Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Todos nós, em algum momento de nossas vidas, fazemos uma retrospectiva do que conseguimos realizar de nossos sonhos e do que não deu certo. Alguns conseguem olhar para trás e ver com total clareza de onde saíram e exatamente aonde chegaram. Para outros, as dificuldades, os percalços e as mudanças que a própria vida impõe, deixam esta avaliação mais difusa, como se aquela trajetória inicial planejada tivesse sido toda picotada, ou perdeu-se em estradas menores, levando-nos em outra direção. Meu pai sempre nos dizia que o frustrante não é não obter resultados esperados, e sim não ir atrás de nossos objetivos. Pois lá na frente, dizia ele, a vida fatalmente irá te cobrar em que momento você deixou de sonhar e acreditar em seu potencial. Eu posso dizer que entendi perfeitamente seu conselho, pois ainda que tenha relutado por quase três anos em fundar o Clube do Áudio e Vídeo, por não querer me expor publicamente, quando o fiz abracei de corpo e alma o enorme desafio. Criar uma revista voltada exclusivamente para o mercado hi-end, que era insignificante após duas décadas de reserva de mercado, era algo totalmente desprovido de bom senso e planejamento racional. E, ainda por cima, pegar todas as reservas, guardadas por anos, para investir em papel, gráfica e possíveis leitores, parecia algo digno de um sonhador impulsivo, que estava misturando hobby e prazer pessoal com negócios.
Mas, por algum motivo, existem momentos em que a nossa certeza está acima da razão. Sua confiança é tão grande, que não haverá argumento no mundo que o demova de seu objetivo. E assim foi. Em março de 1996 lançamos a edição número zero, com uma tiragem de 10 mil exemplares. Peguei o mailing que havia levantado em três anos como gerente de projetos especiais na Editora Sigla, e enviei 10 mil exemplares gratuitamente, com uma carta apresentando o projeto e as vantagens e benefícios de se tornar sócio do clube. Como homem de marketing, sabia que uma ação como esta deveria proporcionar uma resposta de 2% a 5 %, no máximo! Pois a resposta foi muito acima do esperado, e em apenas seis meses tínhamos 1100 associados, interessados em conhecer os lançamentos em equipamentos hi-end que começavam timidamente a chegar ao mercado. Com apenas seis meses de vida, fizemos o primeiro Hi-End Show (que inicialmente chamou Hi-Fi Show), com 20 participantes no Hotel Linson, em São Paulo.
Em março de 2000, já com quase 2.300 associados, fomos para as bancas com a revista já totalmente remodelada e com um CD de Testes de brinde, que esgotou nas bancas em duas semanas! Eu já havia visto este fenômeno de venda quando colocamos, na revista Audio News, um CD de música barroca e, em três semanas, as 40 mil revistas foram vendidas e foi preciso fazer mais 30 mil à toque de caixa. Em 1999, lançamos nossa Metodologia de Testes, e iniciamos nossos Cursos de Percepção Auditiva, com mais de 2000 participantes em dez anos! Em 2000, fundamos a Cavi Records, depois de ter produzido para a Movieplay os dois CD Genuinamente Brasileiros volumes 1 e 2. Pela Cavi Records, além de 3 CDs para teste de sistemas de áudio estéreo, gravamos os dois primeiros SACD da América Latina: O Canto da Águas, do violonista André Geraissati, e Lacrimae do multi-instrumentista André Mehmari.
Em 2005, meu sócio à época, Vitor Mirol, inaugurou sua sala de testes e, em 2008, com a minha mudança para São Roque, inauguramos nossa sala atual de referência. Para esta nova fase, fizemos testes mensais com a participação dos nossos leitores e dando a eles total liberdade de escreverem suas observações sobre os testes que assistiram. Um marco em termos de transparência, dinamismo e troca de impressões com nossos leitores e anunciantes (que também eram convidados para participar do teste). Quinze Hi-End Shows realizados, mais de 1200 equipamentos de áudio, vídeo e acessórios testados e publicados, mostram um pouco de tudo que fizemos por este mercado que também está fazendo 23 anos, desde que a reserva de mercado terminou.
Estivemos presentes, desde o primeiro minuto, quando aqui chegaram para ficar grandes marcas deste nicho chamado hi-end. Foram centenas de fabricantes que aqui estiveram, e muitos ainda estão aí para mostrar que, apesar de todas a ineficiência de nossos políticos em dar um norte para economia do país, o hi-end consegue se manter vivo e pujante! Em agosto de 2016, demos uma guinada, aceitando a nova realidade no mundo editorial, e deixamos de ser uma revista física para virar uma publicação online. Mais uma vez, fizemos a mudança no momento certo, e saímos de um patamar de 12 mil leitores, para mais de 100 mil downloads mês. E a cada nova edição este número só cresce significativamente. Então, meu querido amigo leitor, somando os 23 anos da Áudio e Vídeo Magazine, mais os três anos de Audio News, eu quase que passei metade dos meus 60 anos fazendo o que gosto. E isso faz toda a diferença, pois acordar cada manhã e saber que você irá trabalhar em algo que lhe é extremamente prazeroso, permite que você olhe para trás e diga com enorme satisfação que todas as dificuldades, dúvidas e medos não o fizeram abrir mão de seu sonho e projeto de vida. Então, só posso desejar do fundo do meu coração que a cada um de vocês que nos acompanham, tenham esta mesma oportunidade que eu tive, e façam das suas vidas o melhor possível.
Pois a vida só pode ser plena se descobrirmos o nosso talento nato e o colocarmos em prática!