Opinião: TODO EQUIPAMENTO, ASSIM COMO UM INSTRUMENTO MUSICAL, POSSUI SUA ASSINATURA SÔNICA

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Não importa se você é analítico, sintético, ou tem uma curva de resposta de equalização em sua audição que parece com um sorriso ou com a cara de um sovina. Todos nós conseguimos reconhecer o timbre de qualquer instrumento e memorizar suas características para toda a vida. Então só precisamos querer aprender para poder usar este conhecimento auditivo como uma importante ferramenta na hora de escolher nosso sistema de áudio.

Coloquei para ilustrar esta matéria um interessante vídeo feito com inúmeras guitarras, ligadas ao mesmo amplificador, captado pelo mesmo microfone, e tocadas pelo mesmo guitarrista. Algo semelhante ao que realizamos no CD Timbres, com o mesmo intuito: ajudar todos que queiram descobrir todas as limitações e qualidades de seus sistemas e realizar os ajustes convenientes a seus bolsos e gostos.

Sugiro aos interessados que utilizem seu melhor fone de ouvido para assistir ao vídeo e descobrir a timbragem (assinatura sônica) de cada uma das lendárias guitarras escolhidas para este projeto. Você irá se surpreender como soam diferentes, ainda que todas soem, logicamente, como guitarras! Umas mais encorpadas, com mais corpo no médio-grave. Outras com mais ataque e menos harmônicos (deixando o som mais seco), e equilíbrios tonais também bem distintos, com algumas a prevalecer a região média nos acordes, outras com um pouco mais de ênfase nos graves, com decaimento mais suave, e outras em que os agudos se sobressaem. Um único instrumento solo e a possibilidade e riqueza de nos mostrar como a assinatura sônica pode variar do sutil ao explícito.

O mesmo ocorre, meu amigo, com a caixa acústica, o amplificador integrado, o pré-amplificador, power, CD-Player, DAC, cápsula e cabos – sim, os tão famigerados cabos sobre os quais, em pleno século 21, assim como terraplanistas duvidam que a terra é redonda, existem audiófilos que não aceitam que cabos também possuem assinatura sônica.

Aliás já escrevi algumas vezes a este respeito, pois o fato de não ouvir ou não entender, não significa que não existam diferenças. Pois, afinal, se formos esmiuçar a fundo os que afirmam não existir diferenças, são os mesmos que afirmam que todos escutam muito diferente uns dos outros.

Ora, senhores, se para defender seu peixe, todos ouvimos diferente, então por que cargas d’água eu não posso escutar diferenças significativas entre cabos, fusíveis, racks, pedestais, etc? Talvez esta resposta esteja em um divã e não na lógica cartesiana.

Mas, voltando ao tema deste mês, este vídeo coloca por terra abaixo que não só podemos escutar as diferenças de timbragem das guitarras como este exemplo pode nos ajudar (e muito) a ampliar nossa memória auditiva na hora de realizarmos a escolha dos componentes que irão montar nosso sistema, como também no ajuste fino na sala, elétrica e setup. Se você já passou da fase de apenas reconhecer os instrumentos que estão tocando e seu sistema, o ajuda a ouvir que aquele piano é um Yamaha e não um Steinway ou um Bosendorfer, você já avançou muitas casas, meu amigo. Pois tanto você fez a lição de casa de ouvir ao vivo esses instrumentos, para mantê-los em sua memória auditiva de longo prazo (hipocampo), como seu sistema ao lhe mostrar as diferenças (nada sutis entre esses três pianos), também já se encontra em um grau de equilíbrio tonal bastante satisfatório, assim como nos quesitos: textura, corpo harmônico e transientes.

O mesmo ocorre com guitarras, violões, violinos, violas, cellos, contrabaixos acústicos, instrumentos de sopro (metais e madeiras), pratos, bumbos, etc, etc… E, acredite, quanto mais bem ajustado estiver seu sistema, a acústica de sua sala e a elétrica, mais impressionante ficará a inteligibilidade e a qualidade dos instrumentos e a virtuosidade dos músicos. Chegando ao cúmulo de você observar, sem nenhum esforço, a intencionalidade por trás de cada nota, acorde, arranjo, silêncio entre as notas, complexidade do arranjo e do solo. Levando-o a querer cada vez mais se aprofundar nesta direção, como um arqueólogo sonoro, querendo descobrir a ínfima parte perdida no sulco dos LPs ou nos Zeros e Uns do digital.

Na maturidade da audiofilia, dizia meu pai, todos buscam apenas três coisas: inteligibilidade plena, musicalidade e conforto auditivo. As mesmas qualidades que observamos sem esforço algum em uma excelente sala de concerto, com uma excelente orquestra e maestro.

Não temos que ficar buscando informação alguma, tudo chega até nós de maneira clara e precisa – claro que muitas vezes precisamos nos munir de paciência com o sujeito que não para de falar ou com os pigarros e tosses intermitentes. Fora estes pequenos percalços, podemos usufruir sem esforço adicional de todas as nuances do micro ao macro em termos dinâmicos e ainda sairmos revitalizados com aquela apresentação.

Nosso sistema pode nos proporcionar o mesmo. Desde que as fases de dar mais sentido a determinados elementos da reprodução sonora já tenham sido ultrapassadas, é claro – como a fase da pirotecnia, por exemplo.

A partir deste estágio, que irá predominar será apenas a assinatura musical que cada um aprecia mais. Aí entra novamente o exemplo do vídeo das guitarras e do CD Timbres, pois não estamos mais falando de preferências por agudos, médios ou graves. Ou por um som mais frontal ou recuado, ou por maior inteligibilidade, ainda que com a perda da musicalidade. Nesta fase, todos os quesitos da Metodologia estão absolutamente corretos e homogêneos, o sistema totalmente sinérgico e coerente (em termos de padrão e assinatura sônica), a lição de casa de acústica e elétrica devidamente feita.

Com todos esses objetivos alcançados, como um músico experiente o audiófilo pode finalmente desfrutar do melhor deste hobby: descobrir sua assinatura sônica pessoal! E o que significa isto? É a capacidade de ‘lapidar’ o ajuste fino, ao seu gosto, deixando o sistema mais quente, com ênfase nas texturas e intencionalidades, ou acentuando a capacidade de manter a precisão em termos de transientes e dinâmica. Ou ainda buscando o equilíbrio ideal entre folga e organização do acontecimento musical entre as caixas (investindo, para este resultado, em uma acústica que proporcione um foco, recorte e planos bem arejados e com excelente ambiência).

Citei esses exemplos pois são os que mais pedem em minhas consultorias. Mas existem outros, afinal a imaginação humana e suas expectativas são infinitas. Porém, é preciso deixar claro que essas assinaturas sônicas são a ‘cereja do bolo’ – quando a receita e a lição de casa foram inteiramente feitas, e o audiófilo já entendeu o abismo entre o certo e o errado. Pois nada será profícuo em um sistema desequilibrado tonalmente, ou cheio de pontas e elos fracos. E todo o custo e energia gastos em sistemas desequilibrados serão sempre, no final, uma enorme decepção e frustração.

Levante a mão quem já não viu um amigo audiófilo morrer na praia ou abandonar de vez este hobby! São muitos em todos os continentes, que depois de inúmeras tentativas e um caminhão de dinheiro gasto, desistem, pois acreditaram que existia ‘almoço grátis’, que era possível pular etapas, corrigir deficiências acústicas investindo em sistemas cada vez mais caros.

Se você não conhece as regras meu amigo, não comece, ou se contente em ter um sistema honesto e simples para ouvir sua música. Pois as regras são muito claras e o ideal é conhecer os erros dos amigos audiófilos antes de iniciar esta incrível jornada, para não cometer os mesmos erros.

Como sempre disse e escrevi, existe uma regra que, se você seguir, garantirá 75% de acerto já na largada. Ora, é melhor partir com 75% de acerto ou arriscar? Você que sabe.

A segunda regra de ouro: se você seguir a primeira regra (a do acerto de 75%), é entender que seu sistema sempre irá soar o elo mais fraco. Não importa que mirabolância você faça, seu sistema sempre soará o elo mais fraco.

Terceira regra, sem referências de instrumentos reais acústicos e vozes – também não amplificadas – você jamais conseguirá acertar seu sistema corretamente.

Estas três regras já asseguraram que centenas de leitores que fizeram nossos cursos de percepção auditiva, estejam hoje desfrutando de seus sistemas com aquela sensação de que chegaram lá. E hoje todos estão na última fase: a de ‘lapidar’ o sistema para o seu gosto pessoal. Pararam de colocar a carroça na frente dos cavalos e ficar batendo o pé de que gosto não se discute, que cabos não fazem diferença, que é preciso uma equalização individual para cada pessoa, ou preciso, antes de mais nada, descobrir se sou analítico ou sintético.

Fizeram a lição de casa e desfrutam e podem mostrar aos amigos todo o seu esforço, conhecimento e dinheiro investido.

Para os milhares de novos leitores preciso dizer do que se trata os ‘75% de acerto inicial’, certo? Vamos lá: a elétrica dedicada e bem-feita significa 25%, a acústica outros 25%, e o equilíbrio tonal correto do sistema (independente se categoria Ouro, Diamante ou Estado da Arte), os outros 25%.

E este equilíbrio tonal, para a escolha dos componentes, depende é óbvio de referências seguras de instrumentos acústicos reais. Sem este conhecimento e memória auditiva, dificilmente você irá acertar de primeira (a não ser que você tenha a graça de ter nascido com Ouvido Absoluto). Então, ouvir o maior número possível de sistemas bem ajustados é essencial para se dar o pontapé inicial.

Aí, alguém lá de trás resmunga: “Como vou saber se o equipamento do amigo está correto tonalmente ou não?”. Ouvindo os discos certos para se tirar a ‘prova dos nove’. Nossas edições estão forradas de gravações primorosas para essas avaliações. Mas vou lhe dar uma dica amigo: pegue duas ou três excelentes gravações de piano solo. E as decore em sua memória auditiva nota por nota. Leve-as em todos os sistemas que for escutar. Certifique-se que as gravações são realmente impecáveis.

Se a última oitava da mão direita soar com som de vidro, bingo! Este sistema está desequilibrado tonalmente.

Se a última oitava da mão esquerda não tiver peso e sustentação, este sistema está desequilibrado.

Se toda a região média der a sensação que está com mais energia que as pontas, este sistema está desequilibrado tonalmente.

Percebe como é simples? Não tem mistério, você não precisa escalar o Himalaia, se banhar nas águas puras do Oceano Índico, ou tirar a cera do ouvido com cocô de macaco prego da Amazônia. Ou ter que assistir a uma hora do show da Anita!

Só precisa das gravações certeiras. E saber, em uns sistemas corretos tonalmente, como devem realmente soar. Fácil! Os que querem fazer você se embrenhar por caminhos tortuosos, na verdade estão escondendo de si mesmos que também não sabem como sair do labirinto que se meteram, aí criam teorias e argumentos insanos e pseudocientíficos para perpetuar suas crendices.

Ninguém se aventura a entrar em uma mata virgem sem o aparato necessário para conseguir sair. Neste hobby, se você estiver ciente das regras básicas e tiver vontade de aprender, eu garanto que irá chegar lá! Sempre foi assim, desde os anos 60, quando tudo começou. Os que tinham uma cultura musical solidificada, sempre souberam separar o joio do trigo. Pois esses audiófilos eram, na verdade, melômanos que queriam estender o prazer de ouvir música ao vivo para o recôndito de seu lar.

Já os audiófilos sem esta cultura da música ao vivo, que vieram a partir da década de 70, foram os que mais bateram cabeça. Meu pai chamava esses seus clientes de Navegantes sem Bússolas! Tenho que concordar integralmente com ele.

Se queres ter a satisfação de montar um sistema que irá lhe proporcionar imenso prazer por toda a sua vida, inicie esta trajetória munido de todas as informações que permitam diminuir os riscos e erros.

Acredite: fará bem para o seu bolso e para o seu ego!

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