Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Foi mais difícil escolher a chamada de capa para o teste deste produto, do que escrever o teste propriamente dito – acredite!
E com a chegada da caixa Estelon X Diamond Mk2 na sequência, e a enorme sinergia alcançada com ambos no sistema, resolvi utilizar a chamada de capa também para o teste da Estelon (que será publicado em maio) como parte 2, pois me pareceu que um é a extensão primorosa do outro.
Então meu amigo leitor, Verdade Sonora 1 é uma tentativa de descrever o que os powers Nagra HD AMP são capazes de nos proporcionar em termos de prazer auditivo/emocional.
Mas, antes, quero que você veja com enorme atenção a construção desses monoblocos, enquanto descrevo suas características, e mesmo que você seja completamente leigo em termos de topologias, perceba o grau de limpeza e ao mesmo tempo como tudo possui espaço e nada está amontoado ou necessite de horas de desmonte de placas para ter acesso à alguma placa do circuito. Isso é algo raro mesmo em produtos superlativos e, acredite, nada disso foi escolhido por acaso.
Pois os engenheiros da Nagra se debruçaram neste projeto por três anos, e nos últimos meses desse processo, os principais componentes foram todos exaustivamente comparados, para ver o que ainda era possível se extrair em termos de performance.
Como já mencionei em outros testes de produtos da Nagra já publicados, os protótipos são ouvidos por todos os engenheiros envolvidos no desenvolvimento, em seus sistemas, em suas salas. E entre os engenheiros, a Nagra tem em seu quadro: músicos, engenheiros de gravação e produtores musicais.
O diretor da divisão de áudio – Matthieu Latour – em diversas oportunidades enfatizou seu orgulho da linha HD, lembrando que para se atingir o resultado esperado, não houve nenhuma restrição orçamentária ou definição do preço final de cada produto dessa série.
O único objetivo era desenvolver uma linha que contasse a história dos 70 anos da empresa, apresentando todo o conhecimento e expertise adquiridos nessas sete décadas! E Matthieu Latour sempre ressalta que a Nagra tem como objetivo: “Atingir a melhor solução técnica para o melhor resultado, seja com que topologia for, pois ‘não somos religiosos’ sobre qual tecnologia é melhor, queremos apenas atingir o máximo com o que nos propomos a desenvolver”.
Quando perguntaram a ele a razão do HD ser de estado sólido e não valvulado, sua resposta foi objetiva e direta: “É indiscutivelmente mais prático projetar um amplificador transistorizado de 250 watts em termos de confiabilidade, dissipação de calor, tamanho, etc.”.
Ao contrário da série Classic, com gabinetes muito menores, o power HD seguindo toda série tem dimensões grandes que necessitarão de espaço à sua volta. Medindo 238 mm de largura, 644 mm de altura e 542 mm de profundidade, não tem como não se notar esses monoblocos imponentes à nossa frente.
E pesando mais de 50 kg, foi necessário a ajuda do Robério (sempre ele), para conseguir instalá-lo em nossa sala, nas plataformas em que utilizo todos os powers em teste. Ele vem embalado em cases individuais, muito seguros, o que facilita seu transporte, mas não arrisque fazer isso sozinho pois será impossível.
Seu acabamento é deslumbrante e, ao mesmo tempo, limpo, pois na sua frente apenas o enorme modulômetro, marca registrada da Nagra, mas muito maior que o da linha Classic. E com os comandos de Desligado, Mute e Ligado, e um LED discreto amarelo quando está sendo acionado, que se apaga quando estiver estabilizado, ou vermelho se estiver em proteção. E uma micro-chave para o ajuste de brilho do modulômetro.
Nas costas temos, em cima, uma saída de ar, depois abaixo as entradas RCA ou XLR, uma chave de sensibilidade de entrada para ser compatível com diversos prés de linha que se queira utilizar, que pode ser ajustada em 1v ou 2v, e abaixo dois terminais de caixas padrão Cardas e, bem embaixo (quase rente a base), entrada IEC para cabo de 20 Amperes.
Dentro na base encontra-se o transformador toroidal de 1.600 VA, a placa à frente do transformador que hospeda a regulagem de dispositivos Mosfet, e todos os circuitos de entrada e saída do sinal. E, no topo, próximo a saída de ar, os oito enormes capacitores Mundorf personalizados e feitos sob medida para esse projeto específico.
A especificações dos HD AMP trazem potência de saída (<1% THD, 8/4 ohm) de 290 W / 475 W, e potência dinâmica (<1% THD, 8/4/2/1 ohm) de 330 W / 621 W / 1,11 kW / 1,65 kW (de acordo com medições de laboratório feitas em teste objetivo pela revista Hi-Fi News). A impedância (em 20 Hz – 20 kHz/100 kHz) é de 0,019 – 0,022 ohm / 0,142 ohm, e resposta de frequência é de 20 Hz – 20 kHz/100 kHz (em +0,0 a –0,6 dB / –1,38 dB). A sensibilidade de entrada (para 0 dBW/250 W) é de 65 mV / 1030 mV, e a relação sinal/ruído (em 0 dBW/250 W) é de 84,6 dB / 108,6 dB. A distorção (em 20 Hz-20 kHz, 10 W/8 ohm) é de 0,0015–0,044%. Com consumo de 161W (inativo) e 430 W (em uso), o Nagra HD AMP tem dimensões de 238 x 644 x 542 mm e peso de 56 kg cada.
A Nagra diz que todos os seus produtos antes de serem enviados passam por uma queima inicial de 72 horas – que em todos os testes de produtos que fizemos, não se mostrou suficiente (e olha que só não testamos o toca-discos Nagra HD. Então assim que os colocamos na sala, fizemos a primeira audição e o pusemos imediatamente em queima por 100 horas.
As conclusões preliminares deste primeiro contato foram feitas com ele ligado na Wharfedale Elysium 4, e nos surpreendeu o quanto a caixa subiu em termos de detalhamento em micro-dinâmica e como ganhou corpo na região médio-grave em relação ao Nagra Classic, nossa Referência!
O que me fez escrever em minhas anotações pessoais: quantos rounds o power Classic aguenta? Estou nessa estrada há tempo suficiente para não fazer projeções ou conjecturas de nada sem ouvir. Pois aprendi que muitas vezes o que parece óbvio não é tão óbvio assim, e que o ‘imponderável’ – assim como norteia nossas vidas – também o faz nesse segmento de áudio de nível superlativo.
Então deixei o rio seguir seu fluxo, e só voltei a ouvir com real interesse o power HD quando este completou 200 horas. E aí a ‘realidade’ se mostrou muito mais complexa e clara do que minha mais criativa imaginação poderia me propor.
Primeiro: achar que o power HD é uma ‘melhoria’ do power Classic, é um erro descomunal! Pois trata-se de um produto de uma superioridade tão acachapante, que não dá sequer para dizer que o HD é apenas mais refinado que o Classic. São de universos distintos. E com a chegada da Estelon, com duzentas horas de queima do HD, tudo se tornou ainda mais evidente e explícito em relação às diferenças. Pois a Estelon X Diamond Mk2, também é de outra magnitude em relação à nossa caixa de referência e à Wharfedale que estava em teste.
Mas deixemos essa questão para o teste da Estelon, em maio, e voltemos ao Power Nagra HD.
Eu gosto muito de testar produtos que tenham uma assinatura ‘autoral’, e não sejam apenas o correto ou o feito em escala com o que é a nova ‘tendência’ sonora. Pois um produto autoral conta uma história, e quando bem feito é digno de ser apreciado por todos que entendam a diferença entre um produto que possua características que fogem do lugar comum e escrevem sua própria trajetória.
Poucos produtos nesses 25 anos da revista tiveram a capacidade de realizar tamanho feito, e na magnitude realizada por esse power HD da Nagra – nenhum outro chegou a ser acolhido pela sua sombra!
Tentarei expor o que consegui extrair em termos de sonoridade desse power, nos 45 dias em que esteve em nossa sala. E, claro, comparando-o o tempo todo com o Nagra Classic, afinal alguma semelhança em sua assinatura teria que ter – feitos do mesmo DNA.
E é aí que tudo fica mais chocante, pois a beleza que o power Classic tem (leia o teste na edição 260), com todos seus inúmeros atributos de musicalidade, folga auditiva, inteligibilidade, conforto, são eclipsados quando ouvimos os mesmos discos no power HD.
Então descrever o HD como melhor lapidado, ou refinado, é uma sonora injustiça com esse amplificador.
Perguntado como descreveria então esse power, demorei alguns segundos para formular minha resposta, pois faltou-me uma descrição honesta e convincente, até que me veio o que para mim traduz de forma sucinta o que representou ouvi-lo.
É a única apresentação que tive a oportunidade de constatar não ser reprodução eletrônica! Seu cérebro não o fica questionando o que estamos a ouvir, tamanho realismo, precisão e naturalidade! Chegando, em muitos momentos, a me ver pensando que preferia o conforto de minha sala a estar ao vivo escutando aquela obra.
E isso jamais ocorreu, amigo leitor.
Nunca!
Sempre preferi a apresentação ao vivo a qualquer setup, por mais bem ajustado que fosse, pois essa comparação era impossível de ser viável, tamanha diferença entre uma eletrônica e a música ao vivo.
Escutando minhas dezenas de gravações de quartetos de cordas, duos, trios e solistas, me pegava relaxadamente, me falando: que bom estar aqui sem o ruído de vozes, celulares, tosse, embalagens de celofane, e o burburinho incessante humano.
Claro que esses momentos só ocorreram em gravações primorosas, sem compressão ou equalização, mas foram o suficiente para eu entender o grau de performance dos powers Nagra HD AMP quando ligados às Estelon X Diamond Mk2.
A música flui com total liberdade e não como reprodução eletrônica, nos permitindo estar presente e ser brindado com informações que parecem enevoadas em outros excelentes amplificadores. Estou falando de powers também de nível superlativo, obviamente, e alguns tão ou mais caros que o HD AMP.
Nada se perde e, no entanto, não precisamos fazer esforço adicional algum para sermos envolvidos plenamente pelo acontecimento musical. Esteja a ouvir obras complexas sinfônicas, ou um solo à capella. Então, não se preocupe em ter que selecionar determinados gêneros para explorar toda sua magnitude, pois o HD AMP não tem preferência alguma.
Leio muito em fóruns e testes, que determinado power é excelente para reproduzir vozes, ou determinados instrumentos ou gêneros musicais.
O Nagra HD desconhece essas escolhas.
Tudo soará integralmente (veja que não estou falando de neutralidade e sim de integralidade), coeso, uniforme, dos tamanhos que foram captados, que quando comparada essa mesma gravação em termos de corpo harmônico, com o Classic, fica evidente a razão se ser tão mais realistas as gravações no HD AMP do que no Classic.
Pois como sempre enfatizo, nosso cérebro, quando treinado pela referência do instrumento real, reconhece o que se aproxima ou não em tamanho na reprodução eletrônica.
Outro ‘gargalo’ tão difícil de se resolver, que é a macro-dinâmica, no HD com o par certo de caixa acústica irá surpreender até o mais fanático por essa busca tão insana. Pois a macro-dinâmica é tão bem reproduzida que fará a alegria de muitos que adoram pregar sustos em seus amigos.
Não é um cofre de uma tonelada caindo a sua frente, pois pirotecnia não é o forte da eletrônica Nagra, mas um instrumento de percussão oriental, tímpanos, bumbos, contrabaixos tocados em arco ou órgão de tubo, são magistralmente apresentados e com um detalhe: uma folga suprema!
Pois os graves deste Nagra possuem algo raro em qualquer amplificador de alto nível: autoridade, energia e deslocamento de ar, na medida correta.
Ouvindo os discos do baixista Jaco Pastorius (CD e LP), a princípio achei que a fundamental no power Classic era até mais bem definida, até me tocar que o invólucro harmônico que o HD reproduz é tão mais correto e preciso, que as notas são muito mais precisas e integrais!
O mesmo ocorre com vozes masculinas e femininas, pois a muito mais informação da técnica vocal, traquejos, barulho de boca, que nossa atenção é transportada para aquele ‘umbral’ em que ‘vemos o que ouvimos’ como nunca antes ocorreu com nenhum amplificador que já testamos ou ouvimos!
Estenda essas observações para qualquer solista, em que a técnica e intencionalidades se tornam tão evidentes que conseguimos ‘observar’ o grau de dificuldade exigido para aquele resultado.
Porém, antes que você pense que tudo isso é consequência de uma transparência absoluta, esqueça isso meu amigo, pois o Nagra não enfatiza absolutamente nada que não esteja no processo final da gravação.
O que ele faz é apresentar exatamente o que, ‘intencionalmente’, era para ser apresentado, e que por inúmeros motivos as eletrônicas têm dificuldade em fazê-lo.
Isso nos leva ao alto grau de seu equilíbrio tonal, que coloca em xeque outras propostas de alto nível – afinal se ele consegue realizar essa tão sonhada e desejada ‘integridade’ do acontecimento musical, os outros também podem (ou deveriam, se este é o seu conceito de alta fidelidade).
E aí está a razão da chamada de capa deste produto, pois o que o Nagra HD AMP nos propicia é verdadeiramente ouvir o que foi gravado. Sem adicionar ou retirar nada, e que em conjunto com a Estelon se potencializou ainda mais, pois ambos possuem esse mesmo propósito.
Os leitores me questionam se essa é uma tendência de mercado (buscar a maior neutralidade com o maior conforto auditivo). Não poderia dizer que seja uma tendência solidificada, mas percebo cada vez mais fabricantes galgando esse chão. O que para mim é um avanço monumental, pois dará a oportunidade de muitos audiófilos resgatarem todos os seus discos, algo inimaginável em termos de setups de até cinco a seis anos atrás. Pois o que sempre se pregou foi: o sistema hi-end irá mostrar as limitações das gravações, então o que é ruim, soará péssimo em um sistema de alta fidelidade.
E, editorialmente, sempre fomos contrários a essa visão, pois o sistema não pode ser mais importante que a música: é uma inversão de valores estúpida. E que só levou milhares de audiófilos no mundo a desistirem desse hobby. Pois parecia algo como correr atrás do pote de ouro no fim do arco íris.
Felizmente muitos fabricantes perceberam o erro, e estão fazendo uma correção de rota.
Mas sem usar ‘bandaids’, como aliviar sistemas brilhantes com cabos, ou passar a sensação de mais graves com sistemas ‘retumbantes’ em baixas frequências.
Como eu escrevo faz tempo, o mercado mudou, e com os avanços tecnológicos foi possível corrigir essas distorções de conceito e voltar à razão de existir a alta fidelidade: possibilitar o consumidor escutar seus discos com prazer e a menor fadiga auditiva, independente da qualidade técnica da gravação.
Agora imagine esse ‘conceito’ ser levado ao extremo das possibilidades atuais?
Esse é o power Nagra HD AMP, meu amigo.
O que ele faz é exatamente provar de forma inquestionável que qualquer gravação, se escutada em seu volume de masterização (e não acima), será plenamente satisfatória! Agora, imaginem em boas gravações técnicas e com grandes músicos, o nível de prazer emocional que pode ser alcançado?
Por isso a chamada de capa ser a Verdade Sonora, pois o que os engenheiros da Nagra alcançaram põe por terra a falácia que o hi end não foi feito para reproduzir gravações tecnicamente ruins.
Fiz questão, nos 45 dias em que tive o privilégio de ter esse produto em teste, ouvir minhas gravações que adoro, mais cavernosas, e o prazer auditivo foi pleno, pois muitas dessas gravações me são muito caras emocionalmente, pois contam grande parte de minha trajetória de vida e de minha família. Antes que me perguntem, claro que as ouço nos meus powers Classic sem esse deleite auditivo.
‘Integridade’ é uma palavra que terá que ser incorporada ao uso em nossos testes, quando outros produtos também estiverem nesse nível de performance.
E espero ter sido feliz na minha descrição do que é o power Nagra HD AMP, pois o que este produto atingiu em termos de performance extrapola em tudo que já observamos em qualquer produto por nós testado.
Claro que sei tratar-se de um produto fora da realidade de 99,99% dos leitores, mas não posso deixar de testar um produto apenas por ser inviável à esmagadora maioria dos humanos.
E poder compartilhar com vocês o nível que a reprodução eletrônica atingiu, já justifica o teste, pois não é pelo fato de não podermos ter algo que iremos negar sua existência.
E para o 0,1% de leitores que possam chegar a esse nível de performance, não perca seu tempo e escute-o, pois, nas condições ideias não existe a possibilidade de não se render às suas inúmeras virtudes.
O mais impressionante power já testado por nós.
Inacessível aos mortais.
Potência de saída | 250 W em 8 Ohms / 500 W em 4 Ohms |
Impedância (20 Hz-20 kHz/100 kHz): | 0,019-0,022 Ohm / 0,142 Ohm |
Resposta de frequência | +0,0 a -0,6 dB / -1,38 dB |
Sensibilidade de entrada (para 0dB W/250 W) | 65 mV / 1030 mV |
Relação Sinal/Ruído (A-wtd) (re: 0dB W/250 W) | 84,6 dB / 108,6 dB |
Distorção (20 Hz-20 kHz, 10W/8 Ohm) | 0,0015-0,044% |
Consumo de energia. (inativo/avaliado o/p) | 161 W / 430 W |
Dimensões (L x A x P) | 238 x 644 x 542 mm |
Peso | 56 kg (cada) |
AMPLIFICADORES MONOBLOCO NAGRA HD AMP | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 15,0 | |||
Soundstage | 14,0 | |||
Textura | 14,0 | |||
Transientes | 14,0 | |||
Dinâmica | 14,0 | |||
Corpo Harmônico | 14,0 | |||
Organicidade | 14,0 | |||
Musicalidade | 16,0 | |||
Total | 115,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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