Opinião: 200 AUDIÓFILOS = 200 OPINIÕES DIFERENTES

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Ah, o mundo moderno! Muito audiófilo que procura alguma informação ou esclarecimento, procura nos fóruns e grupos de discussão da Internet – em vez de procurar um profissional da área. Alguns até dizem que só confiam na opinião de outros audiófilos. Será que isso é uma boa ideia?

Todo mundo que entende de algum assunto, começou em algum lugar – e muitos profissionais da área de áudio já foram diletantes (e muitos desses perceberam, quando entraram no mercado pra valer, que muita coisa não era do jeito que eles pensavam…).

Existem disciplinas que dependem exclusivamente do que pode ser ensinado em uma universidade, dentro de uma metodologia de ensino e com um leque de matérias que precisa ser – obrigatoriamente – ensinado para cada um que deseja se aventurar naquela área de atuação profissional. Exemplos: profissionais de medicina e relacionados, profissionais de engenharia, entre outros. E tem muita área que praticamente não tem formação profissional disponível – pois fazer um curso de engenharia eletrônica e um de acústica não te tornam um especialista em áudio de qualidade. Às vezes muito pelo contrário: cursos de acústica pouco ou nada tratam de uma acústica muito peculiar, que é a de salas de audição audiófilas, sendo centrados apenas em acústica de auditórios, teatros e estúdios de gravação.

Procurar a opinião de outros audiófilos sobre produtos, serviços, acessórios, procedimentos, é uma atividade que necessita de uma filtragem muito estrita, já que não sabemos a condição e as circunstâncias nas quais cada pessoa chegou às suas conclusões – que muitas vezes são livremente distribuídas à quem quiser perguntar como se fossem grandes ‘verdades’, como pétreas.

Mas existem outros exemplos, alguns até risíveis. Um deles, que já vi muito, é de alguém perguntar em um grupo qual seria o melhor DAC até 500 dólares. E aí vem: 200 pessoas = 200 respostas diferentes! Estou exagerando, claro, mas o sujeito sai de lá tão confuso e indeciso, que compra um liquidificador para pôr no lugar do DAC! Ou desiste de digital e vai ouvir só vinil! rs… Se indagados, descobre-se que muitos deles sugerem aquele DAC que eles têm e gostam, mas sem ao menos terem ouvido os outros que foram sugeridos.

Não vou nem entrar na discussão sobre procedimentos, sobre sinergia e setup de sistemas. Aqui nessa área já vi até um sujeito dizer que equalizou seu sistema de tal maneira que ele garante que você nem precisa posicionar as caixas corretamente, e até se você puser uma pessoa na frente de uma das caixas, não muda nada no som – esse quase me fez querer aprender a fazer e vender sorvete de casquinha: não tem como alguém pirar sobre uma casquinha de sorvete!

Muitas vezes cria-se uma moda em cima de algum equipamento, a qual é até justificada – e, claro, na Internet aprende-se muito sobre o mercado e descobre-se produtos novos interessantes, de excelente custo/benefício (ou, como dizia um cliente meu, sabendo-se à beira de gastar para fazer um upgrade: “relação custo/malefício”… rs…). Mas, para eu acreditar que vale procurar ouvir um DAC novo no mercado, eu levo um bom tempo na leitura de uma grande quantidade de opiniões, procuro certa unanimidade, certa coerência nas opiniões e seus adjetivos e qualificações – e esse é um trabalho hercúleo, que inclui os fóruns e grupos e também, especialmente, todo e qualquer review que tenha sido feito de tal aparelho. Aí, sim! Aí estamos procurando uma certificação por ‘alta amostragem de opiniões’! …rs…

E, olhe, o único critério definitivo para saber como toca um equipamento, é ouví-lo – simples assim. Não ouviu, não sabe como ele toca. Tanto que estão começando a voltar lojas e showrooms físicos, presenciais, de equipamentos de áudio. Eu muito raramente compraria qualquer coisa sem ouvir. Aparelhos mais caros, então? Sem ouvir, sem chance. Mas, há indicativos bons sobre qual o interesse que desperta uma nova marca, uma nova linha, um novo equipamento: ler o maior número de reviews possíveis, e filtrar as conclusões. E mesmo assim, o Fernando Andrette ouviu e fez review de um par de caixas que dão um resultado real bastante diferente das conclusões chegadas pela maioria dos reviews que já foram feitos da tal caixa. Por quê? Na minha opinião, porque incorreram em erros, como não amaciar direito ou sequer amaciar, como não ter equipamentos de boa estirpe ou sinergia para testes. Ou seja: falta de metodologia, e falta de referência.

E nós temos Metodologia e Referência. Uma metodologia muito bem pensada, estudada ao longo de anos, que não só inclui uma análise longa sob uma série de critérios, como também inclui procedimentos, e que leva tempo para ser aplicada. E, por termos como referência o som de instrumentos acústicos tocados ao vivo (ninguém consegue bater o ‘real’!), podemos usar como referência gravações que nós mesmos fizemos – produzidas pelo próprio Fernando – minimizando erros de percepção e compreensão de como o equipamento toca, simplesmente pelo conhecimento acumulado com essas gravações. Isso é tão importante, que alguns dos melhores fabricantes do mundo de equipamentos, produzem suas próprias gravações, para fazerem um trabalho melhor, para minimizarem erros, para terem certeza.

Somos melhores, aqui na revista, em nossas conclusões? Estamos puxando a sardinha pro nosso lado? Olha, a resposta é complicada e ao mesmo tempo muito simples: se você não tiver algum tipo de metodologia prática para realizar seus testes e comparativos, para chegar à conclusões de como toca um equipamento, e não tiver boas referências de música de verdade, no mundo real, de como ela soa, e de equipamentos que soem corretos e de alta qualidade, como daria pra saber como realmente um equipamento toca? Como você sabe o que é a cor ‘azul-céu’ se você nunca viu um céu? Como você sabe se o sabor da gelatina de morango é passável, e se assemelha a um morango, se você nunca comeu um morango? Desculpe, mas não vai ser uma medição de laboratório e nem uma opinião esotérica totalmente subjetivista que irá te mostrar o céu.

Ou seja, muito cuidado com quem testa equipamentos e profere ‘verdades’ sobre eles, e não tem o mínimo de método ou referência. E tenha muito cuidado ao perguntar para o seu vizinho qual é o melhor hambúrguer da cidade, sem saber quantos hambúrgueres ele já experimentou e qual o critério dele para dar uma opinião sobre qualidade de hambúrgueres em geral. O melhor jogador de xadrez não é o mais bem vestido nem o mais bem apessoado, e a melhor estrada para o litoral não é a que tem mais carros vermelhos trafegando nela.

Assim, a probabilidade do audiófilo ser induzido ao erro, é gigantesca. E isso nem sempre é culpa de terceiros e de suas ‘200 opiniões’, não, ou se reviewers que atiram para todo lado. As duzentas opiniões são apenas um sintoma de que eles não poderão te ajudar com suas respostas.

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