Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Muitos dos nossos leitores já haviam perdido a esperança de que testaríamos o integrado top de linha da Hegel ainda neste ano. Eu também, pois foi um ano tão maluco, de tantas idas e vindas, que as duas vezes que o importador conseguiu ter um em estoque, o mercado foi mais rápido em comprá-lo do que eu em pedí-lo para teste.
Então, quando a transportadora chegou trazendo os Edges da Cambridge Audio, as Evokes da Dynaudio e o H590, tratei de colocar ele imediatamente em amaciamento, imaginando que ele não ficaria muito tempo conosco. Felizmente estava enganado, pois já se encontra em nossa sala de testes há dois meses e meio, tempo suficiente para uma queima de 300 horas e um mês inteiro de testes com diversos parceiros em termos de caixa e eletrônica.
Como consumidor de Hegel (já que tenho em nosso sistema de referência um power H30) e por ter testado diversos produtos deste fabricante, já me familiarizei com o ‘jeito’ que todo Hegel tem em fazer sua apresentação inicial: sempre discreto, sem pressa, como se os dias fossem mais longos do que realmente são. Mas sempre já se impondo e mostrando à qualquer caixa acústica que, em suas mãos, terão que sempre apresentar a melhor performance possível.
A Hegel nunca tinha dado um passo nesta direção, de apresentar um integrado acima do H360 – agora já foi lançado o H390 – e de certa forma esta estratégia parece ter sido muito assertiva, pois colocou a empresa ainda mais em evidência no mercado de integrados acima de 12 mil dólares! Um segmento que conta com marcas de peso, como Gryphon, Vitus, darTZeel, Mark Levinson, Krell, etc. Então só podemos elogiar o trabalho da empresa norueguesa em querer uma fatia deste mercado mais acima.
Lendo os testes que começaram a pipocar a partir de novembro de 2018, quando o H590 chegou ao mercado, os elogios são eloquentes e efusivos, exceto com a sua aparência, que para muitos dos articulistas precisava ser revista, já que os concorrentes nesta faixa do mercado cuidam muito bem da aparência e design de seus integrados. Acho pertinente, mas sou da opinião que mais vale o que ouvimos do que o que vemos, em se tratando de equipamentos de áudio. Então, como consumidor, o que irá realmente me fazer levar um produto será o conjunto performance/custo, sempre!
Agora, se neste pacote vier junto um acabamento e design impecáveis, isto para mim é um bônus!
E em termos de performance e versatilidade o H590 é impecável! Mas, dos seus atributos sonoros e tecnologia, falarei mais adiante.
O Hegel foi ligado as seguintes caixas: Wilson Audio Yvette, Dynaudio Evoke 50, Wilson Audio Sasha DAW (leia Teste 1 nesta edição) e Kharma Exquisite Midi. Cabos de caixa: Quintessence da Sunrise Lab, Tyr 2 da Nordost, e Halo 2 da Dynamique Audio. Fontes digitais: MSB Select DAC, e Vivaldi e Scarlatti da dCS. Cabos digitais: Transparent Reference Coaxial, Sunrise Lab Quintessence Coaxial. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Transparent PowerLink MM2, e Halo 2 da Dynamique Audio.
Segundo o fabricante, o Hegel 590 possui potência de 301 Watts em 8 Ohms. Alguém perguntou ao CEO da Hegel a razão de 301 e não 300 Watts, e a resposta foi: “ Queríamos algo acima de 300 Watts para nos posicionarmos bem nesta faixa do mercado” – parece mais uma brincadeira, mas está lá na ficha técnica 301 Watts em 8 Ohms por canal. Humor é sempre bem-vindo, afinal este mercado tornou-se bastante sisudo.
Outra crítica que li é o fato do H590 não ter um pré de phono ou uma saída de fone de ouvido. Ora, a Hegel sempre defendeu que seus clientes deveriam buscar o melhor pré de phono externo possível, pois o foco da empresa sempre foi no digital e na topologia de suas amplificações. Então acho que esta crítica só seria justa se eles tivessem abandonado esta plataforma, mas não foi este o caso.
A frente continua como em todos os seus integrados: dois enormes botões com a tela de LED ao centro. E a chave de liga/desliga agora se encontra no centro, embaixo do aparelho, e não mais no canto como era no H360.
Atrás, o H590 disponibiliza três entradas RCA e duas XLR no lado analógico, e duas entradas coaxiais (uma BNC), três óticas, uma USB e uma Ethernet, no lado digital – e uma saída coaxial BNC. Aqui faço minha crítica à ausência de uma entrada digital AES/EBU.
Em relação à saída para fone de ouvido, a crítica tem algum sentido, já que a Hegel tem um circuito de amplificação de fone competente e não disponibilizar este recurso em seu integrado top, precisa ter uma excelente justificativa para não tê-lo disposto.
Todas as tecnologias patenteadas pela Hegel, como: SoundEngine, DualAmp (que separa os estágios de ganho de tensão e corrente) e o DualPower (que fornece recursos específicos à fonte de alimentação), e as mais recentes patentes no domínio digital como: SyncroDAC (sincronização em oposição ao assíncrono-upsampling), que trabalha em conjunto com a tecnologia LineDrive (que filtra as altas frequências). Todas são utilizadas e aperfeiçoadas no H590.
Na parte de amplificação, o H590 trabalha em classe AB, mas segundo o fabricante se trata de uma classe AB de alto bias (deixando o H590 em classe A por muito mais tempo que o H360).
Agora são 12 pares de transistor por canal, e um transformador totalmente remodelado para suportar sua fonte de alimentação superdimensionada. Este é o motivo do H590 ser mais alto que o H360.
No domínio digital, o H590 já utiliza o mais recente chipset AKM que disponibiliza a segunda geração de processamento MQA juntamente com PCM para 32-bit/384 kHz e DSD256 (pela entrada USB). Com esta segunda geração, o usuário pode utilizar Tidal via comando do smartphone ou tablet, com um arquivo MQA autenticado diretamente do roteador para a decodificação feita completamente dentro do H590.
Eu continuo afirmando: ainda que o streamer tenha evoluído muito nos últimos 5 anos, este ‘muito’ é pouco quando você tem um setup Estado da Arte para tocar sua coleção física de CDs, e um bom setup analógico. E como estamos muito bem servidos nestas duas frentes (analógico e digital), tratei de usar as duas entradas XLR para ligar, em uma, o Boulder 500 com o toca disco Storm da Acoustic Signature, meu braço SME Series V com a cápsula Soundsmith Hyperion 2 (leia Teste 3 nesta edição). Os cabos XLR utilizados foram: Sax Soul Ágata 2 e Sunrise Lab Quintessence do Boulder para o H590, e o Apex da Dynamique Audio e Transparent Opus G5 dos DACs (MSB,Vivaldi e Scarlatti) para o H590.
É o tipo de amplificador que já sai tocando agradável da embalagem, mas não espere dele, nas primeiras 300 horas, cenas de arroubos pirotécnicos para a admiração de ‘plateias’, pois não ocorrerá. Ele precisa ir se acostumando com o ‘ambiente’ em que foi colocado, com o par de caixas que escolheram para trabalhar em dupla e, principalmente, as fontes que irão fornecer o material sonoro.
Mas, a partir das 200 horas, quando as duas pontas começam a desabrochar, anime-se, pois o despertar do H590 é contagiante. Pois ele nunca se mostra acuado ou sem fôlego para disponibilizar a demanda que lhe for pedida. Mas o faz sem ranger de dentes ou colocar as garras de fora. Tudo com a mais alta finesse e controle integral da situação. Nenhuma caixa utilizada o colocou nas cordas, com nenhum gênero musical ou complexidade dinâmica!
Ele lembra muito o H30 em termos de autoridade e folga. Uma assinatura sônica quente, na fronteira exata entre a topologia de tubos e o estado sólido, que nos encanta por não acrescentar nada e nem tão pouco se omitir.
Uma sonoridade inebriante, que nos faz querer descobrir o limite do volume de cada gravação, e esmiuçar sem receio o ‘âmago’ da captação, mixagem e masterização de cada faixa de cada disco.
Para os nossos leitores que possuem o H160 ou o H360, imaginem tudo que vocês mais admiram nesses amplificadores, e elevem exponencialmente todas essas qualidades ao limite, e terão uma ideia exata do potencial deste integrado.
E aos que não são familiarizados com o ‘DNA’ da Hegel, mas tem enorme curiosidade em conhecer, imaginem a maior folga possível aliada à um conforto auditivo extremo e terão um vislumbre do que o H590 é capaz de fazer em termos de amplificação.
Mas não confundam esta ‘maior folga’ com impetuosidade ou, pior, com pirotecnia, pois o H590 desconhece esses ‘truques’ de tentar turbinar algo mal feito ou repleto de compressão. O que ele oferece é a medida exata do que se é possível extrair em termos de amplificação, com os defeitos e qualidades inerentes a cada disco.
Se você se contenta em colocar a qualidade artística acima da técnica, este integrado pode ser perfeito para você. Mas não se iludam, pois ao subir de patamar para o andar de cima, o H590 se tornou ainda mais seletivo com seus pares (ouço que muitos leitores desistiram do Hegel 300 e 360, por ser preciso colocar cabos corretos para se extrair todo o seu potencial – como se isto fosse um defeito e não uma qualidade).
Mas, voltando aos pares ideais, busque cabos de força, de caixa e de interconexão que possuam a mesma assinatura sônica do H590: quentes sem serem fechados nos agudos. É preciso que tenham arejamento, velocidade, corpo de cima a baixo, e o melhor equilíbrio tonal possível. Com esses cuidados, o resultado, meu amigo será exuberante!
Seu silêncio de fundo permite um resgate da micro-dinâmica que muitos sistemas de pré e power separados não possuem. Seu soundstage (palco, foco, recorte e ambiência) é infinitamente superior ao do H360, o que permitiu audições de música clássica com uma imersão ainda maior.
O que sempre me agradou no H30 é que não há nenhuma faixa do espectro audível em que ele jogue luz, ou tente inventar qualquer coisa. E no H590 neste aspecto é exatamente semelhante, pois seu silêncio de fundo não o torna mais transparente e, consequentemente, mais analítico e frio. Pelo contrário, as audições são sempre confortáveis pela soma de sua folga absurda e sua naturalidade, graças ao excelente equilíbrio tonal.
E este conjunto ‘harmonioso’ de qualidades é que proporciona texturas magníficas e um convite a se ‘memorizar’ todo tipo de timbre de qualquer instrumento – qualquer um! Coloquei o Bolero de Ravel, a gravação que indiquei no meu último Opinião, para escutar no Hegel H590 com as caixas Sasha DAW. A facilidade de acompanhar mesmo os solos de mais de dois instrumentos foram incríveis! Muito próximo do sistema de referência, tanto em termos de conforto auditivo, como de inteligibilidade. O que significa muito em termos de resolução para um integrado!
O DAC interno do H590 parece ser de uma outra geração em relação ao DAC que ouvimos no H360.
Mais silêncio, timbres mais reais, melhor foco, recorte, silêncio em volta de cada instrumento, e uma sensação de materialização do acontecimento musical (Organicidade) que não havia no DAC do H360. Realmente os engenheiros da Hegel avançaram substancialmente neste novo DAC, colocando em ‘xeque’ muito DAC externo de grandes empresas.
Musical, preciso em termos de tempo e ritmo, equilíbrio tonal corretíssimo e excelente corpo harmônico. Em relação às nossas referências utilizadas (todos Estado da Arte, custando dez vezes mais) as diferenças estão na materialização do acontecimento musical e no soundstage – tudo soa mais entre as caixas, os planos são menores (altura, largura e profundidade) e falta aquele último grau de 3D na apresentação, deixando as orquestras muito mais bidimensionais.
Volto a ‘enfatizar’ que estamos falando de um comparativo com o suprassumo da referência digital do mercado, então parece até desleal essa comparação. Mas é importante passar para vocês o nível em que o digital se encontra lá no topo, e os avanços atingidos pelo H590 em relação ao H360, pois foi um salto grande!
Quem tiver o H300 ou o H360 são os mais sérios candidatos a realizar este upgrade, pois além de totalmente seguro, o prazer em descobrir todos os avanços existentes no H590 compensará todo o dinheiro investido, acreditem!
Engana-se quem achar que encontrará apenas mais ‘músculo’, pois não é apenas mais potência que faz do H590 um integrado tão especial. O conjunto de avanços e os cuidados no aprimoramento do que já era muito bem feito, levou a Hegel a pular de patamar e entrar para o hall dos fabricantes que desejam o consumidor que busca o sistema definitivo, e que está disposto a investir neste sonho.
Tirando algumas ‘brechas’ de quem ainda é novo neste segmento mais top, como o design, em matéria de sonoridade o H590 não fica devendo absolutamente nada aos que já estão há anos trabalhando este audiófilo mais exigente.
Se você almeja um integrado definitivo e seu foco é puramente na performance e custo, meu amigo, escute com enorme atenção o H590. Pois, como diria o mineirinho: “É um baita de um amplificador integrado, sô”, com recursos de sobra que atendem a todas as novas demandas digitais e uma autoridade integral com qualquer par de caixas disponível no mercado.
Se é esta solução que você busca para ouvir sua coleção de discos, coloque-o no seu radar de possíveis upgrades futuros e definitivos.
Uma relação custo e performance muito alta para um Estado da Arte.
A falta de uma entrada digital AES/EBU, e um design mais simplista para esta faixa de preço.
Potência de saída | 2x 301 W em 8 Ohms |
Fator de amortecimento | Mais de 4000 |
Entradas | 3 óticas, 2 coaxiais (1 BNC), USB, rede, 2 XLR, 3 RCA |
Saída de linha | 2 RCA (variável e fixa) |
Dimensões (L x A x P) | 43 x 17,1 x 44,5 cm |
AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H590 - NOTA COMO DAC | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 11,5 | |||
Textura | 11,5 | |||
Transientes | 12,5 | |||
Dinâmica | 10,5 | |||
Corpo Harmônico | 11,5 | |||
Organicidade | 11,5 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 93,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H590 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 11,5 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 97,5 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Mediagear
(16) 3621.7699
R$ 78.764
1 Comments
Prezado Andrette,
Você acha que o Hegel 590 combina melhor com as caixas BW 802 D2 ou com as Dynaudios Contour 60?
Gosto de ouvir rock dos anos 70.