Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Se você, ao ouvir o nome Quad, imagina imediatamente as caixas eletrostáticas deste fabricante, você certamente tem pelo menos uns 40 anos! Pois se você falar em caixas eletrostáticas para as três últimas gerações, certamente eles te olharão com aquele ar de “não entendi” e não estou nem aí.
Já os sessentões, como eu, irão imaginar: “Uau! A Quad resolveu entrar neste concorrido mercado de fones hi-end, levando todo o seu expertise de caixas eletrostáticas para uma linha de fones?”. Negativo! O fone Quad é um design magnético planar e não eletrostático!
Mas antes que você pare de ler este teste, ouça o que tenho a comentar, pois este primeiro fone da Quad é surpreendente em muitos aspectos!
O Quad ERA-1 incorpora um diafragma, ativo eletricamente, ultra fino, conseguindo ser mais fino que um fio de cabelo, porém muito elástico, envolto em um sistema magnético que aciona este diafragma de maneira muito precisa. Sua construção é simples, se comparada à outros fones hi-end mais caros e com 450 gramas – ele pode (e deve) ser considerado um fone de peso médio.
Eu já escutei fones mais pesados, como os da linha Audeze, e mais leves como da linha Meze e os Grados de entrada, e olhe que sou chato com essa questão de peso, pois fones que apertam a cabeça e são pesados, podem ser a sétima maravilha do universo, que eu não os terei!
O que achei realmente estranho em termos de anatomia, é que mesmo com ele todo fechado, ficou relativamente grande em minha cabeça. Das duas, uma: ou minha cabeça encolheu ou o molde que este fone foi projetado é para cabeças bem maiores que a minha. Não que ele ficasse caindo, mas em movimento fiquei sempre com aquela sensação de que ele poderia sair do lugar. Para cabeças como a minha, o melhor foi ouvir o Quad sentado ou deitado.
Tirando esses “pormenores”, ao avaliar a embalagem e os detalhes, percebemos que o fone é muito bem construído com peças de metal, couro nas almofadas, e as peças de plástico existentes não comprometem de maneira alguma a construção do produto. Na embalagem, ainda o usuário encontrará um par de almofadas de veludo, o que me parece ser absolutamente incondizente com este calor escaldante que estamos sentindo neste início de primavera. Mas para as noites frias de um inverno nórdico, podem cair tão bem quanto uma xícara de chocolate quente a os pés de uma lareira.
Outra característica interessante é que o cabo é removível nas duas pontas, e sua bitola é suficiente para suportar o uso do dia a dia. Ele vem com o plug mais fino e menor, para uso direto no celular ou no notebook, e um adaptador de boa qualidade para plug de 3,5 mm. Outro detalhe de boa qualidade é o seu case de plástico injetado, rígido o suficiente para protegê-lo adequadamente de pancadas e quedas leves.
Confesso que minhas expectativas eram mínimas, pois achei que a Quad, ao abrir mão de fazer uso da topologia eletrostática em seu primeiro fone de ouvido, estaria apenas sendo mais uma a competir neste intricado mercado de inúmeras opções para todos os bolsos e gosto. São nessas situações que temos as melhores surpresas! Pois somos pegos totalmente desprevenidos.
O Quad foi usado no meu celular, e no amplificadores de fone de ouvido do pré de linha Nagra Classic e do Nagra TUBE DAC. Passei tempo suficiente para perceber que será um enorme desperdício usar um fone desse padrão em seu celular. Seja este de que nível for, pois sua sensibilidade é mais baixa que da maioria dos fones mais simples e adequados para uso em celular – apesar de sua baixa impedância – o que fará o usuário aumentar o volume para conseguir o equilíbrio necessário tonal, caindo na armadilha de ouvir mais alto do que o seguro e recomendado pelos profissionais de saúde auditiva. E, convenhamos, não faz o menor sentido você usar um fone de mais de 6 mil reais em um celular!
Mas em um bom amplificador de fone, meu amigo, o ERA-1 é surpreendente. E pode fazer você coçar a cabeça, comparando-o com fones muito mais aclamados de marcas que são a referência deste mercado hi-end de fones.
Seu equilíbrio tonal é excelente, graves corretos sem coloração, fundamentais muito bem definidas e os harmônicos ricos e com excelente corpo.
A região média me lembrou os melhores fones eletrostáticos, como os da Stax, com enorme transparência, porém sem passar do ponto e deixar as audições cansativas ou extremamente explícitas!
Os agudos possuem excelente extensão e decaimento muito suave. Isso, consequentemente, permite audições por mais horas e sem fadiga auditiva.
As texturas são muito realistas e com uma capacidade de nos permitir observar nuances de forma muito mais precisas. As audições de música de câmara ou instrumentos solo como: cellos, violinos e pianos, são de uma riqueza que só costumo ouvir com tanta precisão e impacto no Sennheiser HD 800.
O que certamente ajuda na observação desses detalhes tão sutis certamente é o impressionante silêncio de fundo dos amplificadores de fone que utilizei, mas isso só realça o padrão alcançado pelo ERA-1 em termos de equilíbrio tonal e texturas.
Os transientes são também excelentes. Os apaixonados por piano irão se deliciar com a capacidade deste fone responder com precisão velocidade, andamento e ritmo.
Em termos de macrodinâmica sou sempre temeroso em dizer o limite de um fone, pois quanto maior a folga, o usuário mais se sentirá tentado a testar os limites. Para este quesito utilizo somente música clássica e com muita parcimônia. O que o ERA-1 se destaca é nos degraus de passagem do piano para o fortíssimo. Mostrando ter folga suficiente para passar nos testes mais difíceis. O legal é que para você ouvir música clássica neste fone, os volumes podem ser sempre os corretos, e nunca ter que “compensar” com uma “turbinada” para ouvir as baixas frequências (muito comum em inúmeros fones baratos, ou não).
A microdinâmica é uma verdadeira “pera doce” para este fone. É possível até mesmo ouvir ruídos e gemidos que jamais havia escutado de inúmeros maestros (que eu imaginei que se contentavam apenas com a gestualidade regencial). E vou dizer uma coisa: são muitos que gemem, rs!
Ainda que não tenhamos o quesito corpo harmônico para fones, achei o tamanho dos instrumentos neste ERA-1 muito coerentes (principalmente em audições de quartetos de cordas ou duo de instrumentos de sopro). Já em música cantada, temos o mesmo problema de qualquer fone, as vozes são sempre em primeiro plano, mais projetadas e deixam todo o resto em segundo plano. Fique claro que isso é uma questão muito mais de mixagem e não só dos fones. A responsabilidade dos fones é que, como seu corpo harmônico é reduzido em relação a realidade, não há milagre. Vozes irão sempre sobressair (principalmente em música popular).
A sensação de materialização da música em nossa cabeça, para fones, é muito mais difícil, pois nosso cérebro não se engana assim. Mas quanto melhor o equilíbrio tonal, melhor vai ser o conforto auditivo (em volumes corretos é claro), assim como o prazer auditivo (musicalidade). O equilíbrio geral do ERA-1 permite este conforto em alto grau de prazer e ausência de fadiga.
O ERA-1 é um fone surpreendente, pois consegue unir inúmeros quesitos buscados por fabricantes de muito maior tempo e renome neste mercado. Para o seu primeiro produto, é impressionante já se situar na linha de frente dos fabricantes de fone hi-end.
O que mostra que toda a sua bela e longa história, desde os primórdios da alta fidelidade, foi de enorme valia para o seu primeiro “cartão de visitas” em fones de ouvido!
Se você busca um fone hi-end, na faixa de 6 mil reais, que possa fazê-lo desfrutar de toda a sua coleção de música, e que o faça esquecer deste mundo cada vez mais desmiolado, escute o ERA-1. Sua relação custo/performance é muito alta para não estar no seu campo de mira!
Tipo de driver | Magnético Planar |
Impedância | 20 Ohms |
Sensibilidade | 94 dB |
Resposta de frequência | 10 Hz à 40 kHz |
Peso | 420 g |
FONE DE OUVIDO QUAD ERA-1 | ||||
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Conforto Auditivo | 10,0 | |||
Ergonomia / Construção | 8,0 | |||
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Textura | 11,0 | |||
Transientes | 11,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 11,0 | |||
Total | 83,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
KW Hi-Fi
(48) 3236.3385
R$ 6.700