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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Vira e mexe eu recebo alguma propaganda, e-mail, convite – ou simplesmente bato o olho em algum artigo – sobre Colecionismo de Discos de Vinil.

É um tal de ‘Clube do Colecionadores’ pra cá, ou ‘Como Colecionar Vinil’ pra lá – e outros afins. Claro que a minha primeira reação é a achar que nós, melômanos e audiófilos, fãs de analógico, somos todos um só grupo feliz, unidos pela paixão pela música, que achamos que a vida é sem graça e sem profundidade sem ela, e que preferimos – boa parte do tempo – o tipo de sonoridade do analógico, do LP, e damos valor a que nossa música preferida venha em boas prensagens, com qualidade de som superior, e acreditamos que isso melhora a experiência. Toda uma família de felizes fãs de música…

Dizem que, se analisados de perto, ninguém é normal. Eu tenho certeza de que eu não sou, e que a maioria das pessoas que eu
conheço não é – quer sejam os que dormem no chuveiro, quer sejam os que comem macarronada com biscoito Bis triturado em cima.
Mas, olhados de perto, muitos dos colecionadores de vinil me fizeram parar de me referir a mim mesmo como ‘colecionador’. A verdade é que eu nunca me considerei um ‘colecionador’, e sim um ouvinte e apreciador de vinil. É algo que me faz lembrar de um grande amigo, apreciador de bons vinhos, que tinha uma grande adega em casa, com muitos bons rótulos. Uma vez um terceiro disse para ele: “O senhor que é um colecionador e entendido de vinhos…” e ele logo retrucou “Eu sou um bebedor de vinhos! Compro vinho para beber e não para guardar!”. E, outro dia estava vendo uma reportagem de um sujeito que comprou uma grande casa histórica, cujo próprio acabamento interno e arquitetônico eram puras obras de arte, ao mostrar a maravilhosa e cinematográfica adega climatizada, vazia, ele comentou “aqui em casa compramos vinho para tomar, não para guardar”…

O que me remete de volta aos ‘colecionadores de vinil’. O mais bizarro de todos os aspectos – que me deixou besta – é a quantidade de gente que compra vinil e nunca os ouve, guardam eles lacrados! E os que têm centenas ou até milhares de LPs, mas não tem nem toca-discos de vinil! E nem planos para adquirir um! Me lembraram aqueles hipsters que andam na rua com uma máquina de escrever mecânica debaixo do braço.

Mas tem mais: tem os que compram duas ou três cópias do mesmo disco, e abrem uma só (experimenta sugerir que eles se desfaçam de uma das cópias lacradas, e vão ver gente com os olhos vidrados, com suor frio pingando da testa, como se você tivesse sugerido que eles se separassem da mãe quando criança…). Tem aquele que é um colecionador nato, ou seja, que acumula discos e mais discos de gêneros e obras que ele detesta, mas que são colecionáveis (esse sempre tem pelo menos quatro a cinco prensagens diferentes de Kind of Blue do Miles Davis…) – esse, inclusive, conhece até a mãe do carteiro ou do entregador da FedEx, e recebe pratinho de pernil no Natal, que a ‘Dona Odete’ manda para ele. Dizem que tem um que é padrinho de batismo do neto do carteiro…

Tem os que são mais preocupados com a raridade da edição ou da prensagem, do que com a música em si. Com esse, todos os discos que ele tem são raros e caros – disco nacional, prensagem normal americana? De jeito nenhum! Tem que ser numerado, remasterizado por Fulano de Tal, prensado em vinil virgem, acompanho de booklet colorido, numa caixa que vem até com adesivo (que ele nunca vai colar em lugar algum) e uma barra de chocolate comemorativa com a capa do álbum estampada (que ele nunca vai comer, e vai apodrecer dentro da embalagem, guardada com o celofane original). E, é claro, tem os que colecionam pela arte da capa, e não fazem ideia nem como é a música naquele devido disco, simplesmente porque nem a conhecem – e nem querem conhecer!

Amigos melômanos e audiófilos – perdoem a minha acidez…

Mas vamos ouvir mais música e fazer menos coleção? Que tal?

Boas audições!

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