Teste 4: CABO USB ZENITH 2 DA DYNAMIQUE AUDIO
dezembro 15, 2020
Teste 3: RECEIVER STEREO CAMBRIDGE AUDIO AXR100
dezembro 15, 2020
NAGRA TUBE DAC

Fernando Andrette

Quando recebi o TUBE DAC da Nagra para teste, pensei com os meus botões: “Será que a Nagra consegue manter o mesmo padrão de qualidade também para os seus DACs?”. Pois uma coisa é desenvolver excelentes prés e powers, e outra, muito distinta, é se embrenhar na busca de um DAC à altura de seus amplificadores.

Muitos fabricantes de produtos Estado da Arte abrem mão de querer ‘abraçar o mundo’, para se dedicar exclusivamente ao que sabem fazer melhor. Estou falando de produtos hi-end Estado da Arte, e não de produtos feitos em larga escala – que fique bem claro!

Assim como sou bastante criterioso com a escolha dos pré-amplificadores de referência para a avaliação de nossa Metodologia, percebi ao longo dessa última década que usei do mesmo critério para a escolha de nosso sistema digital.

Os upgrades foram muito pontuais e sempre dentro das opções oferecidas por um único fabricante. Uma questão bastante pertinente que endossou nosso cuidado foi: preço e performance. E os produtos de nível superlativo no segmento digital são muito poucos (talvez se reduzam a uma dúzia de opções, se tanto).

Então, o desafio da Nagra me pareceu, na verdade, dois grandes desafios: mostrar que seus DACs estão à altura do que eles fazem de melhor (pré e power), e convencer este usuário que ele pode abrir mão de seus sistemas digitais de referência sem perda.

Para os nossos novos leitores talvez toda essa discussão não faça o menor sentido, pois pertencem a uma geração em que tudo está acoplado em um único pacote, mas para os assíduos leitores que nos acompanham há duas décadas, a discutir a evolução do digital desde o seu lançamento, continua sendo muito pertinente.

Então, me permitam ‘rememorar’ a odisséia que tem sido a evolução do digital. Tanto a Sony quanto a Philips, ao lançar o CD-Player em 1982, julgaram que todos os benefícios oferecidos no ‘pacote CD’, seriam um divisor de águas entre o passado e o futuro. Apostaram todas as fichas no silêncio de fundo, no menor desgaste do CD em relação ao vinil, no tempo de armazenagem do CD, tamanho do disco, etc. Caiu muito rápido nas graças das mídias não especializadas e do consumidor que sempre teve a música como ‘pano de fundo’ em sua vida, mas esbarrou no consumidor que sempre fez da música parte importante de sua existência.

Não estou falando apenas daquele consumidor chato, rotulado de audiófilo, falo do melômano também, que imediatamente percebeu que o disquinho prateado continha algumas ‘imperfeições’ bastante audíveis.

E, para a sorte desses consumidores ‘estraga prazer’, alguns fabricantes de produtos hi-fi também notaram limitações audíveis nessa nova tecnologia. Esses engenheiros começaram a estudar o “Red Book” (livro vermelho), a fazer medições, e viram que este padrão era limitado na forma de produzir um sinal, com um som bastante áspero e com um ruído de quantização que podia ser perfeitamente audível (pois altera o timbre). Esses fabricantes ‘alternativos’, começaram a trabalhar diferentes abordagens para entender e sanar
essas deficiências (que continuam a ser trabalhadas e aperfeiçoadas ainda hoje).

Trabalhou-se em métodos de superamostragem (aumento da frequência de amostra), atacou-se a interpolação (reconstrução de dados) que foram aperfeiçoados para suavizar o sinal à medida que ele está sendo convertido e para empurrar o ruído de quantização para muito além da frequência audível.

Novos e mais refinados filtros de passagem baixa foram adotados, porém estes filtros nunca são perfeitos o suficiente (até este momento) e quando conseguem resultados satisfatórios, ainda hoje são caros para serem produzidos em larga escala. E, dependendo de sua qualidade, esses filtros causam uma degradação da fase acima de 10 kHz, produzindo o deslocamento dos transientes. Como consequência, o palco sonoro é afetado, tornando-se impreciso, principalmente nos agudos.

Um fenômeno simples para detectar é ouvindo certas notas da oitava mais alta de um violino, que começam a mudar o foco da posição do instrumento no imaginário palco sonoro (como se o músico estivesse se mexendo freneticamente).

A fim de evitar que os filtros rejeitem o ruído de quantização muito próximo à largura de banda audível, os engenheiros deliberadamente limitaram a resposta de 20 Hz a 20 kHz. Porém frequências acima de 20 kHz ainda são indiretamente detectáveis e essas frequências nos ajudam a situar detalhes musicais de ambiência e espaço.

Aí, novamente os engenheiros determinaram, então, que o ideal é que o ruído digital seja exibido acima de 35 kHz. Mas este ‘truque’ tem um preço a ser pago: embora melhorem a percepção subjetiva do que estamos ouvindo (nos dando uma impressão artificial de uma melhor resolução e consequentemente maior inteligibilidade), esses processos introduzem um tratamento de uma audição ‘mecânica’ ou personalizada do sinal, e acabam gerando uma certa ‘monotonia’ (traduzida por muitos como uma certa frieza na apresentação do acontecimento musical).

Com tantas ‘limitações’ a serem superadas, cada fabricante buscou a solução (ou um pacote de possibilidades) que mais lhe agradou, criando um arsenal de possibilidades na maneira de atacar todos esses problemas, e que pelo andar da carruagem ainda vai levar muito tempo.
Isso é bom e isso é ruim (como diria meu pai), pois tudo irá depender do que o mercado consumidor deseja e entende como a melhor solução. E se você conhece um pouquinho do mundo audiófilo, sugiro que espere sentado! Por isso que nossos leitores, quando nos consultam na esperança de darmos uma ‘receita pronta’, se frustram, pois deixo claro que com caixas acústicas e DACs (ou CD-Players), as possibilidades são quase infinitas, e devem ser as primeiras escolhas, pois irão imprimir a assinatura sônica do sistema.

E se o leitor levar em conta o que digo em nossos Cursos de Percepção Auditiva desde 1999, comece pelas caixas, pois aí, ao menos, a escolha do DAC e do restante será bem mais fácil, pois já haverá um ‘norte’ a seguir.

Agora, se for apenas um upgrade pontual, naquele ajuste fino ‘derradeiro’, as fontes (digital e analógica) costumam ser o upgrade mais seguro.

Voltando à Nagra, sua abordagem para o desenvolvimento de todos os seus DACs foi baseada (assim como de todos os seus outros produtos) em duas referências: música ao vivo e sua larga experiência de mais de meio século com seus gravadores de rolo! Então a Nagra, preferiu abordar investigando aonde estavam os ‘nós’ mais significativos.

À medida em que foram estudando os problemas e limitações, os engenheiros chegaram à conclusão que não se tratava do formato de CD ser culpado pelo desempenho, mas sim o grau insatisfatório de rigor empregado até o momento na extração e conversão de dados contidos no disco, apesar de toda sofisticação e bons exemplos que se têm hoje utilizados nesta etapa do processo.

Então a abordagem mudou, e os engenheiros resolveram atacar o problema por uma outra vertente. Se você pudesse reproduzir com precisão os dados gravados, sem recorrer a ‘truques’, você certamente teria uma representação mais fiel da master e a reprodução, consequentemente, mais musical e verdadeira.

Pois mantendo o conteúdo (mesmo que subótimo) é infinitamente preferível à manipulação dos dados, não importando o quão “geniosa” essa manipulação possa ser (palavras da Nagra, ok?).

Simultaneamente ao avanço da abordagem, a Nagra começou a estudar a pesquisa conduzida pelo engenheiro Andreas Koch (co-inventor do formato DSD). O formato DSD é baseado em codificação de bit único a uma taxa de amostragem extremamente alta, ou seja 2.82 MHz, ou 64 vezes a taxa nativa do CD.

A Nagra então convidou Andreas Koch a uma parceria e o instigou a um projeto de desenvolvimento, usando o DSD como ponto de partida para aperfeiçoar uma solução distinta de todas as abordagens utilizadas hoje. O módulo que é fruto dessa parceria (Nagra / Andreas Koch) é de uma concepção inteiramente original e distinta de tudo que já foi abordado.

É baseado na tecnologia de conversão Sigma Delta que permite melhores resultados em termos musicais do que os referentes a tecnologia PCM comumente usada (opinião da Nagra). Com um fluxo genuinamente monobit, o módulo opera uma frequência amostral que foi acelerada para o dobro do DSD original (DSD x2), passando para 5.64 Mhz. Nesta frequência, o ruído de quantização é empurrado para além de 80 kHz, para que os filtros de passagem baixa na saída não tenham mais qualquer influência no sinal de áudio.

Para se cercar de todos os cuidados, a Nagra fez um verdadeiro ‘tour de force’ tecnológico, já que o circuito é inteiramente construído a partir de componentes 100% ultra-baixos e que não emprega um chip DSD de origem padrão de mercado, mas um circuito FPGA (Field Programmable Gate Array) especialmente desenvolvido e programado para a Nagra.

Resolvida essa etapa crucial, os engenheiros partiram para o segundo desafio: a precisão do relógio (clock). O clock também precisava atender a todas as novas especificações. Seu poderoso clock realiza seus cálculos em 72 bits. Com isso, ele produz uma resposta de impulso que é tão rápida que os fenômenos pré-toque que normalmente afetam os conversores digitais estão completamente ausentes. Esses cuidados resultam no que os engenheiros da Nagra chamaram de clareamento dos transientes, dando uma performance precisa na reprodução do andamento da música e a dinâmica musical.

Faltava dar aos seus DACs um estágio analógico ‘digno’ de todo o esforço envolvido no desenvolvimento do estágio digital e do clock. A ausência de um filtro complexo essencial em todas as outras abordagens na fase de entrada do estágio analógico fez toda a diferença (segundo o fabricante).

O grande nó desse estágio de qualquer excelente DAC é que uma grande quantidade na propagação do fluxo de ondas nas instantâneas variações dinâmicas é perdida (devido aos filtros necessários). Os DACs da Nagra não produzem absolutamente nenhum ganho de tensão de componentes eletrônicos ativos. Para esse tão importante resultado neste estágio do sinal, a Nagra faz uso de transformadores (projetados e fabricados por eles), alimentados por drives ultra-rápidos. Esses transformadores permitem que o sinal seja transferido com uma baixa impedância para o estágio de saída da válvula.

A qualidade das diferentes tensões de fontes de alimentação que são distribuídas dentro do estágio digital (conversor), também tem papel fundamental na estabilidade dos circuitos no estágio analógico e no resultado final do áudio. A Nagra deu aos seus DACs (em maior ou menor refinamento, dependendo da série e modelo) fontes de alimentação separadas de alta precisão e muito baixo ruído para as seções digital e analógica, de modo a garantir que o primeiro não gere nenhuma interferência que possa ser captada no outro. No total, o TUBE DAC utiliza 25 fontes!

O TUBE DAC aceita todos os formatos lineares de PCM até 32-bits e 384 kHz, bem como DSD (todas as possibilidades). Seus circuitos de software são reprogramáveis (circuito FPGA e microprocessador de controle) para que possa ser atualizado em relação a qualquer desenvolvimento futuro.

A fonte recomendada para o TUBE DAC é a PSU (também indicada para o Preamp Classic – leia teste na edição de abril de 2020). Seu gabinete é idêntico ao de toda linha Classic.

Todas as entradas digitais que equipam o DAC são cuidadosamente filtradas. As entradas XLR, BNC e RCA estão equipadas com seu próprio isolamento. A entrada RJ45 assume a forma do padrão i2S proprietário da Nagra para produtos futuros (provavelmente para um futuro streamer ou transporte). A entrada ótica Toslink garante uma conexão de ultra-velocidade de até 192kHz. A entrada USB de alta velocidade baseia-se em um circuito diferenciado programado em parceria com um fornecedor especialista em USB. O clock oscilador VCXO (cristal controlado por tensão) é sincronizado com o clock-mãe da unidade.

O módulo de conversão digital/analógico, desenvolvido em parceria com Andreas Koch, está acoplado em uma placa de cerâmica especial de várias camadas, que protege o conversor de correntes de interferência e efeitos microfônicos.

A seção digital é alimentada por sua própria fonte de alimentação de +12V. Esta fonte de alimentação, totalmente projetada dentro da Nagra também, é sincronizada no clock-mãe. Seu aterramento de circuito é feito em 9 pontos para evitar qualquer loop de interferência. Uma segunda fonte analógica também possui os mesmos cuidados referente a loops de interferência.

A válvula escolhida no estágio analógico é um triodo triplo JAN5693, uma válvula de nível militar derivada da ECC82, que possui ânodos maiores. A escolha dessa válvula foi por atender a critérios ultra rígidos, que o circuito se comporta completamente aos transistores em termos de relação sinal/ruído, estabilidade e largura de banda.

A válvula está inserida em uma blindagem de metal que a protege da radiação de interferência e, ao mesmo tempo, garante que o calor gerado não prejudique nenhum outro circuito, principalmente os capacitores de polipropileno (muito sensíveis ao calor). Esta válvula é polarizada em classe A, com um bias automático, o que significa que isso não mudará ao longo da vida útil da válvula. As fontes de alimentação foram calculadas de forma a garantir que a válvula funcione silenciosamente.

O TUBE DAC possui um excelente amplificador de fone de ouvido (o mesmo existente no Preamp Classic). Este amplificador de fone é baseado em circuitos de varredura de alta velocidade e alto desempenho, com baixo ruído e distorção. Não há capacitores no caminho do sinal, e a tensão na saída é garantida por um servo circuito que mantém permanente um 0V DC preciso. O TUBE DAC também possibilita ao usuário, caso necessite, usá-lo como pré de linha (óbvio que este pré de linha não está à altura do Classic Preamp) mas que funcionou adequadamente, nos testes que fizemos.

No painel frontal temos, da esquerda para a direita: o famoso modulômetro Nagra (presente nos produtos deste fabricante desde 1952. Ele permite no TUBE DAC o usuário observar o nível de entrada do sinal digital, com 0dB FS correspondendo ao nível máximo de entrada deste sinal. Logo em seguida temos o visor LCD que nos apresenta: linguagem, entrada que está sendo usada, nível de sinal, uso do pré de linha (variável) ou apenas como DAC (direct), botão de acionamento de todas essas funções apresentadas no visor. Potenciômetro Alps (para o uso de seu pré de linha), botão de fase, botão de acionamento do amplificador de fone, botão de liga/desliga, e mute. Seu controle remoto é idêntico ao do Classic Preamp.

A descrição do painel traseiro, como todas as suas entradas e saídas, mostrarei em foto.

OUVINDO O TUBE DAC NAGRA E CONFIRMANDO SE A LINHA ESCOLHIDA FOI ACERTIVA

Claro que não ouvi todos os grandes DACs existentes na atualidade, pois alguns sequer possuem representação aqui. Mas tenho absoluta certeza de que os que testamos estão certamente no topo do topo do podium. Falo do MSB Select e do dCS Vivaldi, ambos ganhadores dos principais prêmios entregues nos últimos três anos, em todos os continentes.

Junto à estes o CH Precision, que também nos encantou pelos seus recursos e refinamento. E, ainda que alguns degraus abaixo (mas ainda na linha de frente das referências) o dCS Scarlatti, que foi nossa referência nos últimos 7 anos! Então acredito estarmos ‘aptos’ a uma avaliação criteriosa da abordagem da Nagra para o seu TUBE DAC.

Ele não poderia ter vindo em melhor hora, pois tivemos à disposição excelentes caixas acústicas (Wilson Audio Sasha DAW e Revel Performa F228BE – leia Teste 2 na edição 262), powers Nagra Classic e CH Precision A1.5, e os integrados Pass Labs int25 e o Sunrise Lab V8 SS. Cabos digitais: AES/EBU Transparent Reference XL, Coaxial Sunrise Lab Quintessence e Feel Different FDIII. USB: Quintessence e Feel Different FDIII. Para o teste utilizamos o transporte dCS Scarlatti e o music server Cambridge Audio CXN V2. Cabo de força na fonte Nagra PSU: Transparent Audio Reference G5, Sunrise Lab Quintessence e Feel Different FDIII. Pré amplificador Nagra Classic também com fonte externa PSU Nagra.

Tentarei também fazer uma abordagem (dentro do possível) diferente do que apresentei até o momento, de todos os Nagras já testados. E por falar em produtos Nagra aqui apresentados, fiquei sabendo pelo importador, o Fábio Storelli, que seremos em breve a única revista no mundo a testar toda a sua linha (agora só falta testarmos os powers top de linha HD, o DAC top de linha, o HD x, e o novo pré de phono que será lançado no final deste mês.

odos esses três produtos serão testados ainda neste ano. O que para nós é uma grande honra e mostra o esforço do distribuidor em um ano tão conturbado de disponibilizar toda a linha de produtos para teste.

Voltando ao teste, como todo produto Nagra, o TUBE DAC também saiu de fábrica com um pré amaciamento (dependendo do produto a avaliação auditiva dentro de fábrica varia de 35 a 70 horas).

Claro que não é todo o amaciamento devido, mas permite ao feliz comprador desembalar, instalar e ter uma ideia bem consistente do que ele adquiriu.

Obviamente iniciamos o teste com todo o setup Nagra. Pois seria bem importante responder a minha primeira indagação: estaria o TUBE DAC, no mesmo patamar dos seus pares? Essa resposta foi muito fácil de constatar: Sim, no mesmo patamar sem nenhuma dúvida.

Já a segunda, se ele seria ‘páreo’ para outros DACs Estado da Arte de nível superlativo, tivemos que ouvir por um período muito mais longo (para dar tempo para seu amaciamento completo, da fonte e a passagem de 88 faixas de discos usados na Metodologia).

Todos os DACs que tiveram a maior nota em nossa Metodologia tem em comum duas características: energia suficiente para tratar os crescendo com folga e autoridade, e um silêncio de fundo que faz a música brotar do silêncio absoluto.

A assinatura sônica é muito distinta do MSB, do dCS e do CH Precision. E cada um desses três modelos atende a um grupo específico de audiófilos. Tentar achar um defeito nesses três ‘pesos pesados’ é procurar literalmente ‘pelo em ovo’! Mas certamente todo audiófilo achará uma boa razão para defender a sua escolha.

Neste grau de refinamento, a subjetividade tem muito menor apelo, pois garanto que a esmagadora maioria dos audiófilos viveria feliz pelo resto de seus dias com qualquer um desses três. Então o problema não é performance, e sim preço. Pois os três são para poucos, muito poucos.

O TUBE DAC também pertence a este grupo, mas diria que por outras virtudes, que talvez não sejam as mesmas ao qual os três possuem em comum (energia e silêncio de fundo). As virtudes do Nagra olham para um outro lado, que talvez somente uma pequena parcela busque ou deseje.

Mas, à medida que se vai conhecendo a fundo essas ‘virtudes’ fica cada vez mais evidente que a abordagem feita pela Nagra foi muito diferente de todos os seus principais concorrentes.

A primeira questão que se levanta, é que mesmo utilizando em seu estágio analógico válvula, sua sonoridade, não lembra em nada os DACs que utilizam essa topologia para ‘amaciar’ as altas frequências e deixar o som mais quente (ou molhado, como muitos audiófilos desejam). Pelo contrário, será difícil detectar qualquer característica pontual de som de válvula neste equipamento. Mas também não se assemelha a sonoridade de seus concorrentes de estado sólido.

Deixando-o em uma esfera totalmente única, em que temos o melhor dos dois mundos, sem impor a assinatura dessas topologias.

Mas, também chamar de um som neutro, diria que não é suficiente, pois ao mesmo tempo que se tem uma enorme neutralidade, pois podemos apreciar a qualidade de cada gravação, temos uma sensação de naturalidade desconcertante.

Tão desconcertante, que nosso cérebro imediatamente reclama quando ouvimos a mesma faixa em outro DAC, também de nível superlativo (e que no nosso caso foi nossa referência por longos 7 anos!).

Desenvolvemos uma referência crítica instantânea, capaz de ouvir as deficiências do invólucro harmônico, a aspereza nas altas, nas gravações com limitação na captação, decaimento e a ausência de melhor ambiência, que o ‘falso’ silêncio de fundo encobre.

Percebemos, sem muito esforço, que os timbres dos instrumentos acústicos e vozes possuem muito mais corpo, decaimento, precisão no foco, recorte e ambiência. Que seu equilíbrio tonal nos remete a uma leitura muito mais precisa da qualidade do músico e de seu instrumento, e que as oitavas altas de instrumentos como trompete com surdina, violino, piccolo, sax soprano, nunca agridem (ainda que a captação ou escolha do microfone tenha sido equivocada).

E a grande prova, aquela que eu diria ser a ‘gran finale’ é que nenhum, absolutamente nenhum piano soa a última oitava da mão direita com som de vidro.

Foi atordoante constatar que todas as gravações de pianos solos que ouvimos, independente da qualidade técnica, soaram sem endurecimento algum.

O mesmo ocorreu com as cantoras líricas sopranos. Levante a mão quantos amantes de óperas tiveram o dissabor de ouvir o som endurecer nas notas mais altas. Ou chegaram à conclusão que aquele engenheiro de gravação foi incompetente ao extremo.

Se a gravação não tem nenhum erro grave de compressão ou distorção, o Nagra reproduzirá com enorme conforto todas essas, sem exceção.

As vezes passamos tanto tempo olhando para o problema que esquecemos de como solucioná-lo. A abordagem central de todos os fabricantes em relação ao digital sempre foi melhorar a conversão, aumentando a relação sinal/ruído, taxa de amostragem, clock, etc. Avançamos muito ao aprimorar essas deficiências, não resta a menor dúvida.

Por outro lado, quando ouvimos esses avanços por um bom período de tempo, tivemos que descartar as gravações limitadas tecnicamente.

Nos novos avanços, com uma nova abordagem no tratamento dos filtros, ganhamos maior conforto auditivo, melhor resposta dinâmica e resgatamos parte dos discos tecnicamente limitados. O equilíbrio tonal melhorou, corpo, transientes, silêncio de fundo, etc. E passamos a reconhecer que o digital finalmente chegou à maturidade e pode ser utilizado como referência em alta fidelidade.

Só que o enorme aprimoramento dos novos toca-discos de vinil, cápsulas e o ressurgimento dos gravadores de rolo, abriram novamente uma janela de dúvidas, pois nosso cérebro, à medida que aprimora sua referência, o errado salta à frente como uma mancha de molho de tomate em nossa camisa de linho.

O TUBE DAC causa este mesmo sentimento de dúvida, e para você saber quem está dizendo a verdade, você irá precisar de uma única ferramenta: ouvir instrumentos reais tocando – se fizer isso, rapidamente saberá que direção deve seguir. Claro que isso não é tão simples assim, afinal pode ser que pelo seu gosto musical, mais energia e peso sejam mais importantes que fidelidade tímbrica, não é verdade? Por exemplo: quem gosta apenas de música com instrumentos eletrônicos – dificilmente a fidelidade dos timbres será relevante.
Mas, na outra margem, os que só escutam instrumentos acústicos, depois de afinar a memória musical com audições em salas de concerto, sua opção será certamente pela assinatura do TUBE DAC. Eu lhe garanto!

Pois a diferença nesse quesito (fidelidade tímbrica), para seus principais concorrentes, é muito expressiva e audível! Consequentemente, ouvir nossos discos neste Nagra nos proporciona um conforto auditivo indescritível.

Mas suas diferenças não terminam em sua naturalidade e fidelidade tímbrica. Vão muito além!

Com o passar das semanas, em gravações com muitos instrumentos, começamos a perceber que ainda que as escalas dinâmicas não tivessem a mesma energia e ímpeto de nossa referência, observamos que os degraus dinâmicos eram muito mais precisos e inteligíveis! Fazendo com que nossa referência parecesse ‘afoita’ em resolver aquela passagem. E, com isso, a distribuição de energia entre as caixas e a organização do acontecimento musical eram muito mais precisas e fidedignas ao que ocorreu no momento da gravação.

Deduzi que este resultado sonoro era a soma de vários aspectos. Primeiro, a sensação de palco 3D no TUBE DAC é impressionante (igual só escutei no MSB Select e no dCS Vivaldi).

Com essa apresentação 3D: foco, recorte, planos e ambiência são apresentados com enorme realismo e organicidade. As variações dinâmicas, por não serem feitas afoitamente, permitem ao ouvinte acompanhar toda a complexidade existente, mesmo que estejamos falando de naipes e não de instrumentos solo. E, por fim, acredito que parte dessa qualidade, o equilíbrio tonal seja outro fator relevante na composição do ‘todo’. Pois não há nenhum resquício de turbinamento ou coloração.

Um disco contundente para perceber essas virtudes do Nagra é do André Mehmari Trio: Na Esquina do Clube com o Sol na Cabeça. São inúmeras citações feitas pelos sintetizadores analógicos, simultaneamente com o trio tocando em tempo real, que se o sistema não tiver uma excelente organização de todo o acontecimento com as alturas dinâmicas, equilíbrio tonal, foco, recorte, transientes, fidedignos ao que foi captado, mixado e masterizado, muita informação foge de nossa atenção. É a típica gravação que exige concentração total do ouvinte, caso queira navegar naquele mar de virtuosidade.

Como disse um amigo meu ao ouvir esse disco: “É a melhor viagem sem nenhum tipo de alucinógeno”.

Pasmem, o TUBE DAC, reproduz este disco sem nenhum esforço e com tamanha organização que, ao ouvir ele em nossa referência, a sensação é de que era outra mixagem. Pois para não se perder, não adianta tratar o sinal afoitamente. Ao contrário, é necessário precisão, organização e perfeito equilíbrio.

O que estou querendo dizer, meu amigo, é que os engenheiros da Nagra levaram a sério a questão de eliminação de filtragem, e provam com o brilhante resultado alcançado que nada há de errado com o disco platinado. Toda a informação está lá (claro que estou falando de gravações corretas), o problema está somente em como extrair corretamente essas informações sem perda.

E confesso a vocês que não havia escutado, em meus 62 anos de vida, um DAC fazer seu trabalho com o tamanho esmero, precisão e naturalidade.

Assim que acabar essa pandemia, irei convidar o André Mehmari para ouvir seu disco comigo novamente (pois escutamos na nossa referência e ele gostou muito), e passar suas observações. Estou muito curioso para saber do próprio autor o que ele acha.

CONCLUSÃO

Eu sempre lembro que nesse patamar do hi-end sempre haverá o componente pessoal, que inclui expectativas, design, admiração por determinada marca, gosto musical, etc. E afirmar que o produto A é superior ao B ou C, sempre terá pontos discutíveis. Afinal, a unanimidade acima de tudo deve ser muito chata.

Mas, existem situações em que determinados produtos se sobressaem de tal maneira que fica difícil colocá-los no mesmo sítio que seus concorrentes. Não por ser melhor, mas sim por fazer a mesma coisa de forma diferente. E neste diferente, não posso me abster de colocar, mais precisamente.

Tão mais preciso que basta ouvir alguns exemplos para notar que não estamos falando de mais ou menos musicalidade, maior ou menor inteligibilidade. E sim de precisão, fidelidade tímbrica e principalmente de menor esforço para se acompanhar e entender uma obra musical.

Não estou falando da música popular, que se resume a três ou quatro acordes acompanhado por violão, baixo e bateria (nada contra – por favor), e sim de obras complexas com numerosos instrumentos.

No TUBE DAC essas obras ganham uma organização e precisão tão impressionante, que duvidamos ao término da audição que não tivemos a necessidade de aumentar nosso grau de atenção para acompanhar a obra! Esse é o efeito Nagra, presente em todos os seus produtos, mas que ganha um toque ‘especial’ no seu DAC, justamente por ser um produto em que possui sérios concorrentes de peso. E que fica ainda mais interessante ao ver que sua abordagem e seus resultados se mostram muito distintos da concorrência.

Pode ser que você, ao ouvir o TUBE DAC ou o modelo acima, não abra mão do seu conversor atual, mas garanto que irá admirar algumas de suas qualidades, que só ele carrega.

Nota: 105,0
AVMAG #262
German Audio

contato@germanaudio.com.br
US$ 63.270

NAGRA HD DAC X

Fernando Andrette

A possibilidade de ser o primeiro revisor crítico de áudio a testar a linha completa de todos os novos produtos da Nagra, é uma experiência “única”, que vem, no entanto, com uma responsabilidade na mesma proporção.

Depois de conhecer e apresentar a vocês toda a linha Classic (agora só falta o pré de phono, que ainda não foi apresentado à imprensa) e o power top de linha da série HD, chegou o momento de tentar descrever em palavras a performance do HD DAC X.

Sabia de antemão, após ouvir por meses o TUBE DAC, que não seria uma tarefa simples comparar o novo DAC HD X com ele, e mesmo com outros DACs ultra-hi-end por nós já testados. Pois o mesmo ocorreu após a experiência com o Pré HD, que nos apresentou um outro patamar de prés Estado da Arte de nível Superlativo.

Vivendo e aprendendo, diz o famoso ditado popular – sim, concordo. Pois quanto mais tempo eu caminho nessa longa estrada do mercado audiófilo, mais vias eu percebo existirem. Algumas são apenas bifurcações de estradas maiores, outras são linhas paralelas que nos fazem sair da via central por algum momento, e depois desaguam novamente nessa estrada principal. E existem caminhos que nos levam em uma nova direção, para conhecer novas formas de apreciar a música reproduzida eletronicamente.

Felizmente a história do hi-end está repleta de exemplos de equipamentos que possuem essa “magia”, então a possibilidade de você se deparar com um produto (ou vários) em sua jornada, que o farão desviar da “rota” é “significativa”. A função desse “desvio de rota” pode ser momentânea como um flash de luz espocando na noite escura, ou se transformar em uma seta a lhe apontar uma outra direção. O que é importante é que essa experiência deixa em nós sensações e sentimentos permanentes que serão, daquele momento em diante, bússolas a guiar e nos orientar. Alguns percebem essas indicações imediatamente, outros só as tem com anos e mais anos de tentativas e erros.

Então, se aceita uma dica amigo leitor: fique atento! Quando um equipamento ou um produto lhe tocam de uma maneira que parece que aquela música, que tanto te encanta, está sendo ouvida pela primeira vez, este é um sinal de que algo naquela reprodução eletrônica deve ser compreendido.

Tentar dizer em palavras as diferenças de ouvir meus discos preferidos e os discos da metodologia no HD DAC X é como tentar explicar aquela sensação de tomar um suco natural de uma fruta que você nunca experimentou. E que, além de te refrescar, explode o seu paladar com inúmeras sensações que você nunca explorou. Tive inúmeras vezes essa sensação deliciosa com frutas do nosso Norte e Nordeste, como a mangaba, a graviola e o cupuaçu!

Passado o impacto inicial, racionalmente você vai tentando “mapear” aqueles gostos, buscando similaridade com frutas que você já conhece e aprecia. O mesmo ocorre quando nos deparamos com um equipamento que, colocado em seu sistema, altera toda a harmonia existente, deixando-o ainda mais cativante.

As dificuldades em tentar descrever este momento são as mesmas. Você recorre às suas melhores referências em termos de gosto pessoal, porém você percebe que aquela resposta não é o suficiente para traduzir o grau do impacto emocional que aquele novo elemento fez no seu sistema.

Os adjetivos neste momento inicial são inócuos, pois expressam apenas as sensações causadas e não explicam o “fenômeno”. E muito menos nos ajudam a entender a causa de todo este impacto.

Felizes (talvez) os objetivistas, pois nessas horas se armarão de um “dossiê” minucioso radiográfico daquele produto para ter uma resposta “plausível” do que ocorreu. Como não me enquadro neste grupo (pois sequer sou apto a fazer uma solda decente, o que dirá então traduzir o que um osciloscópio me apresenta), me coloco na posição de um malabarista que não tem a menor aptidão para andar em uma corda bamba.

A única coisa que tenho é um sistema auditivo sem problemas que, ao longo de quase meio século foi treinado para ouvir diferenças na reprodução de equipamentos e que utiliza uma Metodologia, e os discos por mim produzidos, para poder repetir essas observações infinitamente. O que, para a esmagadora maioria dos meus críticos, não serve para nada. A mim serve, e muito! E certamente para os que nos leem, deve servir como um “norte”.

Nunca deixei de expor em meus textos minhas limitações técnicas, e sempre deixei claro que não sou o dono da razão. A única vantagem que tenho é a de ter testado, nesses últimos 30 anos, mais de 1700 produtos de áudio. E, por mais inepto que seja, algo devo ter aprendido e assimilado adequadamente!

Então vamos ao que interessa: a avaliação deste incrível DAC!

Entrando no site da Nagra para ver as especificações deste produto, nos deparamos com a seguinte introdução: “O HD DAC X é um passo à frente da Nagra. Inclui muitos avanços tecnológicos do HD Preamp. O resultado é um som realista com calor, textura, dinâmica extrema e resposta de frequência estendida além do que já foi alcançado por outros conversores D/A”. Gosto muito quando o fabricante dá a “cara” para bater. Instigando-o a constatar se entrega o que promete.

E passa a explicar em detalhes todo o esmero no desenvolvimento de sua topologia para chegar ao resultado pretendido. Começa por explicar que a fonte de alimentação é extremamente sofisticada, usando diodos retificadores de carbeto de silício ultra-rápidos, reguladores de tensão com baixíssimo ruído e uma bateria “virtual” composta por um banco de supercapacitores três vezes maior que o utilizado no pré HD. Explica a importância das 37 fontes de alimentação individuais reguladas e com ruído ultra baixo. Detalha a alta precisão do clock interno e o jitter ultra baixo com uma FPGA de alto desempenho para a execução de todos os cálculos. Fala da opção em que todo sinal de entrada seja convertido no formato DSD 256 (taxa de amostragem de 11,2 Mhz). Detalha que sua principal fonte de alimentação digital possui um nível de ruído 30 vezes menor que o do HD DAC. E que a ordem de magnitude do ruído dessas novas fontes de alimentação é de 0,4 a 0,8 uV rms (de 10 Hz a 100 khz), que somente a parte digital utiliza 16 fontes de alimentação com ruído também ultra baixo. E que a entrada digital e a placa D/A são construídas em uma PCB de 8 camadas e alta precisão. Na parte analógica, as soluções foram aprimoradas de todos os outros DACs, utilizando uma topologia mono duplo. Com o sinal analógico que sai da placa de conversão sendo levado a um amplificador de corrente simétrico que diminui drasticamente sua impedância. Com um tempo de subida da ordem de 1800 V/uS para a carga indutiva de
28 H dos transformadores entre estágios. E que em nenhuma etapa é feito uso de feedback e nem fornece nenhum ganho. Os transformadores são construídos pela própria Nagra, após os transformadores, a impedância é reduzida ainda mais por um estágio que consiste em duas válvulas militares JAN5963 (um por canal). A tensão dos filamentos de aquecimento é regulada individualmente para o controle de ruído muito baixo. Esta etapa também está livre de feedback.

Ao leitor interessado, sugiro a entrevista com o CEO da Nagra, publicado no teste do TUBE DAC (Edição 262). Na entrevista ele explica em detalhes a filosofia da Nagra no desenvolvimento de cada novo produto e a participação de todos os engenheiros neste processo do primeiro protótipo até a definição final do produto. Ressalto aqui (aos que não tiverem o interesse de ler) que na Nagra o primeiro protótipo só será desenvolvido para testes objetivos e subjetivos, depois de plenamente discutido por todos os envolvidos e com a segurança de que este novo produto, suplantará em tudo o já existente.
Faço este adendo, já orientando você que está lendo esse teste, que o DAC HD X é em tudo superior ao TUBE DAC.

Como o TUBE DAC, o HD X possui todas as entradas digitais possíveis – além das duas proprietárias para futuros lançamentos (seja de um transporte ou de um streamer). Sua fonte, ao contrário da PSU (utilizada do TUBE DAC que pode alimentar dois equipamentos Nagra simultaneamente) só alimenta o Conversor.

O Nagra DAC HD X veio lacrado e teve, como todos os outros produtos deste fabricante já testado, o mesmo procedimento de amaciamento: audição rápida de duas horas para as anotações iniciais e depois queima de 100 horas para uma nova rodada de audições (essa muito mais prolongada) e mais 100 horas para o amaciamento final.

O HD X (deixe-me abreviar) foi utilizado com o nosso sistema de referência e também com o power CH Precision A1.5 (leia teste na Edição 263). As caixas foram a Wilson Audio Sasha DAW, e as duas Revel Performa. O cabo de força foi o Sunrise Lab Quintessence e o Transparent G5. Cabos digitais: AES/EBU Transparent Reference, e Crystal Cable Absolute Dream. O transporte foi o dCS Scarlatti, e os streamers da Cambridge Audio: Azur 851 e CXN V2 (com cabos coaxiais: Feel Different FDIII, e Quintessence da Sunrise Lab).

Com o sistema todo Nagra (pré Classic, powers mono Classic e, o TUBE DAC para comparação no fechamento da nota), foi possível perceber o quanto o DAC HD X se sobressaiu.

Não há restrições de nenhuma ordem, essa é a primeira conclusão! Você pode tentar (e acredite eu tentei), colocá-lo em “xeque” com inúmeras gravações. E ele se mostra irredutível em nos presentear com reproduções plenas de precisão, conforto auditivo e emoção.

uando eles falam em um DAC com grande extensão, diria que foram até comedidos. Pois ambos os extremos são enormemente favorecidos por essa “extensão”. Nos agudos, a quantidade de informações que são realçadas nos faz coçar a cabeça. As ambiências são reproduzidas não só com a quantidade de reverberação existente na gravação, como a percepção do decaimento até o silêncio absoluto.

Os pratos são magníficos, com corpo, velocidade e precisão, que nos possibilita acompanhar até mesmo a técnica do baterista na condução e maneira de segurar a baqueta e, claro, a qualidade dos pratos e dos microfones utilizados (antes que os virulentos me apedrejem, essas observações eu extrai dos discos feitos pela Cavi Records e os dois Genuinamente Brasileiro vol. 1 e 2).

Mas este requinte na reprodução dos agudos está presente em todas as gravações, e qualquer um poderá ouvir! Na região média (a única em que a distância do TUBE DAC para o HD X não é tão grande) a diferença se dá exclusivamente no piso de ruído. O que permite ao HD X uma apresentação de microdinâmica única (não escutei em DAC algum esse grau de definição).

Para os que se sentem incomodados com os ruídos inerentes dentro de uma orquestra (inevitáveis, afinal os músicos precisam respirar enquanto tocam), não ouçam este DAC! Pois literalmente tudo que foi captado e mixado, estará sendo apresentado.

No começo, tomei até alguns sustos com o realismo de certos ruídos das gravações na sala, mas como o grau de materialização física do acontecimento musical deste DAC é um contexto a parte, você rapidamente se acostuma. Afinal, os músicos estão ali a três metros de sua cadeira!

E os graves: tive a exata dimensão de sua extensão ao ouvir algumas gravações de órgão de tubo e vi as caixas Sasha DAW exercitarem aqueles dois cones do woofer como só havia escutado em analógico! É uma onda de energia e precisão que te deixarão grudados no assento. Um vício instantâneo, como disse meu filho a escutar pela terceira vez uma faixa do Jaco Pastorius!

É realmente um prazer ouvir graves tão profundos e corretos sem o uso de um subwoofer. A sensação é que você descomprimiu os graves no HD X!

A apresentação do soundstage é divina em todos os aspectos: foco, recorte, planos, ambiência, largura, altura e profundidade. Duos de vocalistas no mesmo microfone é covardia: você pode perceber a diferença de altura entre os vocais perfeitamente! Fiz isso com três gravações à capela: uma com 4 vozes (todas masculinas) e outra com 8 vozes (quatro masculinas e quatro femininas), e com Água de Beber do nosso disco Genuinamente vol. 2. Os planos permitem você precisar o foco e recorte de cada naipe e dos solistas.

ravações ao vivo de big bands é até uma sensação estranha: no meio daquela massa sonora, o solista se levantar para seu solo! É literalmente ver o que estamos ouvindo!

As texturas são as mais ricas e integralmente retratadas que escutei em toda a minha vida. Nunca ouvi tantas gravações de quartetos de cordas, e cello e piano, e violino e piano, o tempo que tive com este DAC. Foram mais de 50 gravações, sem nenhum exagero!

Difícil de explicar a forma com que este DAC retrata as intencionalidades e as dificuldades inerentes nas execuções de obras complexas. Novamente, este DAC permite você ver o que o solista está fazendo (desde que você tenha algum contato real com este instrumento), são nessas gravações que se separa o excelente músico do virtuose. Pois enquanto o excelente músico impõe uma concentração total (quase além do limite humano) para não errar, nos deixando perceber aquele esforço hercúleo, o virtuose executa com enorme relaxamento, como se fosse algo simples e trivial.

Por isso escutei tantos discos, pois pude ouvir a mesma obra executada por quartetos distintos e solistas, e perceber claramente o grau de virtuosidade de cada um deles. Você pode imaginar o que significa ter à sua disposição um sistema que permita este requinte de audição? Poder chegar em casa depois de um dia de trânsito infernal, reuniões e pressões infindáveis, tomar seu banho, jantar e esquecer por algumas horas do mundo lá fora, ouvindo seus discos preferidos? E sair dessas audições recauchutado e pronto para uma noite bem dormida?

Os 30 dias (ainda que a pandemia tenha restringido minhas saídas ao mínimo) que passei com este DAC, foram, posso dizer, as audições mais prazerosas e emocionantes que tive nesta Sala de Referência! Audições tão inesquecíveis que preencheram mais de
30 págs. do meu caderno de anotações (desde que comecei a revista já estou no trigésimo quinto caderno de capa dura com 100 págs. cada caderno, e já avisei a família, que eles vão junto comigo para o crematório, pois são muito pessoais para serem lidos por qualquer pessoa – vai ser hilário ver esses cadernos em cima do caixão entrando no forno, rs).

Os transientes são dignos de sustos aos desavisados. Ouvir caixas com a esteira fechada em que o baterista usa a caixa para marcar o tempo forte, será um problema – é como estar à um metro do baterista (geralmente a posição que se encontra o microfone acima da caixa). Me vi piscando a cada tempo forte marcado, em diversas faixas de blues que toquei.

Os pianos idem: notas soltas sem acordes (principalmente nas duas últimas oitavas da mão direita) quando o pianista usa dois dedos na mesma tecla, é digno de pular na cadeira. E o melhor: sem aquele terrível som de vidro tão comum em inúmeros DACs e Sistemas.

Amantes de todos os gêneros com instrumentos eletrônicos irão amar a precisão de ritmo e tempo deste HD X!

Mas vamos à “pedra no sapato” de 90% dos DACs (independentemente do nível do conversor): A macrodinâmica! Os melhores DACs que já ouvi ou tive resolvem este obstáculo com excelente precisão, mas com um grau de energia considerável para não dobrar os joelhos. Alguns desses grandes se apoiam nas cordas, e o que notamos é apenas um “empacotamento” tornando aquela passagem bidimensional, já os que sentem o golpe, literalmente jogam a toalha, endurecendo o sinal e nos fazendo recorrer ao controle de volume para atenuar aquela desastrosa passagem.

O HD X não só passa com louvor, como ainda deixa claro que tem folga suficiente para dar um gás a mais no volume (se a gravação permitir, é claro).

Me peguei, por instinto de sobrevivência, fazendo o mesmo com o HD X nos primeiros dias (pois detesto tornar uma audição prazerosa em um sabor amargo, por uma passagem em que o sistema não teve como resolver, então sempre sou “precavido” e deixo pelo menos 2 dB de folga para o sistema não sentir o golpe!). À medida que fui percebendo que vinha a macro e ele resolvia como “pêra doce”, fui testando seus limites. E percebi que o seu limite é sempre o da gravação, e não o seu!

Ouvir como ele resolve a macrodinâmica é tudo que todo audiófilo sempre sonhou (mesmo que ainda ele não saiba). “Primoroso” é o adjetivo para sua apresentação de micro e macrodinâmica!

Não irei me estender em relação à organicidade, pois já cantei a bola algumas linhas atrás, falando do grau de materialização física a nossa frente do acontecimento musical. Só quero reforçar que, com este DAC, fica escancarado como os engenheiros de gravação se equivocam na escolha das reverberações digitais para vozes. O que faz com que o nosso cérebro perceba claramente que os cantores não estão no ambiente “forjado” pelo reverb digital. Batizei essas mixagens, nos meus cadernos de anotações, como “Audições
Interruptas”, pois retira todo prazer de ouvir a obra e sentir o músico ali na nossa frente.

Aos que assistiram nossos Cursos de Percepção Auditiva, irão lembrar dos dois exemplos com a cantora Zizi Possi e com o dueto do Milton Nascimento com o Edu Lobo. Duas obras lindíssimas em que o engenheiro “azedou” com o reverb digital errado. Este tipo de erro este DAC não perdoa!

O corpo harmônico é de uma fidelidade ao que foi captado, espantosa. Pianos solo são um marco em termos do grau de requinte que a reprodução de corpo harmônico atingiu com este HD X!

Deixo para descrever o quesito Musicalidade dentro da conclusão, ok?

CONCLUSÃO

Volto a lembrar a todos, antes de minhas considerações finais, que não sou o dono da verdade e nem tampouco tenho a pretensão de ditar regras a ninguém.

Todas minhas considerações só podem ser feitas dentro do universo de produtos diretamente testados por mim em nossa sala, com os nossos discos e o sistema do momento de referência.

Lembro sempre este ponto pois, de novo, nossos críticos mais “virulentos” falam tanta bobagem e inverdades, que acho importante lembrar à todos nosso papel e nosso objetivo.

Jamais você me ouvirá escrever que determinado produto seja o melhor do mundo (deixo isso aos importadores e fabricantes), pois para fazer tal afirmação necessitaria de ouvir todos os produtos similares. Então eu pulo essa bobagem de que este é o melhor.

O que posso, no entanto, escrever, e dizer com a consciência tranquila, é que este DAC HD X é o melhor DAC por nós já testados até aqui! E o melhor: com uma margem de pontos muito significativa em relação a outros grandes conversores. Por uma soma de fatores que engloba: harmonia, coerência e performance!

Como o TUBE DAC (outro excepcional DAC deste fabricante), ele não utiliza filtros e leva as descobertas deles a serem aplicadas à um nível ainda mais superlativo que o próprio TUBE DAC. O resultado se traduz em uma eficácia e conforto auditivo que não extraímos de nenhum outro DAC.

Lembra da comparação que fiz neste texto entre o excelente músico e o virtuose? Pode perfeitamente ser aplicado ao HD X. Ele faz tudo que um excelente DAC faz, com uma facilidade e musicalidade que nos fazem pensar o que impede os outros de terem essa mesma performance!

Os objetivistas terão suas respostas nas medições, assim como os subjetivistas em suas impressões. No entanto, isso não explicará o motivo que levou os engenheiros da Nagra a saírem da “estrada principal” e criar seu próprio caminho!

Se seu sonho como audiófilo é desfrutar de algo único e solidamente comprovado, e que o extraia do lugar comum, esta é sua chance. O que você tem a perder?

Nota: 111,0
AVMAG #264
German Audio

contato@germanaudio.com.br
US$ 98.000

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