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setembro 14, 2021
AUDIOFONE: PERSONALIZE O SOM COM OS NOVOS FONES JBL TRUE WIRELESS: REFLECT FLOW PRO, TUNE 130NC E TUNE 230NC
setembro 14, 2021

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Muitos leitores estavam nos cobrando o teste do fone nacional Kuba Disco. O nosso colaborador Juan entrou em contato, mas não obteve retorno, então parti para o plano B: solicitar a algum leitor que nos emprestasse o fone para teste.

E o amigo/leitor, Nivaldo dos Santos Furlan, nos cedeu prontamente para três semanas de teste. Só posso agradecer publicamente sua generosidade em nos disponibilizar o fone por quase um mês.

Enquanto aguardava o envio, procurei ler e assistir a todos os vídeos referentes ao fabricante e, como existe um vasto material a disposição, à medida que fui conhecendo o produto, fui me interessando cada vez mais em conhecer este fone feito inteiramente no Brasil, graças ao empreendedorismo e paixão de quatro jovens. Ainda que, pelos vídeos mais recentes que vi, da equipe inicial só tenham restado o ‘mentor’ do projeto, Leonardo Drummond, e sua sócia, pelo visto o futuro da Kuba está garantido.

Em várias entrevistas, Leonardo Drummond fala de sua paixão pela música e fones de ouvido, e que desde muito tempo sabia que este era o seu caminho profissional. E, ao conhecer os detalhes com que este primeiro produto foi desenvolvido, fica evidente o grau de atenção que o Leonardo deu a todas as etapas de desenvolvimento.

Por exemplo: o cuidado com o arco com cinco camadas de madeira, como das pranchas de skate, com o acabamento de resina de babosa para impermeabilizar a madeira. Ou os cuidados com o meio ambiente, na escolha das espumas do fone com couro sintético, e do respeito ao consumidor, com a possibilidade de substituição de qualquer parte do fone. E o mais importante: 1 ano de garantia!

São detalhes louváveis, e que merecem todo o nosso respeito e admiração.

Cabos destacáveis, que possibilitam upgrades se o consumidor desejar, e o mais impressionante: o preço final! Algo em torno de 140 dólares, o que o coloca na briga direta com fones de 100 a 250 dólares! Que é o grande mercado de fones com maior qualidade.

Segundo o Leonardo, o Kuba Disco foi concebido para atender tanto o mercado de áudio profissional quanto o consumer. E seu design e filosofia no atendimento ao cliente, me lembraram muito a empresa de fones dinamarquesa AIAIAI Audio, que também tem esta política de peças substituíveis, produtos preocupados com o meio ambiente, e possuem uma enorme aceitação no segmento de DJs.

Ao receber o fone, e o colocar ao alcance das mãos e da vista, pude entender um pouco mais as positivas resenhas recebidas até o momento. Pois ainda que tenha uma enorme preocupação com custos, as soluções foram no mínimo interessantes. Ele possui ‘personalidade’ e não é uma cópia em termos de design de nenhum fone concorrente – isso me lembrou a Audiopax, com seu design minimalista, mas de uma genialidade por trás do conceito do Timbre Lock, que fez história mundial.

E o fone Kuba Disco também tem sua ‘sacada’ de regulagem dos graves, mas falarei disso mais adiante. Não que esta regulagem seja inédita, pois outros fones também já ofereceram este recurso, mas nesta faixa de preço, penso eu ser algo inédito.

Gostei das almofadas, de sua textura, e que se encaixam perfeitamente nas orelhas. Achei o arco de madeira com flexibilidade suficiente para se encaixar na cabeça, no entanto senti rapidamente que a parte central acolchoada não foi o suficiente para me acomodar. Se a Kuba aceita críticas, acho que poderia em uma versão futura ser revisto este acabamento para permitir maior tempo de audição.

Quanto ao isolamento do ruído externo, o arco e as almofadas reduzem consideravelmente o contato com o mundo externo, mesmo antes de se apertar o play.

Para o teste utilizei meu celular, e os amplificadores de fones de ouvidos do DAC Gold Note DS-10 (leia Teste 1 nesta edição), e do pré de linha Classic da Nagra. Ouvi streamer (Tidal e Qobuz), CDs e LPs. Além das quase 100 faixas da nossa Metodologia.

O Nivaldo havia nos dito que o fone estava com aproximadamente 70 horas de uso. Como é de praxe, acabei deixando mais 30 horas (só escutando streamer) para ver se haveria ainda alguma mudança na sonoridade do fone.

Minha primeira impressão, com o celular, foi de que tinha que abrir quase todo o volume para ter uma pressão sonora razoável. Como havia lido em um teste que o revisor também sentiu essa ‘limitação’ no volume, acabei por ouvir em outros celulares da ‘família’ para ver se ocorria o mesmo. Infelizmente, nos quatro celulares utilizados, o volume sempre teve que passar da margem de segurança, o que também acho que poderia ser corrigido em uma nova versão. Afinal, imagino que a maioria dos usuários irá utilizar o Disco no celular e não apenas em casa.

Já nos dois DACs utilizados, pude voltar ao volume correto e seguro sem nenhum problema.

Passado as 30 horas, a primeira coisa que quis ouvir e entender foi o ajuste de graves, que é feito de maneira mecânica, bastando colocar a alavanca, que fica na parte de cima da cuba do fone, no meio (para teoricamente deixar em flat), ou acionar a alavanca para se ter mais ou menos graves. O truque é aumentar ou diminuir o orifício da cuba para se ajustar ao gosto do freguês.

Vi em um vídeo, no próprio canal do YouTube do Leonardo, onde ele explica que quis dar uma assinatura sônica (dentro de determinados compromissos de preço/performance) que ele gosta nos fones que tem e aprecia. E que por isso disponibilizou o ajuste de graves, pois para ele o ideal é um grave um pouco menos acentuado, médios bem reveladores e agudos brilhantes, mas sem excesso.

Independente de compromissos, qualquer produto de áudio terá a ‘concepção’ e o gosto do projetista, isso é quase inevitável – exceto nas maiores empresas de áudio hi-end, em que o resultado é o consenso dos vários projetistas envolvidos.

Até aí não vejo nenhuma novidade, mas por outro lado se o produto ‘personificar’ acentuadamente o gosto do seu criador, haverá certamente prós e contras. Pois os que se identificam com aquela assinatura irão ficar satisfeitos, e os que não se identificam recusarão. Por isso que sou adepto do correto e o mais neutro possível, e para isso caímos na questão do equilíbrio tonal, pois este ou está correto ou não está.

É como a história da falsa grávida. E o fone Kuba Disco não é um produto que prime por este quesito. Os graves no ‘teoricamente’ flat, na posição central, carecem de energia, fundamental e boa extensão nos harmônicos. Atenuar, complica ainda mais. E acentuar o grave, acentua as fundamentais e suja os harmônicos.

Para chegar a essa conclusão, usei somente nossas gravações e, principalmente, o disco Timbres – as faixas do contrabaixo e do clarone. Comparando com os nossos fones de referência, e o fone da Grado recentemente testado, ficou evidente que o ajuste do grave, em nenhuma das opções existentes, conseguia o equilíbrio correto para se apreciar a gravação.

E quando se tem dificuldade para o ajuste dos graves, os médios também são comprometidos. Pois aquela presença tão interessante que atingimos quando o ajuste dos graves se encontra no centro, se perde, assim que acentuamos o grave. Não tem magia que dê jeito na questão do equilíbrio tonal – ou buscamos ser o mais correto ou estaremos fadados a ter músicas que soarão bem, e muitas que não.

É a famosa desculpa de colocar a culpa na gravação, eximindo o equipamento.

Ouvindo pequenos grupos sem a presença de graves muito presentes (na escrita do arranjo), foi possível ouvir com muitos detalhes na região média, que se mostra bastante proeminente e com ótima microdinâmica. E os agudos, ainda que tenham um certo brilho, não me pareceram excessivos a ponto de causar fadiga.

Porém, o que mais senti falta nos agudos foi de extensão (principalmente se optarmos por acentuar os graves): com pouco arejamento e ambiência.

Mas ainda que tenha levantado todas essas questões, é preciso lembrar, meu amigo, que estamos falando de um fone de menos de 140 dólares! Ou seja, ainda que ele não possa ser considerado uma referência hi-end, ele está acima de muitos fones importados até mais caros que ele.

E o que acho mais importante: é um projeto que pode e certamente (se o fabricante desejar) evoluir, e muito! A questão é saber se existe essa intenção por parte do fabricante, de mudar algo que parece estar dando muito bom resultado comercialmente.

Mas fica aqui minha sugestão: que tal usar dos mesmos critérios, paixão e respeito ao consumidor, e fazer uma versão (ainda que custe o dobro), mais equilibrada tonalmente e neutra, para também atender a um público mais exigente? Ainda que este novo produto suba para 300 dólares, com todos estes ‘ajustes finos’ ainda será muito competitivo!

Pois o DNA de construção de fones e a paixão já são evidentes, então avançar é uma mera questão de vontade, interesse e de concordar que este caminho sugerido possa ser trilhado.

Independente de minhas observações (entendo que pareçam contundentes demais), desejo a esta empresa sucesso cada vez maior e, acreditem, tem o meu total respeito e desejo de vida longa, e que possam fazer história no mercado de áudio.


PONTOS POSITIVOS

Um projeto pensado detalhadamente e com enorme paixão.

PONTOS NEGATIVOS

O equilíbrio tonal.


ESPECIFICAÇÕES
Impedância nominal32 Ω
Sensibilidade113 dB/mW
Potência máxima suportada (pico)30 mW
Potência máxima suportada (contínua)20 mW
Resposta de frequência20 Hz-20 Khz
Diâmetro do falante40 mm
DiafragmaTitânio
FONE GRADO PRESTIGE SERIES SR325X
Conforto Auditivo 6,0
Ergonomia / Construção 7,0
Equilíbrio Tonal 8,0
Textura 8,0
Transientes 9,0
Dinâmica 8,0
Organicidade 7,0
Musicalidade 8,0
Total 61,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
OURORECOMENDADO



Kuba
https://kuba.audio/
R$ 699

1 Comment

  1. Flávio Kranic disse:

    Gosto de suas avaliações, Andrete (fui assinante da revista por alguns anos, mas a vida mudou meu foco, paciência, vamos em frente).
    Mais uma ótima matéria, parabéns.
    Só gostaria de acrescentar que um dos acessórios disponíveis são as almofadas de camurça que mudam bastante a sonoridade dos fones e uma nova avaliação seria bastante válida. Eu gostei mais do som com as de camurça.
    Abraços.

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