Teste 1: CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON LEGACY 3230

Melhores do Ano 2020: VÍDEO
janeiro 13, 2021
Melhores do Ano 2020: CAIXAS ACÚSTICAS
janeiro 13, 2021

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

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A Elipson já esteve no Brasil, no início de 2011/2012, e chegou a estar no Hi-End Show desses respectivos anos, de forma bastante tímida com suas pequenas “esferas sonoras”.

Para os que nunca ouviram falar deste fabricante francês, a Elipson é a marca mais antiga da França, fundada em 1938 e permaneceu uma empresa totalmente voltada para o mercado interno até 2008, pois tudo que produzia era consumido pelos seus próprios compatriotas.

Porém tudo mudou quando a empresa foi vendida para o grupo AV Industry, que tinha uma ideia inteiramente diferente para a marca. Essa é a organização que também é dona da Som-Vídeo, o maior varejista de eletrônicos da França, com lojas também no País de Gales e Bélgica, e dono de outras marcas de eletrônicos.

O seu fundador, Philippe Carré, desde a aquisição da Elipson tinha como principal intenção levar a marca ao mundo, ampliando o leque de produtos para muito além de caixas acústicas. Hoje já fazem parte do portfólio da marca produtos eletrônicos e toca-discos.

Na onda de produtos vintage, que voltou com força nos últimos anos, a Elipson, está preparando uma série de novos lançamentos, relançando seus modelos produzidos nos anos 50/60. No início dos anos 60 a principal caixa deste fabricante era justamente o modelo 3230, onde um enorme gabinete esférico ficava no topo de um gabinete convencional. Na esfera ficava o falante de médios e o tweeter, e o falante de graves ficava embaixo.

A esfera estranhamente era feita de gesso (único material moldável naquela época com qualidades acústicas razoáveis), o que dava uma aparência rústica de gosto bastante duvidoso – mas como se diz atualmente: “é o que temos para o momento”.

Atualmente as possibilidades de inúmeros tipos de resinas e materiais compostos permitem uma infinidade de opções adequadas à cada fabricante, e a Elipson optou por uma resina que possibilita um acabamento muito mais refinado para a sua esfera.

A Legacy 3230 é o modelo top de linha, e foi apresentado na feira de Munique de 2018 com eletrônica Bryston, conseguindo não só a atenção do consumidor presente no evento, como também o interesse de inúmeros revendedores espalhados pelo mundo.

Seu porte é de caixa realmente grande, e deve ser tratada como tal, necessitando de salas adequadas ao seu tamanho e desenvoltura sonora. Com 1,34m de altura, e pesando mais de 50 kg, a grande esfera colocada em cima do gabinete de madeira com dois falantes de grave de 8 polegadas, não passará jamais indiferente no ambiente em que for instalada. No entanto, é o tipo de design que ou você ama ou odeia (não encontrei meio termo ao apresentar elas em nossa sala, há quem as viu).

No entanto, aos que odiaram seu design, essa “aversão” durou apenas alguns minutos, após ouvir a caixa. Mas falarei disso mais à frente.

O gabinete de madeira de excelente acabamento e construção possui o pórtico de saída dos graves para baixo, o que dá uma sensação de limpeza e arejamento no gabinete. Com dois falantes de graves com cones de papel com uma camada de alumínio por cima, falante de médio com cone de cerâmica de 160mm (feito pela própria Elipson), e um tweeter de fita AMT (também feito pelo fabricante) que fica fora da esfera em que está instalado o médio.

Os terminais do cabo de caixa são de boa qualidade e com uma ótima pegada. A Elipson se orgulha em dizer que suas caixas são feitas integralmente nas instalações da fábrica na Borgonha, na França, onde são feitos também o toca-discos.

Uma regra inerente a qualquer caixa acústica é que, quanto maior, mais tempo será gasto com o posicionamento dela na sala.

E a Legacy 3230 é bastante exigente neste aspecto, pois se o ouvinte não for cuidadoso e paciente, perderá muito de suas duas principais qualidades: um palco magistral 3D e o correto equilíbrio tonal.

Comecemos pelo equilíbrio tonal: este dependerá muito de se achar a distância correta entre a posição do ouvinte e as caixas, pois a dispersão do tweeter AMT é muito maior na largura do que na altura. Então será preciso paciência para se achar o ponto ideal para que a altura tenha a folga necessária para uma apresentação de maior arejamento. Caso contrário, haverá a sensação de que os agudos estão “embotados”. Na nossa sala, o simples posicionamento de 10 cm para trás das caixas em relação ao ouvinte, trouxe este decaimento mais preciso e o arejamento se tornou mais natural.

Para se definir essa posição, sugiro o uso de pratos bem gravados – eles te darão a noção exata quando atingirem o ponto ideal, pois os pratos ganham ar à sua volta e ficam soando até serem encobertos por um sinal mais forte.

Outra opção é usar os pratos de condução do tempo da música (tão comum em blues) para ver se eles ficam aparecendo e sumindo, ou se estão sempre presentes.

Felizmente, como o pórtico bass-reflex está apontado para baixo, a posição crítica das caixas em relação às paredes é menor, mas ainda assim precisam ser minuciosamente testadas todas as opções. Pois a quantidade de energia dos graves da Legacy é impressionante, e isso também pode ser a causa de agudos com menor extensão.

Para os graves, sugiro ouvir gravações de contrabaixo acústico e elétrico, e notar se as notas são limpas, com boa velocidade, inteligibilidade e se não estão gordos ou soando como grave “de uma nota só”. Não caiam na tentação de usar graves sintetizados, pois esses costumam ser turbinados em excesso, dificultando o posicionamento correto das caixas.

Depois de acertado o equilíbrio tonal, será preciso definir o ângulo correto das caixas em relação ao ouvinte. Sua imagem quando o ângulo é correto é holográfica, e ela some na sala. E, realmente, aparece uma imagem sonora 3D, tanto em termos de largura, altura como de profundidade.

Ouvindo obras sinfônicas complexas, é de se ficar maravilhado com a apresentação de planos, recorte e foco. Poucas vezes ouvi em nossa Sala de Referência um palco tão pleno, orgânico e correto.

Meus maiores exemplos para o ajuste de soundstage são gravações de música clássica, que sei que o engenheiro acertou no posicionamento dos microfones, para permitir que os contrabaixos à nossa direita não saltem para dentro da caixa e nem tão pouco os metais atrás dos cellos e contrabaixos saltem para frente, embolando tudo como se os músicos estivessem tocando dentro de um elevador!

Com a Elipson, depois de ajustada corretamente em uma sala que permita ela “respirar”, isso não ocorrerá (exemplos de gravações de orquestra com este nível de arejamento você encontra às dezenas nos selos Reference Recordings e Telarc).

Em grupos de câmara ou pequenos grupos de Jazz, o soundstage desta caixa é exuberante! Pois o recorte e o foco são de nível cirúrgico! Os amantes de soundstage irão se deliciar com a Elipson!

Neste teste usamos apenas nossa eletrônica de referência. Powers Classic Nagra, pré-amplificador Classic Nagra, TUBE DAC Nagra, transporte dCS Scarlatti, streamer Innuos ZenMini Mk3, prés de phono Boulder 508, PS Audio Stellar (leia Teste 2 nesta edição) e Luxman EQ-500 (teste na edição de abril de 2021). Toca-discos Storm da Acoustic Signature, com braço Origin Live Enterprise de 12 polegadas (leia teste na edição de maio de 2021), e cápsula Hana Umami Red. Os cabos todos Apex da Dynamique Audio, e também o USB Zenith 2. Cabos de força PowerLink MM2.

A Legacy 3230 precisa de um longo amaciamento, pois ambas as pontas vêm completamente “embotadas” – meu filho, ao ouvir, expressou a seguinte dúvida: “Isso vai realmente abrir?”.

Pois é, esta dúvida é como assistir um bom filme de suspense, pois nunca se sabe o final. Felizmente estamos aqui para adiantar que, neste caso, “o bem vence”, rs… E todos sairão satisfeitos com a aquisição. Mas serão tortuosas 500 horas, para os graves e os agudos se soltarem e mostrarem que o investimento valeu a pena.

O problema é que, ao contrário de outras caixas, que você vai tendo melhoras audíveis de 100 em 100 horas, a Elipson teima em deixar tudo para um “grand finale”. Então, minha sugestão é: segure sua ansiedade e a vontade de mostrar o upgrade para os amigos, até que tudo esteja devidamente no lugar.

E não se desespere, pois ainda que as pontas estejam capengas, é possível ouvir a caixa diariamente em todo o período de amaciamento, sabendo que aquele respiro nos agudos, e um grave mais correto, solto e preciso, dependerão dessas 500 horas.

Outra dica é deixar uma caixa virada para a outra, inverter a polaridade de uma das caixas, cobrir com edredom e “sentar a pua” por três semanas sem dó ou piedade. Você que sabe. O que te garanto é que depois deste período você terá uma caixa hi-end de alto nível, pronta para qualquer desafio, e o melhor: alta compatibilidade com inúmeros eletrônicos, sensibilidade excelente (91 dB) e resposta de 25 Hz a 30 kHz.

Sua apresentação de textura é excelente, permitindo observar detalhes que em outras caixas nem imaginamos existir na gravação. Sua região média é de uma transparência impressionante, tanto em termos de realismo como de naturalidade. Acho que este mérito se deve muito ao falante de cerâmica e ao tweeter AMT, que se mostraram hiper bem casados em termos de assinatura sônica.

Não há nenhum resquício de dureza ou brilho excessivo nos timbres, possibilitando um conforto auditivo pleno.

Depois de amaciada a caixa, fizemos algumas experiências com bicablagem. Como não tínhamos dois cabos idênticos, usamos nosso arsenal de cabos, como o Feel Different, o Sunrise Lab Quintessence e o Virtual Reality – trançado (leia Teste 4 nesta edição), e dependendo da eletrônica pode ser sim um ganho em termos de arejamento.

Os transientes são muito corretos, e nos fazem acompanhar com enorme interesse o andamento e o ritmo de tudo que ouvimos (desde que a caixa já esteja devidamente amaciada).

Sabe como separamos as “grandes” caixas das “boas”? Na micro e macrodinâmica. Nestes dois quesitos, a Elipson se destacou com mérito, mostrando que realmente está preparada para grandes desafios dinâmicos. Não se intimidou absolutamente com nada que ouvimos. Falo de obras como Sagração da Primavera de Stravinsky, a Abertura 1812 de Tchaikovsky, ou a Sinfonia Fantástica de Berlioz – obras que levam muitas caixas ao nocaute! E graças à sua total transparência na região média, a recuperação de microdinâmica é “pêra doce”.

Outra virtude é seu corpo harmônico – para este quesito não há exemplos mais contundentes que em vinil. Podem os amantes do digital gritarem, que não existe prova final para corpo harmônico do que ouvir as excepcionais gravações dos anos 50/60 da Capitol, Impulse, Verve, para se apreciar o quanto uma caixa é hi-end ou não neste quesito. E a Elipson passou com méritos também neste quesito!

Em comparação com a nossa caixa de referência (Wilson Audio Sasha DAW), o quesito Organicidade (materialização física do acontecimento musical), não foi tão fácil como é nesta caixa. Mas com gravações primorosas técnica e artisticamente, tivemos os músicos presentes em nossa Sala de Testes.

CONCLUSÃO

Quando pensamos em uma caixa hi-end definitiva, temos que levar em consideração uma infinidade de pormenores, que muitas vezes inviabilizam a escolha e adiam a compra por muitos e muitos anos. Vejo isso todos os dias aqui nos e-mails enviados por vocês.
Os leitores, os velhos conhecidos nossos, que há anos tentam fechar a equação: tamanho de sala, tamanho de caixa, gosto musical, compatibilidade e sinergia com o equipamento e orçamento (ufa!). Trabalho que leva à centena de neurônios queimados, frustrações, medos e dúvidas.

O que tentamos aqui mensalmente é tentar organizar um pouco as ideias, para que esta equação se torne um pouco mais clara. Pois além de todas as questões acima mencionadas, temos ainda a própria dinâmica do mercado, com infinitas opções, para criar mais dúvidas na cabeça do cliente.

Então vamos tentar dimensionar para quem está caixa Elipson é uma opção consistente, ok?
Em primeiro lugar, para quem tem no mínimo uma sala de 25 metros quadrados, e com uma acústica no mínimo aceitável. Quando digo aceitável é que dará à essas caixas arejamento à sua volta em relação às paredes de no mínimo 1 metro (parede às costas), e 0,70 cm das paredes laterais.

Em segundo lugar, que possam ficar perfeitamente simétricas em relação às paredes e ao ouvinte, pois em caso contrário perderão seu maior encanto: o soundstage!

Se você vai deixá-la de um lado com uma parede a 0,80 cm e a outra caixa para um corredor ou uma parede a 2m de distância da caixa, esqueça!

Terceiro: que a eletrônica e os cabos estejam à sua altura. Ou seja; excelente equilíbrio tonal e o menor índice possível de fadiga auditiva.

E, por fim, caibam em seu orçamento, que neste caso será de 60 mil reais.

Se estes quatro requisitos forem atendidos, excelente!

Você deverá ouvir essa caixa se o que deseja é um sonofletor capaz de reproduzir qualquer estilo, com classe refinamento e conforto auditivo.

Foi uma grata surpresa conhecer a Legacy 3230, pois pelo seu porte sabíamos que seria uma caixa com grandes aspirações audiófilas, mas até chegarmos às 500 horas de amaciamento, não sabíamos se entregaria o que prometera.

Seu palco sonoro, ao sumir e deixar apenas você e o acontecimento musical, tem um apelo irresistível aos amantes de soundstage. Mas não é só isso: seus outros atributos a colocam no páreo com caixas consagradas e até mais caras que ela.

Estará certamente entre os Produtos do Ano de 2021, com mérito!


PONTOS POSITIVOS

Tem um soundstage magistral, e é muito correta em todos os quesitos da nossa Metodologia.

PONTOS NEGATIVOS

Design e exigências com posicionamento e tamanho de sala.


ESPECIFICAÇÕES
TipoCaixa torre, bass-reflex de 3 vias
TweeterRibbon tipo AMT (Air Motion Transformer)
Driver de médioCone de cerâmica (160 mm)
Drivers de gravesCone de polpa de celulose revestida de alumínio (210 mm)
Sensibilidade91 dB
Impedância nominal4 Ohms
Frequências de crossover400 Hz, 3200 Hz
Resposta de frequência (-6dB)25 Hz a 30 kHz
SPL máximo112 dB
Dimensões (L x A x P)347 X 1340 x 450 mm
Peso50 kg
CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON LEGACY 3230
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 13,0
Textura 11,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,5
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 92,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



Impel (11) 3582.3994
R$ 59.517

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