Influência Vintage: AMPLIFICADOR INTEGRADO NAD 3020

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

A origem do termo ‘Vintage’ tem mais a ver com qualidade do que com ‘ser antigo’. Vintage vem do francês ‘vendange’, que se refere a uma safra de vinhos cuja qualidade das uvas, do clima, e do processo de produção, fizeram com que tal vinho resultasse excepcional. Ou seja, ‘vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – não é necessariamente ‘antigo’. O termo, então, passou a ser usado para falar de algo que é interessante e antigo e, depois, apenas para designar algo antigo.

Esta é uma série de artigos que, todo mês, abordará caixas, amplificadores, e outros equipamentos que ainda fazem a cabeça de alguns audiófilos, alguns que ainda são usados, colecionados e admirados, e que influenciam (ou influenciaram) o mercado de áudio mundial.

O MITO DO AMPLIFICADOR INTEGRADO NAD 3020

Lançado em 1978 (e mantido em linha em versões posteriores até 1993), o 3020 é um amplificador integrado transistorizado, com design slim, que traz controles tonais e pré de phono MM incluso (com phono MC também no modelo 3020B), além de entrada ‘Power’ e saída ‘Preamp’, e saída para fones de ouvido.

É considerado um dos amplificadores mais importantes e significativos da história da alta fidelidade, e um dos mais vendidos até hoje (só o 3020 original vendeu mais de meio milhão de unidades!). Ele tinha uma etiqueta de preço atraente para a época: US$135, em 1978 (equivalente a aprox. US$600 em valores de 2022).

Em uma época onde os mega receivers japoneses brigavam entre si para ver quem conseguia prover mais potência – alguns chegando até 250W! – o integrado da NAD ostentava apenas 20W por canal em 8Ω (modelos 3020 / 3020A / 3020i) chegando à 25W por canal em 8Ω (modelos 3020B / 3020E), potências que não chegavam a dobrar em 4 ohms, mas que eram suficientes para apresentar bons resultados em alta fidelidade com muitas das caixas acústicas da época, que tinham sensibilidade mais alta que hoje em dia. E uma de suas grandes sacadas técnicas é a capacidade de aguentar cargas que podem chegar tranquilamente até 3 ohms – e como resultado disso, o 3020 lidava melhor com caixas ‘difíceis’ de tocar, cuja curva de impedância era mais ampla e complicada.

Seu circuito usava os mesmos transistores de saída de amplificadores que proviam até 60W por canal – e isso, segundo a NAD, garantia uma maior estabilidade, folga e baixa distorção ao operá-los em apenas 20W por canal. Inclusive, durante o lançamento do aparelho na Consumer Electronics Show (CES), a NAD demonstrou-o ligado à uma bateria de caixas acústicas que, juntas, tinham uma impedância de 1.1 ohm – e isso sem detrimento ao funcionamento do 3020. Depois, no lançamento no Reino Unido, o mesmo foi demonstrado com um par de caixas Linn Isobarik, notória à época por sua dificuldade de ser empurrada e controlada.

A sonoridade do 3020, de acordo com vários testes dele, era mais para o quente e escura, com ‘médios doces e sensuais’, mas com falta de extensão especialmente nos agudos, mas graves cheios e poderosos. Seu palco, diziam, carecia um pouco de foco e precisão, mas ainda assim era um tremendo custo/benefício, e sua macro-dinâmica era surpreendente pela potência – apesar da micro-dinâmica não acompanhar. Era, segundo a revista The Absolute Sound, “melhor do que muitos amplificadores de US$200”.

Após seu lançamento, rapidamente a imprensa especializada começou a adorar o custo/benefício do 3020, com a revista Stereophile chamando-o de “ridiculamente barato” por prover uma qualidade de som superior aos seu concorrentes na mesma categoria de preço, e por ser o primeiro amplificador integrado que conseguia lidar com a carga de caixas mais difíceis de tocar. O 3020, dizia a imprensa, veio para revolucionar o mercado de alta fidelidade!

E, elogiado ainda hoje como destaque do aparelho, por seu silêncio de fundo, som cheio e expressivo, estava seu pré de phono, que o desenvolvedor projetou para ter baixíssima distorção e nível de ruído (mesmo em MC), com um circuito que usa apenas 6 transistores.
O sucesso do 3020 levou várias empresas de áudio a fazerem seus próprios amplificadores integrados na mesma categoria de preços, como por exemplo: ARCAM Alpha, Rotel 840, Mission Cyrus I, Pioneer A400, Denon PMA-350, e PM-40SE – apesar da mídia sempre dizer que nenhum desse chegava no NAD 3020.

E, da própria NAD, as variantes foram o 3020B (com melhores bornes de caixas), o 3020E, uma versão ‘audiófila’ chamada de 3120 (sem controles tonais), e o 3020i (com circuito melhorado cujo preço chegou a US$250 em 1991). Depois veio o receiver 7020, com o mesmo circuito, e a versão pré, chamada de 1020, além de aparelhos que usavam parte dos circuitos do 3020, como os amplificadores 3220PE e 3225PE. E, finalmente, em 2013, no aniversário de 40 anos da empresa, a NAD lançou o D3020, um amplificador digital de bom preço, inspirado na motivação que levou eles a projetarem o primeiro 3020.

SOBRE A NAD

A empresa NAD Electronics – sigla que significa New Acoustic Dimension – foi fundada em Londres na década de 70, pelo engenheiro e físico Dr. Martin L. Borish, em parceria com o engenheiro projetista norueguês Bjørn Erik Edvardsen, sendo que ambos se conheciam ao ter trabalhado por anos na Acoustic Research (AR), fabricante inglesa de caixas e equipamentos, onde Borish era CEO e Presidente.

Em 1976, Borish renunciou ao cargo na AR e, no ano seguinte, a NAD finalizou o projeto de seu primeiro produto: o amplificador 3020, que foi oficialmente mostrado na feira CES, em janeiro de 1978.

A NAD foi vendida para a empresa dinamarquesa AudioNord, em 1991 e, depois, em 1999 passou para as mãos do Lenbrook Group (NAD, PSB Speakers, Bluesound), do Canadá, que sedia a empresa até hoje em Pickering, na província de Ontário. Edvardsen permaneceu na NAD como Diretor de Pesquisa Avançada, até seu falecimento em 2018. O Dr. Martin Borish, que começou a vida profissional como optometrista e revendedor de equipamentos hi-fi – e depois como funcionário da AR – também prestou serviços ao Lenbrook Group, como consultor de Produtos & Marketing de suas marcas. Borish faleceu em 2017, mas seu legado continua!

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