Christian Pruks
chris@clubedoaudio.com.br
Até pouco tempo atrás, quando se falava de fones de ouvido de real qualidade sonora – dentre os “com fio”, claro – sempre se falava de modelos de fones com impedâncias altíssimas, na casa do 600 ohms. Tanto que tem fabricantes consagrados que, até hoje, praticamente só fazem fones de 600 ohms – e os mesmos necessitam de boa amplificação para tocar. Se você ligar um deles em um smartphone, vai ter no máximo uma “música ambiente”. Claro que algumas poucas opções “fáceis de tocar” existem, para quem quer curtir sua música em movimento, ou simplesmente sentado em uma praça, parque, metrô, ônibus ou avião.
No meio termo, para os aficionados da melhor qualidade de som, surgiram alguns amplificadores de fones de ouvido portáteis, mais ou menos do mesmo tamanho que um smartphone – que produziam visuais estranhos com gente carregando um telefone amarrado em um amplificador com um velcro, com fios para tudo quanto é lado, e um fone de alta qualidade (e alta impedância).
Logo, claro, apareceram os players digitais portáteis, ou DAP (Digital Audio Player), que são um passo bem além do velho “MP3 Player”, que trazem telas grandes, grande armazenamento, software avançado que permite reproduzir arquivos de tudo quanto é formato e resolução, e promessas de potência para “empurrar” qualquer fone do mercado com qualquer impedância – promessas que nem sempre são cumpridas com louvor.
Acontece que, assim como os fones de alta impedância são caros, os DAPs também são, e todos os esquemas pouco práticos são, enfim, pouco práticos. E, não só os smartphones melhoraram suas placas de som, como também adquiriram a capacidade de acessar todo o conteúdo de serviços de streaming. Os smartphones precisam, então, de bons fones, de alta qualidade sonora, que sejam de baixa impedância e bom preço.
E é aí que começam a aparecer vários modelos de fones de bom preço – de vários fabricantes consagrados até – que não exigem demais dos DAPs, que não precisem de amplificador externo, que possam ser usados por smartphones ou tablets. Portabilidade é o futuro! E um desses bons fones, dentro de sua proposta, é o Onkyo ES-FC300.
Especializada em equipamentos de áudio e home theater, a Onkyo Corporation foi fundada em 1946, em Osaka, no Japão, como Osaka Denki Onkyo KK – sendo que o significado de “Onkyo” é “ressonância do som”. É uma empresa de capital público cujos principais acionistas são uma família de nome Ohtsuki (que dirigem a empresa), e a Pioneer Corporation. A Onkyo, por sua vez, também é acionista da Pioneer Corporation.
Lançados no final de 2013, existem dois fones praticamente iguais no portfólio da Onkyo: o ES-HF300 e o ES-FC300 (aqui testado). O que difere um do outro é o cabo provido com ele. O HF300, um pouco acima, vem com um cabo destacável de cobre OFC 9,99999% puro e com plugues de maior qualidade – e uma etiqueta de preço maior. Já o FC300 vem um cabo de cobre não especificado, com construção flat para evitar que embarace. Ambos cabos vem com plugues folheados à ouro, em ambas pontas. As diferenças acabam aí, e as especificações técnicas de ambos fones são iguais. Ambos cabos destacáveis utilizam plugues P2 de 3.5 mm na ponta que liga no player, e conectores padrão MMCX no lado do fone – que são um padrão usado por vários fabricantes de fones, principalmente a Shure.
O FC300 é um fonte tipo fechado, e cujo tamanho é algo entre um On-Ear e um
Over-Ear – creio que muito por causa do tamanho do driver que a empresa utilizou: 40mm, dinâmico, com cone de titânio e estrutura de alumínio. Os copos, estrutura e arco são todos de alumínio, com algumas peças em plástico, e a construção é soberba! Tanto o topo do arco como as almofadas são de “falso” couro (leatherette), e as almofadas usam espumas normais, e não com memória. O FC300 vem em um saco de tecido bem acabado, que provê um pouco de proteção no armazenamento, mas só isso.
Durante o teste do fone Onkyo FC300 foram utilizados: smartphones LG K11+ e V20, tablet Samsung, notebook Acer Aspire Windows 10, e a saída para fones de ouvido do amplificador integrado Emotiva TA-100 BasX.
O intuito da Onkyo foi fazer um fone de alta qualidade, por um preço acessível – e eu acho que eles tiveram sucesso, pois a minha opinião é a mesma de muitos reviewers: o FC300 toca com o refinamento e qualidades de fones que custam o dobro de que ele custa. Inclusive alguns aspectos e qualidades específicas superam alguns desses fones.
Ao ler sobre o projeto e as especificações deste fone, eu cheguei à conclusão de houveram alguns focos por parte da Onkyo. O primeiro foi fazer um fone que não “nivela por baixo” as gravações, e cujo foco do médio e do agudo eram ser mais “para trás”, mais recuados. Tem gente que não curte isso, mas deu uma suavidade na sonoridade do fone sem comprometer quase nada de detalhamento ou tamanho das coisas. Ao ouvir música feitas por instrumentos acústicos, percebe-se que você está mais fora do palco, apreciando-o, do que dentro do palco junto com os músicos – e eu achei isso ótimo! Porém, não vai tocar bem todas as gravações, porque as que forem desagradáveis, pequenas, e “na cara”, muito comprimidas ou, especialmente, as com volume muito alto, provocando embolamento, ficarão desagradáveis de se ouvir no FC300.
Outro foco da Onkyo foi em fazer um fone com grandes e bons graves. Alguns críticos dizem até que o fone tem “ênfase nos graves”. Bom, a minha experiência auditiva com o FC300 me diz que, se a gravação tem graves corretos, ela vai tocar bem – mas se os graves forem turbinados ou mal definidos, isso ficará transparente. Isso se dá porque a Onkyo desenvolveu um sistema de câmaras duplas dentro de cada concha do fone, com o intuito de dar grandes e bons graves, e com o intuito de dar graves profundos. É um dos fones com graves mais profundos que eu já ouvi, que são bem recortados e bem texturizados, ainda por cima! Alguns reviewers disseram que o grave do Onkyo FC300 desce mais que o de concorrentes famosos no mercado que custam, lá fora, o dobro do preço dele. Eu acho que eu acredito nisso, porque a minha experiência com os graves do FC300, seu poderio e sua extensão, tem sido bem divertida – prazerosa como sentar frente à um banquete.
O FC300 é um fone que, em suas especificações, dá a entender que pode ser usado plenamente em smartphones – mas isso não é verdade na prática. Com gravações feitas em volumes mais baixos, como as de música clássica, por exemplo, e muitas de vários gêneros, no telefone ele não atinge os volumes necessários para uma correta apresentação musical, em detrimento do prazer de ouvir música por ele. O resultado melhora em um tablet, mas só consegui volumes mais interessantes no notebook ou, melhor ainda, em um amplificador de fones de ouvido.
O fato é que o FC300 é mais um fone que vai realizar seu potencial qualitativo somente com amplificadores de fones de ouvido – ou mesmo com um player digital portátil, que tem mais potência de saída. A questão aqui tem totalmente a ver com a potência do dispositivo onde o fone será ligado – mas, por “potência”, não entendam mais “volume”. O que ocorre é que o equilíbrio tonal do fone, e várias outras características sonoras, só se realizam se o dispositivo tiver boa potência para alimentar o fone de ouvido – o FC300, no mesmo volume, vai tocar melhor e mais redondo se o dispositivo tiver potência para alimentá-lo e, de quebra, terá também mais volume para lidar com gravações de foram feitas muito baixas. Acredito que qualquer amplificador de fone de ouvido, de boa qualidade, pequeno que seja, dará boa conta de domar o FC300, e sobra. Afinal ele está longe de ter a impedância altíssima (comparativamente) de uma série de fones de ouvido audiófilos do mercado.
Em matéria de conforto auditivo, o FC300 é um dos melhores fones que já usei – e as causas disso são a apresentação musical mais “para trás”, ou seja, que não tem médios que ficam na sua cara, o bom grave cheio que não necessita calcar no volume: praticamente todos os gêneros musicais soam cheios e grandes mesmo em volumes medianos, e os agudos que soam delicados e limpos, nada de analíticos. Os agudos chegam a soar até suaves, com alguns discos.
São fones tipo on-ear (que ficam sobre a orelha, sem cobri-la totalmente), porém são maiores que a maioria dos on-ears, sendo que quase chegam a ser tão grandes quanto os over-ears (que cobrem toda a orelha). Estes últimos dão uma vedação muito melhor, isolando você um pouco de barulhos externos e isolando as pessoas de terem que curtir a sua música na marra. O que eu achei legal é, apesar de eu ser cabeçudo e orelhudo, consegui que o FC300 cobrisse decentemente a minha orelha e desse uma vedação com a qual dá para se conviver.
E, por ser cabeçudo (de várias maneiras…), vale ressaltar um fato muito importante: o FC300 faz pouca pressão sobre a cabeça e as orelhas, e isso contribui muito para a sensação de conforto físico, de ergonomia, que ele dá. Isso, e o fato de que ele pesa apenas
240 gramas – cortesia do time de desenvolvimento da Onkyo. Por outro lado, pessoas que tenham a cabeça menor ou mais estreita, poderão achar que o FC300 não faz pressão o suficiente nas orelhas.
A construção do FC300 dá a impressão de ser extremamente bem feita e sólida – porém não vou maltratá-lo para saber até onde essa solidez vai.
O equilíbrio tonal do FC300 é decentemente correto, mas com características bem próprias, como o grave que desce bastante e é bem presente – mas muito bem reproduzido – e com parte dos médios, médios-agudos e agudos um tanto suavizados, mas nítidos o suficiente, com excelente timbre. Acho que aqui está o pênalti do FC300: os agudos, em muitas gravações, carecem do brilho necessário que formaria sua textura e tamanho.
Portanto, nem tanto os pratos e outros dispositivos agudos são o que faz as texturas encantarem no FC300. Esse encantamento está nos médios-graves e graves, tornando percussões, cellos, contrabaixos, instrumentos graves e com componentes graves, serem muito bons de se ouvir. Orgãos tipo Hammond e Fender Rhodes têm aquela textura que diz ao seu cérebro que não dá para imitar tais instrumentos, que aquilo que você está ouvindo não é uma versão sintetizada ou um plug-in. Discos de percussão são sensacionais de ouvir, até porque em gravações com a bateria decentemente captada, ouve-se claramente a baquetada, a pele da peça vibrando, ou mesmo a vassourinha.
Em transientes fica claro o trabalho de bateria, percussões e quaisquer instrumentos musicais com transientes claros: são rápidos pacas! Fui iludido até por um bumbo de bateria a ter a sensação de que, ao ouvi-lo sendo tocando forte e rápido, eu estava sentindo o deslocamento de ar! As intencionalidades de tudo quanto é músico que eu ouvi, foram muito bem reproduzidas. Um violão acústico sendo tocado e você quase consegue contar a dedilhada, e consegue perceber a diferença de intencionalidade dentre cada dedo em cada corda.
Você pode fazer o FC300 se irritar (e irritar você) com música embolada, comprimida e saturada, mas não vai fazer ele nem pestanejar com a macrodinâmica de discos de percussão bem gravados, com trabalhos sinfônicos pesados, ou mesmo com música eletrônica bem feita. Trabalhando junto com as intencionalidades claras, citadas acima, estão os crescendos dinâmicos providos não só por artistas solando instrumentos, como também por grandes conjuntos de músicos, como orquestras sinfônicas. A inteligibilidade sempre esteve bem alta – garantindo uma boa microdinâmica. Em alguns discos até ouvi com mais clareza detalhes e nuances antes não tão facilmente percebidos.
O FC300 provê uma apresentação orgânica? Traz você para dentro do acontecimento musical? Com boa frequência sim, mas não em todos os casos. E acho que a característica do médio-agudo e do agudo suavizado não dão a mesma imersão, não transportam você tão bem para dentro do acontecimento musical quanto transportam seus médios-graves e graves.
Dito isso, no parágrafo acima, devo dizer então que a percepção de camadas de músicos do FC300 é muito boa, assim como o descongestionamento do acontecimento musical. Isso, junto com os timbres, textura e tamanho dos instrumentos, tudo me traz a sensação de estar assistindo a música ao vivo, sentido a maioria de seus harmônicos – mas ao mesmo tempo mantendo uma distância saudável do palco.
O fone Onkyo ES-FC300 é uma boa compra para quem quer um fone de bom preço com alta performance, e que simpatize com sua assinatura sônica e equilíbrio tonal, e seja aficionado dos gêneros musicais que ele melhor reproduz.
Não se esqueçam de alimentar o FC300 com uma boa amplificação, e com uma boa fonte (senão ele vai te mostrar direitinho que a fonte não é boa…). E, se eu fosse o usuário principal desse fone – que é um “best-buy” com tremendo custo/benefício – eu procuraria um cabo destacável de cobre com banho de prata, para ir trazendo o equilíbrio tonal para um lado ainda mais interessante, dando um brilho e tamanho melhor nos agudos.
Apesar de ser um fone que já está no mercado fazem anos, ainda não apareceu substituto na linha, e ainda pode ser facilmente encontrado na Internet para venda. Seu custo baixo também facilita sua aquisição. O ES-FC300 (assim como a versão ES-HF-300) está disponível na Amazon e em vários sites de vendas.
Graves excelentes. Som grande, cheio, musical e muito bem definido. Conforto. Preço.
Apesar das especificações, não tem volume suficiente ou realiza seu potencial sendo usado com smartphones, necessitando ser alimentado por uma amplificação mais forte – pelo menos um player digital portátil, um tablet ou um notebook.
Drivers | 40 mm de titânio e alumínio |
Tipo | On-Ear, fechado, dinâmico |
Arquitetura | Dupla-câmara para maior definição de graves |
Construção | Conchas, estrutura e arco em alumínio, com peças em plástico |
Almofadas | Leatherette (falso couro) |
Cabo | 1,2 m flat / plug 3.5 mm / Destacável com conectores padrão MMCX |
Resposta de frequência | 10 Hz – 27 kHz |
Potência máxima | 1000 mW |
Impedância nominal | 32 Ohms |
Peso (sem o cabo) |
FONES DE OUVIDO ONKYO ES-FC300 | ||||
---|---|---|---|---|
Conforto Auditivo | 9,0 | |||
Ergonomia / Construção | 9,0 | |||
Equilíbrio Tonal | 10,0 | |||
Textura | 10,0 | |||
Transientes | 10,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Organicidade | 8,0 | |||
Musicalidade | 10,0 | |||
Total | 76,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Onkyo
https://eu.onkyo.com/en-GLOBAL
US$ 150 (sites de vendas no exterior)