Espaço aberto: A BUSCA INCESSANTE PELO EQUILÍBRIO

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Eu sempre anotei tudo que me chamou a atenção ou me impactou, a ponto de me fazer rever conceitos e ideias. Sou uma pessoa atenta ao que ocorre à minha volta, e ávido por conhecimento e respostas.

Tenho um lado autodidata que me ajuda a questionar constantemente tudo que leio, ouço ou vejo. O comportamento humano sempre me fascinou, e pessoas capazes de fazer diferente na mais profunda adversidade sempre foram referências relevantes e de enorme aprendizado de vida, e de correções de rotas.

Lembro que todo este mosaico de interesses se manifestou desde a mais tenra idade. Meu pai e minha mãe diziam que eu era uma criança de uma curiosidade inesgotável. Nunca me contentei em ouvir o que os adultos me respondiam com um “é assim e ponto”!
As conversas dos adultos sempre me chamaram a atenção, e em grupos de audiófilos as divergências sempre me intrigaram. Quando meu pai explicava pacientemente aos seus clientes e amigos, que cada sistema possuía uma assinatura sônica, eu não aceitei está “máxima” por vir de meu pai. Quis eu ouvir se aquilo procedia ou não.

Foi quando comecei a prestar mais atenção nos discos que ele utilizava para os ajustes dos sistemas dos clientes, como soavam em cada setup. E com apenas 8 anos de idade, percebi que era fato, que a mesma música soava sempre diferente em sistemas e salas diferentes.

Meu pai estava realmente falando algo importante. Daquele momento em diante, minhas perguntas e dúvidas foram se amontoando. E meu pai surpreso com meu interesse, foi cada vez mais dando corda. Ficamos tão próximos, que até os clientes sentiam minha falta, quando não podia acompanhá-lo em suas visitas.

Às vezes eu dava alguma desculpa com os afazeres da escola, pois havia clientes que eram muito chatos, com um ar de superioridade, e muito falastrões. Foi para descrever estes clientes que meu pai cunhou a frase: “Alguns audiófilos só apreciam a própria voz”.
Achei essa descrição brilhante, e fui além ao observar que esses clientes que falavam pelos cotovelos jamais prestavam atenção na música.

Quando descobri este disparate, comecei a fazer relações mais consistentes entre a personalidade do audiófilo e seus sistemas. E para a minha surpresa, constatei que os mais tímidos ou introspectivos (palavra que escutei pela primeira vez com mais de 12 anos), tinham os sistemas mais bem ajustados e musicais. Lembro de compartilhar esta observação com meu pai, e ele abrir um enorme sorriso e passar a mão na minha cabeça, e não falar uma palavra a respeito.

Mas aquele seu gesto, me deu a certeza que ele também concordava com a minha observação.

Meio século se passou, e muitas das minhas observações de infância ainda são bastante pertinentes e válidas.

Percebo, olhando toda a minha trajetória neste meio, que somente os audiófilos que compreenderam a importância do Equilíbrio Tonal para a escolha e ajuste de seu sistemas, tiveram excelentes resultados em sua meta.

Os que ficaram buscando detalhes pontuais, como a melhor macrodinâmica possível, ou a busca por total transparência, ou por palcos holográficos que “derrubam” as paredes da sala de audição, continuam a correr atrás do “pote de ouro no fim do arco íris”.

Não se trata de uma crítica, apenas de uma constatação de um homem prestes a completar 63 anos de vida, e que continua com a mesma curiosidade de ver e conhecer o mundo.

No entanto, não posso omitir que nas minhas consultorias, os audiófilos que deixaram seus desejos pontuais de lado e foram em busca do todo, conseguiram resultados muito mais consistentes.

E um índice de satisfação muito mais mensurável e também consistente.

Quando ouço esses sistemas, percebo de imediato que existe um Equilíbrio Tonal que dá a tônica e assinatura a todo o sistema. São setups que não causam fadiga, possuem um grau de realismo e naturalidade que nos fazem esquecer o mundo, literalmente.

Como digo sempre: são sistemas que apresentam o âmago tanto em musicalidade quanto em intencionalidade. E, ainda assim, ao grupo que ainda está buscando características pontuais, passam totalmente despercebidos.

Essa questão sempre me intrigou: o que impede de todos reconhecerem um sistema corretamente equilibrado de um outro com pontas e arestas soltas? Fiz esta pergunta dezenas de vezes ao meu pai, em vários períodos de nossa convivência. E sua resposta sempre foi a mesma: “Antes de iniciarmos qualquer jornada importante, precisamos saber se realmente estamos preparados”.

Não deixo de achar sua resposta correta, mas eu acrescentaria um outro elemento a esta questão: o audiófilo sabe o que realmente é essencial?

Espero que todos vocês saibam a resposta amigo leitor!

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