Influência Vintage: CAIXAS ACOUSTIC RESEARCH AR-3A

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.

Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!

MADE IN USA ‘DE OUTROS TEMPOS’

A Acoustic Research é uma empresa americana de áudio, de 1954, que nada tem a ver com o que se espera e conhece da sonoridade ‘americana’ bastante difundida desde o final dos anos 70.

O fim da década de 50 e a maior parte de 60, trouxeram o estéreo e foram realmente o berço da alta-fidelidade. Era uma época de valvulados, e de audiófilos um pouco mais resguardados, senão mais ‘raros’.

A audiofilia ainda era uma espécie de ‘unidade’ quanto a preferências sonoras – ou seja, existia a sonoridade ‘audiófila’ e não ainda um tipo, uma preferência ‘americana’, uma ‘européia’ e uma ‘asiática’. Isso iria mudar nas décadas seguintes.

AS CAIXAS ACOUSTIC RESEARCH AR-3A

As AR-3a, lançadas em 1964, são o quarto modelo de caixas acústicas da empresa americana Acoustic Research – um aperfeiçoamento do modelo AR-3, lançado em 1957. São caixas compactas – tipo bookshelf ‘grandes’ – de três vias com woofer cone de 12 polegadas, e os primeiros médios e tweeters de domo de tecido que existiram. E foram revolucionárias, para a época, devido à qualidade dos médios e tweeters, voltados à audiofilia – e por serem as primeiras caixas cujos woofers eram para suspensão acústica – que traziam baixa sensibilidade, mas podiam obter melhor resposta de graves, com menos distorção, ao usar suspensões mais leves e moles em gabinetes menores, selados.

A suspensão acústica foi uma invenção de Edgar Villchur, um dos fundadores da empresa – após uma longa pesquisa e embasamento científico. Invenção pela qual ele recebeu uma patente nos EUA, na década de 50. A questão era que, com a tecnologia da época, as caixas precisavam ser bass-reflex para darem bons graves, e isso queria dizer woofers grandes e gabinetes grandes. A ideia da suspensão acústica permitiria caixas com gabinetes menores com boa quantidade de graves, mas com nova construção de woofer, com uma suspensão bastante diferente para a época. Inclusive, aos poucos muitos fabricantes de alto-falantes passaram a usar esse tipo de suspensão em seus woofers, sendo que alguns até pagaram royalties à patente de Villchur – até que a Electro-Voice se recusasse a pagar, e entrar em uma batalha judicial com a AR, resultando em Villchur perder a patente.

Edgar Villchur era formado em História da Arte, mas era um inventor e desenvolvedor autodidata interessado na área de áudio – tanto que criou, na década de 50, um curso na NYU chamado “A Reprodução de Som”, e enquanto trabalhava para a Fundação Americana Pelos Cegos, em Nova York, inventou o que é considerado o primeiro elevador de braço amortecido para toca-discos – para que os cegos pudessem utilizar um toca-discos de vinil sem danificar a agulha ou o disco. O lift, claro, seria utilizado depois em 1963, no segundo produto mais famoso da Acoustic Research, o toca-discos AR.

Villchur tentou, na década de 50, vender ou licenciar sua patente da suspensão acústica para várias empresas, mas nenhuma considerou ela factível. Um de seus alunos na NYU era Henry Kloss, que construía gabinetes para caixas acústicas em um espaço que tinha em casa. A sociedade entre Villchur e Kloss fundou a Acoustic Research, em 1954.

Kloss saiu da sociedade em 1957 – quando a AR já era bem sucedida com seus modelos AR-1 e AR-2 – e fundou a empresa de caixas KLH, cujos modelos eram também suspensão acústica, com tecnologia licenciada da própria AR.

Por terem vendido muito, terem sido muito populares em sua época, as AR-3a são muito procuradas por colecionadores e saudosistas, e existe todo tipo de informação técnica sobre elas na Internet, incluindo peças de reposição e guias detalhados de restauração, tanto do divisor quanto dos gabinetes e dos falantes. E a AR era notória tanto pela disponibilidade de peças quanto por seu atendimento ao consumidor, e sua assistência técnica.

No mercado ainda hoje é possível encontrar AR-3a usadas, de 1000 a 2000 dólares, em bom estado cosmético e funcional – e até algumas restauradas. São caixas que foram concebidas mais de 60 anos atrás, e pensadas para serem usadas com a tela – e daí vem uma boa parte da ‘feiúra congênita’ de sua frente e falantes (coisa que algumas restaurações tentam melhorar).

O preço de um par de Acoustic Research AR-3a, no meio da década de 60, era de aproximadamente 500 dólares – o que daria, em valores atualizados, perto de 5.000 dólares.

MODELOS SEMELHANTES

A grande diferença entre uma AR-3 e uma AR-3a é o uso de médios e tweeters domo de melhor qualidade, com melhor dispersão – que foram ficando disponíveis alguns anos depois da AR-3 – e, claro, modificações no crossover. A AR-3 foi um sucesso para a empresa, mas o que solidificou o nome – e o faturamento – da Acoustic Research, foi a AR-3a.

Na época, a empresa lançou várias caixas para complementar a linha, como AR-5, AR-2AX e AR-8, com woofer de 10 polegadas – assim como três modelos com woofer de 8 – mas nenhuma com tanto sucesso quanto a AR-3a.

Nesse meio tempo, a KLH de Henry Kloss obteve um decente sucesso com várias caixas, como a original Model 5, assim como a modelo “Large” da Advent. Em 1964, Henry Kloss vendeu a KLH para a Singer Corporation, mas permaneceu na empresa até fundar, em 1967, a Advent Corporation.

COMO TOCAM AS AR-3A

Não se pode esperar que equipamentos e caixas de 60 anos atrás, possam competir seriamente com os atuais. Por isso, vale dizer que – apesar da grande relevância das AR-3a para a audiofilia da época – elas tinham um som velado nos agudos, sem extensão, e com graves que não tem deslocamento de ar para rock, pop e semelhantes. Mesmo à época, elas eram mais indicadas para jazz e música clássica (e eu diria mais para música de câmara).

SOBRE A ACOUSTIC RESEARCH

A AR foi fundada em Cambridge, no estado de Massachusetts, nos EUA, e teve como principais produtos uma grande linha de caixas acústicas, e o célebre toca-discos AR – cujos princípios mecânicos e de absorção de vibrações, influenciaram uma série de toca-discos célebres do mercado, sendo que alguns deles ainda estão em linha hoje.

O trabalho da AR se estendeu por décadas após seu principal fundador, Edgar Villchur, vender a empresa para o conglomerado Teledyne, em 1957. Depois, em 1989, a empresa foi novamente vendida, agora para a Jensen Electronics que, em 1996 passou a fazer parte da Recoton Audio Corporation. Hoje a marca pertence ao grupo VOXX International, que absorveu a Recoton, e que possui empresas como Klipsch, Onkyo, RCA, Jamo, entre várias outras.

A compra pela Teledyne, em 1967, exigiu que Villchur deixasse a empresa com a estipulação de não mais trabalhar com equipamentos de som. Villchur, então, passou a se dedicar à pesquisa de aparelhos de surdez, até seu falecimento em 2011, de causas naturais.

Bom agosto a todos! E muitos aparelhos de som!