Opinião: COMO ESCOLHER A MELHOR CÁPSULA PARA O SEU TOCA-DISCOS

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Em nossa equipe de colaboradores temos dois exímios “experts” em setups analógicos, caras que respiram e transpiram 24 horas sobre o assunto: Christian Pruks e André Maltese. Se você começar um bate papo com ambos, é melhor puxar a cadeira, se acomodar, porque o papo vai durar horas e você receberá dicas valiosas para o resto de sua vida.


Tudo que recebo referente ao assunto, compartilho com ambos e desta maneira descobri que as opiniões muitas vezes são antagônicas (principalmente em termos de marcas, modelos e concepções no desenvolvimento de algumas ideias). Gosto desta diversidade, pois ela me faz não esquecer que nossas percepções sobre o mesmo assunto são influenciadas diretamente pela nossa personalidade e a maneira com que nossas expectativas foram ou não positivas.

Ambos são muito eloquentes em suas opiniões, o que sempre me leva a querer ouvir determinados produtos por eles citados e tirar as minhas próprias observações.

Esta introdução é para alertá-lo, amigo leitor, que falar de sistemas analógicos é um assunto espinhoso e que carrega em seu âmago (principalmente nos que viveram toda a sua vida ouvindo vinil) que existe um componente emocional, que pode “impregnar” todas as impressões deixando o interlocutor com mais dúvidas ainda. Foi por isso que decidi eu mesmo escrever este Opinião, já que não sou um “expert” no assunto, mas vivi tempo suficiente para ter inúmeros sistemas analógicos e ter a oportunidade de testar e usar mais de uma centena de cápsulas nos meus sessenta e dois anos de vida.

Os nossos novos leitores nos perguntam sobre muitos temas, mas três parecem ser recorrentes: dicas de fones de ouvido, streaming e toca-discos. Muitos nos contam que herdaram coleções de discos dos pais, tios e avós e perceberam que muitos discos tem enorme valor emocional para se desfazerem.

Aí começa a peregrinação pela montagem de um setup analógico bom e barato! E aí entramos nós, tentando ajudá-los a separar o joio do trigo.

MÃOS À OBRA

A primeira dica: fuja das “vitrolas” compradas na Amazon por 999 reais! Elas terão o mesmo efeito do tempo nas fotos Polaroid, suas cápsulas de cerâmica irão destruir o sulco dos discos, deixando-os imprestáveis. Essas vitrolas só servem para decoração retrô, nada mais que isso. Você precisa ter em mente que existe um enorme desgaste físico tanto do disco como da cápsula, então é preciso o maior cuidado possível para que ambos durem o máximo!

Também é essencial que se faça um pente fino, disco por disco, para ver se estão empenados, riscados, sujos, mofados e sem o celofane de proteção. Pois manter uma coleção de vinil só vale todo esforço se eles estiverem em condições de uso. Feita essa triagem, separe o que irá danificar sua agulha – e o resto, antes de ser tocado, precisa ser lavado, secado e depois devidamente colocado em um plástico novo (existem diversos kits com capas anti-estáticas adequadas, que custam em média 100 reais com 20 capas). Este investimento é essencial caso deseje levar este hobby à sério.

COMO LAVAR

Meu amigo, se você não for um cara dedicado e jeitoso, esqueça. No seu caso, será necessário investir em uma máquina de lavar disco (existem à partir de 400 reais). Se você achar um investimento alto, a única solução será: ir para a pia, munido de uma esponja ultra macia, colocar um litro de água potável com duas colheres de shampoo para bebê, misturar e passar no sentido horário para tirar toda a sujeira dos sulcos. Depois colocar debaixo da torneira até retirar todo o resíduo. Tome todo cuidado para não molhar o selo no centro do disco, ok? Se você for um sujeito resignado, conseguirá fazer, por dia, de 20 a 30 lavagens.

Para secar deixe os discos em pé com um pano embaixo para receber a água que irá escorrer. Atenção: só guarde os discos depois de certificado que estão integralmente secos.
Dá trabalho? Sim, tanto trabalho que se você tiver mais de 100 LPs, certamente chegará à conclusão que vale a pena investir na máquina de lavar.

E para discos novos lacrados? Muitos acham que o disco lacrado não dará trabalho algum. Ledo engano, meu caro, este também precisa ser lavado assim que é aberto. Pois no processo de prensagem a quantidade de poeira, sujeira e manipulação que o disco passa, o deixa impregnado de micro partículas que serão audíveis desde a primeira audição. Aliás, essa é uma das maiores reclamações do audiófilo que compra um disco de 180 gramas, paga uma fortuna (muitos custam mais de 500 reais!), põe para ouvir, e os clicks e plocs estão todos ali. O LP não veio com defeito – ele está apenas sujo. Lave-o e terá uma audição sem plocs.

Outra praga que impregna todo LP é a estática (que também é audível) – é preciso se cercar de cuidados redobrados, caso deseje ouvir apenas a música e nada mais. Por isso que indiquei as capas de proteção anti-estática e as escovas especiais (que o André
Maltese odeia), mas que uso há mais de 40 anos! Funcionam, desde que os discos estejam limpos, do contrário tira a estática, mas espalha a sujeira por toda a superfície do disco.
Feitos todos esses procedimentos, podemos falar de cápsulas. Porém, é preciso entender que cápsula e braço trabalham em conjunto, portanto devem ser pensados como um único componente da cadeia do setup. Não adianta investir um valor alto em uma cápsula se o braço não corresponder em termos de compatibilidade. Este é o principal erro do iniciante: compra um toca-discos simples de entrada com recursos limitados, e acha que poderá realizar futuros upgrades no setup, trocando a cápsula por uma melhor.

No sistema analógico, diria por experiência própria que os elos fracos são ainda mais evidentes! Então, se sua intenção é navegar por essas águas por um longo tempo, tenha em mente que upgrades consistentes exigirão que todo o setup tenha coerência, sinergia e folga, para o ingresso de novos componentes (principalmente o Toca-Discos), ou então a cada novo degrau, se desfaça do atual para subir um pouco mais.

Antes de falar especificamente de cápsulas famosas com excelente relação custo/performance, apresento um glossário com vários termos que, certamente para os mais jovens, será fundamental.

Toda cápsula é constituída de uma agulha que faz a leitura dos sulcos, um cantilever que une a agulha ao corpo da cápsula, e este corpo é fixado no shell do braço através de dois parafusos.

O Corpo da cápsula pode ser feito de inúmeros materiais, como plástico, madeira, material composto, mistura de materiais, etc. O essencial é que o corpo consiga amortecer o sinal proveniente do atrito da agulha sem criar colorações não existentes na gravação.

O Cantilever é a haste longa e fina que liga a agulha ao corpo. Ele pode ser feito de alumínio, berílio, fibra de carbono e cacto (no caso de algumas das cápsulas do fabricante americano SoundSmith).

A Suspensão é onde o cantilever é assentado. Ela funciona exatamente como a suspensão do carro, e é a única maneira da agulha ler os sulcos do disco suavemente sem danificar o mesmo.

A Agulha que fica na ponta do cantilever pode ser: cônica ou elíptica – ou em perfis especiais mais complexos que vêm em cápsulas mais sofisticadas.

As cônicas geralmente são utilizadas nas cápsulas mais de entrada, pelo seu baixo custo de produção. Geralmente são mais grossas e por isso não conseguem extrair muitas das sutis informações existentes nos sulcos, por estarem em contato com uma área de superfície menor. Se a coleção que você herdou está mal conservada, uma agulha cônica pode ser uma vantagem, pois transmite menos ruído da superfície do sulco. Agora, se são discos novos ou bem conservados, você perderá muitas informações das áreas mais profunda dos sulcos. Outra desvantagem das agulhas cônicas é que se desgastam muito mais rápido e também causam mais danos aos discos, principalmente se estiverem com o ajuste de peso errado.

Felizmente, atualmente a maioria dos fabricantes disponibiliza, mesmo em sua linha de entrada, agulhas elípticas, possibilitando que a agulha penetre melhor nos sulcos, captando mais detalhes dos mesmos, causando menos desgaste ao disco e aumentando audivelmente a inteligibilidade das gravações.

O cuidado está na hora do ajuste da cápsula e o braço, pois eles precisam ser alinhados precisamente para obter o melhor desempenho possível, e não danificar nem as agulhas e muito menos os discos.

Outra informação importante: saber se a cápsula que você está comprando é de baixa ou alta compliância. Baixa compliância significa que a suspensão (do cantilever) é mais rígida e isso exigirá um braço mais pesado para que a agulha permaneça perfeitamente encaixada e dissipe corretamente as vibrações mecânicas captadas pela agulha, dando mais estabilidade mecânica e melhor qualidade sonora.

Em uma cápsula com cantilever e suspensão de alta compliância, portanto mais flexível, eles funcionarão melhor com braços mais leves, pois com um braço mais pesado a agulha terá dificuldade de leitura e de dissipação de vibrações, e pode facilmente danificar a agulha e o disco – além de prover uma qualidade sonora inferior por conta dessa incompatibilidade.
Lembra quando acima escrevi que é preciso raciocinar cápsula/braço como um componente só? Aí está o motivo.

As cápsulas de entrada mais vendidas têm uma massa média de 10 a 15 gramas, o que garante alta compatibilidade com a maioria esmagadora dos braços existentes nos toca-discos de entrada. O que facilita muito a quem dará o primeiro passo nesta empreitada.

MM – MAGNETO MÓVEL, OU MC – BOBINA MÓVEL

Vamos à uma explicação bem objetiva de como funcionam essas duas opções. Uma cápsula – que nada mais é que um motor convertendo vibrações em sinal elétrico – quando é de magneto móvel (MM) usa um pedaço de imã, enquanto que a de bobina móvel (MC) usa bobinas de microfios enrolados. E isso permite que a cápsula MC seja muito mais leve em relação ao imã.

Consequentemente, em uma cápsula MC o cantilever tem mais liberdade de movimento, possibilitando a agulha ler os sulcos com maior precisão física e eficácia, e convertendo essas vibrações em sinal elétrico com muito mais precisão. O resultado é mais detalhes, recriação de espacialidade (ambiência), e uma melhor resposta nos extremos.

Cápsula MC

Quanto mais leve for a bobina de uma cápsula MC, menos fio está sendo utilizado nela, o que resulta em uma saída de tensão muito baixa, exigindo uma amplificação adicional, que acontece em prés de phono mais sofisticados (ou seja, o investimento é maior também no pré).

Outra exigência de uma cápsula MC é sua sensibilidade em termos de impedância de carga no circuito do pré de phono, exigindo que o mesmo tenha, além da entrada específica para cápsulas MC, opções de ajustes para diversas impedâncias. Caso contrário, não será possível extrair todo o potencial do investimento em uma cápsula MC.

As cápsulas MM são mais baratas, e tem como principal característica saídas mais altas que as MC, não tendo problemas de capacitância e funcionando com a maioria esmagadora dos prés de phonos existentes, dos mais simples aos mais sofisticados, dos mais antigos aos mais novos.

Cápsula MM

Outra diferença a ser levada em conta é no momento de reposição da agulha (que tem uma vida útil determinada pelo seu uso). Na maioria das cápsulas MM pode-se substituir apenas a agulha, com um simples encaixe, o que torna muito mais simples a manutenção e o custo de reposição. Já nas MC, essa possibilidade não existe – porque as bobinas móveis da mesma ficam junto à suspensão do cantilever.

CÁPSULAS PARA TODOS OS BOLSOS E GOSTOS

Começar esta lista sem mencionar primeiramente a fabricante Japonesa Audio-Technica, seria bastante estranho, principalmente para mim, que desde a mais tenra idade convivi com cápsulas deste fornecedor. A Audio-Technica se tornou o maior fabricante de cápsulas do mundo e oferece uma enorme gama de opções, desde o iniciante até o audiófilo mais experiente. Além de também fornecer cápsulas para outros fabricantes.

A cápsula mais popular da Audio-Technica é hoje é a VM95 (evolução da AT95), pela sua versatilidade e se adaptar aos orçamentos mais apertados. Sua longevidade e sucesso se definem pela facilidade com que o próprio usuário troca a agulha cada vez que esta precisa ser substituída.É uma cápsula MM com uma saída de 3,5 mV, o que a permite ser ligada em qualquer pré de phono, e se adapta muito bem aos braços de toca-discos mais simples (porém decentes, é claro).

Audio-Technica VM95

Subindo um pouco na escala de qualidade, o consumidor encontrará a VM95E, depois a VM95SP, até chegar no modelo mais sofisticado desta “série de entrada”, a AT-VM95SH.

O modelo desses mais simples custa, lá fora, 35 dólares, e o mais sofisticado 199 dólares. Usei os preços lá de fora apenas para situar o leitor, já que com essa montanha russa que vivemos atualmente com a desvalorização do real, achei mais prudente.

Audio-Technica AT-VM95SH

Gostaria de lembrar que a maioria das cápsulas que citarei neste artigo, tem distribuição oficial no País. Então aos interessados, no final da matéria vocês encontram os devidos importadores de cada marca.

Voltando à “série de entrada” da Audio-Technica, a partir do modelo VM95EN a agulha já é elíptica. Além de, como já mencionei, ter uma melhor trilhagem, também dura mais do que a cônica. Então, minha sugestão a você que está iniciando neste hobby, essa é a melhor opção dentro desta “série de entrada”, sem dúvida alguma.

Audio-Technica VM95EN

Agora, para os que já possuem um toca-discos mais “robusto”, com um braço competente que permite ajuste fino e um pré de phono de melhor qualidade, minha dica é ir para a VM95ML, com uma agulha com perfil Microline, com maior precisão na leitura e maior durabilidade (tanto da agulha, como dos discos).

Audio-Technica VM95ML

Agora, se seu setup já se encontra em um patamar mais refinado, existem, deste fabricante, as opções das séries VM500 e VM700. Com uma construção muito mais refinada, tanto de corpo como de agulha, possibilitando uma melhor separação estéreo, maior inteligibilidade e menos ruído de fundo (algo essencial para uma maior inteligibilidade e conforto auditivo).

Nos fóruns internacionais, os participantes apaixonados pela marca citam muito o desempenho da VM540ML (290 dólares) e da VM760SLC (700 dólares) – consideradas por muitos audiófilos que possuem um orçamento apertado, como a solução final.

Audio-Technica VM760SLC

Outro fabricante de enorme peso e referência é sem dúvida a dinamarquesa Ortofon. As cápsulas de entrada dessa marca são bem conhecidas pelo seu formato diferenciado e de enorme compatibilidade com a esmagadora maioria de braços de entrada, e de casamento com qualquer pré de phono vintage ou contemporâneo.

A cápsula mais “popular” deste fabricante é o modelo Omega OM, que custa lá fora apenas 37 dólares. Acima deste modelo, mas ainda desta série, temos a OM10 de 80 dólares. O que os apaixonados por essa marca sempre citam nos fóruns é seu som bastante equilibrado e tendendo mais para o neutro, e a possibilidade de reposição da agulha sem necessidade de se enviar a cápsula ao fabricante para retificação. Esta série tem o corpo feito de um composto de plástico e vidro que, segundo o fabricante, reduz as ressonâncias. E todos os modelos tem uma saída de 4 mV. A OM10 utiliza uma agulha elíptica cujo diamante é colado ao cantilever.

Ortofon OM10

Agora, se você deseja extrair mais dos seus LPs, e sentar para ouvir seus discos com enorme atenção e prazer, a melhor opção é sem dúvida a série 2M deste fabricante. Tenho inúmeros amigos e leitores que estão por anos satisfeitos com a performance de suas cápsulas da série 2M. Todos os modelos desta série têm uma saída de 5 mV, casando com qualquer pré de phono que ainda funcione corretamente na face da terra. Como diria meu pai: “pêra doce demais!”. Sua compatibilidade com qualquer braço de entrada e intermediário também é altíssima. Esses fatores certamente explicam sua popularidade no meio audiófilo e melômano.

Ortofon 2M Red

A série apareceu em 2007 com a 2M Red, uma cápsula de 100 dólares que rapidamente se tornou a queridinha de público e crítica. Com o enorme sucesso, a Ortofon estendeu a linha para mais três versões: 2M Blue, a Bronze e a Black. O problema é que a cada upgrade dentro da série, o investimento praticamente dobra, fazendo com que muitos acabem parando na segunda da linha, a 2M Blue, de 240 dólares.

Aí veio outra grande sacada da Ortofon: permitir que o usuário toque apenas a agulha, colocando a da 2M Blue no corpo da 2M Red. Sinceramente nunca fiz essa experiência, mas nos fóruns tem diversos testemunhos de que este é um upgrade válido.

Segundo o fabricante, os modelos Bronze e Black têm melhorias significativas para custar mais e ter uma performance muito mais refinada. Têm melhorias na qualidade de fiação interna e corpos feitos de Lexan DMX, um material composto que tem muito menor ressonância que os encontrados nos corpos de plástico da Red e da Blue. A 2M Bronze tem uma agulha com perfil Nude Fine Line, e a 2M Black utiliza uma agulha perfil Shibata – ambos perfis são mais complexos e superiores às agulhas elípticas, extraindo mais informação dos sulcos.

Ortofon 2M Black

Novamente existe muita discussão se a agulha Shibata é superior à Fine Line, pois há defensores nas duas frentes. Neste caso, posso sugerir que só você leitor poderá decidir se a 2M Black vale custar o dobro da 2M Bronze ou não! Alguns sugerem uma terceira saída: colocar a agulha Shibata da Black no corpo da Bronze. Como eu jamais fiz essa experiência, me abstenho de palpitar.

OUTRAS OPÇÕES MUITO SEDUTORAS

Existem outras excelentes opções de fabricantes menores e com menos tempo de vida que a Audio-Technica e a Ortofon, que também ganharam seu lugar ao sol e conquistaram o coração de inúmeros melômanos e audiófilos do planeta.

Uma delas é o fabricante americano Sumiko, com o seu modelo mais simples: a Sumiko Pearl, que custa 120 dólares. Esta cápsula é considerada como uma das maiores pechinchas de cápsulas de todos os tempos. Trata-se de uma cápsula MM com uma agulha elíptica com saída de 4 mV, extremamente amigável com a maioria dos braços e todos os prés de phono de entrada. Os apaixonados pela sonoridade da Pearl falam de uma musicalidade invejável e uma capacidade de recuperar detalhes que outras, até mais caras que ela, não possuem.

Sumiko Pearl

Outra cápsula clássica, que todo audiófilo que se apaixonou pelo vinil teve em algum momento de sua trajetória, é a Denon DL-103 (tive por mais de 5 anos essa cápsula em toca-discos Thorens TD 160 e TD 124 com braço SME) É uma cápsula de 300 dólares que está em produção desde 1962! Por algum motivo que desconheço (mesmo puxando pela memória), essa cápsula ganhou o status de cápsula de entrada ideal para estilos musicais como Rock e Jazz. Fama que só cresceu de década após década. Ela, no entanto, tem algumas exigências, difíceis de contornar para um sistema mais de entrada. Como é um projeto de bobina móvel (MC) de baixa saída, esta cápsula não pode ser usada em prés de phonos que só tenham entrada para cápsula MM. O sinal é de apenas 0,3 mV, necessitando ser ligada em um pré de phono com entrada MC.

Denon DL-103

Outro problema é em relação a braços com baixa massa, como braços unipivô. Mas, com os braços certos, como o Rega, o SME e outros similares, e um pré de phono adequado, posso lhe garantir que a performance desta cápsula é excelente pelo que custa. Tanto que após anos usando a Stanton 500 em meu primeiro toca disco decente, o Thorens TD 160, na década de 70, meu maior upgrade no sistema foi quando coloquei a Denon DL-103. E olha que, ao contrário do que afirmam, eu ouvi todos os estilos possíveis com esta cápsula, sem nenhum senão!

Para os amantes acima de tudo de musicalidade (principalmente para as mixagens de música pop dos anos 80), duas opções excelentes: Grado Prestige Silver (225 dólares) e Prestige Gold (260 dólares). Se você possui um sistema bem ajustado e com um grau de refinamento que permite você desfrutar de horas e mais horas de música sem fadiga auditiva, você deve experimentar o efeito da assinatura sonora da Grado! São, para muitos, os médios mais “líquidos” que cápsulas de entrada permitem reproduzir. Agora, se você deseja agudos mais estendidos ou com maior luminosidade, a linha Prestige não será a melhor opção.

Grado Prestige Silver

A Grado é um dos mais antigos fabricantes de cápsulas e fones de ouvido dos Estados Unidos. À medida em que você entende a proposta da assinatura de seus produtos, ainda que você sinta que falta algo, os benefícios são maiores que as limitações, acreditem. Pessoalmente, tenho alguns excelentes fones de ouvido – muitos vendi ou dei de presente, à medida que realizei upgrades por força da profissão. Porém, meu fone Grado SR325e continua inabalável em sua capacidade de proporcionar audições em baixos volumes e com um pleno conforto auditivo! Minha filha vive me pedindo ele emprestado. Dos inúmeros fones que existe em casa, ela também já o escolheu como seu preferido.

Grado Prestige Gold

Já indiquei para diversos amigos a cápsula Prestige Gold, e todos ficaram extasiados com sua performance honesta e sua musicalidade. Ainda que a diferença de preço entre elas seja de 35 dólares, auditivamente gosto mais da Gold em tudo. Sua saída de 5mV é uma “sopa no mel” para qualquer pré de phono, e seu peso é ideal para a maioria dos braços existentes no mercado (dos de entrada aos intermediários).

Outro fabricante pouco conhecido ainda por aqui, mas que admiro e que me surpreendeu em tudo que ouvi até o momento, foi a Hana. São cápsulas feitas pela empresa japonesa Excel Sound Corporation, que fabrica cápsulas e agulhas há mais de 50 anos para algumas marcas muito famosas (que, no entanto, por contrato, eles têm que manter em segredo).

Hana EL

A série Hana apareceu em 2005, e tornou-se um ícone entre os críticos e consumidores pela sua altíssima relação custo/performance. As Hana de entrada começam em 475 dólares, e a mais cara está por volta de 750 dólares. São os modelos EH e EL, e SH e SL. O “E” significa agulha elíptica, e o S é agulha Shibata (em que o corte do diamante é em um formato especial e muito mais preciso). O “H” refere-se à saída alta, e o “L” à saída baixa. Desta forma, a Hana dá o direito de o consumidor escolher qual saída é de sua preferência, aumentando as opções de compatibilidade – tem para todo mundo.

Hana SL

Os amantes de inteligibilidade total irão certamente preferir a agulha Shibata, não tenho dúvida. Já os que não possuem discos não tão bem conservados, eu sugiro a elíptica. E quanto à saída alta ou baixa, isso dependerá do pré de phono em que ela será ligada. Se o pré só tiver entrada MM, terá que ser a versão de saída alta, obviamente. Se o pré tiver as duas opções (MM e MC), sugiro a de saída baixa.

A Hana de saída baixa oferece 0,5 mV, e a de saída alta tem 2 mV.

Quanto à compatibilidade com braços, as Hanas são muito versáteis, podendo casar muito bem com diversos braços que forem de massa intermediária para alta.

Você deve estar se perguntando como é a assinatura sônica dessas Hana: das que ouvi até o momento, posso dizer que o que predomina é uma musicalidade estonteante, porém com excelente extensão nos dois extremos e ótimo detalhamento. Não se assuste ao ler testes internacionais em que os modelos de entrada são comparados com modelos de outros fabricantes que custam até cinco vezes mais! A notícia boa que tenho para dar à vocês é que estamos para receber cápsulas da Audio-Technica, da Grado e da Hana, para teste aqui na revista. O que poderá ajudá-los ainda mais na busca da cápsula ideal para o seu setup analógico.

E também receberemos novos prés de phono. Os da Cambridge, da Pro-Ject e da Thorens estão à caminho. Se tudo correr bem, ainda neste ano alguns desses produtos já serão testados e suas avaliações publicadas.

Espero que este artigo sirva de guia para os que estão iniciando essa linda jornada da descoberta do “encanto” que é a beleza que o vinil pode nos oferecer. Uma magia que passa de geração à geração, sem perder a beleza e o mistério.

Afinal, trata-se de uma topologia que, por todas as suas limitações técnicas, deveria ser peça de museu – como é hoje uma máquina de escrever. No entanto, não só resiste a todos os avanços tecnológicos sem perder a graciosidade, como ainda continua sendo uma referência no universo hi-end.

Ortofon: Alpha Áudio & Vídeo – (11) 3255.2849
Hana: German Audio – (41) 3015.6050
Grado: KW Hi-Fi – (48) 3236.3385
Cápsulas AT: Psicoterapia Vinil – (11) 97036.8668

11 Comments

  1. Thiago Queiroz de Oliveira disse:

    Agradeço ao clube pelo excelente e esclarecedor artigo, e a modéstia do autor que foi um charme ao mostrar ótimo conhecimento.
    Utilizar e explicar termos técnicos é sempre bem vindo, como em sua maioria são da língua inglesa, foi mais um ponto favorável.
    Forte abraço

  2. Hugo CAMARGO PÁDUA disse:

    Gostei das especificações.
    Tenho um toca disco ION e necessito rocr a capsula, você poderia me indicar um local em Belo Horizonte?
    Agradeço antecipado.
    Atenciosamente,

    Hugo

  3. Eduardo Costa disse:

    Gostaria de ter informações sobre cápsulas e agulhas Shure.
    Quanto a matéria, foi uma aula, um espetáculo.
    Parabéns

  4. Luiz Perigo Filho disse:

    O que dizer das cápsulas antiga e suas respectivas agulhas como por exemplo:

    Stanton el.680. Ou Pickering xv15 com sua agulha e escola acoplada.
    A Empire 2000 E VIi
    A gradiente 66 emc. Será que são tão inferiores assim ?
    Tem a cápsula original technics EP 270……? Possuo dois toca discos DD 1 gradiente totalmente original….lá fora seria o Pioneer …

  5. PAULO GERALDO disse:

    Como saber se a capsula é de cerâmica ou magnetica?

    • ED WESLEY TOLARDO disse:

      A cerâmica soa igual ao som de emissora de rádio AM. são terríveis no som a a aparência é um pouco feia.
      As magnéticas soam “parecido” com o CD. Em alguns casos, até melhor.

  6. Gilmar Cesar Soares disse:

    Bom dia.
    Estou querendo comprar um toca disco e não sei onde procurar uma loja que venda produtos novos. Poderiam indicar? Sou do Rio de Janeiro.
    Desde já agradeço.

  7. Marcelo disse:

    Parabéns pela matéria! Abordou todas as marcas famosas e que possuem qualidade. Forte Abraço.
    Marcelo (DJ MEC)

  8. Geraldo Luiz Cato disse:

    Foi extremamente positivo, educativo e fundamental a leitura. Hoje possuo uma Techincs SL 1300 mk1 e um receiver Technics SA 303 e fone Audiotechica ATHM30.
    Venho utilizando agulhas Shure M75ED e M91Ed e Audiotechica VM95e.
    Das três, a M75ed capta mais detalhes.
    Adoro discos e tento cuidar aplicando a limpeza ilustrada por vocês.
    Meu próximo passo é sem dúvida melhorar a qualidade das agulhas pois acredito que meu equipamento assim exige.
    Parabenizo a todos pelo detalhes da abordagem que com certeza foi muito rico.
    Grande abraço e obrigado!

  9. ALEXANDRE CARLOS ZIMMERMANN disse:

    OI BOA TARDE MARAVILHOSO ARTIGO. HÁ ALGUMA DIFERENÇA NOS MODELOS AUDIOTECHNICA VM 95 “C” E “E” QUANDO ESTIVER OUVINDO OASIS , BETH HART E JOE BONAMASSA ……… ? ALÉM DO PREÇO ? OU AMBAS SATISFAZEM A AUDIÇÃO VISTO QUE RODARAO EM UM TOCA DISCO ION TTUSB 10 ?
    GRATISSIMO

  10. Luiz Alberto Pereira Alves disse:

    Preciso trocar a cápsula do meu Technics SL-1300. Sou de Curitiba. Onde comprar e qual a especificação. Agradeço.

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