Teste 3: CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON PRESTIGE FACET 8B

Espaço Aberto: ESTÃO TODOS BEM?
abril 14, 2020
Teste 2: NETWORK AUDIO STREAMER CXN (V2) DA CAMBRIDGE AUDIO
abril 14, 2020


Juan Lourenço
revista@clubedoaudio.com.br

A história da Elipson se mistura com a história da audiófilia francesa há muito mais tempo que muitos possam imaginar. Como consta em seu site, está intrinsecamente ligada ao seu diretor-gerente, Joseph Léon, que era um apaixonado por som.

Em 1930 participou da montagem e desenvolvimento de sistemas de som utilizados nos cinemas, como parte da filial da Radio Cinéma, da holding CSF. Ao mesmo tempo, Joseph Léon e seu irmão Jean estavam trabalhando em um dispositivo de gravação portátil, o Monobloc VV3.

Joseph Léon ingressou na empresa Multimoteur, que produzia locomotivas e trilhos de trem para crianças. A empresa também fabricou peças elétricas em miniatura, usadas na fabricação de transformadores, dínamos e alternadores.

Em 1948, Joseph Léon tornou-se diretor administrativo da Multimoteur. Sob sua liderança, a empresa se envolveu muito mais na fabricação de alto-falantes. Os alto-falantes foram então nomeados Shells, em referência à sua forma elíptica. Em 1951, a Multimoteur tornou-se Elipson, sendo esse nome a junção das palavras francesas elipse e son (som).

Em 1953, a caixa acústica BS50, que já utilizava os refletores acústicos, foi apresentada ao público durante o primeiro show de som e luz realizado no Château Chambord (Loir-et-Cher, França). O trabalho de Joseph Léon foi rapidamente notado e logo contatado por Marcel Dassault, que procurava uma solução para o problema de interferência nas cabines dos aviões de combate. Ao resolver esse problema, o diretor da Elipson também criou vários sistemas engenhosos para reduzir o ruído produzido pelos reatores modernos.

Em 14 de dezembro de 1963, na inauguração da Maison de La Radio (ed. Emissora de rádio francesa), lá estava a BS50 Chambord dando voz ao discurso de abertura, feito pelo General Charles de Gaulle. A Maison de La Radio é sede principal, até hoje, das rádios públicas francesas.

Em 2008, Philippe Carré, um jovem empreendedor apaixonado pela marca, assumiu a empresa com seu sócio Eric James, reposicionando a marca no mundo da decoração de interiores e design. Esse reposicionamento deu à empresa grande destaque no mercado hi-fi atual.

A Impel sempre nos surpreende trazendo produtos que são ou serão tendência no mercado brasileiro. Desta vez eles acertaram mais uma vez, pois ao trazer uma marca lendária que tem eu seu DNA o design aliado à função, preenche mais um espaço vazio existente no mercado hi-fi brasileiro: o de produtos que agradam aos olhos, ao bolso e aos ouvidos de uma forma não tão convencional assim.

Para começar esta ótima empreitada, a Impel disponibilizou para testes algumas das caixas acústicas da Elipson, e a primeira delas é a bookshelf modelo Prestige Facet 8B, uma bookshelf de dimensões generosas e de visual pouco convencional. O atrativo estético fica por conta dos anéis refletores multifacetados, feitos em silicone, fruto de décadas de estudos sobre a energia do som, e circundam o falante e o tweeter. O gabinete é dividido em duas partes: a frontal utiliza um grande defletor em duas camadas de ótima espessura, mais de 20 mm, contribuindo para a contenção das vibrações causadas pelo movimento dos cones e do ar dentro da câmera traseira. Na parte de trás vemos o duto de ar e quatro pequenos bornes de caixa de ótima qualidade, banhados em ródio, acoplados em um suporte em ABS texturizado.

É uma pena o borne ser tão estreito e dificultar um pouco dar pressão ao terminal do tipo spade. Outra coisa que me chamou atenção é que a Elipson não seguiu o padrão convencional em que o positivo fica lado direito e negativo no lado esquerdo – é invertido, o que exige um pouco mais de atenção para não se desesperar no momento da audição. Esses franceses… (risos). O drive de médio-grave de 17 cm (6.7 polegadas) conta com um plugue de fase em formato balístico, que diminui as vibrações do cone, e o tweeter domo de 25 mm tem ótima extensão.

A caixa conta com uma base sólida que a desacopla dos pedestais. O acabamento está disponível em três opções: Black Piano na parte frontal com acabamento texturizado no restante da caixa, totalmente branca, ou em nogueira com Black Piano na parte frontal.

A Prestige Facet 8B recebe até 85 W RMS, em 6 Ohms, e responde de 47 Hz (muito bom para uma book) à 25 kHz, com uma sensibilidade de 91 dB/1W/1m. Sensibilidade mais que bem-vinda para bookshelfs nesta categoria, pois na maioria das vezes fará par com amplificadores mais modestos no quesito ‘controle’ (fator de amortecimento). Suas dimensões são (L x A x P): 230 x 361 x 347 mm.

COMO TOCA

Para o Teste utilizamos os seguintes equipamentos e acessórios. Fontes: toca-discos de vinil Thorens TD202, pré de phono interno do TD e do integrado Sunrise Lab V8, media center e streamer de música Innuos Zen 3 mini com fonte extern, DAC Hegel HD30. Amplificação: Sunrise Lab V8 MkIV Signature Special. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab Reference II Magic Scope, Sunrise Lab Illusion Magic Scope, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Reference Magic Scope XLR e coaxial digital, Sunrise Lab Quintessence XLR e coaxial digital, Sunrise Lab Illusion Magic Scope XLR e coaxial digital, Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabos de Caixa: Transparent Reference XL, Sunrise Lab Reference II Magic Scope, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope, Sunrise Lab Illusion Magic Scope.

A Elipson Prestige Facet 8B chegou lacrada, e a embalagem bem construída acomoda muito bem a caixa acústica. A base é super fácil de montar e, para quem não pretende adquirir pedestal da marca, sugiro fixar usando velcro adesivo na caixa e no pedestal.

Ao ligar a bookshelf no sistema de referência, sua sonoridade de cara impressiona. É uma sonoridade limpa extremamente clara na região média, alguns poderão confundir com abertura, mas não é. Trata-se de uma limpidez que te faz coçar a cabeça logo nos primeiros acordes. Esta característica se mantém ao longo de todo o amaciamento, ganhando refinamento à medida que as outras frequências ganhavam contornos mais naturais. Por falar em longo, esta caixa exige um longo período de amaciamento, ao ponto de acharmos que ela já amaciou e não há nada mais a fazer com o encaixe entre a região médio-grave e grave, que sofre grandes mudanças durante este período e teima em não encaixar. Felizmente, lá nos últimos minutos do amaciamento é que eles se encaixam e a apreensão dá lugar a um sorriso de orelha a orelha. Já o encaixe entre woofer e tweeter é excelente, e não nos faz sofrer tanto quanto o outro extremo. Apenas aquela aspereza tradicionalmente incômoda que todos os tweeters têm.

Por causa dos refletores em volta dos drivers, a dispersão das frequências é soberba, e se o futuro proprietário estiver acostumado com caixas sem este tipo de artifício, irá estranhar o posicionamento dela na sala de audição – neste quesito ela se parece bastante com as caixas com tweeters tipo Air Motion Transformer, com sua grade frontal que possui ótima dispersão em todos os planos – fazendo com que a distância lateral seja um fator determinante para o equilíbrio tonal geral da caixa. A coisa boa nisto tudo, é que ela precisa de muito mais espaço entre elas do que da parede de fundo às caixas, cabendo perfeitamente na maioria das nossas salas, que são mais largas que compridas. Ela gosta de ficar próxima à parede lateral – aqui na nossa sala de testes a Prestige 8B ficou posicionada assim: 1,45 metro da parede de fundo (medido do tweeter para a parede), a ponta lateral frontal a 0,51 m da parede lateral e a ponta lateral traseira da caixa a 0,46 m – medida da ponta externa do gabinete. O espaço entre as caixas ficou de 2,70 metros. Com este posicionamento, a região média não se sobressai perante às outras, e as vozes que devem permanecer estáticas na maior parte dos discos, não parecem correr o palco sonoro.

Desconfie do posicionamento das caixas quando ouvir um disco gravado em estúdio em que o(a) cantor(a) parece se mover sutilmente de um lado para o outro, para baixo ou para cima. São poucos os discos em que isso acontece por causa do músico, costuma ser mais por conta do posicionamento da caixa acústica e/ou por causa da acústica da sala.

Esta é uma caixa que quebra paradigmas. A maioria dos projetistas de caixas acústicas nesta categoria, ou faixa de preço, costumam focar em timbre, uma boa dose de graves e um tweeter que tenha um grande alcance. Visando reduzir custos, os materiais utilizados obrigam o projetista a abrir mão de corpo, equilíbrio e suavidade na transição entre as frequências e de um senso temporal superior.

Bem, há inúmeras caixas que contornaram este problema utilizando refratores de berílio e outros materiais exóticos e caros, como a Persona B da Paradigm. O que a Elipson fez foi o mesmo, de maneira igualmente engenhosa, só que infinitamente mais barata. O resultado é uma sonoridade limpa, tão limpa e com menor distorção harmônica que estranhamos num primeiro momento. Semelhante ao que aconteceu quando os Hegels desembarcaram aqui no Brasil. Muitos dos que estavam acostumados com aparelhos mais quentes, menos claros na região médio-grave e média-alta, estranharam num primeiro momento esta nova forma de reprodução musical, depois se percebeu que se tratava de maior equilíbrio e mais neutralidade sônica, coisa que não se ouvia na sua faixa de preço.

No álbum That’s It!, do grupo Preservation Hall Jazz Band, faixa 1, a tuba é um verdadeiro carrasco com qualquer caixa acústica. É uma prova de fogo que tenho certeza que muitos audiófilos jamais mostrarão em seus sistemas aos seus colegas. A Prestige Facet 8B lidou de forma exemplar, com uma folga e uma clareza na região baixa, grave e média-grave que causou espanto. Claro que não lida como uma boa torre – não estou falando do grave em si, pois o fato de descer a 47 Hz ajuda, mas não é este o ponto, o ponto é a forma como ela lidou com aquele paredão sonoro, foi qualquer coisa de espetacular! Ao mesmo tempo em que a ambiência da bateria estava lá, intocada, preservada, assim como o timbre rachador do trompete, mesmo sob forte estresse mecânico sofrido pelos drivers, o palco não balançou um centímetro sequer. Isto é folga, caro(a) leitor(a)!

CONCLUSÃO

Eu sou um dos que reclamam que muito do nosso mercado de áudio se concentra mais no topo da cadeia que nos andares mais próximos ao térreo. Temos ótimas marcas aqui, mas não tanta fartura de modelos. Os audiófilos e melômanos têm agora mais uma opção robusta e de alto nível a considerar, temos a possibilidade de pôr as mãos em um produto diferenciado, respaldado por décadas de estudos científicos e com um nível que coloca em cheque muito do que os outros projetistas pensam para a classe de entrada da audiófilia. Queremos mais, e a Elipson com a linha Prestige, através de seu importador, a Impel, está à frente do seu tempo nos entregando mais por muito menos.


Pontos positivos

Gabinete robusto e bem travado. Ótimo nível de acabamento. Sonoridade neutra e limpa.

Pontos negativos

Longo período de amaciamento. Borne estreito. Polarização invertida.


ESPECIFICAÇÕES
TipoBookshelf
Número de vias2
Potência85W RMS
Tweeter1”
Driver de Mid-bass6,5”
Resposta de frequência (±3 dB)47 Hz à 25 kHz
Sensibilidade91 dB/1 W/1 m
Impedância6 Ohms
TerminaisBanhado à prata (para bi-wiring ou bi-amp)
AcabamentoPainel frontal laqueado, caixa de MDF & acabamento vinílico
CoresPreto, Branco, Preto/Nogueira
Dimensões (L x A x P)230 x 361 x 347 mm
Peso encaixotado, par 20,3 kg

CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON PRESTIGE FACET 8B
Equilíbrio Tonal 10,5
Soundstage 10,5
Textura 10,0
Transientes 10,5
Dinâmica 10,5
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 10,05
Musicalidade 10,0
Total 82,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



Impel
(11) 3582.3994
contato@impel.com.br
R$ 4.862 (o par)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *