Espaço Aberto: A LENDA DA PIOR SALA DO MUNDO

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

O ano é 2051.

Vovô audiófilo pega o neto proto-audiófilo no colo, e o moleque já esperneia: “Vôôô, conta uma história!”, puxando as barbas ruivo-
brancas do vovô.

“Calma, meu netinho querido, vou contar sim. Vou contar a Lenda da Pior Sala de Audição do Mundo! Lá nos idos do glorioso (‘pero no mucho’) ano de 2021, um sujeito que venceu na vida resolveu construir uma casa de praia. Afinal, a única coisa mais relaxante que o mar, são os discos do Kenny G.

O projeto, muito bem localizado, incluía a exibição da casa inteira – e seus habitantes – para metade dos navios de cruzeiro que passassem, e todos os barcos de pesca e seus pescadores, entediados. Para não falar do cabeleireiro residente, para dar um ‘tapa’ no visual toda vez que se fosse buscar um copo de água na cozinha de madrugada. Por quê? Porque a casa era feita inteira de vidro. Acordou tarde, acordou bronzeado!

Acontece que o dono da casa era audiófilo – ou, pelo menos, um iniciante. Ele queria ter uma sala de audição envidraçada, de onde ele só via a imensidão do mar sem fim e suas ondas, e imaginava Luciano Pavarotti surfando e cantando Nessun Dorma.

Seu sonho de cartão postal e capa de revista de arquitetura & decoração, não podia ter um par de caixa torre, para não obstruir a paisagem. Também não podia ter o sistema em seu rack perto, pelo mesmo motivo. E porque a Associação das Esposas dos Donos de Barcos de Pesca já avisaram logo de cara que não queriam que seus valentes e trabalhadores esposos tivessem que contemplar ‘tudo aquilo de cabo saindo atrás dos aparelhos’. E assim foi feito: um par de caixas bookshelf e o cabo de caixa mais longo deste lado do Rio Mississippi, foram imediatamente adquiridos.

O Sr. Iniciante quis, logo, ligar seu equipamento de som, devidamente instalado na dispensa, atrás da cozinha. Pegou seu disco preferido, e assim soaram os primeiros acordes do Concerto para Trompete & Órgão de Tubo, de um compositor anônimo de um país fictício, do imaginário popular.

O resultado? O brilho do trompete refletido em tanto vidro, foi tão ‘nervoso’, que rachou o óculos de um dos pescadores, e fez um furo no casco de um transatlântico. O Sr. Iniciante perdeu todos seus cabelos, e o leite todo que estava na geladeira, coalhou.”

“Mas e o som do órgão de tubo?!? O que aconteceu com ele? – perguntou o netinho proto-audiófilo.”

“Ah, dizem que o grave, fugido e vazado pelas paredes de vidro, deslocou o fígado de um passageiro do transatlântico – que foi o único que o ouviu – e o Sr. Iniciante está sendo processado por uma fábrica de órgãos de brinquedo, pela injúria a todos os fabricantes de órgãos infantis, tipo Fisher-Price, pela injúria que foi todo mundo ouvir o médio-grave pífio saído das pequenas caixas bookshelf, que ficou dentro de sua cinematográfica sala de vidro – A Pior Sala de Audição do Mundo!

Entendeu, meu netinho?”

“Sim, vovô, ele deveria ter comprado dois subwoofers de 18 polegadas, assim os pescadores passariam a receber os peixes diretamente na praia, fugindo deseperadamente do mar… E comprado um boné.”

Moral da História: Faça como o Sr. Iniciante, que levou seu sistema de volta para a capital, e comprou um bom fone de ouvido, para quando fosse contemplar o mar, e refletir sobre o que não soube fazer.

Mas que ficou lindo, ficou.

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