MUSICIAN – Bibliografia II: O prelúdio de uma nova era (II)

MUSICIAN – Discografia: O prelúdio de uma nova era (II) – VOL. 13
junho 18, 2019
MUSICIAN – Bibliografia: O alvorecer de uma nova era (II)
julho 5, 2019


Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br


PRINCIPAIS COMPOSITORES

Carl Orff: nascido em Munique, na Alemanha, em 1895. Seu avô paterno era um judeu que se converteu ao catolicismo, e a família tinha bastante presença nas forças armadas. Aos cinco anos começou a estudar piano e, logo depois, violoncelo e órgão, e seu interesse em compor era maior do que o de ser intérprete. Na adolescência, ainda sem ter estudado harmonia e composição, escreveu várias canções – e sua mãe ajudava-o a escrever a partitura. Orff acabou sendo um autodidata em composição ao estudar a fundo obras-primas de grandes mestres. Aos 16 anos publicou suas primeiras obras, e logo compôs, influenciado tanto pela obra de Richard Strauss quanto pelo impressionismo de Claude Debussy. Estudou na Academia de Música de Munique até 1914, depois servindo ao exército durante a Primeira Guerra Mundial, onde foi ferido. Após dirigir algumas casas de ópera pela Alemanha, voltou a Munique para continuar seus estudos. Fundou com Dorothee Günther a Escola Günther, que dava aulas de música, ginástica e dança, onde trabalhou extensamente com educação musical infantil. Antes da composição de sua obra mais conhecida, Carmina Burana, em 1937, editou várias óperas do século XVII. Após a Guerra, com sua relação com o Partido Nazista esclarecida, Orff voltou a compor e apresentar sua música, e a usufruir dos direitos autorais de Carmina Burana. Casou-se quatro vezes, com Alice Solscher, Gertrud Willert, Luise Rinser e Liselotte Schmitz, divorciando-se das três primeiras. Com Alice Solscher teve sua única filha, Godela, nascida em 1921. Viveu com Liselotte até falecer em 1982, aos 86 anos, em Munique, onde foi enterrado no Mosteiro Beneditino de Andechs.

Zoltán Kodály: nascido em Kecskemét, na Hungria, em 1882, tendo aprendido a tocar violino quando ainda criança. Um dos mais importantes compositores húngaros, começou seus estudos em Galánta, e depois em Budapeste, com Hans von Koessler, na Academia de Música Franz Liszt. A partir de 1905, começou a visitar vilarejos remotos e gravar as músicas folclóricas húngaras com um fonógrafo de cilindro. Logo fez amizade com Béla Bartók, com quem compartilhou o interesse na música folclórica. Estima-se que tenha resgatado mais de cem mil obras, canções e melodias folclóricas e populares húngaras – usando várias delas em suas composições – além da música eslovaca, albanesa, búlgara e de outras culturas do leste europeu. No ano seguinte passou a lecionar na Academia Liszt. Atingiu o sucesso apenas após 1923, com a composição de seu Psalmus Hungaricus. Dedicou boa parte de sua vida à educação e aos métodos de ensino da música. Permaneceu em Budapeste durante a Segunda Guerra, e foi aclamado por seu patriotismo. Em 1958, Emma Gruber, sua primeira esposa, falece após uma feliz união de 48 anos. No ano seguinte Kodály casa-se novamente, com uma estudante de 19 anos da Academia de Música Franz Liszt, de nome Sarolta Pèczely, com quem viveu até falecer em 1967, aos 84 anos.

Béla Bartók: nascido na cidade de Nagyszentmiklós, parte do império Austro-Húngaro, em 1881, sendo seu pai descendente de família nobre húngara. Demonstrando talento musical já na tenra idade, aos quatro anos já sabia tocar dezenas de peças ao piano, e começou seus estudos formais de música com sua mãe no ano seguinte. Após a morte do pai, Bartók, aos 11 anos deu seu primeiro recital público, na cidade de Pozsony. Aos 18 anos foi estudar piano com um pupilo de Franz Liszt e composição na Academia Real de Música de Budapeste, onde fez uma grande amizade com o compositor Zoltán Kodály. Quatro anos depois escreveu sua primeira grande composição, o poema sinfônico Kossuth. Uma de suas primeiras grandes influências foi o compositor alemão Richard Strauss, que Bartók conheceu em uma apresentação de Assim Falou Zaratustra, em 1903. No verão de 1904, em visita à Transilvânia, seu contato com as canções folclóricas locais influenciou sua dedicação à música folclórica. E, a partir de 1907, sua maior influência passou a ser a obra de Debussy, que o amigo Kodály trouxe de Paris. Tornou-se professor de piano na Academia Real e, em 1909, casou-se com sua primeira esposa, Márta Ziegler, e em 1923, com a pianista Ditta Pasztory, tendo um filho em cada casamento. Em 1911, compôs sua única ópera, O Castelo do Barba Azul, dedicada à sua esposa Márta e, nos anos seguintes, até a Primeira Guerra, dedicou seu tempo a transcrever para partitura a música folclórica húngara, eslovaca e romena, entre outras. Depois voltou a compor, escrevendo conhecidos balés e música de câmara. Em 1940, emigrou para os EUA, onde começou a ter problemas de saúde, sendo diagnosticado com leucemia. Continuou produzindo até sua morte em setembro de 1945, em Nova York.

Igor Stravinsky: nascido em São Petersburgo, na Rússia, em 1882. Filho de um cantor lírico do Teatro Mariinsky e descendente de uma família nobre polonesa, começou a ter aulas de piano quando bem jovem, estudando também teoria musical e fazendo suas primeiras tentativas de composição. Aos 15 anos já tocava o Concerto para Piano de Mendelssohn com perfeição. Por exigência da família, foi estudar Direito na Universidade de São Petersburgo em 1901, mas sua frequência nas aulas foi errática. No ano seguinte, conheceu um dos mais célebres compositores russos da época, Nikolai Rimsky-Korsakov, que sugeriu que ele tivesse aulas particulares de composição. Em 1905, deixando a universidade, passou a ter aulas duas vezes por semana com Rimsky-Korsakov até 1908, quando o compositor faleceu. Em 1909, o fundador dos ‘Ballets Russes’, Sergei Diaghilev, encomendou o balé O Pássaro de Fogo. Stravinsky foi a Paris para a estreia da obra, e logo depois sua família juntou-se a ele e mudaram-se para a Suíça, onde compôs várias de suas principais obras. Seu último retorno à Ucrânia foi logo antes da Primeira Guerra e do fechamento das fronteiras. Ele pisaria em solo russo novamente apenas em 1962. Em 1920, recebeu um convite da estilista Coco Chanel para que ele e a família ficassem em sua casa em Paris. Chanel também patrocinou uma produção da Sagração da Primavera em Paris. Logo após sua naturalização francesa, na década de 1930, perdeu tanto sua filha mais velha como sua esposa, Katya, para a tuberculose. Com a chegada da Segunda Guerra, mudou-se para os EUA, estabelecendo-se em Hollywood e casando-se com a bailarina Vera de Bosset. Lá, conviveu com músicos como Otto Klemperer e Arthur Rubinstein, e escritores como W. H. Auden e Aldous Huxley. Em 1962, viajou à Rússia, visitou Moscou e conheceu vários compositores importantes da época, como Shostakovich e Khachaturian. Em 1969, mudou-se para Nova York, onde morou até falecer em 1971, aos 88 anos, de falência cardíaca. Foi enterrado na ilha de San Michele, em Veneza, em um túmulo próximo ao de Sergei Diaghilev.


CURIOSIDADES
  • Segundo a mãe de Bartók, na tenra idade ele já conseguia distinguir entre diferentes ritmos de dança tocados ao piano, mesmo antes de aprender a falar frases completas.
  • Bartók começou a dar aulas de piano na Royal Academy em 1907, posição na qual ele deu aulas aos célebres maestros Fritz Reiner e Georg Solti.
  • Bartók e Kodály, em 1908, viajaram por todo o interior do País pesquisando e coletando melodias folclóricas húngaras, que eram antes simplesmente categorizadas como música cigana. Eles descobriram que essas melodias tinham como base a escala pentatônica, da mesma maneira que a música folclórica da Ásia Central, Anatólia e Sibéria.
  • Em 1911, Bartók escreveu sua única ópera, O Castelo do Barba Azul, que foi rejeitada pela Comissão Húngara das Artes. Em 1917, ele revisou a ópera para uma estreia em 1918, mas após a Revolução Húngara de 1919, o governo soviético pressionou o compositor para retirar da obra o nome do libretista, Béla Balázs, pois o mesmo estava na lista negra.
  • Como opositor do Nazismo, o antifascista Bartók acabou emigrando para os EUA com sua esposa Ditta em outubro de 1940. Seu filho Péter Bartók veio depois, em 1942, e a família foi morar em Nova York. Péter logo se alistou na Marinha Norte-Americana, servindo no Pacífico até o fim da Segunda Guerra. Voltando aos EUA, ele tornou-se Engenheiro de Gravação, na Flórida.
  • O nome de Kodály é associado, como pedagogo, ao ‘Método Kodály’, que revolucionou o sistema de educação musical. Na verdade o compositor não desenvolveu o método sozinho, mas sim sua filosofia de educação é que serviu de inspiração para seus discípulos desenvolvessem e compilassem o método. Parte do ‘Método’ envolve linguagem de sinais, a qual é usada no final do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau, do cineasta Steven Spielberg.
  • Carl Orff, quando bem jovem, além de já estudar alguns instrumentos e compor, também escreveu um conto para uma revista infantil e, aos dez anos de idade, começou a escrever um livro sobre a natureza e a colecionar insetos.
  • Na década de 1920, Orff começou a formular um conceito chamado de ‘Música Elemental’, baseado na unidade das artes simbolizada pelas musas da Grécia Antiga. E, como muitos outros compositores, ele também foi influenciado pela obra de Igor Stravinsky.
  • Orff, além de compor, também adaptava óperas antigas à encenação moderna, como L’Orfeo, do italiano Claudio Monteverdi. A versão de Orff, porém, não foi muito bem recebida.
  • A obra Carmina Burana, de Orff, tornou-se imensamente popular na Alemanha Nazista assim que estreou em 1937, e o retorno monetário desse sucesso foi muito bem-vindo por ele, que até então não havia feito sucesso comercial. Orff foi um dos poucos compositores alemães que atendeu o chamado oficial para escrever música nova para o Sonho de uma Noite de Verão, já que a música original de Mendelssohn havia sido banida. Porém, alguns defensores de Orff, respondendo às críticas de colaboracionismo, afirmaram que ele já havia composto a música para aquela peça anos antes do regime nazista chegar ao poder.
  • Após a Segunda Guerra, Orff disse às autoridades norte-americanas que era, na verdade, antinazista – muitos dos fatos sobre seu envolvimento com o Partido Nazista eram discutíveis. Então, eles permitiram que ele continuasse a compor e apresentar sua música em público – e a receber os direitos autorais de Carmina Burana.
  • Stravinsky dizia que seu tempo de escola era muito solitário, que na época ‘eu nunca encontrei ninguém que tivesse nenhuma atração real por mim’.
  • Diz a lenda que o compositor romântico tardio russo Alexander Glazunov achava que Stravinsky não era musical e também não levava a sério suas habilidades como músico.
  • Por causa do massacre dos trabalhadores no ‘Domingo Sangrento’, em janeiro de 1905, a universidade onde Stravinsky estudava Direito ficou fechada por dois meses, impedindo que ele fizesse a prova final. No ano seguinte, Stravinsky recebeu um diploma de ‘meio curso’, e acabou passando a se dedicar ao estudo da música.
  • Stravinsky estava de casamento arranjado com sua prima de primeiro grau, Yekaterina Gavrilovna Nosenko, a Katya, que o compositor conhecia desde a infância. Apesar da Igreja Ortodoxa ser contra o casamento de primos de primeiro grau, eles se casaram em 23 de janeiro de 1906, tendo dois filhos nos dois anos seguintes.
  • Logo após a estreia em Paris de A Sagração da Primavera, Stravinsky contraiu febre tifoide e ficou confinado por meses em uma casa de repouso em Paris, sem poder voltar à sua casa na Ucrânia.
  • Quando morava na França, Stravinsky formou uma relação comercial com o fabricante de pianos Pleyel, para o qual produziu rolos de suas obras mais famosas para a pianola Pleyela, sendo que algumas obras eram rearranjos que utilizavam todo o alcance do piano, todas as 88 teclas, de uma maneira que mãos humanas não conseguiriam tocar.
  • Na década de 1920, recém-mudado para a França, Stravinsky teve como um de seus mecenas o maestro Leopold Stokowski, que o apoiou financeiramente, porém sob pseudônimo. Stravinsky teve na vida a sorte de que todos os seus trabalhos após O Pássaro de Fogo foram muito bem pagos.
  • Depois que Stravinsky mudou-se para perto de Biarritz, no sul da França, passou a viver uma vida dupla, ficando parte do tempo em casa com sua esposa Katya, e parte em turnê com sua amante, a bailarina Vera de Bosset. Diz a lenda que Katya sabia da infidelidade, a qual enfrentava ‘com uma mistura de magnanimidade, amargor e compaixão’.
  • Quando morava nos EUA, Stravinsky chegou a fazer um arranjo pouco convencional do Hino Nacional Norte-Americano, o que levou a um incidente com a polícia de Boston em janeiro de 1944, que queria cobrar-lhe uma multa de US$ 100 porque ‘não é permitido rearranjar o hino nacional inteiro ou em parte’. O incidente logo virou uma lenda que dizia que o compositor chegou a ser preso por ter tocado a versão.
  • Em 1956, Stravinsky estava passeando nas instalações do estúdio da Paramount Pictures, em Hollywood, quando Vic Schoen estava gravando a trilha sonora que havia composto para o filme O Bobo da Corte (The Court Jester) – com a porta fechada e uma luz vermelha piscando ‘gravação em andamento’. No meio da execução, a orquestra inteira para de tocar e vira para ver Stravinsky, que havia acabado de passar porta adentro.

LINHA DO TEMPO


1827 – Morre Beethoven.
1863 – Nasce o compositor francês Claude Debussy, em Saint-Germain-en-Laye.
1875 – Nasce o compositor Maurice Ravel, em Ciboure, na França.
1881 – Nasce o compositor Béla Bartók, na Hungria.
1882 – Nasce o compositor Zoltán Kodály, na Hungria. Nasce o compositor Igor Stravinsky, em São Petersburgo, na Rússia.
1883 – Morre Richard Wagner, em Veneza, na Itália.
1891 – Abre o Carnegie Hall, em Nova York.
1895 – Nasce o compositor Carl Orff, em Munique.
1896 – O maestro Arturo Toscanini rege seu primeiro concerto sinfônico, em Turim, com obras de Schubert, Brahms, Tchaikovsky e Wagner.
1909 – Stravinsky compõe o balé O Pássaro de Fogo.
1918 – Morre Debussy, em Paris.
1923 – Kodály compõe os Psalmus Hungaricus.
1936 – Bartók compõe a Música para Cordas, Percussão e Celesta.
1937 – Pablo Picasso pinta seu famoso quadro Guernica. Carl Orff compõe Carmina Burana.
1945 – Morre Bartók, em Nova York.
1967 – Morre Kodály.
1971 – Morre Stravinsky, em Nova York.
1982 – Morre Carl Orff, em Munique.

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