Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
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Se os admiradores das cápsulas ZYX já se sentiram confusos com a variedade de produtos que este fabricante disponibiliza, imagine quem é marinheiro de primeira viagem?
Foi assim que me senti ao receber a cápsula R50 Bloom3, que testamos na edição 274, e depois de ficar impressionado com sua performance ao descobrir que estava ouvindo a modelo de entrada deste fabricante, foi difícil saber qual cápsula pedir na sequência para um novo teste! O Fernando Kawabe teve que se munir de enorme paciência para responder às minhas inúmeras dúvidas.
Felizmente, neste ‘ínterim’, a ZYX deu uma arrumada em seu confuso site (que site japonês não é confuso, caro leitor?), e as coisas realmente ficaram mais fáceis. Pelo novo site, ficou bem mais claro que existe uma linha de acessórios, três versões de cápsulas mono (R50 Bloom Mono, R100 e R1000 Airy3), a de entrada a R50 Bloom estéreo, a Ultimate 100, Ultimate Airy, Ultimate 4D, Ultimate Omega (com três versões de bobinas: puro cobre, prata, e ouro – por isso o G), Ultimate Diamond, Ultimate Dynamic, e a top de linha Ultimate Astro.
Ao ter um panorama geral de todos os modelos, achei por escolher a Ultimate Omega, para dar ao nosso leitor uma ideia do salto que ‘teoricamente’ existiria entre a Bloom3, de entrada, e uma série intermediária, mas sem ser de um valor fora da realidade mesmo dos audiófilos com uma carteira mais recheada.
Definida a série, veio outra grande dúvida: a escolha da bobina. Aí foi outro parto, pois as explicações no site das três opções são por demais simplificadas, levando qualquer consumidor a certamente ter que recorrer aos fóruns para tentar ouvir dos audiófilos o que eles acham de cada uma das possibilidades.
De forma simplificada, recorrerei à definição do próprio fabricante: a bobina de cobre utiliza cobre puro de 6N OFC, possibilitando um som bem ‘uniforme’ em toda a faixa audível. A bobina com fio de prata pura, por sua excelente condutividade, possibilita agudos mais estendidos e uma maior transparência na região média e nos graves. E, por fim, a bobina com fios de ouro 24K é produzida nos Estados Unidos, e foi desenvolvida para aqueles que desejam sons reais, naturais e suaves em todo o espectro audível.
“Não tendo nenhum tipo de coloração, produzindo timbres realistas’’. Essa última frase, depois de visitar e ler centenas de opiniões, continuou ‘ressoando’ em minha mente, e aquela voz ’interior’ martelando por dias: é essa, é essa… E acabei indo nessa direção.
Como todas as cápsulas, a partir da série Ultimate Omega, são feitas artesanalmente pelo próprio CEO Hisayoshi Nakatsuka – e entre a solicitação e a entrega, foram praticamente 80 dias. O Fernando Kawabe fez tudo que estava ao seu alcance para tentar entregar a cápsula junto com a chegada do pré de phono da Nagra, mas o Covid 19 e a quebra de um osciloscópio, atrasou a entrega em quase 20 dias, o que impediu que o teste do Nagra Classic
Phono tivesse a companhia de duas excelentes cápsulas: Hana Umami Red, e essa ZYX.
A Ultimate Omega G é muito diferente da Bloom3 em termos de construção, pois ela já possui o famoso objeto esférico azul na frente do corpo da cápsula, que minha filha assim que viu, apelidou de “verruga azul”. Este objeto é, na verdade, um peso de equilíbrio para fornecer o ponto de dissipação de vibração. Essa esfera não metálica, com peso de 1 grama, diâmetro de 2.5 mm, é colada na frente da cápsula. Segundo o fabricante, sua função é absorver todas as ondas vibratórias inerentes ao atrito da agulha com a superfície do disco. E fazer com que a leitura da agulha seja precisa nos sulcos.
Outro diferencial é a placa terminal em que são fixados os pinos dos cabos do braço, feita de carbono composto, que segundo o fabricante travam os pinos de forma a não vibrarem em hipótese alguma.
Mas as inovações patenteadas não param na esfera ou nesta placa, pois o cantilever, onde os melhores fabricantes utilizam boro, alumínio composto, diamante e até bambu, não atenderam as exigências sonoras de Nakatsuka-san, levando-o a desenvolver e patentear o primeiro cantilever de carbono C-1000 do mundo para uma cápsula MC. A haste de carbono é feita de 1000 peças de carbono composto (daí o nome de cantilever C-1000). Este carbono composto é mais rígido do que o alumínio, ferro ou titânio. Além de sua gravidade específica ser a metade do boro.
Segundo Nakatsuka-san, o cantilever de carbono oferece a mais ampla faixa de frequência e um desempenho de rastreamento muito superior a qualquer outro material utilizado em cantilever. Mas, segundo ele, o maior diferencial está na capacidade de limitar os maléficos sinais sonoros mecânicos que sempre, em qualquer tipo de cantilever, são refletidos – e o que volta à agulha diminui a
inteligibilidade e a microdinâmica. Aliás, este é um ponto recorrente em todos os fóruns que discutem os benefícios das cápsulas ZYX das séries Ultimate: a sensação de um descongestionamento na apresentação musical!
A cápsula é feita de uma resina não metálica, com dois tipos de material duros e leves o suficiente para evitar que vibrações externas influenciem a bobina, e ressonâncias que ocorram na superfície dos discos possam causar correntes ‘parasitas’.
A agulha de todas as séries Ultimate tem as bordas do diamante paralelas às laterais do cantilever, com o propósito de atuar como o ponto de contato com o sulco do disco, para um traçado mais estável e suave, para se extrair as mais sutis informações do disco. Segundo o fabricante, essa construção da agulha permite uma vida útil prolongada de mais 2000 horas em relação a outras agulhas de alto padrão!
A agulha é do tipo Micro-Ridge, desenvolvida no Japão, com um raio de contato sempre de 3μm pela ponta, e 60μm de espessura.
Para o teste instalamos a ZYX Ultimate Omega G no nosso toca-discos de Referência, o Origin Live Sovereign, braço também Origin Live modelo Enterprise de 12 polegadas, e clamp Gravity One, também da marca (leia Teste 4 nesta edição).
Os prés de phono utilizados foram o interno do integrado Gold Note IS-1000 (leia teste na edição 276), o Hegel V10 (leia teste na edição de novembro próximo), e o Gold Note PH-1000 (leia Teste 1 nesta edição). O sistema foi basicamente o nosso de Referência, e as caixas Wilson Audio Sasha DAW e Estelon XB MKII (leia teste na edição de novembro). Cabos de interconexão nos prés de phono: Sunrise Lab Quintessence Aniversário e Dynamique Apex. Cabos de força nos prés de phono: Oyaide no Hegel V10, e Sunrise Lab Quintessence Aniversário, Transparent G5 e Powerlink MM2.
Posso dizer com segurança que esta ZYX foi a cápsula com maior período de amaciamento que testei na vida, pois próximo de
100 horas ela ainda estava sofrendo mudanças significativas. Não que ela saia de um patamar que seja impossível ouvir, pois assim que instalada eu e o Maltese (que mais uma vez fez as honras de realizar todos os ajustes e instalação), ficamos ‘pasmos’ com os
detalhes em que os metais foram apresentados em uma gravação do Frank Sinatra, seguida por Steve Wonder, Milton Nascimento, etc.
De imediato, percebemos que todos os ‘requintes’ e cuidados na fabricação desta cápsula não são apenas marketing ou teoria. Pois tudo que o fabricante promete que ela fará, será cumprido à risca.
Mas ainda assim é chocante ouvir que a quantidade de informação ‘submersa’ em gravações que escuto a 30, 40, 50 anos, que nunca antes foram tão detalhadas e precisas.
A tortura é pela espera para saber o ‘cume’ que essa preciosidade pode alcançar depois de integralmente amaciada. E entre as 20 e 70 horas, o audiófilo terá que se munir de enorme paciência, pois seu equilíbrio tonal até estabilizar irá alterar muito.
O que eu quero dizer com alterar?
É ouvir o mesmo disco, as mesmas faixas, e um dia com 25 horas de amaciamento estar ruim, com 29 horas este mesmo disco estar audível, depois com 40 horas, soar estranho novamente, para a partir de 50 horas, você querer repetir o disco inteiro.
Tanto que o Maltese quis várias vezes vir fazer o ajuste fino/final, e eu impedi. Pois sabia que havia estrada a ser caminhada. Fico imaginando o audiófilo tipo ‘desesperado.com’, se olhando no espelho e dizendo: acho que fiz uma cagada! Para no outro dia ouvir o mesmo disco e sair gritando: “que maravilha!”.
Será uma montanha russa meu amigo, literalmente! Agora, adicione a esta equação dois prés de phono também amaciando, e o amigo leitor terá uma ideia exata da caixa de pandora que abri em nossa Sala de Testes. Mas, felizmente, após a tempestade vem sempre a bonança, e neste caso a bonança veio abençoada de musicalidade, realismo e conforto pleno!
A partir das 100 horas da ZYX – e das 200 horas do PH-1000 – o que este conjunto soou é para entrar na memória de longo prazo, como um dos mais belos setups analógicos que escutei na vida! Claro que sempre ouvimos aquela voz diabólica a nos dizer: se já está tão belo, imagine com o Nagra Classic, o que essa cápsula não renderia? Felizmente, com os dias transcorrendo em céu de brigadeiro, essa ideia logo se dissipou e pude desfrutar como poucas vezes de um setup com tamanha organicidade, intencionalidade e musicalidade.
Reouvi mais de 400 LPs no período de teste e, a cada disco, em cada faixa, foi possível detectar o grau de precisão de leitura desta cápsula, tenha sido nas gravações problemáticas ou nas melhores gravações que tenho, sempre escutei informações das mais banais às mais importantes.
A cápsula que mais perto chegou perto desta ZYX foi a Soundsmith Hyperion 2, e ainda assim o conforto auditivo aliado à alta resolução da Ultimate Omega G a coloca em uma classe à parte das outras excelentes cápsulas que tive ou testei. Pois o que a faz soar tão distintamente é o seu conjunto de qualidades.
Vamos a eles: tamanha é sua precisão de leitura, que o ruído de fundo dos discos é menor que qualquer outra cápsula que tive e testei.
Seu equilíbrio tonal é sempre impressionante, nos permitindo escutar gravações realmente ruins tecnicamente (logo eu que tenho centenas de gravações assim). Nunca passa do ponto, nunca endurece o sinal, e nos possibilita ouvir as gravações sempre com uma folga a mais no volume!
As texturas são as mais sedutoras que escutei, nos fazendo prestar a atenção em detalhes como a escolha dos microfones, posicionamento desses em relação ao instrumento, qualidade técnica do músico e do instrumento, detalhes da mixagem tanto das virtudes como dos defeitos e, claro, a intencionalidade como se estivéssemos presentes na gravação para ver como o virtuose resolve com desenvoltura aquela passagem complexa ou o músico esforçado penou para fazer o take bom.
Muitos dos leitores mais recentes me questionam se é verdade que podemos ‘ver’ o que ouvimos? Dúvida que desvanece assim que se escuta uma cápsula deste nível de performance! Acredite meu amigo, você ‘verá’ o que está ouvindo com essa ZYX Ultimate Omega.
Muitas vezes ouço excelentes cápsulas, extremamente corretas, em que os transientes são excepcionais, mas em alguns discos soam borrados. Sempre deduzi que talvez isso fosse algum problema referente a leitura da agulha, o próprio disco, prensagem, mixagem ou algum tipo de ressonância do cantilever. O disco matador para a ‘prova dos nove’, continua sendo para mim a faixa 1 do lado A de Friday Night in San Francisco com o trio de virtuoses de violão Meola, Lucia e McLaughlin. Os solos nessa faixa do Al Di Meola no canal direito e do Paco de Lucia no canal esquerdo, são de tirar o fôlego, tamanha velocidade, técnica e precisão – e mesmo algumas excelentes cápsulas se ‘embaralham’, nesta faixa. A sensação é que comeram notas.
Na ZYX, essa faixa soa de forma tão ‘explícita’ que é possível ver exatamente o que cada um dos músicos está a fazer. Como se o tempo fosse desacelerado para nosso cérebro acompanhar nota por nota – é melhor que tomar LSD, amigo leitor, acredite! É como exercitar seu cérebro para entrar em uma outra dimensão em que toda a música, dá mais simples à mais complexa, o grau de inteligibilidade seja pleno!
Então, para resumir: o que essa ZYX faz de melhor que as três melhores cápsulas que a revista já testou? Nada tão melhor que desqualifique as outras excelentes cápsulas. O que a difere está no domínio da precisão e no grau de conforto auditivo.
Aqui ela se mostrou soberana, e isso certamente está na fórmula encontrada pelo seu projetista em solucionar problemas decorrentes de uma leitura mecânica com enorme probabilidade de inúmeras limitações – que todos nós sabemos quais são. E que nos acostumamos a viver com elas, pois os benefícios são maiores que as limitações (em sistemas analógicos corretos, que fique bem claro).
As soluções encontradas pela ZYX, além de assertivas, colocam em xeque muitas outras opções que, ainda que boas em termos de performance, não alcançaram o resultado obtido pela ZYX!
O que posso garantir a você leitor é que, no caso específico desta Ultimate Omega G, o resultado de sua performance certamente é consequência direta de todas as descobertas feitas pelo seu projetista e colocadas em prática. Não se trata da sacada da esfera, ou do cantilever de carbono feito de mil nano pedaços. É a evolução de meio século fabricando cápsulas para terceiros que, para a ZYX, a diferencia da concorrência.
E o resultado é esse!
Fico imaginando o que as três séries acima podem resultar em termos de performance, pois eu me dou totalmente por satisfeito com essa Ultimate Omega G.
E sua relação custo/performance colocam em dificuldade cápsulas de renome que custam até três vezes o seu valor!
Quando se está há tantos anos na estrada de revisor, e se tem um método e foco para avaliar os produtos, fica bem mais fácil pegar determinados produtos de entrada, ouvir e sacar que aquele fabricante possui um DNA diferenciado.
Isso ocorreu com o teste da Bloom3, que ainda que não utilize todos esses requintes de construção existentes na série Ultimate, ficou claro que sua sonoridade tinha um ‘algo a mais’.
É muito prazeroso constatar que nosso ‘feeling’ estava correto e, ainda assim, se surpreender com uma performance acima do esperado.
Imaginava que, pelo seu preço, e por ser ainda uma série intermediária, a Ultimate Omega G, soaria como uma Hyperion 2, Hana Umami Red ou Air Tight PC-1 Supreme – cápsulas que tive e que foram excelentes referências por anos! Mas essa ZYX está acima de todas essas cápsulas em todos os quesitos da Metodologia, e com um grau de refinamento que a coloca no topo de todas as cápsulas testadas nos 25 anos da revista!
Dê a ela um excelente braço e pré de phono, e tenha a certeza que pode ser sua cápsula definitiva!
A melhor cápsula testada nos 25 anos da revista.
Tudo precisa estar à sua altura (braço, pré de phono e todo o setup).
ESPEFICICAÇÕES
Tipo | Moving Coil (“REAL STEREO” Generator System) |
Tratamento criogênico | À temperatura: -196º C |
Voltagem de saída | 0.24 mV (0.48 mV no modelo de saída alta) |
Resposta de frequência (±1dB) | 10 Hz – 100 kHz |
Separação de canais | 30 dB (1kHz) |
Equilíbrio entre canais | < 0.5 dB (1kHz) |
Força de tração recomendada | 2.0 g |
Gama de força de tração | 1.7 g – 2.5 g |
Compliância | • 15×10-6 cm/dyne (horizontal) • 12×10-6 cm/dyne (vertical) |
Impedância interna | 4.0 Ω (8.0 Ω no modelo de saída alta) |
Impedância de carga | 100Ω |
Fio da bobina | • 6N Copper φ 0.035 mm (modelo X) • 5N Prata φ 0.035 mm (modelo S) • K24 Ouro φ 0.035 mm (modelo G) |
Material do cantilever | Carbono C-1000 φ0.30 mm |
Agulha | Micro-Ridge (diamante sólido) |
Raio de contato / Tempo de vida | 3 μm×60 μm / 2000 horas em 2.0g |
Terminais de saída | φ1.25 mm K18 Ouro Sólido |
Placa de terminais | Placa de carbono composto |
Dimensões (L x A x P) | 25 x 16.8 × 16.5 mm |
Peso | 7.9 g |
CÁPSULA ZYX ULTIMATE OMEGA GOLD | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 14,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 14,0 | |||
Transientes | 14,0 | |||
Dinâmica | 13,0 | |||
Corpo Harmônico | 14,0 | |||
Organicidade | 14,0 | |||
Musicalidade | 14,0 | |||
Total | 110,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
KW Hi-Fi
(11) 95422.0855
(48) 3236.3385
R$ 31.200