Teste 2: CABOS DE INTERCONEXÃO E CAIXA NORDOST TYR 2

Teste 3: FONE DE OUVIDO GRADO REFERENCE SERIES RS1e
agosto 16, 2019
Teste 1: DAC dCS ROSSINI
julho 8, 2019


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

O novo distribuidor no Brasil da Nordost é a AV Group, desde o segundo semestre do ano passado. No começo de janeiro, eles nos enviaram uma bela maleta com todos os cabos da linha Norse da Nordost, com um cabo de interconexão RCA de 2 metros e um par de 4 m de cabos de caixa. Esta linha, abaixo da linha Valhalla 2, é constituída dos seguintes modelos: Heimdall 2, Frey 2 e Tyr 2. O consumidor encontrará nesta série também os seguintes cabos: USB, Digital Coaxial e AES/EBU e de força.

Com o envio de toda a linha Norse de caixa e interconexão, decidimos começar as nossas avaliações pelo Tyr 2, o mais próximo das linhas Valhalla 2 e Odin 2, e ir descendo. Assim o leitor terá uma ideia consistente, dentro de nossa metodologia, de onde cada um desses cabos se encaixa dentro da marca e, também, qual poderia ser um upgrade seguro para cada sistema.

Gosto muito da filosofia da Nordost de utilizar em todos os seus produtos o que eles chamam de construção progressiva. Como os cabos da linha de entrada Leif, a série Norse 2, utiliza condutores de cobre OFC banhados à prata, isolamento FEP (teflon) extrudado e uma construção ajustada mecanicamente.

Outros avanços tecnológicos que, segundo o fabricante, os levam ainda mais perto das linhas Valhalla 2 e Odin 2 em termos de performance, é o uso de uma tecnologia de mono-filamento de patente proprietária, que cria um dielétrico de ar virtual enrolando um filamento em uma espiral precisa ao redor de cada condutor, antes de colocar uma ‘luva’ em cada condutor. Minimizando o contato com o condutor, e reduzindo drasticamente a absorção dielétrica enquanto se amplia o amortecimento mecânico e a precisão geométrica.

Os cuidados vão além, nesta nova série, com ajustes mecânicos na construção com comprimentos mecanicamente ajustados para reduzir a microfonia interna e a ressonância de impedância de alta frequência.

Na apresentação do modelo Tyr 2 o fabricante ressalta que seus atributos sonoros são mais silêncio de fundo, maior arejamento tanto em torno dos instrumentos como na apresentação de ambiência e uma maior faixa dinâmica e, segundo a Nordost, muito mais próximo dos consagrados Valhala 2 e Odin 2.

O isolamento do Tyr 2 de interconexão é o Etileno Propileno Fluorado (FEP), em construção com camadas mecanicamente sintonizadas e design duplo de mono-filamento. Os condutores são 7 x 24 AWG, núcleo sólido de cobre OFC 99,999999% banhado à prata, com capacitância de 33.0 pF/pé, indutância de 0,045 uH/pé, e velocidade de propagação de 86%.

Para o teste nesses quatro meses utilizamos o Tyr 2 em conjunto com nossos cabos e também com o Frey 2, para termos uma ideia exata da assinatura sônica de um setup Norse 2. Em todos os produtos que estiveram em teste neste período, ou que ainda estão, temos utilizado direto tanto o cabo de interconexão Tyr 2 como o de caixa.

Tentei de todas as maneiras, amigo leitor, conseguir um Tyr versão anterior para conhecer, já que com esta linha Norse nunca havia tido contato anteriormente. Então meu único recurso foi buscar as anotações referentes ao Valhala 1 e 2, e ao Odin 2 que testei.

Muitos devem se perguntar: mas em que diabos as anotações pessoais do Andrette podem ajudá-lo? Já que foram feitas com outros sistemas e em épocas bem distintas! Minhas anotações pessoais, que utilizo para registro de minha memória auditiva, vão muito além de observar o comportamento auditivo de um produto em teste. Geralmente, nessas anotações utilizo nossas gravações ou gravações que nos acompanham desde o pontapé inicial de nossa metodologia no longínquo ano de 1999! Nessas anotações eu descrevo muito mais sensações ou detalhes que me chamaram a atenção, como por exemplo: texturas, inflexão e técnica vocal e virtuosidade dos instrumentistas, comportamento do produto em volumes bem reduzidos, ou em volumes próximos ao limite do que foi mixado. Planos, em termos de foco, recorte e profundidade e sobretudo o grau de musicalidade e o grau de imersão no acontecimento musical.

Eu já fazia este processo mental com a mais tenra idade, quando meu pai, depois do jantar, me perguntava se eu podia ajudá-lo na escolha de um componente para substituir um original em nossa fatídica reserva de mercado, em que importar um transistor, um capacitor ou uma resistência era um parto! E lá ia meu pai, na busca de uma solução menos ‘nociva’ para aquele equipamento em conserto. E solicitava meu par de orelhas para ajudá-lo a encontrar uma solução. Às vezes o ‘caminho das pedras’ já estava sedimentado, outras inúmeras vezes não.

E foi daí que desenvolvi a técnica de guardar no meu hipocampo as observações que fazia ouvindo sempre os mesmos trechos de música no equipamento de nossa casa. Não pensem que depois de alguns anos eu acertava de primeira. Pelo contrário, à medida em que minha referência de sistemas foi refinando, com as visitas aos clientes do meu pai, eu sempre queria que ele arrumasse soluções melhores. Aí, com sua paciência Zen, lá vinha ele me falar dos malefícios da reserva de mercado e toda sua dificuldade em conseguir componentes originais.

Voltando ao que interessa. Ainda que minhas anotações estivessem defasadas, foi um norte escolher os mesmos discos e faixas para escutar o Tyr 2 de interconexão e o de caixa. Desde o primeiro momento, o que se escuta nos Tyr 2 é uma mistura de folga, com velocidade e silêncio de fundo cativantes.

Arriscaria dizer que, no cabo de caixas, essas mesmas qualidades demoram um pouco mais (terá a ver com a construção em mono filamentos em paralelo, distribuídos em uma larga fita?). Mas, quando elas surgiram, esta dupla teve um desempenho sônico exemplar!

O RCA possui um grau de compatibilidade excelente, fosse trabalhando entre o pré de phono e o pré de linha, ou entre prés e powers, ou entre DAC e pré de linha. A melhor forma de descrever o Tyr 2 é que, em poucos segundos, seu cérebro para de pensar no que está ouvindo e se concentra só na música. Sua micro-dinâmica me deu a nítida impressão de ser superior ao Valhalla 1, e muito mais próxima do Valhalla 2. E estamos falando de um cabo que custa o dobro do preço!

Seu caráter sônico é sempre incisivo, retratando o tempo e ritmo com enorme autoridade e nos brindando sempre com uma folga e silêncio de fundo que nos fazem perguntar se realmente necessitamos mais em termos de performance.

Outra questão levantada, em diversos fóruns, por quem teve o Tyr 1 e realizou o upgrade, fala da melhora no corpo e peso na região do médio-grave, e a maior extensão tanto nas altas como na primeira oitava embaixo. Como não ouvi o Tyr 1, não tenho como dar minha opinião, mas posso testemunhar que no Tyr 2 esta limitação não existe. Desde as primeiras horas de amaciamento (com 15 horas) que seu equilíbrio tonal foi excelente. Agudos com grande extensão, decaimento perfeito (para se ouvir as ambiências), corpo, naturalidade no timbre e velocidade.

A região média é de uma beleza digna de cabos muito corretos e refinados, é palpável e integralmente natural para vozes e instrumentos musicais. Os graves possuem aquela solidez tão procurada nos cabos de referência, com corpo e velocidade também surpreendentes.

À medida em que o amaciamento foi se acelerando, as diferenças audíveis se concentraram no aumento da largura e profundidade do palco, e na precisão com que o foco e o recorte se delimitaram entre as caixas. Gosto muito, neste período em que o soundstage vai se firmando, de ouvir apenas obras sinfônicas ou pequenos grupos como quartetos de cordas, pois monitoro todos as mudanças no soundstage (quartetos para observar foco e recorte, e obras sinfônicas para ver a ampliação das camadas dos naipes tanto na profundidade como na largura).

O Tyr 2 vai muito além de retratar os planos dos naipes de uma orquestra, apresentando uma imagem quase holográfica e 3D dos solistas, tanto em termos de corpo como de silêncio à sua volta. Com 100 horas, o soundstage se acomodou, e não sofreu novas alterações significativas.

Também li em alguns fóruns audiófilos que diziam ser o Tyr 1 mais analítico do que quente, com determinadas eletrônicas. Se esta limitação realmente existia, foi totalmente corrigida na versão 2. Achei o equilíbrio entre silêncio e musicalidade perfeito. E para aqueles que desejam entender como avaliamos esta questão, basta se aterem à dois quesitos de nossa metodologia: textura e micro-dinâmica. Ambos não podem sobressair um ao outro. Pois se aquele triângulo no meio da orquestra soa com o mesmo impacto que o instrumento solo acredite, meu amigo, seu sistema está realmente puxando para o analítico, e este grau de informação secundária irá, em audições mais prolongadas, cansar.

Por outro lado, se a micro-dinâmica é sempre difusa e as texturas são sempre realçadas com muita ênfase (principalmente instrumentos acústicos e sopros), com flautas sempre doces e sedosas mesmo na última oitava mais aguda, ou trompete com surdina que parece que a surdina é feita de feltro, você também terá problemas, pois ainda que encante no começo, seu cérebro irá reclamar que o instrumento real não soa assim!

Então, conseguir o equilíbrio entre esses dois quesitos mostra com eficiência o nível de qualquer componente do sistema. Um amigo meu baterista sempre diz que, para ele avaliar textura, coloca para escutar solos com uso de muita caixa com a esteira fechada. Se a textura está ‘adocicada’ parece que o baterista substituiu a baqueta por uma meia (claro que isto é uma piada, mas alguns sistemas mais contemplativos realmente distorcem e, vou além, também distorcem a reprodução de transientes).

Nos nossos Cursos de Percepção Auditiva, explicamos com inúmeros exemplos como todos os quesitos da metodologia interagem e como nosso cérebro codifica e interpreta essas questões.

O Tyr 2 é muito coerente, e seu silêncio de fundo não se sobrepõe à apresentação de texturas. Elevando-o ao seleto grupo de cabos que são superlativos não por destacarem algo, mas sim por apresentarem o todo com forma, equilíbrio e beleza.

Desde o primeiro Blue Haven, testado em 1998, que destaco a velocidade dos cabos Nordost. Brincava que eles pareciam ser ligados no 220V, tamanha facilidade em acompanhar variações complexas em ritmo, tempo e andamento (transientes). Esta qualidade continua presente mas, como escrevi acima, não em detrimento de nenhum outro quesito.

Ouvimos os discos do Uakti, I Ching, faixa 3, e de André Geraissati, Canto das Águas, faixa 5, grudados na poltrona e sem tempo de respirar, tamanha precisão de ambos (RCA e de caixa).

O corpo harmônico, além de preciso, graças ao seu silêncio de fundo, nas vozes cria um efeito 3D espetacular! Colocando-os à nossa frente em nossa sala. Novamente, utilizamos estes exemplos de corpo para mostrar como nosso cérebro não se engana com reprodução eletrônica se o corpo e a materialização do acontecimento musical não for verossímil! Do que adianta uma gravação tecnicamente impecável se as vozes e instrumentos possuem o tamanho de uma pizza brotinho?

Não, meus senhores, nosso cérebro é bem astuto, e não se engana com corpos disformes. E vozes, assim como instrumentos de cordas e piano, são matadores para verificarmos a qualidade do corpo harmônico em nossos sistemas.

Com todos os quesitos equilibrados em um sistema Estado da Arte, e eis que o milagre ocorre: temos a materialização física do acontecimento musical à nossa frente e o grau de prazer auditivo (musicalidade) é proporcional à este equilíbrio.

Os Tyr 2 de interconexão e de caixa são extremamente musicais, corretos e sempre soaram com uma naturalidade cativante.

Falando sobre a construção do cabo de caixa Tyr 2, o isolamento a construção não muda em nada. O que muda é a geometria, já que estamos falando de condutores trabalhando em paralelo como em uma múltipla pista de autorama (não sei se nossos leitores com menos de 30 anos irão entender o que desejo dizer com ‘pista de autorama’),com 26 condutores 22AWG, o mesmo núcleo de cobre sólido de seis noves de pureza OFC, capacitância de 10,7pF/pé, indutância de 0.13 uH/pé, propagação de 96%, e terminações banhadas à ouro ou Z-plug Banana.

Os cabos de caixa, pela sua largura, necessitam ser desenrolados corretamente, e o ideal é que, se possível, se use os próprios elevadores indicados pelo fabricante. Isto facilita não se correr risco de tropeço ou ficar pisando no mesmo.

Pela quantidade de fios, é natural que ele necessite do dobro de tempo de amaciamento (foram 220 horas). No princípio ele toca mais engessado (principalmente nas duas pontas), seu corpo é menor e seus planos são bastante tímidos em profundidade e largura da imagem. Mas, a partir de 100 horas os graves ficam sólidos na primeira oitava, e são notórios pela velocidade, energia e deslocamento de ar.

Ao ouvir a primeira gravação de órgão de tubo, me rendi aos seus encantos e passei uma semana curtindo gravações com este instrumento, e com baixo acústico e elétrico. Revisitei toda a obra de Marcus Miller, Pastorius e Mingus. Foi realmente um deleite sonoro!

Sua velocidade torna qualquer gravação com inúmeras percussões, piano solo e bateria, momentos inesquecíveis! Equilibrado tanto quanto o de interconexão, o Tyr 2 de caixa é uma solução inteligente e definitiva para qualquer sistema Estado da Arte, por uma fração do preço do Odin 2.

CONCLUSÃO

O Tyr 2, como o fabricante afirma, é um passo consistente em busca do equilíbrio que todo o audiófilo sonha em dar ao seu sistema.

Suas qualidades são tão abrangentes e sua compatibilidade tão larga que deve ser uma das opções a serem escutadas em qualquer sistema sinérgico e sem elos fracos, em que apenas falte aquele cabo para realçar todas as virtudes.

São excepcionalmente construídos (é sempre bom lembrar que a Nordost antes de se dedicar ao áudio hi-end é o maior fabricante de cabos aeroespaciais, com exigências que vão muito além do uso doméstico de um cabo). Sua assinatura sônica, além de exuberante é extremamente correta em todos os quesitos de nossa Metodologia.

Altamente recomendado, principalmente para os que já apreciam a marca, mas não podem ou não desejam gastar o que custa o Valhalla 2 ou o Odin 2.


Pontos positivos

Equilibrado sonicamente, com enorme quantidade de recursos e uma versatilidade impressionante para sua faixa de preço.

Pontos negativos

Pela sua performance e construção, nenhum ponto negativo.


ESPECIFICAÇÕES – TYR 2 DE CAIXAS
IsolaçãoEtileno propileno fluorado (FEP)
ConstruçãoDesign micro mono-filamento com comprimento mecanicamente configurado
Condutores26 x 22AWG
MaterialCobre OFC 99.99999% sólido com banho de prata
Capacitância10.7pF/pé
Indutância0.13μH/pé
Velocidade de propagação96%
TerminaçõesSpade banhado à ouro ou Z-plug Banana
ESPECIFICAÇÕES – TYR 2 DE INTERCONEXÃO
IsolaçãoEtileno propileno fluorado (FEP)
ConstruçãoDesign duplo mono-filamento com comprimento mecanicamente configurado
Condutores7 x 24 AWG
MaterialCobre OFC 99.99999% sólido com banho de prata
Capacitância33.0 pF/pé
Indutância0.045 μH/pé
Cobertura de blindagem97%
Velocidade de propagação86%
TerminaçãoRCA Nordost MoonGlo® banhado à ouro

CABOS DE INTERCONEXÃO E CAIXA NORDOST TYR 2
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 13,0
Transientes 12,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 13,0
Total 99,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
Teste 2: CABOS DE INTERCONEXÃO E CAIXA NORDOST TYR 2



AV Group
(11) 3034.2954
RCA (1m) - R$ 15.186
Cabo de caixa (2m): 340

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