Influência vintage: CAIXAS ACÚSTICAS BBC LS3/5A

Música de graça: TINY DESK (HOME) CONCERTS – NPR MUSIC
março 6, 2022
Vinil do mês: LAURIE ANDERSON – HOME OF THE BRAVE (WARNER, 1986)
março 6, 2022

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio.

Existe uma fascinação, um gosto do ser humano, pelo vintage. Admiramos e colecionamos exemplos, desde os carros, até móveis, passando pela arquitetura, roupas e música – e tudo quanto é estética!

A origem do termo ‘Vintage’ tem mais a ver com qualidade do que com ‘ser antigo’. Vintage vem do francês ‘vendange’, que se refere a uma safra de vinhos cuja qualidade das uvas, do clima, e do processo de produção, fizeram com que tal vinho resultasse excepcional. Ou seja, ‘vintage’ quer dizer uma safra, um ano, de um vinho que é excepcional. Um vinho de uma boa ‘vintage’ pode ter sido feito dois anos atrás – não é necessariamente ‘antigo’ – porém é bastante comum achar que os vinhos mais antigos são melhores.

Por usos e costumes, o termo passou a ser usado para falar de algo que é interessante e antigo. E, logo depois, apenas para designar algo antigo. No caso dos equipamentos de som, usa-se tanto para se referir a qualquer equipamento antigo, quanto para se referir à estética desses equipamentos – como são exemplos vários amplificadores lançados nos últimos anos, por diversas marcas como JBL, Teac, Leak, Yamaha, iFi, entre muitas outras. Uma estética que eu, particularmente, aprecio bastante.

Este é o primeiro artigo de uma série deles – que abordará várias caixas, amplificadores, e outros equipamentos que ainda fazem a cabeça de alguns audiófilos, que ainda são usados, colecionados e admirados, e que influenciam (ou influenciaram) o mercado de áudio mundial.

BBC LS3/5a

Por designação interna de projeto da BBC:

  • LS = LoudSpeaker
  • LS3 = caixa para monitoramento em campo
  • 5 = número do modelo
  • a = significa a primeira versão ‘definitiva’ desse projeto

Desenvolvidas pelo laboratório de pesquisa e desenvolvimento da BBC (British Broadcasting Corporation), as pequenas notáveis caixas acústicas bookshelf LS3/5a têm sido há cinco décadas uma das mais famosas e queridas caixas da audiofilia – quase um fetiche para muitos audiófilos, seduzidos pela história e por algumas das características interessantes de sua sonoridade. Tanto que, sob licença da BBC, a Falcon Acoustics ainda produz atualmente as LS3/5a!

São pequenas caixas bookshelf, com gabinete de 5 litros selado (suspensão acústica) que usam um woofer B110 de 5 polegadas de cone de poliestireno com borda de neoprene, e um tweeter domo de mylar T27, de 19mm, ambos fabricados pela inglesa KEF, e que já eram usados em várias caixas dessa marca, no final da década de 60 e começo de 70.

A questão das LS3/5a terem virado um sucesso, se deve ao fato de terem um médio muito bonito – o que seduziu facilmente a audiofilia – e terem uma proposital ênfase nos médios-graves, o que a torna interessante para a audição de vários tipos de música, apesar da resposta de frequência, a extensão de graves, ser prejudicada pela própria característica do projeto.

Mas as LS3/5a foram projetadas assim para música? Não – elas não foram projetadas para audição de música.

Várias Versões das Caixas

Começando em 1968, a BBC precisava de uma caixa de tamanho muito pequeno, para monitoramento de gravações da TV e da rádio em campo, ou seja, dentro das vans, dentro das unidades móveis da emissora – o que incluiu a adição de uma grelha de metal protegendo o domo do tweeter, além de bordas de feltro grosso para diminuir a interferência de reflexão das bordas do gabinete. Daí vêm suas características de tamanho e tipo (pois em suspensão acústica desse tamanho os graves não ‘descem’) e clareza de médios para a inteligibilidade da voz.

Protótipo da BBC

O primeiro modelo, LS3/5 de 1970, usando os falantes da KEF, tinha impedância de 9 ohms, mas assim que precisou ser produzido em quantidade (ainda para uso da empresa), descobriu-se que a KEF havia mudado as especificações dos falantes, então um novo crossover (altamente complexo e extenso que trouxe a caixa para 15 ohms) precisou ser desenvolvido – o que resultou na designação final LS3/5a, que tinha um gabinete reforçado e muito amortecido, sobre o qual até os tipos de madeira a serem usados eram especificados pela BBC, procurando não ter problemas de ressonância de graves. Uma outra característica, polêmica com os audiófilos da época, é que na busca da clareza para monitoramento, o crossover tinha também uma ênfase nos agudos, acima de 5kHz – e isso levou ao mito de que elas, para audição de música, tocavam melhor com valvulados, porque os amplificadores de estado sólido da época tinham, em sua maioria, uma sonoridade de agudos mais agressiva. Isso não se aplica, claro, à amplificação transistorizada da atualidade.

Divisor de Frequência

A imprensa especializada da área, afirmava que as LS3/5a eram mais interessantes que as Quad eletrostáticas, por prover qualidade de apresentação de palco e de limpeza comparáveis às elas, mas ainda adicionavam melhor extensão e limpeza nos agudos – tudo ainda por preços mais convidativos.

LICENÇAS DE FABRICAÇÃO

Ao longo das décadas, 11 empresas foram licenciadas pela BBC para produzir e comercializar as LS3/5a de acordo com o projeto – desde a célebre Rogers Audio em 1975, até o ano 2000, quando acabou no mercado a disponibilidade dos falantes originais da KEF. Diz a lenda que, nesse período, a Rogers – a mais bem sucedida – chegou a fazer quase 50.000 pares, a Spendor 11.000 pares, a
Audiomaster 10.000, e a Harbeth (fundada por um dos engenheiros da BBC responsáveis pelo projeto) chegou a fazer 7.000 pares. Entre as outras empresas licenciadas pela BBC para produzir as caixas, estão KEF (que teve uma revisão do crossover que baixou a impedância da caixa para 11 ohms), Chartwell, RAM, Goodmans, Graham Audio e Stirling Broadcast. E, desde 2014, a Falcon Acoustics, que fabrica seus próprios woofers e tweeters, usando como base as especificações da KEF.

Linn Kan

Em 2005, a Stirling desenvolveu seus próprios falantes para uma nova ‘edição’ das caixas, resultando em um woofer de cone de polipropileno com camada de amortecimento e bordas de borracha e um tweeter de domo de tecido igualmente amortecido. Um novo crossover foi desenvolvido pela empresa, para obter desses drivers a mesma assinatura sônica da LS3/5a original – ou o mais próximo dela – o que resultou na “LS3/5a V2“. Essas versão foi feita sob licença da própria BBC.

CLONES E IMITAÇÕES

Ao longo das décadas, várias caixas ‘seguiram a mesma linha’ ou simplesmente imitaram as LS3/5a. Entre elas a Linn Kan (1979) que usava um tweeter diferente, a JR149 (1977) da JR Loudspeakers (fundada por Jim Rogers) que usava um gabinete cilíndrico, a Spendor S3/5 (1998) com novo divisor, e a aplaudida P3ESR da Harbeth (2012) que é considerada uma atualização moderna sobre o projeto.

Graham Audio
Stirling V2
Falcon Acoustics
Harbeth P3ESR

Claro que a KEF, desenvolvedora e fabricante dos falantes originais, usou a mesma combinação de woofer e tweeter em várias caixas, como: Cresta (1967), KEFKIT4 (1969), Cresta II (1970) e Coda (1971). Isso além da CS1A ‘Construction Kit’ (1981), para hobistas montarem, que vinha com os mesmos falantes e um crossover simplificado.

Além disso, a KEF também fez a Reference 101 (1979), também com os mesmos falantes, mas com um gabinete de 6.7 litros e um novo divisor que provia resposta de frequência plana – o que acabou por não ser apreciado pelos fãs da caixa, que associam a sonoridade dela, até hoje, com suas limitações e particularidades. Ou, poderíamos dizer: ‘idiossincrasias’.

É possível apreciar um par de LS3/5a ainda hoje? Sim, mas respeitando várias limitações sonoras de projeto, limitações de tipos de música com as quais ela vai lidar melhor e apresentar melhores resultados.

Mas o que não se pode negar é a influência e a presença que as BBC LS3/5a tiveram – e ainda têm na audiofilia mundial.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *