Opinião: QUANTA ATENÇÃO VOCÊ DEDICA ÀS SUAS AUDIÇÕES?

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Sempre vi um certo estranhamento a essa minha pergunta, em muitos dos leitores que fizeram nosso Curso de Percepção Auditiva. E percebi que muitos leitores não fazem nenhuma correlação entre o que escutam e o que realmente buscam escutar em seus sistemas.

E assim, não percebem o quanto de tempo e dinheiro gastam em algo que não sabem ao certo como deveriam soar quando bem ajustados.

Na medida em que o curso ocorre, vou explicando a eles que existem níveis distintos de concentração, e que esses níveis é que irão determinar o sistema em que devem investir tempo e dinheiro.

Começo perguntando a eles se ouvir e reconhecer um piano é o suficiente, ou seu amor pela música faz que eles desejem ‘reconhecer’ se estão ouvindo um piano Bosendorfer, ou um Bechstein, um Yamaha ou um Steinway (só para citar os mais comuns em diversas gravações).

Aí mostro em um sistema Ouro Referência esses pianos, e depois coloco essas mesmas gravações em nosso Sistema de Referência. Para eles perceberem a diferença entre a assinatura sônica de cada um deles, como também observar a intencionalidade (técnica de digitação de cada músico, complexidade da obra e virtuosidade). Muitos escutam as diferenças e entendem perfeitamente a assinatura sônica de cada fabricante e, alguns (muito raros e corajosos), assumem que não escutaram diferenças entre o sistema Ouro e o de Referência.

E aí entramos na questão central do curso: a importância de desenvolver nossa Percepção Auditiva. Não apenas para escolhermos e ajustarmos melhor nossos sistemas, mas principalmente para que a música que ouvimos seja ainda mais prazerosa e emocionante.

Aos que não escutam diferenças entre o sistema Ouro e o de Referência, explico-lhes que não se trata de nenhum problema ou barreira auditiva, e que na maioria das vezes o grau de atenção dedicado à música é muito superficial. Pois temos sim que aprimorar também nosso estado de atenção para ampliarmos nossa Percepção Auditiva.

Percebo que, geralmente, as pessoas que possuem um grau de atenção menor gostam de música mais simples em termos de acordes, e geralmente escutam apenas música cantada. Outra característica é que a música está muito mais como plano de fundo para outras atividades, como exercitar, ler, namorar ou cozinhar.

Para facilitar o entendimento de todos os participantes, utilizo gravações de outros instrumentos, como: violão, cello e violino. Das gravações de violinos, apresento os famosos Stradivarius de Cremona, e coloco a não tão conhecida Hofner, fundada em 1887 pelo luthier alemão Karl Hofner – que se tornou bastante popular no século 20 pelos contrabaixos Hofner, mas seus violinos não tem a mesma fama na atualidade, ainda que tenha alguns instrumentos de muito bom nível (estou falando dos violinos).

Neste exemplo específico, as maiores diferenças audíveis entre os dois sistemas são a extensão das notas mais altas, a riqueza dos harmônicos e a textura, que no sistema Ouro é bem pobre. Fazendo com que o nosso interesse em perceber as diferenças de assinatura sônica diminuam drasticamente.

Aqui então abordo o seguinte tópico: quanto mais pobre for o nosso sistema, na mesma proporção nosso grau de atenção será diminuído. E muitos dos participantes jamais fizeram essa correlação entre qualidade do sistema e o grau de atenção.

Para os ainda incrédulos com a intensidade de atenção que podemos dar à audição, sugiro que leiam os artigos referentes aos estudos das partes do nosso cérebro que se acionam na audição, e como determinados pontos não acendem quando nossa atenção é desviada ou a música não nos agrada.

Em um sistema desajustado, jamais teremos a atenção necessária que poderíamos ter ao ouvir nossos discos. E este é um tema que nunca vi ser abordado profundamente por nenhuma publicação do segmento.

E termino a questão do grau de atenção mostrando gravações de violões de grandes luthiers, e violões produzidos em grande escala – bons, mas nada de excelente em termos de performance. Fecho com o violão por ser um instrumento bastante presente na nossa música popular brasileira. E ainda assim, alguns não conseguem ouvir as diferenças de corpo, intensidade, decaimento, invólucro harmônico, timbre, afinação (sim meu amigo: sustentação da afinação em variações muito intensas de macrodinâmica) e transientes, entre os dois sistemas.

É quando a ‘ficha’ finalmente cai para a maioria dos participantes. Que se não se trabalhar no aprimoramento do grau de atenção em nossas audições, será um desperdício enorme se investir muito dinheiro em um sistema que será sempre subutilizado.

E tem algo no meu modo de ver mais importante: quem não refina sua Percepção Auditiva, jamais conseguirá o ajuste correto do sistema, pois ele não terá parâmetro e Metodologia para fazê-lo. É como receber a missão de achar um objeto desconhecido em um ambiente sem nenhuma iluminação, com uma descrição vaga do que deve ser encontrado.

O próximo passo que, para mim, de tanto executar é óbvio, mas que percebo que para muitos não, é definir o sistema ideal pelo grau de atenção dedicado a escutar música e os estilos musicais que aprecia.

Lembro que, uma vez, um participante ficou incomodado quando relatei que pessoas que só escutam Música Cantada Popular, não necessitariam de grandes investimentos, ele achou um preconceito de minha parte dizer isso. Se eu já tinha essa opinião no início do século 21, agora com o avanço dos equipamentos de áudio eu sou ainda mais enfático: uma caixa de até 5 mil reais com um bom equilíbrio tonal, com uma eletrônica com as mesmas características será o suficiente para se escutar com prazer música popular cantada. E com uma boa fonte, até melhora o nível de atenção com que escutamos essas músicas.

Agora, aos que possuem um gosto mais eclético em outros gêneros, como o Jazz e a música clássica, aí meu amigo o ‘buraco é bem mais embaixo’. Isso se você realmente pretende ampliar seu nível de atenção ao extremo – quando digo extremo, estou me
referindo a cessar completamente a tagarelice mental enquanto ouvimos nossos discos, e em um ambiente em que o ruído externo não concorre com a música.

Aí, nesses casos, será essencial sabermos o que devemos procurar e antes de tudo ouvir para saber se realmente nosso nível de atenção aumenta quando ouvimos nossos discos em sistemas corretos e bem ajustados.

Muitos no curso neste momento se assustam, e ficam em dúvida se conseguirão perceber se sua atenção foi ampliada ou não, e me fazem perguntas interessantes (e, às vezes, engraçadas), tipo: “como saberei se minha atenção foi ampliada?”. Ou: “perceber nuances nos meus discos que nunca escutei antes, são a prova que ampliei minha atenção?”. E minha resposta é sempre muito objetiva: só confie na ampliação de sua atenção, quando as perguntas e incertezas cessarem e sua atenção à música for integral.

Enquanto a música estiver à sua frente, e você estiver tagarelando mentalmente ou criando expectativas, sua atenção foi apenas desviada para um outro plano, mas não o de atenção absoluta à música.

E dou exemplos: quando nossa atenção é plena, o tempo e espaço à nossa volta cessa. Ou: o grau de imersão é tão intenso, é como se estivéssemos ali com os músicos à nossa frente.

E lembro reiteradamente que, com barulhos de rua, cozinha, pessoas falando ou televisão competindo, não existe possibilidade alguma de ampliar nossa atenção. Nesses casos extremos, a única solução é ouvir música em um bom fone de ouvido.

Temos que ser realistas, meu amigo, e saber exatamente a ‘realidade’ que nos cerca, antes de sair investindo em um hobby tão caro!
À medida em que os participantes vão se familiarizando com todos os obstáculos, um fenômeno auditivo nos Cursos de Percepção Auditiva ocorre (até com aqueles que não ouviam diferenças entre os sistemas Ouro e Referência): eles se conscientizam da importância de saber o que é preciso fazer antes de se aventurar a novos upgrades.

E quando levam os exemplos mostrados no Curso para ouvirem em seus sistemas, e percebem o quão diferente soam, finalmente se sentem seguros de que acharam um norte para suas buscas! Adoro este momento, pois se cria um grau de empatia, onde antes só havia dúvida, descontentamento e desconfiança. Os semblantes mudam, se tornam mais harmoniosos e as perguntas se tornam mais contundentes.

É uma mudança de energia impressionante.

Para mim o mais incrível é ver que, depois de 25 anos, as dúvidas dos nossos leitores são as mesmas de todo audiófilo que esteja dando o primeiro passo ou já esteja por um longo tempo nessa jornada. No fundo somos tão inseguros, e sempre nos perguntando “será que chegarei lá? Conseguirei finalmente dar por encerrada essa jornada e apenas ouvir minha tão adorada música?”. E a cada nova turma, minha resposta é: sim. Você chegará lá desde que saiba exatamente o que quer e deixe seu corpo e mente lhe dizerem quando parar.

Se, ao sentar para ouvir seus discos, seu grau de atenção for absoluto como na meditação – em que todos os pensamentos cessam e fica apenas o observador a escutar a música – duas coisas aconteceram simultaneamente e graciosamente: seu sistema está corretíssimo e a música e o ouvinte se fundiram!

Daí em diante não haverá mais nada a desejar!

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