Teste 1: CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON LEGACY 3230
março 15, 2021
TOP 5 – AVMAG
março 15, 2021
CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON PRESTIGE FACET 8B

A história da Elipson se mistura com a história da audiófilia francesa há muito mais tempo que muitos possam imaginar. Como consta em seu site, está intrinsecamente ligada ao seu diretor-gerente, Joseph Léon, que era um apaixonado por som.

Em 1930 participou da montagem e desenvolvimento de sistemas de som utilizados nos cinemas, como parte da filial da Radio Cinéma, da holding CSF. Ao mesmo tempo, Joseph Léon e seu irmão Jean estavam trabalhando em um dispositivo de gravação portátil, o Monobloc VV3.

Joseph Léon ingressou na empresa Multimoteur, que produzia locomotivas e trilhos de trem para crianças. A empresa também fabricou peças elétricas em miniatura, usadas na fabricação de transformadores, dínamos e alternadores.

Em 1948, Joseph Léon tornou-se diretor administrativo da Multimoteur. Sob sua liderança, a empresa se envolveu muito mais na fabricação de alto-falantes. Os alto-falantes foram então
nomeados Shells, em referência à sua forma elíptica. Em 1951, a Multimoteur tornou-se Elipson, sendo esse nome a junção das palavras francesas elipse e son (som).

Em 1953, a caixa acústica BS50, que já utilizava os refletores acústicos, foi apresentada ao público durante o primeiro show de som e luz realizado no Château Chambord (Loir-et-Cher, França). O trabalho de Joseph Léon foi rapidamente notado e logo contatado por Marcel
Dassault, que procurava uma solução para o problema de interferência nas cabines dos aviões de combate. Ao resolver esse problema, o diretor da Elipson também criou vários sistemas engenhosos para reduzir o ruído produzido pelos reatores modernos.

Em 14 de dezembro de 1963, na inauguração da Maison de La Radio (ed. Emissora de rádio francesa), lá estava a BS50 Chambord dando voz ao discurso de abertura, feito pelo General Charles de Gaulle. A Maison de La Radio é sede principal, até hoje, das rádios públicas francesas.

Em 2008, Philippe Carré, um jovem empreendedor apaixonado pela marca, assumiu a empresa com seu sócio Eric James, reposicionando a marca no mundo da decoração de interiores e design. Esse reposicionamento deu à empresa grande destaque no mercado hi-fi atual.

A Impel sempre nos surpreende trazendo produtos que são ou serão tendência no mercado brasileiro. Desta vez eles acertaram mais uma vez, pois ao trazer uma marca lendária que tem eu seu DNA o design aliado à função, preenche mais um espaço vazio existente no mercado hi-fi brasileiro: o de produtos que agradam aos olhos, ao bolso e aos ouvidos de uma forma não tão convencional assim.

Para começar esta ótima empreitada, a Impel disponibilizou para testes algumas das caixas acústicas da Elipson, e a primeira delas é a bookshelf modelo Prestige Facet 8B, uma bookshelf de dimensões generosas e de visual pouco convencional. O atrativo estético fica por conta dos anéis refletores multifacetados, feitos em silicone, fruto de décadas de estudos sobre a energia do som, e circundam o falante e o tweeter. O gabinete é dividido em duas partes: a frontal utiliza um grande defletor em duas camadas de ótima espessura, mais de 20 mm, contribuindo para a contenção das vibrações causadas pelo movimento dos cones e do ar dentro da câmera traseira. Na parte de trás vemos o duto de ar e quatro pequenos bornes de caixa de ótima qualidade, banhados em ródio, acoplados em um suporte em ABS texturizado.

É uma pena o borne ser tão estreito e dificultar um pouco dar pressão ao terminal do tipo spade. Outra coisa que me chamou atenção é que a Elipson não seguiu o padrão convencional em que o positivo fica lado direito e negativo no lado esquerdo – é invertido, o que exige um pouco mais de atenção para não se desesperar no momento da audição. Esses franceses… (risos). O drive de médio-grave de 17 cm (6.7 polegadas) conta com um plugue de fase em formato balístico, que diminui as vibrações do cone, e o tweeter domo de 25 mm tem ótima extensão.

A caixa conta com uma base sólida que a desacopla dos pedestais. O acabamento está disponível em três opções: Black Piano na parte frontal com acabamento texturizado no restante da caixa, totalmente branca, ou em nogueira com Black Piano na parte frontal.

A Prestige Facet 8B recebe até 85 W RMS, em 6 Ohms, e responde de 47 Hz (muito bom para uma book) à 25 kHz, com uma sensibilidade de 91 dB/1W/1m. Sensibilidade mais que bem-vinda para bookshelfs nesta categoria, pois na maioria das vezes fará par com amplificadores mais modestos no quesito ‘controle’ (fator de amortecimento). Suas dimensões são (L x A x P): 230 x 361 x 347 mm.

COMO TOCA

Para o Teste utilizamos os seguintes equipamentos e acessórios. Fontes: toca-discos de vinil Thorens TD202, pré de phono interno do TD e do integrado Sunrise Lab V8, media center e streamer de música Innuos Zen 3 mini com fonte extern, DAC Hegel HD30. Amplificação: Sunrise Lab V8 MkIV Signature Special. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab Reference II Magic Scope, Sunrise Lab Illusion Magic Scope, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Reference Magic Scope XLR e coaxial digital, Sunrise Lab Quintessence XLR e coaxial digital, Sunrise Lab Illusion Magic Scope XLR e coaxial digital, Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabos de Caixa: Transparent Reference XL, Sunrise Lab Reference II Magic Scope, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope, Sunrise Lab Illusion Magic Scope.

A Elipson Prestige Facet 8B chegou lacrada, e a embalagem bem construída acomoda muito bem a caixa acústica. A base é super fácil de montar e, para quem não pretende adquirir pedestal da marca, sugiro fixar usando velcro adesivo na caixa e no pedestal.

Ao ligar a bookshelf no sistema de referência, sua sonoridade de cara impressiona. É uma sonoridade limpa extremamente clara na região média, alguns poderão confundir com abertura, mas não é. Trata-se de uma limpidez que te faz coçar a cabeça logo nos primeiros acordes. Esta característica se mantém ao longo de todo o amaciamento, ganhando refinamento à medida que as outras frequências ganhavam contornos mais naturais. Por falar em longo, esta caixa exige um longo período de amaciamento, ao ponto de acharmos que ela já amaciou e não há nada mais a fazer com o encaixe entre a região médio-grave e grave, que sofre grandes mudanças durante este período e teima em não encaixar.

elizmente, lá nos últimos minutos do amaciamento é que eles se encaixam e a apreensão dá lugar a um sorriso de orelha a orelha. Já o encaixe entre woofer e tweeter é excelente, e não nos faz sofrer tanto quanto o outro extremo. Apenas aquela aspereza tradicionalmente incômoda que todos os tweeters têm.

Por causa dos refletores em volta dos drivers, a dispersão das frequências é soberba, e se o futuro proprietário estiver acostumado com caixas sem este tipo de artifício, irá estranhar o posicionamento dela na sala de audição – neste quesito ela se parece bastante com as caixas com tweeters tipo Air Motion Transformer, com sua grade frontal que possui ótima dispersão em todos os planos – fazendo com que a distância lateral seja um fator determinante para o equilíbrio tonal geral da caixa. A coisa boa nisto tudo, é que ela precisa de muito mais espaço entre elas do que da parede de fundo às caixas, cabendo perfeitamente na maioria das nossas salas, que são mais largas que compridas. Ela gosta de ficar próxima à parede lateral – aqui na nossa sala de testes a Prestige 8B ficou posicionada assim: 1,45 metro da parede de fundo (medido do tweeter para a parede), a ponta lateral frontal a 0,51 m da parede lateral e a ponta lateral traseira da caixa a 0,46 m – medida da ponta externa do gabinete. O espaço entre as caixas ficou de 2,70 metros. Com este posicionamento, a região média não se sobressai perante às outras, e as vozes que devem permanecer estáticas na maior parte dos discos, não parecem correr o palco sonoro.

Desconfie do posicionamento das caixas quando ouvir um disco gravado em estúdio em que o(a) cantor(a) parece se mover sutilmente de um lado para o outro, para baixo ou para cima. São poucos os discos em que isso acontece por causa do músico, costuma ser mais por conta do posicionamento da caixa acústica e/ou por causa da acústica da sala.

Esta é uma caixa que quebra paradigmas. A maioria dos projetistas de caixas acústicas nesta categoria, ou faixa de preço, costumam focar em timbre, uma boa dose de graves e um tweeter que tenha um grande alcance. Visando reduzir custos, os materiais utilizados
obrigam o projetista a abrir mão de corpo, equilíbrio e suavidade na transição entre as frequências e de um senso temporal superior.

Bem, há inúmeras caixas que contornaram este problema utilizando refratores de berílio e outros materiais exóticos e caros, como a Persona B da Paradigm. O que a Elipson fez foi o mesmo, de maneira igualmente engenhosa, só que infinitamente mais barata. O resultado é uma sonoridade limpa, tão limpa e com menor distorção harmônica que estranhamos num primeiro momento. Semelhante ao que aconteceu quando os Hegels desembarcaram aqui no Brasil. Muitos dos que estavam acostumados com aparelhos mais quentes, menos claros na região médio-grave e média-alta, estranharam num primeiro momento esta nova forma de reprodução musical, depois se percebeu que se tratava de maior equilíbrio e mais neutralidade sônica, coisa que não se ouvia na sua faixa de preço.

No álbum That’s It!, do grupo Preservation Hall Jazz Band, faixa 1, a tuba é um verdadeiro carrasco com qualquer caixa acústica. É uma prova de fogo que tenho certeza que muitos audiófilos jamais mostrarão em seus sistemas aos seus colegas. A Prestige Facet 8B lidou de forma exemplar, com uma folga e uma clareza na região baixa, grave e média-grave que causou espanto. Claro que não lida como uma boa torre – não estou falando do grave em si, pois o fato de descer a 47 Hz ajuda, mas não é este o ponto, o ponto é a forma como ela lidou com aquele paredão sonoro, foi qualquer coisa de espetacular! Ao mesmo tempo em que a ambiência da bateria estava lá, intocada, preservada, assim como o timbre rachador do trompete, mesmo sob forte estresse mecânico sofrido pelos drivers, o palco não balançou um centímetro sequer. Isto é folga, caro(a) leitor(a)!

CONCLUSÃO

Eu sou um dos que reclamam que muito do nosso mercado de áudio se concentra mais no topo da cadeia que nos andares mais próximos ao térreo. Temos ótimas marcas aqui, mas não tanta fartura de modelos. Os audiófilos e melômanos têm agora mais uma opção robusta e de alto nível a considerar, temos a possibilidade de pôr as mãos em um produto diferenciado, respaldado por décadas de estudos científicos e com um nível que coloca em cheque muito do que os outros projetistas pensam para a classe de entrada da audiófilia.

Queremos mais, e a Elipson com a linha Prestige, através de seu importador, a Impel, está à frente do seu tempo nos entregando mais por muito menos.

Nota: 82,5
AVMAG #261
Impel

(11) 3582.3994
contato@impel.com.br
R$ 4.862 (o par)

CAIXA REVEL PERFORMA M126Be

Fernando Andrette

É muito bom quando conseguimos que o importador envie, na sequência, produtos da mesma série, para que possamos passar aos leitores uma ideia consistente de toda uma linha.

Então, poder publicar na sequência os testes da nova linha Performa Be da Revel, certamente irá ajudar a muitos dos leitores, que gostam da marca, a decidirem qual modelo é mais adequado ao seu orçamento, sala e expectativas.

Sugiro a todos que ainda não fizeram, uma leitura do teste do modelo Performa F228Be, publicado na edição de aniversário (Maio de 2020). Os que já leram o teste, perceberam o quanto gostei da caixa. Pois, além do salto ter sido gigantesco em relação ao modelo anterior, as soluções encontradas pelos engenheiros da Revel elevaram a caixa à um outro patamar.

E esta nova bookshelf M126Be, o que herdou da antiga Performa M106? Novamente a resposta é: apenas o gabinete, pois todo o resto é novo. Novos drivers, novo crossover e acabamento mais elegante. A M126Be também utiliza o novo tweeter de berílio. Um material com um excelente equilíbrio entre rigidez, leveza e excelente amortecimento, mas ainda caro e bem difícil de fabricar, em relação aos falantes em tecido ou alumínio.

A lente acústica que circunda o tweeter é a quinta geração fabricada pela Revel. Ela controla a direcionalidade do tweeter para que ele case perfeitamente com a passagem do médio/alto para os agudos, além de melhorar drasticamente a dispersão lateral dos agudos, fora do eixo de audição.

O novo falante de de médios-graves de 16,5 cm (6.5”) possui um cone de alumínio com revestimento de cerâmica para melhorar ainda mais a rigidez do alumínio e controlar a ressonância. A bobina de voz foi totalmente revisada, melhorando – segundo o fabricante – drasticamente a distorção e a dinâmica. O crossover também foi totalmente redesenhado e a caixa, ao contrário do modelo testado na edição passada, não aceita bi-cablagem.

Existe muita controvérsia sobre o que é melhor (mono ou bi-cablagem). Minha experiência simplesmente diz: depende exclusivamente de cada projeto. Minhas caixas, na sua esmagadora maioria foram mono-cabladas, por escolha e pelo fato de ser uma economia e tanto no custo de cabos. O problema para mim é outro: os jumpers que saem de fábrica com as caixas bi-cabláveis são geralmente ruins (fato constatado em dezenas de caixas testadas pela revista), o que prejudica muito aos que não querem ou não podem comprar um segundo cabo.

A Performa M126Be segue o design de um gabinete curvo com a traseira mais estreita que a frente. O duto dos graves está colocado acima dos terminais de caixa, sendo bem avantajado pelo tamanho do gabinete (apenas 37 cm). A Revel oferece quatro opções de acabamento: preto, branco, nogueira e prata. O modelo enviado para teste foi o branco metálico.

Impressiona a rigidez do gabinete e seus 10 kg! Sua forma nos lembrou um alaúde, com uma frente de 21 cm e sua traseira se apenas 11 cm, e sua altura de 38 cm na frente!

Um detalhe essencialmente importante será a altura e o posicionamento das caixas na sala de audição. A Revel vende separado um pedestal para essas caixas, e o que chama a atenção é a altura desses pedestais (quase 64 cm), o que indica que o tweeter não deve ficar à altura dos ouvidos e sim, ligeiramente acima. Então, aos futuros interessados, essa dica é fundamental para se tirar o melhor proveito dessa bela bookshelf!

Como não tivemos acesso ao pedestal original, mas munidos dessa informação, usamos o pedestal da Magis (nossa referência) e buscamos adequar a altura, para dar às M126Be as melhores condições de nos mostrar suas habilidades sônicas.

Vieram com menos de 40 horas de queima, então fizemos a primeira audição, fizemos nossas anotações iniciais, e as deixamos amaciando por 100 horas.

Ela foi ligada nos seguintes equipamentos. Integrados Pass Labs 25T e Sunrise Lab V8 SS. Powers CH Precision A1.5 (leia Teste 1) e Nagra Classic (estéreo e mono). Cabos de caixa Dynamique Halo 2, Feel Different FD III, e Sunrise Lab Quintessence. Fonte analógica toca-discos Acoustic Signature Storm, cápsula Soundsmith Hyperion 2, braço SME Series V, pré de phono Boulder 500, e cabos de braço, interconexão e força Sunrise Lab Quintessence. Fonte digital transporte dCS Scarlatti e os conversores TUBE DAC e HD, ambos da Nagra.

Com 140 horas de amaciamento, voltamos a M126Be para nosso primeiro contato, ligado ao nosso sistema de referência. A melhora foi tão significativa, que a audição programada para duas horas no máximo, se estendeu por quase quatro horas! Lembrou-me de imediato os melhores monitores com que trabalhei em nossas gravações, tanto para a Movieplay como para a Cavi Records.

Sua sonoridade é de uma limpeza sem, no entanto, cair para o lado do asséptico. Seu equilíbrio tonal, neste momento do amaciamento, ainda que não estivesse ‘estabilizado’, nos permitiu notar que era de uma integridade de cima abaixo, sem nenhum pico ou vale dentro do espectro audível.

A M126Be, ainda que precisando do dobro do amaciamento, mostrou nessa audição mais longa alguns dos seus atributos sonoros, como: detalhamento impressionante (principalmente em microdinâmica), velocidade, foco, recorte e planos.

Com 250 horas, a Revel entrou definitivamente em teste. No primeiro momento, ligamos a M126Be com o integrado da Pass Labs Classe A de apenas 25 Watts por canal (o teste sairá na edição de Julho). Meu interesse era saber se o integrado daria conta da caixa e como se comportaria este conjunto em termos de sinergia (já que ambos foram feitos para salas de até 25 m²).

A assinatura sônica do Pass Labs, quente e sedosa, aliada aos cabos Feel Different FD III, deram à book Performa uma sonoridade muito interessante, pois não perdeu em nada seu alto grau de detalhamento, e ganhou texturas e ainda mais invólucro harmônico na região média e média-alta, muito interessante para instrumentos de sopro de madeira (no momento da instalação estava a escutar o saudoso Paulo Moura tocando clarinete).

Como os cabos da Feel Different estão ainda em amaciamento, acabei colocando a Performa no nosso sistema de referência. É uma caixa que impressiona pela facilidade com que organiza o acontecimento musical e a facilidade com que amplia o palco sonoro, para muito além do seu espaço físico. A largura, assim como a profundidade, são magistrais!

Mas, para se atingir este patamar, lembre-se: a altura das caixas em relação ao ouvinte será crucial! Os ouvidos precisam estar exatamente na altura da passagem do médio-grave para o tweeter (certamente a lente colocada em volta do tweeter é que nos permite ter essa localização espacial tão precisa). Devidamente ajustado à altura, o ouvinte não só terá este palco majestoso como também um foco e recorte cirúrgico e de tamanha precisão que temos uma imagem sonora realmente holográfica!

Antes de continuar, tenho que fazer um outro lembrete: a distância entre as caixas e o posicionamento delas na sala é de suma importância também. A M126Be necessita de respiro entre elas e as paredes para dar o seu melhor! No mínimo 50 cm das paredes laterais e 1 m da parede às costas delas. Para um grave consistente em termos de energia e corpo, o ideal de abertura entre elas (de tweeter à tweeter) é de 2,90 à 3,00 m. Agora, se o ouvinte preferir um toe-in mais acentuado (quando não se vê mais as paredes laterais das caixas, a parte de dentro do gabinete), diminua a distância entre elas para no máximo 2,60 m.

Gostei mais delas com um leve toe-in de apenas 15 graus em relação ao ouvinte. Pois, se acentuava demasiadamente o ângulo das caixas para o centro de audição, nas gravações com pequenos grupos, ganhava em proximidade dos músicos, mas perdia em arejamento e planos. É uma questão de gosto – o que importa é a versatilidade deste book em atender ao gosto do freguês, mostrando que são caixas muito fáceis de serem ajustadas e de enorme compatibilidade com cabos e sistemas de qualidade.

Tomados esses cuidados (arejamento entre as paredes e altura do pedestal), é uma das books que testamos nos últimos três anos mais interessantes e refinadas. Não possui o mesmo peso e autoridade que extraímos da Paradigm Persona (que também utiliza tweeter de berílio), e nem a riqueza harmônica da Boenicke W5SE. Mas diria que ela se encaixa entre essas duas books que tanto nos impressionaram!

Seu equilíbrio tonal, mesmo faltando a primeira oitava nos graves, não tende para uma projeção dos médios-graves (muito comum nas books), ou uma luminosidade a mais nos agudos. Ela compensa essa limitação (física) com um corpo harmônico muito correto para o seu tamanho, precisão e velocidade nos graves a partir de 50 Hz que não só nos convence, como torna as audições muito sedutoras.

Sua região média é translúcida, tanto em termos de inteligibilidade como de materialização física do acontecimento musical. Este encanto é que nos remete a fazer uma analogia com excelentes monitores de estúdio. Pois como os melhores monitores, a Revel nos mostra os detalhes de cada gravação sem nos perdermos do todo, ou ficarmos o tempo todo querendo mais peso nos graves (a não ser é claro que você só escute órgão de tubo, percussão japonesa e tuba).

Como um excelente anfitrião, ela nos garante audições memoráveis, para o ouvinte que deseja ir além de ouvir suas músicas, preferindo fazer um mergulho nos detalhes daquela gravação. Uma imersão no âmago ou cerne do acontecimento musical. Essa foi a proposta dos engenheiros da Revel.

Seus agudos possuem notável velocidade, corpo e um decaimento digno das melhores caixas hi-end da atualidade. Aqui os cuidados são os mesmos com todas excelentes caixas: cabeação à altura e eletrônica idem. Com seus pares corretos, o ouvinte jamais será
traído por uma última oitava da mão direita com som de vidro ou pratos de condução que parecem frigideiras. Seu respiro é digno de nota, pois nos fazem perceber as ambiências sem nos desviar do todo.

Alguns audiófilos (principalmente no início da longa jornada) adoram se prender aos detalhes e, claro, mostrar esses detalhes que apreciam aos amigos. E parece que temos verdadeiramente ‘fixação’ pelos extremos: assustar os amigos com graves poderosos e pirotécnicos ou agudos sedosos e palpáveis. Essa Revel não se destina à essa fase infantil audiófila. Ela será apreciada somente mais adiante, quando já experimentamos todas as pirotecnias possíveis e já nos cansamos de deixar a música em segundo plano!

A M126Be é uma book capaz de nos fazer esquecer o mundo lá fora (com ou sem pandemia) e nos dedicarmos exclusivamente a ouvir música.

Outra característica que a coloca exatamente entre a W5SE e a Persona é sua reprodução de corpo harmônico. Ainda que não tenha o mesmo ímpeto de ambas, consegue uma reprodução muito coerente e homogênea. Assim o ouvinte percebe as diferenças entre o corpo de um contrabaixo e um cello, ou uma flauta e um flautim. O que pode parecer um preciosismo nosso, mas que na verdade é essencial para enganar nosso cérebro de que não se trata mais de reprodução eletrônica (principalmente para os leitores que possuem como referência música não amplificada). Pois do que adianta ouvirmos um sistema com um bom equilíbrio tonal se todos os instrumentos possuem o tamanho de uma pizza brotinho?

Essa é a maior limitação dos fones de ouvido e, consequentemente, de maior fadiga auditiva. Nos fones, todos os instrumentos são diminutos.

CONCLUSÃO

Gostei muito da M126Be – entrará para a minha lista de books que conseguem contornar honestamente as limitações físicas, oferecendo em troca refinamento, coerência, equilíbrio e muito conforto auditivo.

Excelente para ambientes de 12 a 20 m². Ligada à uma boa eletrônica e com cabos decentes, pode perfeitamente ser a caixa definitiva para um bom sistema Estado da Arte minimalista (fonte, integrado, e elas).

O que mais chamou nossa atenção é o alto grau de equilíbrio entre detalhamento e musicalidade, jamais ultrapassando o limite deste ‘tênue’ ponto.

Óbvio que não fará milagre com gravações sofríveis tecnicamente, mas consegue manter-se ‘focada’ no todo, como todo excelente monitor, de entregar fielmente o que está recebendo de sinal.

Versátil e capaz de reproduzir qualquer gênero musical, é uma das melhores opções que se tem no mercado atualmente. Ainda que não seja uma book barata, seu acabamento e sua performance valem o que custa!

Certamente, junto com a torre, estará entre os melhores produtos do ano!

Nota: 87,5
AVMAG #263
AV Group

11 97959.5047
contato@avgroup.com.br
R$ 51.620

CAIXA Q ACOUSTICS CONCEPT 300

Fernando Andrette

Sempre que os leitores nos consultam à respeito das vantagens e desvantagens de caixas bookshelf, percebo claramente que as maiores resistências são por desinformação ou apresentações mal feitas.

Escrevo há mais de uma década que as caixas bookshelfs evoluíram muito, e podem ser as caixas definitivas para sistemas estéreo em salas de até 16 metros quadrados (e algumas atendem perfeitamente salas até maiores).

As vantagens são muito maiores que as limitações. A começar pela facilidade de posicionamento, pois podem ficar a menos de 2 metros entre elas e ainda assim proporcionar um bom palco sonoro, maior flexibilidade para se achar o ponto ideal para o equilíbrio tonal da caixa na sala.

Possibilidade de ficar muito mais próxima das paredes (tanto laterais como da parede às costas das caixas), as novas gerações são muito mais compatíveis em termos de sensibilidade com amplificadores de menor potência, sem contar o número cada vez maior de caixas book amplificadas, que permitem uma flexibilidade ainda maior, simplificando
a quantidade de equipamentos, rack, etc. E quando falamos de performance, o leque de opções é cada vez maior e para todos os bolsos.

Hoje existem ótimas opções a partir de 1.000 dólares!

Aqui na revista, nosso leitor já leu diversos testes de caixas book de entrada com excelente custo/performance. E na outra ponta, a de caixas book Estado da Arte, o leque de opções vem crescendo ano a ano!

No entanto percebo que a maior resistência se encontra justamente neste nicho de books Estado da Arte, quando o raciocínio é sempre: “não vale mais a pena com essa grana, comprar uma torre?”. Este é um eterno dilema, que só o consumidor pode resolver, e precisa ouvir as opções em sua sala para se sentir seguro da escolha do investimento.

O que sempre argumento à quem me pergunta, é: qual caixa irá dar menos dor de cabeça? Com a cara metade, com o espaço disponível, com a acústica, com o posicionamento, com os vizinhos, etc.

São inúmeras perguntas que precisam ser respondidas, antes de partir para uma book ou descartar essa opção.

Outra reclamação: Os graves são sempre mais limitados! Ok, é verdade, no entanto eu sempre contra argumento: o que é menos brochante para você? Graves bem definidos com menor corpo e peso, ou graves sobrando e sem definição? Se sua cara-metade não se importar em colocar armadilhas de grave e tratamento acústico para corrigir o problema, você está liberado para escolher uma torre.

E se, ainda assim, o espaço para o posicionamento de uma torre for por demais limitado? E tiver o inconveniente de proporcionar um soundstage medíocre?

Sentiu como o buraco é bem mais embaixo amigo leitor?

Com as cidades cada vez mais apinhadas de gente e espaço para morar cada vez menor, os fabricantes de caixas acústicas se dedicam, e muito, a encontrar soluções que respondam cada vez mais ao anseio de audiófilos e melômanos por caixas book que tenham um grave com mais corpo, peso e energia.

E acredite, essas books já existem, tanto no mercado hi-fi, como no mercado hi-end.
Eu convivi nos últimos 12 anos com books extraordinárias em termos de performance e soluções inteligentes, para os mais criteriosos audiófilos que querem que uma book seja capaz de reproduzir obras sinfônicas com autoridade e beleza. Neste nível de exigência, elas são caras, mas valem o que custam, acreditem!

Nos meus cadernos de anotações, algumas books Estado da Arte ganharam elogios consistentes e eu viveria com qualquer uma delas feliz da vida! Claro que, em ambientes menores do que nossa Sala de Testes (que possui 50 metros quadrados e um pé direito de mais de 4 metros). No entanto, duas books desta nova safra se saíram tão bem nesta sala, que esses dois modelos os teria para apresentar em nossos Cursos de Percepção Auditiva e acabar de vez com este preconceito em relação à caixas de menor tamanho.

Foram elas: a Boenicke W5SE, e a Paradigm Persona B. E, agora, se juntaria à esta dupla de books a Concept 300. Tornando-se um trio de books que merecem ser apreciadas por todos que querem uma book Estado da Arte e possuem uma sala de tamanho reduzido.

Cada uma com sua assinatura sônica muito distinta, mas todas com um grau de acerto e refinamento capaz de convencer os corações mais gelados. Nenhuma dessas três caixas são baratas, todas beiram os 10 mil dólares, e com a nossa moeda valendo um “vintém”, as coisas se complicam ainda mais.

Consigo entrar na sua cabeça, amigo leitor, e ver que você está se perguntando se com quase 10 mil dólares não se compra uma torre, com mais “atributos”. No mercado de seminovos, certamente que sim. Mas volte algumas linhas acima e faça novamente as perguntas que levantei.

Se puderes trabalhar a acústica de sua sala, tiveres liberdade total de escolher o sistema sem a intervenção feminina, realmente nenhuma book será o ideal. Mas, a todos os leitores que se identificaram com um ou mais itens do questionário acima, este teste será de enorme interesse.

A Q Acoustic é um dos fabricantes que vem conquistando enorme notoriedade nos últimos 5 anos, com uma série de caixas que atendem a um enorme leque de consumidores.
Derivada da premiadíssima Concept 500, uma imponente torre (leia teste na edição 249), a book Concept 300 utiliza a mesma tecnologia e falantes do modelo topo de linha.

O que chama a atenção de cara, na Concept 300, é seu belo acabamento e o tamanho do seu gabinete. Bastante profundo para uma book, é um projeto de duas vias com um tweeter de tecido de 1,1 polegada (28 mm) que utiliza microfibras feitas de fios superfinos, e um woofer de 6,5 polegadas (165 mm) com cone de papel impregnado e revestido, com borda de borracha.

O tweeter é montado em um defletor com uma junta de borracha para isolá-lo das vibrações do woofer, com um perfil de guia de ondas raso para uma melhor dispersão lateral. Ambos os falantes são fixados por trás, com parafusos de retenção tensionados por mola.

O duto reflex de 7 polegadas de profundidade e 2 polegadas de diâmetro, fica no painel traseiro da caixa. Caso existam muitos problemas com os graves, já que a Concept 300 faz “milagres” nesta faixa de frequência, o fabricante disponibiliza espumas para serem colocadas no duto.

O crossover, de terceira ordem, usa componentes premium, incluindo capacitores de polipropileno.

A conexão é feita por meio de dois pares de terminais, para bicablagem ou biamplificação.
Como na Concept 500, três soquetes de 4 mm acomodam um jumper para permitir que o nível do tweeter seja aumentado ou diminuído em 0,5 dB (no teste todo deixamos em flat).

O gabinete é uma obra prima para os olhos e o tato! Bordas laterais arredondadas e uma combinação de dois folheados de madeira diferentes com acabamento em laca de alto brilho, que combinam com qualquer ambiente, do retrô ao moderno e descolado. As paredes do gabinete são construídas com três camadas de MDF, cada uma separada com um gel que absorve e dissipa quaisquer vibrações de alta frequência (segundo o fabricante). Já as frequências mais baixas são tratadas de maneira muito inteligente por suportes internos estrategicamente colocados.

A Q Acoustic desenvolveu um sistema de suspensão de isolamento da base que se acopla ao gabinete através da fixação no pedestal, isolando o gabinete por molas. Adianto que, além de ser muito interessante, a qualidade e definição do equilíbrio tonal são outras, em relação aos pedestais que utilizamos.

O pedestal é impressionante em termos de design e eficiência. Trata-se de um tripé que lembra o design Bauhaus em termos de desafio e concepção. Para que a caixa se estabilize neste tripé, cada vareta é presa a um cabo de aço, rígido. O fabricante batizou este suporte de Tensegrity, com o objetivo de criar um filtro mecânico passa-baixa que isola o base do pedestal e o gabinete do alto falante, como se as caixas estivessem suspensas por fios invisíveis.

Foi tão impactante o resultado, que minha vontade foi testar com outras books para ver se o resultado seria tão satisfatório como com as Concept 300. O problema é que a base deste pedestal precisa ser parafusada na base separada por molas do gabinete da caixa. Como nenhuma outra book possui este recurso ou foi desenvolvida para trabalhar assim, não tive como testar.

O que importa é que os pedestais são obrigatórios, então essa despesa adicional precisa ser colocada no orçamento (lá fora o par custa menos de 1.000 libras).

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Integrados: Hegel H390 (leia teste na próxima edição), pré e power Nagra Classic. Fontes digitais: transporte dCS Scarlatti e TUBE DAC da Nagra. Streamer: Innuos Zen. Fonte analógica: toca-discos Acoustic Signature Storm e toca-discos Timeless (leia teste na próxima edição). Braços: SME Series V e Origin Live Encounter MK3C Cápsulas: Benz LP-S, Soundsmith Hyperion 2, e Hana ML (leia Teste 3 na edição 268). Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex e Quintessence da Sunrise Lab.

A caixa chegou direto da alfândega para nossa sala de testes. Como já tínhamos a experiência de queima da Concept 500, sabia que o procedimento era fazer uma breve audição, as anotações iniciais, e deixar em queima por 100 horas. Se você comprar essa maravilhosa book e chamar os amigos para uma audição de estreia, prepare-se para levar uma “saraivada” de críticas. Pois falta tudo, literalmente.

E se você resistir a mostrar seu brinquedinho novo, mas for ansioso ao extremo, tome muita Maracujina, faça caminhadas e tome banhos quentes!

Espere, e tenha fé, rs! Pois quando ela desabrochar, o amigo terá uma ideia exata do nível de performance que essas book atingirão. Não será com 100 horas que ela irá mostrar a que veio. Mas, ao menos a partir daí, já será possível sentar e acompanhar sua evolução sem roer as unhas ou saltar do décimo andar, ok?

Também esqueça querer ajustar a posição com 100 horas. Espere dar 200 horas e tudo irá se aprumar. Dizem que depois da tempestade vem sempre a bonança. Neste caso, é um pouco diferente: depois das 200 horas vem a alegria de ter acertado na mosca!

O que de cara chama a atenção é a materialização física do acontecimento musical, tudo em 3D! Os planos, as alturas, largura e profundidade, estão entre os melhores exemplos que já escutei em books. Aliás, este é um dos maiores benefícios que as books oferecem. Mesmo com distâncias entre elas limitada, a organização entre as caixas, foco, recorte e planos são extremamente prazerosos e convincentes.

Assim como as minhas duas books preferidas, a Concept 300 tem um palco sonoro de nos fazer balançar a cabeça (como um gabinete deste porte, consegue esse milagre?). Muito correto e coerente, você “vê” o tamanho do contrabaixo, em relação a um cello, em relação a uma viola, etc.

O equilíbrio tonal está mais para a W5SE do que a Persona B. E gosto desse equilíbrio, pois em gravações com excesso de brilho ou equalização nas altas, ela é bastante condescendente – como a W5SE (o que a Persona B, não tolera).

Os agudos possuem muito boa extensão e decaimento suave, permitindo sem esforço algum observar as ambiências das salas de gravação.

Outro dia um leitor me questionou para o que serve a ambiência? Disse em tom jocoso: “para mostrar as diferenças entre gravações em que os músicos tocaram todos dentro de um elevador, das onde os músicos tiveram seu espaço físico delimitado e respeitado”. Agora, falando sério, sem a ambiência jamais seu cérebro poderá ser enganado. Afinal, nosso senso de corpo dentro de espaço é muito forte para sermos enganados com falsos reverbs digitais, tão em uso a partir das gravações dos anos 80! Este é um dos efeitos mais observados, quando ouvimos gravações da época de ouro do analógico, feitas no final dos anos 50 até meados dos anos 70. Em salas de gravação de verdade, em que os instrumentos “respiravam”.

A região média da Concept soa muito natural, com o “tênue” equilíbrio entre transparência e calor. Os instrumentos acústicos e vozes possuem aquela “paleta” de naturalidade que tantos buscamos nos sistemas. E os graves descem muito bem até os 48 hz, possibilitando ouvir qualquer gênero musical sem a sensação de falta de peso ou corpo. Ouvimos de tudo: de órgão de tubo, tuba, piano solo, bateria solo, instrumentos de percussão japoneses – e a Concept 300 reproduz graves com enorme autoridade.

As texturas são maravilhosas, tanto em termos de refinamento como de intencionalidade. Escutei diversos duos de piano, e em todas as gravações foi possível perceber a diferença de digitação de cada pianista, seu grau de virtuosidade e seus “trejeitos”. Fiquei muito feliz de ouvir em uma book as diferenças de digitação e técnica das irmãs Lebeque, que só costumo escutar em nossas caixas de referência muito (e bota muito nisso) mais caras! Quando temos um sistema que permite este grau de cumplicidade na reprodução de texturas, toda a sua concepção deste quesito muda para sempre!

Os transientes foram impressionantes, uma precisão de tempo e ritmo, capazes de nos fazer querer sair batendo os pés ou aos mais animados dançar pela sala.

E a dinâmica é um dos outros pontos alto desta book. Sua segurança em resolver passagens com rápido crescendo é impressionante. Ela é muito mais que segura, diria que chega a ser “destemida”, pois muitas vezes julguei que iria jogar a toalha e suportou bravamente. Claro que neste quesito, a limitação física dos falantes é um enorme empecilho. Porém com o volume correto, ela não endurece ou clipa!

CONCLUSÃO

Se você possui a difícil equação de ter uma eletrônica Estado da Arte e um espaço físico limitado para uma caixa torre, eu gostaria que você escutasse essa Concept 300 em sua sala com o seu setup.

Não esqueça de usá-la com o seu pedestal: isso fará uma enorme diferença em sua performance final (acho que a caixa só deveria ser vendida com o pedestal).

Elas não são muito exigentes com a distância entre elas e, nem tão pouco com as paredes. O que ela precisa é ser colocada perfeitamente posicionada no famoso triângulo equilátero entre elas e o ouvinte. Com este cuidado, a qualidade do soundstage estará garantida e você terá uma das apresentações mais 3D possíveis com caixas hi-end.

Quanto à questão do peso e corpo dos graves, elas são bem fáceis de responder e se adequar a qualquer espaço. Se tiveres um espaço mínimo, para brincar com a posição dela em relação às paredes, faça! Você irá se surpreender como seu equilíbrio tonal é consistente!
E, por fim, bons cabos de caixa e uma eletrônica à altura, e o resultado pode ser tão impressionante que você irá se perguntar a razão de nunca ter pensado em uma book como a solução final para o seu sistema.

Uma book Estado da Arte no patamar superior!

Nota: 93,5
AVMAG #268
Mediagear

(16) 3621.7699
R$ 35.107

CAIXA ACÚSTICA BOENICKE W8

Fernando Andrette

Quando testei a Boenicke W5SE, escrevi que estávamos ouvindo uma bookshelf que não se comportava como uma caixa de estante e, assombrado com sua performance, a coloquei naquela gaveta de ‘produtos especiais’ que ampliam nossa sensibilidade auditiva e nos fazem repensar uma série de ‘conceitos’.

Os anos passaram e eu me tornei um admirador do engenheiro de gravação suiço Sven Boenicke, pela sua maneira de pensar o hi-end e construir seus produtos (caixas acústicas e amplificadores). Para inúmeros leitores que fizeram sua estréia na feira de hi-end de Munique, e para os nossos parceiros comerciais, cansei de indicar: visitem a sala da Boenicke e depois me passem suas impressões.

Minha esperança era de algum importador admirar-se da performance no evento e fechar a distribuição novamente para o Brasil. E, como diz o ditado “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, que finalmente o Fábio Storelli da German Áudio se convenceu da performance da marca e oficializou sua representação para o Brasil.

E mandou de uma só fornada três modelos: a W5 (para eu matar saudades, só que agora com o seu pedestal), a W8 e a W11. Nesta edição, falaremos da W8 e, na edição de abril, publicaremos o teste da W11.

Foi um final de ano para articulista nenhum botar defeito. Tantos produtos de nível superlativo, que me senti como uma criança em uma loja de brinquedos sem nenhuma restrição orçamentária! Sugiro aos interessados a leitura do teste da W5SE na edição 211, pois lá o leitor poderá ter uma ideia cristalina do impacto que o teste daquela diminuta bookshelf me causou e ainda me causa!

Mas, finalmente, terei a honra de ouvir em simultâneo os modelos tipo torre: W8 e W11 – e compartilhar minhas impressões com o amigo leitor.

Sven Boenicke, desde que decidiu aplicar seus conhecimentos profissionais e atuar do ‘outro lado do balcão’, deixou bem claro que não iria construir caixas acústicas seguindo a receita de bolo tradicional – gabinetes de MDF ou materiais exóticos, drivers hi-end, acabamento em laca de piano, etc, etc… Seu desejo era oferecer caixas acústicas ‘únicas’ para pessoas com gosto muito definido e que, como ele, tivesse a música ao vivo como sua referência maior!

Ainda que Sven recorra a máquinas CNC para o acabamento de seus gabinetes, eles são extraídos de árvores específicas e esculpidos (com a ajuda dos roteadores CNC) para dar a aparência final de cada produto. O consumidor escolhe a árvore: nogueira, carvalho, freixo ou cerejeira.

Para chegar ao produto final, o gabinete parte de duas partes sólidas da madeira, e então ela é totalmente esculpida, criando os labirintos (que lembram uma linha de transmissão, visto em um corte lateral, mas que Sven diz ser apenas o desenho para o posicionamento de cada falante). Cada lado é idêntico ao outro, como se fosse espelhado, e depois de pronto ambos lados são colados (é possível, com um olhar atento, observar no meio de cada gabinete, o encaixe perfeito de cada lado, numa obra de marcenaria artesanal).

O interessante é que cada gabinete (dependendo da escolha da madeira), terá um peso final diferente. E ao contrário da esmagadora maioria dos fabricantes de caixas hi-end, que colocam como ‘sine qua non’ o uso de materiais inertes e sofisticados para a construção dos seus gabinetes, a Boenicke caminha na direção contrária. Coloque o seu ouvido do lado da caixa e verá ela soar, como se o ouvinte estivesse atrás da porta do local onde ocorre o acontecimento musical.

A W8 enviada para teste foi no gabinete de nogueira. Todo ouvinte, ao ver uma Boenicke ao vivo, se espantará com o seu tamanho e sua altura. Não têm nenhum ouvinte que não reaja com admiração e dúvidas se algo tão pequeno e slim, possa realmente ter uma performance tão alta. Isso me remete à situação que passei ao receber da transportadora a W5SE e duvidar com o entregador que naquela caixa, que mais parecia uma caixa de presente com meia dúzia de vinhos, tivesse um par de W5SE. Cheguei ao ridículo de fazer a transportadora esperar eu falar com o importador e confirmar que alí se encontrava um par de bookshelfs.

Micos que todos passamos frente a um fato totalmente novo!

O interessante é que a reação feminina é justamente a oposta: “Nossa, que lindas!” ou “Esta eu deixaria entrar na nossa sala”. Já me acostumei com ambas reações e, felizmente para a Boenicke, basta uma audição bem feita para ambos os gêneros (masculino e feminino) se certificarem que ‘tamanho não é documento’!

Em todas as caixas de Sven, os woofers são dispostos na parte lateral (mesmo na W5SE) e todos os modelos utilizam um woofer Tang Band de 164 mm (6,5 polegadas). E está afixado bem próximo ao chão, bem próximo do pórtico que fica logo acima dos bornes de caixa.

Na parte frontal da W8, bem em cima, encontra-se abaixo o falante de médio, também da Tang Band, com cone de 70mm (4 polegadas), com um plugue arredondado no centro do cone de madeira. O crossover para este falante de médio está protegido para não receber informações do woofer, mas sem corte determinado em sua passagem para o tweeter (este é um dos grandes mistérios que a Boenicke guarda a sete chaves e não dá muitas pistas nem em seu site e muito menos na ficha técnica dos seus produtos).

O tweeter (ou como a Boenicke denomina: defletor de alta frequência) é uma unidade da Fountek F85 com cone de alumínio de 52mm e um imã de ferrite e uma bobina de cobre com 20 mm de diâmetro. A Fountek específica que o F85 responde de 300 Hz até acima de 20 kHz, funcionando como um falante full range (como é o caso da W5SE, que também utiliza este mesmo modelo).

Na parte traseira, a W8 possui um tweeter modelo Manacor DT-25N, com imã de neodímio e domo de tecido macio de seda de 25mm. Este tweeter tem a função de apenas trabalhar a ambiências das gravações e sua performance dependerá muito do posicionamento das caixas na sala, e principalmente da distância da parede atrás das caixas (falaremos mais adiante a respeito).

A rede de crossover usa somente capacitores Mundorf (no total são três por caixa). Dois indutores de núcleo de ar (espaçados o suficiente para que não haja interação magnética entre eles) e um único resistor de 10W. Nada de placa na montagem do crossover, sendo todos conectados ponto a ponto e depois colocados dentro do gabinete. Os terminais das caixas são os WBT-0703CU NextGen, afixados em uma pequena placa de metal.

Seu peso é de apenas 11 kg por caixa, o que facilita em muito o posicionamento e a troca de lado das caixas para definir se os woofers devem trabalhar para dentro ou para fora.

Quanto às especificações técnicas, o fabricante especifica que as W8 possuem sensibilidade variável de 84 a 88 dB SPL, dependendo da frequência, e que sua impedância é nominal 4 ohms. A W8 possui três versões: a Standard que recebemos para teste, a W8SE e a W8SE+.

As diferenças estão somente na base das três versões, sendo que na Standard a base de alumínio é apenas encaixada em um orifício ao pé do gabinete, e nas versões mais sofisticadas a caixa fica suspensa por cabos e traquitanas (até neste quesito a Boenicke inovou, ao provar que suas caixas quando trabalham suspensas e sem contato com o chão, mudam de patamar de performance – enquanto outros fabricantes se contentam em utilizar bons spikes para diminuir a área de contato com o piso de suas caixas, a Boenicke, partiu para tirá-las totalmente do contato com o piso nos modelos SE e SE+ da W8).

Para o teste tivemos a companhia dos seguintes equipamentos. Prés de linha: Nagra Classic e Dan D’Agostino. Power: Nagra Classic. Integrados: Sunrise V8 SS (leia teste 1 na edição 259) e Nagra Classic Integrado. Fonte analógica: toca-discos Thorens TD 550 e Acoustic
Signature Storm. Braço SME Series V e cápsulas: Soundsmith Hyperion 2 e Transfiguration Proteus. Pré de Phono: Boulder 500. Cabos de interconexão: Dynamique Audio Apex, Halo 2 e Zenith 2, Sax Soul Ágata2 e Sunrise Lab Quintessence RCA e XLR. Cabos de Força: Dynamique Audio Halo 2, Transparent PowerLink MM2, Sax Soul Ágata 2 e Sunrise Lab Quintessence e Ilusion. Fonte digital: sistema dCS Scarlatti. Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos digitais: Transparent Reference XL e Sunrise Lab Quintessence.

Foi uma longa espera entre o teste da W5SE e agora a retomada com a W8. E, sabendo da longa espera de amaciamento dessas caixas (o fabricante fala em 300 horas, mas pode ampliar para 400 horas tranquilamente, amigo leitor), liguei elas ao V8 SS, separei 8 discos para as primeiras impressões, certo que aquele primeiro contato acabaria em 1 hora!

Ou o fabricante andou mudando seu procedimento e fazendo um pré amaciamento, ou essas W8 são muito diferentes da W5SE. Pois os 8 discos viraram 16, que viraram 24, e as primeiras impressões se estenderam por cinco horas ininterruptas! E se não fosse pelos compromissos ainda pendentes do dia, teria tranquilamente adentrado a madrugada escutando o setup Thorens, V8 e W8!

Claro que as pontas estavam sem extensão e os graves engessados, mas a finesse da região média, que foi um dos pontos altos da W5SE, estavam ali presentes desde o primeiro acorde do primeiro disco, ainda com maior transparência, calor e beleza que na W5SE.

Fui então buscar minhas anotações pessoais da W5SE, e logo na segunda linha escrevi: “Como uma caixa tão diminuta, pode ter um corpo tão impecável e tão real?”. E uma página adiante: “Os médios me remetem a sensação que não são os músicos que aqui estão e sim, que fui transportado para a sala de gravação”.

Na W8, o corpo dos instrumentos é ainda mais realista e a sensação de ‘teletransporte’ para o local da gravação é ainda mais verossímil! Os meus críticos irão odiar o que aqui escreverei – pois se sentem desconfortáveis quando afirmo que é possível ouvir em detalhes a troca de um único cabo de um sistema bem ajustado – e possivelmente ficarão com a face ruborizada ao ouvir que caixas acústicas de alto nível podem ser separadas por dois tipos de assinatura sônica: as que trazem o acontecimento musical até nossas salas, e as que nos transportam para a sala em que a gravação ocorreu.

Minha atual caixa, a Wilson Sasha DAW, trás o acontecimento musical até a nossa Sala de Referência. A Kharma era um misto, mas ainda assim pendendo mais para trazer a gravação para a sala. A Boenicke é o oposto: nos transporta para cada sala em que a gravação foi
realizada. Acho isto notável, pois não é um resultado do acaso. Isto foi pensado e planejado em detalhes, para que assim fosse.

Aprecio as duas maneiras de escutar e, se pudesse, certamente teria em minha sala as duas opções. Pois com gravações sinfônicas de obras complexas com muitos instrumentos (como a Nona de Beethoven), poder ir para a sala em que a gravação foi realizada me parece a escolha certa. Pois se for uma gravação de alto nível tecnicamente, sentir como se estivesse ali naquele momento é uma sensação psicoacústica indescritível!

Fiz esta experiência com diversas versões que possuo da Nona de Beethoven, depois da W8 plenamente amaciada, e apreciei demais o conforto, o grau de inteligibilidade e a sensação espacial de que a nossa sala simplesmente não existe.

Mas, como toda regra possui uma exceção, gravações de estúdio em multicanal (típicas dos anos 70 a 90), em que até o reverb para cada canal ficava ao gosto do engenheiro, na W8 soam estranhas, pois sem a ambiência natural da sala de gravação, aquela sensação de teletransporte não existe.

Feito este primeiro contato, a W8 foi para a sala de tortura com o integrado da Nagra, que também havia chegado na mesma semana. Foram 100 horas para voltar para uma nova audição, ainda com o V8 SS e o Thorens TD 550.

Mais uma rodada de audições, com gravações de grandes salas de concerto espalhadas por toda Europa. Ainda que os extremos apresentassem, ainda, pouca extensão, foi possível observar os médios mais encaixados com os graves, possibilitando ouvir alguns discos de Jazz e Rock Progressivo. Pois já era possível sentir mais peso e corpo nos graves. Foram dois dias ouvindo primeiro só LPs e, no segundo dia, começando a escutar também CDs.

Resolvi esticar o amaciamento direto para as 300 horas, tanto do integrado da Nagra quanto da W8, e voltei ao fechamento da edição de dezembro. Quem pensa que nossa vida é só música e diversão, precisaria passar um dia em nossa sala ou na redação, vendo a loucura para cumprir prazos, devolver equipamentos, abrir os que chegam, embalar os que vão, atender a todos os e-mails diários que chegam (uma média de 20 a 30 por dia), cumprir com os compromissos de consultoria e eventos das empresas e ainda cuidar da filha, do filho, dos cachorros, etc, etc…

Quando você tem 40 anos, seu pique para enfrentar esta maratona diária é um, mas quando você já passou dos 60, meu amigo, o bicho pega e pega com voracidade. Então aquela disposição de tirar o produto da queima e colocar novamente para escutar de 50 em 50 horas, é absolutamente descartável, pois agora você precisa também ser um administrador de tempo e de bom senso. Então, a W8, depois de mais 200 horas de queima, voltou para a sala para finalmente ficar.

Tudo foi para o lugar. Os graves apareceram, encorparam e ganharam velocidade e definição. Os agudos abriram e ganharam uma baita extensão e um decaimento muito natural e convincente. Chamo de decaimento convincente o agudo que não ceifa o pianíssimo de um prato de condução que ainda esteja soando. Ou o decaimento de um triângulo ainda soando no meio de outros instrumentos. Este decaimento suave será de fundamental importância para a qualidade da inteligibilidade e conforto auditivo. Pois se a caixa não tem este refinamento, seu cérebro não irá se enganar e sentirá falta de ambiência, de naturalidade nos agudos e de conforto auditivo para relaxar e apreciar seus discos preferidos.

Isto me remete ao tempo em que as pessoas tentavam ‘domar’ tweeters brilhantes com cabos de puro cobre ou CD-Players valvulados com menor extensão nas pontas. Eu ouvia, coçava a cabeça, e pensava com os meus botões: “ainda se essas medidas fossem pontuais e domassem apenas o que incomoda, mas mudam todo o equilíbrio tonal, comprometendo todo o espectro audível. Será que essas pessoas não escutam?”. E cheguei à conclusão que elas não percebiam, por faltar à elas a referência de música ao vivo.

Aliás, falando em ter como referência música ao vivo não amplificada, é impressionante a quantidade de asneiras que se escreve nos fóruns, aqueles que acham que a música ao vivo não serve como parâmetro para o ajuste de seus sistemas. Fico lembrando do sujeito que um dia foi a minha casa com um CD de gravações de copos e pratos sendo jogados ao chão. Este era seu disco de referência para desenvolver suas caixas e amplificadores.

Barbaridade!

Tem a do ‘expert’ em acústica que tinha um CD surrado do Tamba Trio, da década de 1960, que era sua referência para avaliar salas e sistemas.

Parece que o tempo passa, mas os erros audiófilos das gerações passadas passam para as novas gerações. Como conhecer a qualidade de um bom vinho sem degustar, ou o cheiro de uma essência sem cheirar. Ou as sutis diferenças da luz em diferentes estações do ano, sem olhar? E o audiófilo quer ajustar um sistema sem ouvir como soam os instrumentos reais? Depois, quando usam o termo audiófilo de forma pejorativa, o sujeito se aborrece.

Acho que me empolguei, rs!

Voltando às W8, com 300 horas ela estará muito perto da plena estabilização. O resto será atingido com o seu posicionamento e escolha dos pares (cabos e amplificação). Em um dos testes que li da W8, o articulista cita que andando na sala o comportamento da caixa era muito parecido, estando na posição de escuta ideal ou não. Concordo. Este é um dos seus maiores méritos. E este mesmo articulista se surpreendeu ao se posicionar atrás das caixas e o equilíbrio tonal ser tão bom com ouvindo de frente para elas! Também é fato e já havia percebido essa maleabilidade na posição de escuta com as W5SE.

No entanto, para se ter esta ‘versatilidade’, o ouvinte vai penar um pouco para achar a posição ideal da W8 na sala de audição. Pois com os woofers virados para o centro ela tem uma performance, e para fora outra. Posicionada muito próxima às paredes, um equilíbrio tonal. Mais distante das paredes, outro equilíbrio. Ou seja, para se extrair o máximo dessas jóias sonoras, duas coisas serão necessárias: definir o posicionamento ideal das paredes e a posição dos woofers, e que elas sejam colocadas milimetricamente iguais em relação à todas as paredes. Nada de fazer no olhometro – precisa de uma fita métrica e disposição para este ajuste fino.

Porém, se o amigo fizer todo este procedimento, o prêmio será de valor inestimável, acredite!
Na nossa sala, os woofers da W8 ficaram apontados para as paredes laterais e não para o centro. Nesta posição ideal, os graves ganharam peso, corpo e maior inteligibilidade. As caixas ficaram afastadas 1,70 m da parede às suas costas, e a 3 m entre elas. Com um ângulo de apenas 20 graus para o ponto ideal de audição. Na nossa sala, assim, as W8 literalmente ‘sumiram’.

Pareciam estar sempre desligadas, principalmente nas gravações de orquestra em que o que ouvíamos, não batia com o que víamos: caixas minúsculas gerando uma massa sonora de caixa muito maior! Todos que ouviram, saíram incrédulos das audições! É realmente é uma experiência difícil de assimilar, pois estamos acostumados a ouvir apresentações impactantes em caixas de tamanhos avantajados. Este grau de impacto com caixas pequenas eu só tinha visto antes com as caixas da Neat – em que as pessoas chegavam a colocar a orelha perto da caixa para se certificar de onde vinha o sinal.

Agora, quanto à Boenicke, deve haver certamente outras caixas que consigam chocar pelo seu tamanho diminuto e a grandiosidade da performance – mas no grau de refinamento que a Boenicke realiza, eu desconheço. Pois a Neat faz tudo certo, mas possui um limite de volume em que você não pode ultrapassar, com risco do cone bater. Na W8, a danada não só aceita como continua tocando com enorme folga e segurança, como se não fosse com ela. A W5SE já tinha essa característica de ousar ir muito além de seu limite físico. E a W8 ampliou esta ousadia ainda mais! Fico imaginando o que não fará a W11 (em abril iremos saber).

Além desta notável característica de nos transportar para a sala de gravação, a W8 nos brinda com um equilíbrio tonal admirável de caixa full-range, mas sem os problemas dessas caixas (que é deixar o corpo de todos os instrumentos com o mesmo tamanho e limitar o posicionamento do ouvinte entre as caixas).

Seu soundstage é o que podemos chamar literalmente de 3D, pois os planos são retratados com absoluta fidelidade, tanto em largura como profundidade. Assim como o foco e recorte.
A ambiência é um caso à parte, pois é de longe a melhor apresentação do local de gravação que já ouvimos em uma caixa acústica, independente do preço e topologia. É a referência das referências neste quesito.

As texturas, graças ao seu excelente equilíbrio tonal, estão entre as melhores que já escutamos. Sobre o grau de detalhamento e refinamento deste quesito, poderíamos escrever uma tese à respeito. Mas, para simplificar, só diria em defesa de minha opinião que as melhores caixas que possuem o melhor grau de fidelidade deste quesito são de projetistas que têm profundo conhecimento e intimidade com a música ao vivo! Isto lhes dá uma segurança para refinar o equilíbrio tonal e texturas de seus produtos que são facilmente percebidos por todos que também utilizam a música ao vivo como referência para as suas escolhas de setup.

O Sr. Boenicke possui em seu currículo como engenheiro de gravação mais de 300 obras. Isto certamente corrobora com a minha tese (talvez um dia vire um artigo na Seção Opinião).
Talvez estes fatos ajudem aqueles que estão começando sua trajetória audiófila, e ficam confusos quando escutam dos mais velhos audiófilos que a música ao vivo não tem a menor valia, a repensar sua opinião. Se o fizerem, garanto que a trajetória será menos tortuosa e muito mais prazerosa!

Uma vez li um artigo sobre as vantagens de falantes pequenos para uma melhor resposta de transientes. Não sei se foi o fundador da Rega falando de suas caixas, que utilizavam falantes de médio pequenos, ou se foi outro fabricante – só sei que foi um inglês. Não é a velocidade dos transientes da W8 que me impressionam, mas sim o tamanho desses falantes, a precisão de tempo, ritmo e velocidade com o corpo harmônico que reproduzem. Como é possível? Foi a pergunta que mais me fiz, enquanto estiveram em teste.

A dinâmica é surpreendente para o seu tamanho, mas haverá um ponto de limite. E a física está aí para nos lembrar sempre. Então não abusem. Mas em volumes corretos da gravação, nada de sustos ou sobressaltos, e a micro dinâmica é simplesmente maravilhosa! Você escuta sem o mínimo esforço, esteja encoberto ou não por mais instrumentos.

O corpo já pincelei em tantos lugares deste artigo, que só vou ressaltar a capacidade desta mini torre, mostrar com enorme coerência os tamanhos de um cello e um contrabaixo acústico ou uma flauta e um flautim.

Sua materialização física do acontecimento musical se faz de forma contrária a que estamos acostumados. Não é o músico que vai até sua sala, e sim você que vai até os músicos. Então o processo é literalmente invertido. O que posso dizer é que seu cérebro sente algo fora do lugar nos primeiros minutos, mas depois tudo se encaixa em tal ordem de grandeza e conforto, que passamos a admirar esta possibilidade, tanto quanto a que estamos acostumados a ter.

E em termos de musicalidade, o que dizer de uma caixa que nos brinda desde o primeiro instante com zero de fadiga auditiva e uma imersão integral no que estamos escutando? Que é o melhor dos mundos. Pois mesmo com gravações tecnicamente mais limitadas, é possível ouvir com prazer tudo sem discriminação alguma!

CONCLUSÃO

Quando termino este teste, ainda não ouvi a W11, mas agora, depois de conhecer a W5SE a W8, sei o tipo de surpresa que me espera. As caixas Boenicke não são para qualquer tipo de audiófilo.

Os que querem um som com enorme deslocamento de ar e sustos e sobressaltos nas variações dinâmicas, acharão as pequeninas W8 opções fora do baralho. Mas para os audiófilos acostumados a viajar o mundo e conhecer as melhores salas de espetáculos e as melhores orquestras e pequenos grupos musicais, e possuem uma sala aconchegante, e tudo que desejam é ‘reviver’ esses momentos inesquecíveis nessas salas, a W8 será sua nave para serem teletransportados quando quiserem reviver essas emoções.

Creia, isto não é balela ou jogada de marketing da minha parte. É o que ocorre quando você coloca uma gravação da orquestra de Berlim ou de Munique, gravadas em suas esplêndidas salas de concerto, ou da nossa querida OSESP na Sala São Paulo, e aperta o play. Você estará literalmente lá, novamente! Sentirá tudo que ocorreu naquele momento sublime da gravação, com a vantagem de poder repetir esta sensação ad infinitum!

Se é isto que você deseja de suas caixas acústicas, sua busca terminou!

Nota: 94,0
AVMAG #259
German Audio

contato@germanaudio.com.br
R$ 71.900

REVEL PERFORMA F228BE

Fernando Andrette

Quando a AV Group ligou me perguntando se gostaria de testar a nova linha Performa Be, não pensei um segundo! Afinal, ainda tenho boas lembranças da Performa 3 F208, que nos impressionou bastante pelo seu porte, acabamento e performance.

Ainda que o gabinete da F228Be seja bastante semelhante ao da F208, essas semelhanças acabam aí, pois a nova Performa é uma outra caixa, com qualidades e virtudes que a colocam muito mais perto da linha Studio do que da antiga linha Performa. Tanto que a nova coluna custa o dobro da antiga F208.

A F228Be possui o novo tweeter de cúpula de berílio de 25 mm, com lente acústica para uma melhor dispersão dos agudos lateralmente, um falante de médio de 130mm com armação fundida e cone de alumínio DCC, com revestimento de cerâmica. E dois woofers de 8 polegadas (200 mm), também de cone de alumínio DCC com revestimento de cerâmica.
O corte dos falantes, segundo o fabricante, ocorre em 260 Hz e 2.1 kHz. Sua resposta de frequência é de 27 Hz a 44 Khz (-6 dB), sua impedância nominal é de 8 ohms, sensibilidade 90 dB/ 2,83V/m, e o fabricante indica o uso de amplificadores de 50 a 350 Watts. Cada caixa pesa 37 Kg e suas dimensões são: 1.18 m de altura, 30.2 cm de largura e 33.5 cm de profundidade. A Revel oferece os seguintes acabamentos: Branco, Preto (ambos em alto brilho), Nogueira e Prata Metálica. A AV Group nos disponibilizou o modelo com o acabamento Prata Metálica.

Segundo o gerente de tecnologia acústica do grupo Harman Luxury Audio, Kevin Voecks, é um erro imaginar (como já escrevi algumas linhas acima) que a nova Performa seja um upgrade da antiga 208. Pois ainda que se utilize do mesmo gabinete, todos os componentes (literalmente) são novos. O Berílio para o novo tweeter foi escolhido por sua alta rigidez e baixa massa, quando comparado com qualquer outro metal utilizado nos tweeters de ponta.

O guia de ondas também foi aprimorado com novo ângulo e material de superfície para maximizar a dispersão e resposta fora do eixo de escuta. O novo guia de ondas tem, ainda, outra função importante ao casar perfeitamente a passagem dos médios-altos para o tweeter. Tanto os woofers, quanto o falante de médio possuem diafragmas de alumínio, revestidos na frente e atrás com uma camada de cerâmica grossa. A Revel batizou esse novo sanduíche de Deep Ceramic Composite (DCC). Segundo o fabricante, esses novos falantes possuem uma resposta muito mais plana, menor distorção e suportam maior potência sem entrar em stress mecânico.

O design do crossover também foi totalmente reformulado, tornando-se muito mais minimalista. Os gabinetes, internamente, também sofreram reforços para se tornar ainda mais inertes. A Revel aceita bi cablagem ou bi amplificação e os jumpers que acompanham a caixa achei de melhor nível que a maioria dos jumpers disponibilizados por outros fabricantes concorrentes. O espaço entre os terminais é excelente, possibilitando uma instalação sem você dar um nó nas costas, ou suar frio.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: sistema Nagra completo (Preamp Classic, AMP Classic e TUBE DAC – leia Teste 1 na edição 262). Power CH Precision A1.5, e os integrados Sunrise Lab V8 SS e Pass Labs INT-25. Cabos de Caixa: Quintessence Sunrise
Lab e Feel Different FD III. Fonte analógica: toca-discos Acoustic Signature Storm, cápsula Soundsmith Hyperion 2, braço SME Series V, cabos Sunrise Lab Quintessence (de braço, e entre o Boulder e o pré de linha da Nagra), e pré de phono Boulder 500.

A caixa veio direto do showroom da AV Group, com 50 horas de queima. O fabricante fala em aproximadamente 180 horas (porém nossas experiências com tweeter de berílio dizem que o ideal é pelo menos 250 horas). Então fizemos todas as anotações assim que a caixa chegou, e depois a colocamos direto por 150 horas de queima. Diria que a segunda audição, com 200 horas, foi da ‘água para o vinho’! Pareceu-nos, literalmente, outra caixa.

Ela simplesmente floresceu, seria o termo exato para definir o impacto que nos causou. É uma caixa que apesar do seu imponente porte, não se mostrou crítica com o posicionamento e tem um grau de compatibilidade impressionante com a sala (ao contrário da F208).

Como não sabíamos se ela voltaria ou não para mais um período de amaciamento, não quis tirar as Sashas do seu ponto ideal de escuta. Então coloquei as Revel com muito menos abertura de tweeter à tweeter. E, ainda assim, seu respiro e largura e profundidade do palco, foram excelentes.

Neste primeiro arranjo, elas precisaram de um leve toe-in para o ponto de audição, mas nada excessivo, apenas um deslocamento de 15 graus para o centro. A imagem é holográfica, e o corpo dos instrumentos de caixas muito maiores e mais caras.

Seu equilíbrio tonal, com 200 horas, já se apresentou com uma bela luminosidade em todo o espectro audível, sem ser excessivo ou cansativo. Achamos por bem deixar mais 100 horas de queima e ver se a partir deste ponto ela se estabilizaria totalmente.

As mudanças foram muito pontuais. Os graves encorparam na primeira oitava e se soltaram, ganhando um andamento e precisão de ritmo empolgante. A região média não alterou nada das 200 para as 300 horas, já o extremo agudo se beneficiou, e muito! O ar e o decaimento que, com 200 horas, eram ‘tímidos’, abriram e com isso a percepção das ambiências melhorou substancialmente. Grandes orquestras ganharam aquele respiro essencial em volta dos naipes e os rebatimentos das paredes das salas de gravação se tornaram muito mais fidedignos.

A Revel soa como caixa de grande porte, sem perder o controle. O que é algo admirável para o tamanho de seu gabinete. Uma pessoa de olhos fechados dirá que suas dimensões são de uma caixa muito maior!

Os amantes de música clássica já podem sonhar em ter uma apresentação digna em suas salas de tamanho médio (20 a 30 metros quadrados). Pois a Revel F228Be possui um som grandioso e controlado, sem ser um armário! O que elas necessitam é ter o mínimo de espaço aberto à sua volta. Pelo menos 1m da parede às suas costas, e trabalharem a uma distância mínima de 2,80m entre elas. As paredes laterais não serão nenhum problema (qualquer coisa acima de 0,50 cm) com um toe-in levemente de 15 a 25 graus para o ponto de audição, e elas já mostrarão todos os seus pergaminhos! E olhe que são muitos.
Seu equilíbrio tonal é excelente, e ousa dar uma assinatura luminosa a tudo que ouvimos, sem nunca passar do ponto.

Um dos instrumentos mais difíceis de acompanhar é o cravo. Mesmo em gravações solo deste instrumento, ouvir com precisão a mão esquerda nota por nota, exige um certo grau de concentração. Esse instrumento na Revel ganha luz, sem aumentar o brilho ou alterar o equilíbrio entre as mãos direita e esquerda. Tornando a inteligibilidade e o grau de concentração muito menos dramático ou cansativo.

Talvez o grande mérito esteja no conjunto médio-agudo. Um dos melhores que escutei em caixas desta faixa de preço. Você não sente a passagem de um falante para o outro, e a sensação é que estamos a escutar um falante full range, tamanho refinamento e naturalidade da passagem. Um ótimo exemplo para perceber o que estou descrevendo é ouvir corais, sejam pequenos ou grandes corais. A sensação que temos dessas gravações reproduzidas pela Revel é que estamos literalmente assistindo ao concerto. Pois não só o equilíbrio é de alto nível, como o foco, recorte, planos e ambiência. Ouvi de tudo: corais russos, gregorianos, pequenos grupos com 5 e 6 vozes, e obras operísticas com solistas e grande coral. E a Revel se comportou magistralmente.

Quando uso este adjetivo, me refiro a capacidade de recriar aquele momento da gravação, como passar a mensagem musical de forma explícita, tão explícita que seu cérebro esquece ser reprodução eletrônica em um segundo! Se você já teve a oportunidade de ouvir um setup com este grau de realismo, entenderá perfeitamente o uso do adjetivo magistral!

Os graves são excelentes, e realmente descem com autoridade. Ouvi alguns órgãos de tubo, que impressionaram pelo corpo, deslocamento de ar, decaimento e conforto auditivo.

Gosto de ouvir um disco que trouxe pela gravadora Movieplay – e uso em nossa Metodologia para avaliação de textura, equilíbrio tonal e transientes – do Ron Carter, chamado Nonet. Foi gravado no Japão, pela JVC. É um disco denso, pois Ron Carter fez todos os arranjos para 4 cellos, ele solando, um contrabaixo de acompanhamento, mais piano, bateria e percussão. É um disco que coloca muitas caixas em situação delicada, principalmente nos graves, quando soam simultaneamente os cellos e os dois contrabaixos. Muitos woofers não sabem como conseguir apresentar todos ao mesmo tempo, com total inteligibilidade, corpo, transientes etc. Já vi tanta caixa e sistema desandar, que corre o mundo audiófilo que este disco é muito mal gravado. Quando essa história chegou ao meu conhecimento, fiz questão de colocar a faixa 7 entre minhas faixas obrigatórias nos nossos cursos e nos testes, quando eram abertos aos leitores.

Resumindo, teve turma que após ouvir integralmente a faixa, bate palma, literalmente, como se fosse um show do Ron Carter e não um Curso de Percepção Auditiva. Este é um daqueles discos que sempre cito, que não faz refém! Ou o sistema passa, ou se arrebenta todo!

E, claro, caixas que já estão em um nível alto Estado da Arte sempre é um disco que utilizo (principalmente para ouvir os graves). A Revel passou com todos os méritos nas faixas: 2,5 e 7!

Gostei muito também da resposta de transientes, percussões soam divinas, assim como pianos solos. Você não tem que sair correndo ou repetir a faixa duas a três vezes para entender o que o músico fez na mudança de andamento (o saxofonista James Carter é o rei dessas mudanças), assim como acompanhar literalmente batendo os pés nos seus discos de rock, pop e blues.

A microdinâmica é exemplar, e a macrodinâmica surpreende pela ousadia.

Não consegui ouvir os tiros de canhão da abertura 1812 de Tchaikovsky nos 100 dB que escuto em nossas caixas de referência. Mas 97 dB, sim! Senhores, antes que saiam então detonando a caixa, se lembrem que este é um exemplo extremo de macrodinâmica. E ninguém vai ouvir uma dezena de discos que tenham algo semelhante. O problema dessa gravação é que são 12 tiros de canhão simultâneos (o que é insano para 90% dos falantes, independente do preço), a caixa não tem nem tempo de se recompor! Tanto que a gravação vem com uma baita advertência de que os falantes podem ser danificados!

Baixei 3dB e a Revel passou com méritos nos 12 tiros! Ela é uma caixa para reproduzir música clássica e ‘rompantes’ dinâmicos com autoridade, acreditem!

O corpo harmônico é exemplar. Digno de caixas custando duas vezes o seu preço! Nada de instrumentos do tamanho de pizza brotinho, pelo contrário. Você ficará surpreso com instrumentos de metais e pianos a se materializar na sua frente com tamanho muito próximo ao real.

Com todas essas virtudes, é ‘pera doce’ para a Performa F288Be em gravações de alto nível técnico colocar os músicos à sua frente, para uma apresentação exclusiva. O que só enobrece todo o investimento em uma caixa deste nível. Pois temos a confirmação de que cada centavo foi muito bem investido.

CONCLUSÃO

Se você busca uma caixa definitiva para o seu sistema Estado da Arte, e sempre esbarra na questão tamanho/espaço, tem um gosto musical que exige uma caixa que reproduza grandes massas orquestrais com autoridade e beleza, e sempre esbarra que essas caixas com todos esses atributos custam mais de 25 mil dólares, eis uma caixa que pode perfeitamente ser a solução para realizar este seu sonho. Uma caixa que custa menos de 20 mil dólares, e toca como uma caixa que custa 30 mil!

É bastante compatível com espaços médios, não será um problema para posicionar e nem tão pouco é muito invasiva a ponto de sua cara metade impedir a realização deste sonho.
Sua sensibilidade é excelente e seu grau de compatibilidade idem. Fuja apenas de eletrônicas muito transparentes e analíticas, pois pode passar do ponto.

Fora isso, é uma caixa que certamente casará muito bem com uma infinidade de amplificadores, cabos e fontes.

Extremamente bem construída e acabada e uma assinatura sônica de enorme vivacidade!

Se é isto que tanto procura, ouça-a!

Nota: 96,0
AVMAG #262
AV Group

11 97959.5047
contato@avgroup.com.br
R$ 112.138 (par)

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