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BRAÇO ORIGIN LIVE ENTERPRISE C MK4

Fernando Andrette

Se tivéssemos a chance de testar todo produto com a maior variedade de equipamentos, estaríamos vivendo a situação ideal para qualquer revisor crítico de áudio. E às vezes isso ocorre! Não com a frequência que desejaríamos, mas ocorre!

E este foi justamente o caso do braço Enterprise C MK4, que teve a possibilidade de ser escutado no toca-discos Timeless Ceres, e no seu próprio par de direito: o toca-discos Origin Live Sovereign (leia teste na edição de aniversário 273) – além de um belo arsenal de cápsulas e prés de phono.

Vejam a lista dos prés: Boulder 508, PS Audio Stellar, Luxman EQ-500, Nagra Phono Classic, e Gold Note PH-1000 (teste na edição de outubro). E a lista das cápsulas: SoundSmith Hyperion 2, Hana Umami Red, ZYX Bloom 3, e Grado Statement Series 2.

E outra grande vantagem foi que tivemos 6 meses do braço em testes, antes de fechar nossas conclusões finais (quisera ser sempre assim) – o que permitiu que este fosse de longe o teste mais consistente de um braço.

Se tem uma área específica que meus críticos podem me acusar de ’conservador’, são nos meus setups de braço. Pois reconheço que neste caso específico eu só realizo um upgrade quando todos os parâmetros por mim essenciais foram seguramente superiores. E neste caso, não estou falando apenas de performance, mas também de compatibilidade com cápsulas e com toca-discos. E neste sentido, o SME Series V me atendeu por uma década de forma magistral.

Porém chegou o momento também de realizar um upgrade neste componente que julgava atender-me incondicionalmente. E o fiz de forma tão segura e consistente, pois ao final o Enterprise C MK4 se mostrou superior em todos os quesitos da Metodologia, assim como também no de compatibilidade com cápsulas e com toca-discos.

Mas confesso que desta vez ‘extrapolei’ no upgrade, pois em vez de pegar uma unidade de 9,5 polegadas, que seria o mais óbvio, optei pela versão de 12 polegadas. Algo que já vinha sendo pensado desde que testei o toca-discos da Mark Levinson, modelo 515 (leia teste na edição 266), e fiquei com várias pulgas atrás da orelha com o braço de 12 polegadas da VPI instalado nele. Pois em um comparativo com vários discos de referência, algumas características no desempenho geral me chamaram muito a atenção.

A mais evidente foi o conforto, precisão e detalhamento do braço de 12, em relação ao meu SME V. E, segundo, algo também muito evidente no analógico: o corpo dos instrumentos, que eram ótimos no SME V, se tornaram muito mais ‘realistas’ no VPI de 12 polegadas.

Aí, terminado o teste, consegui com um amigo um Jelco de 12 polegadas e novamente algumas das características se repetiram (no caso do Jelco, a maior foi o realismo do corpo harmônico e a folga e inteligibilidade em passagens muito complexas).

Como já havia escutado o efeito ‘braço Origin Live’ no teste do toca-discos Timeless Ceres (leia teste na edição 269), e se tratava de um braço inferior à linha Enterprise, arrisquei sem ouvir e comprei a versão de 12 polegadas.

Meu amigo, foi o maior tiro certeiro que dei em minha vida! Pois tudo que havia observado nos dois braços de 12, se repetiram e de forma ainda mais veemente e rica!

Não sei se é fato ou pura lenda, mas dizem que este foi o braço em que mais tempo o projetista Mark Baker (projetista e fundador da Origin Live) se debruçou em achar soluções que o transformassem em uma referência absoluta em termos de braço de 12 polegadas.
Se você entrar no site da Origin Live, lerá que com o Enterprise C MK4 é possível atingir um nível de desempenho de braços exorbitantemente mais caros (leia as resenhas de vários articulistas descrevendo suas impressões), o que se traduz em uma velocidade muito mais precisa, um realismo que nunca foi tão próximo da música ao vivo, e um grau de inteligibilidade que retira o máximo de toda cápsula que nele for instalada.

Parece mero discurso de marketing, como tantos que todos nós já lemos ou ouvimos. Mas este ‘discurso’ cessa assim que você ouvir este braço em um setup compatível e devidamente ajustado. Pois o que você irá escutar é exatamente o que foi descrito no site. Sem tirar nem pôr uma vírgula. Felizmente não sou o primeiro revisor deste incrível braço, então tenho dezenas de testemunhos de publicações conceituadas e de inúmeros audiófilos em vários fóruns internacionais.

Mas mesmo que fosse o primeiro a testar essa última versão, não me sentiria intimidado em descrever o que segue.

Mas, antes, vamos a descrição do braço, segundo a própria Origin Live:

“O tubo do braço é composto de seis materiais para uma melhor qualidade na dissipação de energia e maior rigidez no braço. Com isso se conseguiu: maior transparência, dinâmica e desempenho. O rolamento de pivô duplo de ultra baixa fricção proporciona maior clareza e agudos ultra estendidos, naturais e precisos. Os rolamentos verticais flutuantes desacoplam o tubo do braço e evitam que o braço acrescente coloração ao som captado pela cápsula. O desacoplamento de pivô duplo sofisticado do Enterprise, incorporou várias camadas adicionais de isolamento nos rolamentos verticais, o que produz níveis mais baixos de coloração, permitindo muito maior inteligibilidade na micro dinâmica. O shell é feito de um composto de metais proprietário da Origin Live. O cabo interno do braço Linear Flow 2, fabricado pela Origin Live, para perda mínima de sinal, resultando em maior fidelidade recebida na cápsula e entregue ao pré de phono. Este cabo é totalmente balanceado e 95% blindado. Os plugues phono são WBT nextgen RCA de cobre puro. É notória a preocupação dada no projeto do rolamento de pivô duplo de baixo atrito totalmente estável, para movimento vertical – para isso ele utiliza duas pontas simples de carboneto de tungstênio em copos endurecidos com uma resina especial, amplamente espaçados para imitar a estabilidade do rolamento cardan, mas sem o atrito deste. Os rolamentos para o movimento horizontal são especificados para o mínimo de atrito.”

Ainda que visualmente ele pareça um braço simples de ser manuseado, pode esquecer se você não tiver a experiência de um ‘relojoeiro’, pois não saberá realizar os ajustes necessários para se extrair toda a beleza deste braço.

Como em minhas mãos (principalmente depois da colocação de um parafuso no pulso direito, que diminuiu ainda mais os movimentos) e o problema de visão, para extrair o máximo deste produto, contei mais uma vez com a ajuda inestimável do colaborador André Maltese. Desta vez eu tive realmente pena dele, pois foram mais de 4 horas até tudo estar pronto para as primeiras audições.

E instalar no Ceres foi apenas a primeira das tantas viagens, pois depois o braço foi instalado no toca-discos da Origin para o teste na Edição de Aniversário (outras 4 horas dele e do Giovani da Timeless), e todas as vezes que troquei a cápsula para os testes. Tenho que agradecer reiteradamente sua boa vontade e aquele brilho no olhar de um adolescente que ele ainda mantém, cada vez que vai ouvir algo novo. É uma baita companhia ouvir as primeiras impressões ao seu lado. Gosto de suas observações comparativas com outros braços e cápsulas que ele conhece, teve ou instalou. É uma enciclopédia aquela mente analógica, rs!

O que esperamos de um upgrade? Que seja o melhor possível em termos de performance – imagino que seja isso que o mova a colocar a mão no bolso. Mas e um revisor crítico, o que ele espera? O mesmo que você, e mais alguns itens importantes, como: sinergia com a maior variedade de toca-discos (no caso de um braço), cápsulas e prés de phono.

Interessante que nestes três quesitos, não posso imaginar braço mais ‘camaleão’ que o SME V, pois ele nunca me deixou na mão, avaliando inúmeros toca-discos, cápsulas e prés de phono. Então quero deixar bem claro, que neste caso específico, o SME Series V só foi trocado pelo quesito performance! E foi indubitavelmente batido pelo Enterprise C MK4, sem nenhum resquício de dúvida!

Não me lembro que revisor crítico, ao ouvir o Enterprise C (acho que a versão MK3) ao comparar com o seu braço de referência, o SME V, escreveu: “em comparação direta, meu SME V soou monocromático em relação ao requinte tonal maravilhoso do Entreprise C”.

Minha conclusão foi semelhante em termos de analogia, mas o que mais me chamou atenção foram as diferenças na maneira de apresentar o discurso musical no todo. O SME V sempre deu destaque (independente da cápsula e do toca-discos) aos elementos protagonistas como: solistas, vocais, naipes, fazendo-nos sempre prestar mais atenção ao acontecimento central.

O Enterprise C MK4 não enfatiza nada em absoluto, pois se prende ao todo, é como quando nos distanciamos um pouco mais, para avistarmos as laterais que fogem de nosso campo de visão. E, ao ampliarmos este campo de visão, podemos apreciar a paisagem de forma mais plena e entender a composição que se forma à nossa frente.

Se você ainda não entendeu minha explicação do todo, recorrerei a outra analogia, a de subirmos no monte para olhar com maior precisão a paisagem ao redor do pico.

Parece apenas uma questão de perspectiva, mas engloba muito mais que ouvir de outra maneira, pois nos dá a percepção de que cada elemento não está ali por acaso. Que aquele sutil triângulo quase inaudível, foi gravado para soar daquela maneira naquele compasso. Ou a voz trêmula e quase sussurrada da Elis Regina no disco Elis & Tom, em dois momentos, tem a mesma importância das frases cantadas em alto e bom som. Ou o torpor dos grunhidos de Keith Jarrett (tão familiares a todos que conhecem seus discos), possuem detalhes que acompanham a tensão dos seus acordes, nos crescendo ou não.

O que estou tentando lhe dizer, caríssimo leitor, é que ao ouvir duas ou três músicas neste braço, imediatamente você entenderá o quanto os detalhes são essenciais para uma profunda comunhão com o todo.

E aí cheguei ao ponto culminante da filosofia deste fabricante: reproduzir a ‘origem do ao vivo’. Que pode parecer mera pretensão ou marketing, mas que está presente em todos os três produtos deles que tive a oportunidade de escutar até este momento (e espero que possa ouvir outros), e que fica evidente ao ouvirmos um Origin Live.

Quando você acabar de ler este teste, navegue na internet e leia outros reviews, e verá que a descrição e o tópico é o mesmo que estou tentando compartilhar.

E fico muito à vontade, pois o resultado observado não ocorreu apenas com um setup Origin Live, braço e toca-discos. Este mesmo resultado ocorreu no Timeless Ceres, com os dois modelos de braço Origin Live usados. Tanto que, ao colocar o Enterprise C MK4 no Ceres, seu desempenho cresceu, fazendo saltar de 99 para 100 pontos! Pode parecer um mero detalhe, mas não é. Pois todos vocês que estão com sistemas acima de 98 pontos, sabem o quanto um único ponto pode fazer a diferença na ‘lapidação’ final do setup.

Mas suas habilidades em termos de sinergia não terminam aí, pois todas as cápsulas utilizadas também se beneficiaram deste casamento, tanto que a Soundsmith Hyperion 2, se tivesse sido testada também com este braço, se beneficiaria de 1,5 ponto, fazendo-a se distanciar ainda mais da segunda e terceira cápsula do Top Five.

E até mesmo a Grado Statement Reference 2, já fora de linha, se beneficiaria se fosse testada em relação à quando eu a escutei no SME Series V.

Todas as gravações parecem soar muito melhor com o Enterprise C MK4, mesmo gravações tecnicamente ruins. Independente da cápsula utilizada ou do pré de phono. Discos de prensagem nacional, que sabemos o quão lamentável eram, ganham melhor equilíbrio tonal, e graves sempre escuros ou com pouco peso, ganham recorte, definição. E os agudos brilhantes e sujos, com a melhora nos graves, recuperam um pouco de equilíbrio. Agora consigo ouvir diversos discos do selo Som da Gente, que gravou tantos músicos importantes, e que eram inaudíveis tamanha a falta de critério técnico e qualidade de prensagem. O mesmo acontece com os discos do selo Kuarup.

Se meu pai estivesse vivo, apostaria que sua observação ao ouvir este braço seria: “Trocaram o analítico pela musicalidade!”. Exatamente o que fizeram. E conseguiram ir além, pois você ainda extrai tudo que está no sulco, mas não enfatiza as partes.
Uma prova desta argumentação é ouvir qualquer um dos discos do grupo Weather Report, com suas incríveis paredes de sintetizadores (tanto nas camas harmônicas como nos solos) e escutar uma a uma, sem perder a noção do todo, e com aquele conforto auditivo tão desejado por todos os amantes deste grupo como eu, que passaram a vida achando que os engenheiros tinham sido infelizes nas mixagens de vários de seus discos. Não, meu amigo, está tudo lá, mas você precisa do braço certo para descobrir essas maravilhas ‘submersas’.

Por quantos anos passamos focando nos upgrades de cápsulas, para conseguir recuperar alguns discos que amamos tanto, e que foram encostados por sempre soarem indecentes em nossos setups analógicos.

E se olhássemos mais atentamente, que talvez em vez de um upgrade em cápsulas, poderíamos pensar em um braço mais moderno ou que tenha ‘características’ que os outros não tem e nosso desejo seria realizado. Eu faço meu ‘mea culpa’, pois caminhei exatamente por essa estrada por uma década, achando que pelo grau de compatibilidade do SME V, este era minha ‘ferramenta’ ideal para testes, e com isso ‘expurguei’ dezenas de discos que tanto amo! Se o meu testemunho serve para algo, use-o, meu amigo. Pois garanto que os braços da Origin Live (pelo menos os dois que testei) são literalmente um ‘ponto fora da curva’. Pois eles cumprem o que prometem, que é lhe dar uma audição do analógico muito mais precisa, real e emocionante!

Se você continua um defensor incansável do analógico e não pensam, como eu, em se desfazer de seus LPs, invista no que parece ser o mais crucial em termos de upgrade, para quem já possui um excelente toca-discos e uma ótima cápsula: um braço de nível superlativo e final.

Este foi de longe o melhor upgrade analógico que realizei na última década!

Nota: 113,0
AVMAG #275
Timeless Audio
contato@timeless-audio.com.br
(11) 98211.9869
Braço: R$ 48.420
Adicional 12”: R$ 3.730
Total: R$ 52.150

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