matéria de clamps fabricados nos últimos 40 anos!

E que vale a pena ser avaliado por todos que desejam dar uma maior definição e conforto auditivo ao seu sistema analógico. Pois o que ele faz em termos de equilíbrio tonal e inteligibilidade, beira a um milagre sonoro!

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