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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Quem nunca errou na montagem de seu setup de áudio, que atire a primeira pedra!

Errar faz parte do aprendizado, e erraremos muitas e muitas vezes, até entendermos o que queremos e como chegar lá!

Mas existe o outro lado também, o de passarmos do ponto em um sistema que já está devidamente ajustado e prazeroso de se escutar, mas que achamos que ainda é possível tirar a última gota! E essa última gota se torna o problema, pois transborda!

Nas minhas andanças e consultorias, tenho visto este problema se tornando frequente e recorrente. E acho que este fenômeno se deve principalmente ao avanço tecnológico que o áudio hi-end viu ocorrer em todos os nichos (caixas acústicas, eletrônica, cabos, etc.). E que, audivelmente, o maior benefício de todos é que os sistemas, mesmos os mais modestos, adquiriram uma ’folga’ que antes só existia nos produtos mais ‘top de linha’.

Eu observo isso mensalmente, e ainda me surpreendo ao ouvir o que produtos de preços mais ‘realistas’ conseguem atualmente em termos de performance. E, por experiência, arrisco dizer que o produto que mais se beneficiou deste processo evolutivo foram as caixas acústicas. Uau! Como evoluíram, e como adquiriram uma ‘folga’ que até cinco anos atrás era impossível atingir no segmento de entrada.

Mas de nada adiantaria essa ‘evolução’, se os cabos e eletrônica também não tivessem acompanhado. Aí, justamente, que mora o perigo, pois com essa folga nosso ímpeto por ‘experimentações’ só cresce. Pois no fundo no fundo, todo audiófilo tem a ‘esperança’ de que um acessório ‘milagroso’ vai nos dar o salto que nossa conta bancária não permite fazer em um upgrade de um sistema superior.

Sempre achamos que uma ‘pitadinha de pó mágico’ irá ‘azeitar’ ainda mais o sistema que está correto e, na maioria das vezes,
nossa linha de raciocínio é: “vai custar uma fração do que gastei no sistema”. Se você está pensando que desta água não beberá, abra seu armário de bugigangas e faça uma lista de acessórios, cabos, fusíveis e afins que estão só ocupando espaço e pegando pó! E você irá se surpreender se fizer um pente fino em cada um desses acessórios, e lembrar a razão de ter acreditado que algum iria colocar a cereja final no bolo!

E, como eu disse, à medida que os sistemas ganham mais folga, mais propensos estamos a fazer ’experiências’.

Às vezes sou contratado por vocês, leitores, apenas para uma única consultoria: ouvir se o setup está correto ou não. O custo desta visita é uma fração de uma fração da maioria dos ‘brinquedinhos’ que irão mudar o patamar do setup. E tenho encontrado (para minha alegria) sistemas já bem corretos e que foram montados seguindo a Metodologia, e com critério e coerência.

Você não tem ideia do que significa ouvir esses sistemas de nossos leitores, quando estão corretos, pois eles são a maior prova que todo o nosso esforço e dedicação foram compreendidos e aplicados.

Porém (mais, porém…), também estamos assistindo a um fenômeno totalmente novo: sistemas que estavam completamente ajustados, passarem do ponto! Deixando esses leitores confusos e recorrendo novamente a nós para entender o que ocorreu.

O que já percebi é que este ‘passar do ponto’ está ocorrendo justamente com sistemas que têm maior folga. Aí o audiófilo se empolga e começa a fazer inúmeras experimentações, e quando vê tudo transbordou! O termo ‘passar do ponto’ é correto, pois não degringolou ou estragou o equilíbrio tonal do sistema, que é o alicerce de tudo.

Mas ele começa pontualmente a expurgar novamente discos ou faixas que não havia mais nenhum tipo de problema.

Este é o sinal de alerta, que será preciso voltar ao que estava, ouvir esses discos ou faixas e se certificar que o problema foi aquele ‘inocente acessório’ que para alguns discos mudou meu sistema de patamar, e para outros, estragou tudo.

Todos temos nossos discos que são perfeitos para essas situações, e que devem estar sempre à mão, nessas ocasiões. Vou citar 4 faixas às quais sempre recorro – talvez o leitor até tenha alguma delas.

A primeira é The Man You Were (disco Loving You da Shirley Horn) – essa gravação é excelente para se avaliar os graves, pois o contrabaixo teve uma captação muito próxima e, quando se passa do ponto, não se escuta a fundamental de cada nota do instrumento, só os harmônicos, o que deixa o sistema com o ‘grave de uma nota só’. Altamente retumbante e sem controle, ecoando pela sala.

O segundo exemplo também é da Shirley Horn. E a faixa é Beautiful Love, um arranjo simples, com gaita, guitarra e a voz de Shirley Horn. Aqui podemos perfeitamente identificar se o sistema passou do ponto na região médio-grave, média-alta e aguda.

OUÇA YOU WON’T FORGET ME – SHIRLEY HORN, NO TIDAL.

No médio-grave, se passou do ponto, as notas graves da guitarra ficam cheias demais (podendo até dar a impressão que tem um corpo harmônico muito maior), e as notas médias ficam magras. E a gaita, se ficar dura na oitava mais alta, é nítido que o setup extrapolou o equilíbrio tonal!

Os outros dois exemplos são bem mais complexos, e só podem ser usados para sistemas Estado da Arte, pois em sistemas sem uma enorme folga, soam sempre duros nas altas, sem arejamento entre os instrumentos, congestionados, e nos crescendos com tendência a saltar para frente. Aqui, cada um dos discos pode ser utilizado em sua totalidade, e são eles: Who Let The Cats Out? (do guitarrista Mike Stern), e o Tango Zero Hour (de Astor Piazzola e seu Quinteto Tango Nuevo).

OUÇA WHO LET THE CATS OUT? – MIKE STERN, NO TIDAL.

OUÇA TANGO ZERO HOUR – ASTOR PIAZZOLLA, NO TIDAL.

E aqui o que devemos perceber é se o sistema tem a folga necessária para tocá-los corretamente. E não para detectar se o sistema passou do ponto ou não. O legal é que cada vez que eles soam ‘divinamente’ nos sistemas corretíssimos, quando se passa do ponto eles se tornam inaudíveis. Então são essenciais para avaliação de dois itens: saber se o setup chegou lá e se soa como um Estado da Arte (pois só tocam bem nesses sistemas), e se ‘a cereja do bolo’, não desandou a ‘receita’.

Claro que as tentações nos chegam de todos os lados, e somos estimulados o tempo todo a experimentar e consumir.

Se queres continuar ‘brincando de fazer milagres’ em seu sistema sem trocar as peças, ouça este conselho: leve essas quatro bússolas contigo sempre.

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