Teste 2: TOCA-DISCOS MARK LEVINSON 515
setembro 16, 2020
TOP 5 – AVMAG
outubro 16, 2020


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Ainda que a Pandemia tenha virado o mundo de cabeça para baixo, este foi o ano em que recebemos e testamos a maior quantidade de produtos Estado da Arte na história desta publicação! Está sendo um ano incrível por este ponto de vista.

E já na reta final, quando só faltam mais três edições para se fechar o ano, tivemos o prazer de receber o mais impressionante pré de phono que já testamos. É covardia tentar comparar este pré com qualquer outro que eu já tenha tido ou testado em minha vida.

E as possibilidades de ajustes e a tecnologia envolvida no projeto são tão extensos, que tenho sérias dúvidas se qualquer revisor crítico de áudio que tenha colocado as mãos nesta preciosidade, tenha tido a oportunidade de avaliar todas as possibilidades existentes neste produto (a CH Precision afirma serem mais de 500 possibilidades de ajuste). Isso pode ser uma dádiva ou um caos em mãos inábeis, acredite.

E certamente esse “arsenal” de possibilidades de ajuste fino justifica que muitos que escutaram o P1 não conseguiram extrair todo o seu gigantesco potencial. Quisera ter a oportunidade de ficar um ano com este produto, para ir contando em “capítulos” as descobertas do que este pré é capaz de nos proporcionar. Infelizmente, foram apenas seis semanas, já que o felizardo dono desta preciosidade estava ávido por escutá-lo.

Então não perdi um segundo desse rápido convívio, tentando ao menos entender suas “ferramentas” básicas para extrair o máximo dos dois setups que consegui ligar nele. O primeiro foi o nosso setup analógico constituído do toca-discos Acoustic Signature Storm, braço SME Series V, cápsula SoundSmith Hyperion 2 e cabos Sunrise Lab Quintessence de braço e interconect XLR. O segundo o toca-discos foi o Mark Levinson 515, com cápsula Ortofon Cadenza Bronze e cabos Feel Different FD-III (leia testes 2 e 4 nesta edição).

Felizmente esses dois setups se mostraram à altura do P1 para nos ajudar a desvendar ao menos parte de seu incrível poder de fazer o analógico soar de forma magistral!

O P1 é um projeto inteiramente baseado em transistor discreto puro Classe A, com uma seção digital apenas para o controle de análise de todos os parâmetros de ajuste, que são mostrados em seu painel e que podem ser acionados pelo seu belo controle remoto que, na verdade, é um tablet. Existem, no circuito analógico do sinal, resistores de filme de metal de alta tolerância, bem como capacitores de alta qualidade nas seções de filtragem. O P1 é alimentado por uma fonte linear massiva com vários circuitos de regulação local, todos independentes. Com o uso de dois transformadores toroidais, um maior e um segundo menor, para o uso no modo de espera quando o produto está em standby e para a economia de energia.

O P1 oferece três entradas em XLR ou RCA para cápsulas MC (entrada 1 e 2) e uma terceira entrada para cápsulas MM e MC. As entradas 1 e 2 trabalham exclusivamente no modo corrente, e a terceira no modo de tensão. As entradas de corrente apenas para cápsulas MC levam a corrente gerada pela cápsula e não a sua tensão. Segundo o fabricante, isso produz uma relação sinal/ruído superior e uma melhor imunidade em comparação à uma entrada de tensão convencional, e assim não existe necessidade de combinar impedância. Este processo é Plug & Play.

Já a terceira entrada, de modo de tensão, para cápsulas MM e MC, é usada para qualquer tipo de cápsula com uma entrada equipada com carga resistiva que varia entre 20 Ohms e 100 kOhms, permitindo ao usuário desta entrada a seleção dentre 500 valores disponíveis! As etapas vão de 5 em 5 Ohms, arrastando o botão giratório inferior para etapas grandes, ou o botão superior para pular etapas pequenas. No caso de etapas pequenas, o painel mostra: 250 Ohms, 255 Ohms, 260 Ohms, e assim por diante.

Fora todo este arsenal disponível ao audiófilo que deseja explorar ao máximo o potencial de sua cápsula, o P1 ainda disponibiliza um sistema de calibração automática que usa um “compacto simples” para produzir a melhor relação sinal/ruído e a resposta de frequência mais plana, medida em todo a cápsula que esteja tocando este compacto simples, nos seus dois lados! Este pequeno disco realiza mais de 20 procedimentos de curva de resposta de frequência da cápsula. Depois desses dados armazenados, você ainda poderá avaliar a opção de curva de resposta de sua cápsula que mais lhe agrada. Cada curva medida, também é apresentada no painel do P1, aí depois é só memorizar a melhor resposta.

Como disse um amigo amante do vinil, ao ver as possibilidades todas de calibração do P1: “Este é um pré que faz justiça ao século 21!”. Tenho que concordar integralmente com ele! O que me preocupa é se o audiófilo está preparado para um pré tão revolucionário. Pois vi em alguns fóruns ser discutido que o som do P1 é assustadoramente transparente, “dissecando” demasiadamente a beleza mais evidente do vinil: sua musicalidade. Vi até um participante mais alterado vociferando que quem escolhe ter um P1 não entende nada de vinil. Quando leio esses debates calorosos e à beira de uma ataque de nervos, sempre me pergunto o que ocorre com o ser humano? O que o leva a desdenhar da opinião do outro e achar que só seu ponto de vista é o correto? O que nos leva a ter a ilusão de que somos o centro do mundo? E que somos o guardião das verdades absolutas?

Vivemos tempos difíceis, em que as pessoas passam mais tempo em frente ao computador ou seu celular do que com as pessoas que construíram um lar e uma família. Mais tempo discutindo sobre áudio do que ouvindo seus sistemas e seus discos. E mais tempo defendendo seus valores e opiniões do que aprendendo com a experiência do outro.

O que diria a este audiófilo que afirma ser o P1 a antítese do prazer que o vinil proporciona? Que ele certamente não ouviu um P1 ajustado corretamente, pois caso ouça, sua opinião mudará instantaneamente. Não tem como ficar imparcial ao escutar este P1 com pares dignos de sua beleza. Todas as suas crenças e verdades serão simplesmente pulverizadas. Desde, é claro, que o P1 esteja ajustado corretamente. Do contrário, é uma catástrofe, exatamente como colocar um AK-47 na mão de um chimpanzé, ou pedir para alguém que não tenha a menor noção de como pousar um Boeing 747, fazê-lo!

E sei de demonstrações do P1 pelo mundo que foram totalmente pífias e que os que ouviram essas apresentações saíram se perguntando como algo tão mediano poderia custar tanto. Novamente baterei na tecla: este é um pré com características e recursos tão inovadores que será preciso que até mesmo os mais experientes estudem e se debrucem nas suas possibilidades, antes de saírem mostrando seus recursos.

Eu não sou um expert em analógico – meus conhecimentos de ajuste e montagem de cápsula foram tudo que vi e aprendi com meu pai e, agora, com o Christian Pruks e com o André Maltese. Minha contribuição se reduz ao ajuste fino no momento de ouvir o resultado, então meus erros são muito mais constantes do que os dos especialistas. Tanto que cometi este erro ao ouvir o sistema nosso de referência com a cápsula Hyperion 2 no P1. Pois como havia começado o teste com o toca-discos 515 com a cápsula Cadenza ligado na entrada 1 com modo corrente, e o som ficou magistral em todos os quesitos de nossa Metodologia, julguei que o mesmo ocorreria com a Hyperion 2. Resultado: ficou um som sem vida, frio, analítico, com uma macrodinâmica engessada, e ritmo confuso. Como dizia meu pai: “quem tem pressa, come cru”.

E lá fui eu descobrir que diabos tinha feito de errado. Coloquei o compacto simples para tocar com a Hyperion, fiz todas as medidas, avaliei as curvas de resposta e nenhuma das opções me pareceu razoável, as três opções melhores tiravam parte da beleza desta cápsula, que é justamente a extensão nas duas pontas. Resolvi seguir minha audição, colocá-la na entrada 3, no modo de tensão. Escolhi um disco que conheço na palma das mãos e fui calibrando passo a passo, e quando achei que havia chegado ao ápice, o P1 ainda me deu a opção de ajustar o ganho ideal para a Hyperion 2! Meu amigo, o resultado foi tão avassalador, que eu tenho que reconhecer que os 106 pontos que demos para esta cápsula foram modestos demais! Ela merecia, em uma possível revisão, no mínimo 108 a 109 pontos! Mas, fazer o que: ”o que não tem remédio, remediado está”.

Nos fóruns também existem discussões infindáveis entre os que possuem este P1, se é melhor colocar suas cápsulas em modo de tensão ou corrente. Os que defendem o modo tensão afirmam que o som fica mais orgânico, fluido e real. Já os que defendem o modo de corrente, alegam que o usam pelo grau de precisão no tempo, ritmo e andamento e, principalmente, pelo grau de detalhamento e equilíbrio tonal.

Leio tudo com enorme interesse, e me pergunto: se com apenas duas cápsulas eu cheguei à conclusão que de uma delas – Ortofon Cadenza Bronze – somente no modo corrente é possível se extrair todo seu potencial, e a SoundSmith Hyperion 2 somente em modo tensão, como querer defender que um modo é o correto e outro o errado?

O correto é ter a possibilidade de cada cápsula descobrir qual o melhor modo para ela. E feliz o audiófilo que possui este P1, para poder tirar o máximo do seu sistema analógico! Se tivesse um pré desta magnitude como nossa referência, a maior satisfação seria saber que os testes de cápsulas ganhariam um grau de precisão no fechamento de notas que nenhum outro pré existente no mercado pode nos fornecer! Este é o maior mérito deste P1, ser um pré que possibilita ao usuário o ajuste preciso de suas cápsulas de maneira que não haja dúvida de que cada centavo investido nele valeu! Ficar discutindo se o modo corrente possui vantagens em relação ao modo tensão, é discutir o “sexo dos anjos”!

Com um pré deste nível, a primeira coisa que eu me desfaria é de perder tempo em fóruns. Utilizaria todo o meu tempo livre para descobrir o que os meus discos têm de camadas “submersas” de informação, que pré de phono algum me deixou ouvir. Tudo neste pré se torna mais verossímil, tanto os erros como os acertos de todas as gravações. O que é belo se transforma em soberbo, o que é mediano em bom, e o que é péssimo em ruim.

Será que esta exímia qualidade é que faz alguns confundirem com transparência explicita excessivamente? Para um audiófilo rodado e familiarizado com as nuances do analógico, certamente que este “equívoco” não ocorrerá, pois ele irá se deparar exatamente com o que ele sempre sonhou no vinil: audições com corpo, energia e vivacidade que só o analógico permite (ainda).

Os bumbos se tornam viscerais, os órgãos de tubo na região grave parecem que irão derrubar as paredes, tamanha energia e deslocamento de ar. O coral no quarto movimento da Nona Sinfonia de Beethoven nos faz “ver” que estamos diante de uma centena de vozes, e não de um coral gregoriano. As texturas são inebriantes, não pelo majestoso equilíbrio tonal existente, mas por serem palpáveis e mostrarem os sutis detalhes das paletas de cores entre a qualidade e virtuosidade do primeiro e segundo violino de um quarteto de cordas.

Poderia escrever páginas e mais páginas sobre as virtudes avassaladoras do P1, mas terminarei falando de duas observações que fiz (e que sempre observei, mas sem tanta eloquência), a decadência de duas grandes estrelas do jazz: Billie Holiday e Chet Baker. No P1, as evidências da decadência de ambos são tão presentes, no seu triste final, que ficam impossíveis de se ouvir neste pré de phono. É literalmente “ver” o que ouvimos. Foi uma das experiências sensoriais/emocionais mais dolorosas que experienciei solitariamente em nossa sala de referência. Fiquei imaginando o constrangimento dos músicos que participaram dessas últimas sessões. Não estou falando de desafinação – falo da decadência explícita em cada nota em cada palavra. Nunca em setup analógico algum havia me atentado à este grau de melancolia e tensão. Será que é isso que os que não gostam do P1, dizem ser transparente demais?

Agora, amigo leitor, imagine o efeito oposto em uma gravação em que o artista esteja no ápice de sua carreira, como no disco Friday Night in San Francisco, com o Al di Meola, Paco de Lucia e John McLaughlin? Ouvi este LP nas versões 33 e 45 RPM, e interessante que sempre gostei mais da prensagem em 33 – o Christian Pruks é testemunha. Pois agora mudei integralmente de opinião (ao menos enquanto o P1 esteve conosco). Os três estavam inspirados, e foi realmente uma noite única e gloriosa. É impossível ouvir este disco e não prestar atenção do começo ao fim. É uma catarse literal! No P1 é possível ouvir o grau de tensão colocado nas cordas e a diferença de técnica e digitação dos três violonistas, e a qualidade de cada instrumento. Continua sendo, para mim, ainda hoje, uma das gravações mais “matadoras” para se avaliar um sistema analógico. Ela jamais “fará reféns”: ou o sistema passa com méritos, ou sucumbe. Nem a prensagem nacional, que é ruim, impede de ser um parâmetro seguro para avaliação. Cansei de ouvir este disco destruir reputações de cápsulas, toca-discos, pré de phono, pré de linha, powers e caixas. As masterizações para CD são sofríveis, e de streaming, então, é um caso de polícia. Feliz o leitor que possui um sistema analógico e este LP bem conservado. Foi uma noite mágica e única!

CONCLUSÃO

Pena que não exista uma versão do P1 para nós mortais. Como diz a música: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é”. Vou parafrasear e dizer: quem não gosta do P1, não o ouviu corretamente ajustado. Pois não é possível não se “comover” com este produto.

Sim, é uma questão emocional o que este pré de phono nos permite. Ele está muito além da discussão do que é analítico ou musical, quente ou frio. Devidamente ajustado, o audiófilo terá extrema dificuldade em descrever como ele soa. Pois estará ouvindo pela primeira vez, como aquele disco que ele ama tanto deveria ter soado em todos os prés de phono que o tocaram. Só que isso não ocorreu, então suas referências são como memórias distantes que ainda estão presas à sua mente pelo valor emocional, e não pela realidade que já se foi.

Toda música que amamos nos diz algo, às vezes explicitamente e outras de forma tão subjetiva que nem sabemos as razões que nos levam a sempre querer escutá-las. O P1 consegue nos fazer rememorar as verdadeiras intenções por detrás de cada escolha. Foi exatamente o que ocorreu comigo, ao ouvir determinados discos: recordei de detalhes do motivo de ter escolhido aquele disco e não outro no momento da compra. Ou me remeteu à primeira audição do disco, assim que cheguei em casa com ele! Ou ainda, audições que fiz daquele disco em upgrades consistentes, e que notei diferenças que me deixaram satisfeitos como investimento feito.

Ele seria um “resgatador” de memórias e emoções perdidas na lembrança. Aquelas que nos fazem gostar ainda mais dos nossos discos, pois resgatam parte do que somos, pensamos e desejamos.

Ele tem a sublime capacidade de nos mostrar que cada música, cada disco que já ouvimos centenas de vezes, como uma obra inacabada, ainda tem muito a nos dizer e surpreender!


PONTOS POSITIVOS

Um pré de phono digno do século 21.

PONTOS NEGATIVOS

O preço.


ESPECIFICAÇÕES
Entradas de corrente MC2x RCA e XLR
Entrada de tensão MC/MM1x XLR e RCA
Ganho35 à 70 dB (em incrementos de 5 dB)
Dimensões440 x 440 x 133 mm
Peso20 kg
PRÉ DE PHONO CH PRECISION P1
Equilíbrio Tonal 14,0
Soundstage 13,0
Textura 14,0
Transientes 14,0
Dinâmica 13,0
Corpo Harmônico 14,0
Organicidade 14,0
Musicalidade 14,0
Total 110,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



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