Espaço aberto: UMA CAIXA DOS ANOS 70 QUE FICOU NA MEMÓRIA DE LONGO PRAZO

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Com essa volta do estilo vintage, se tornou mais frequente me perguntarem como soavam as caixas produzidas nos anos 70 e 80. Afinal fui testemunha ocular e auditiva daquele profícuo momento de áudio hi-fi.

Tento explicar aos mais jovens que tivemos dois momentos muito distintos: o antes e o depois da insana Lei de Reserva de Mercado, e que após sua implantação em janeiro de 1974, a única maneira do consumidor ter uma caixa de qualidade importada era contrabandear ou pagar um ‘por fora’ para trazer da Zona Franca de Manaus.

Ou pedindo para o lojista fazer uma nota de menor valor do produto (para não estourar a alíquota de 500 dólares – que era muito dinheiro na época). Ou pagando para passar de forma contrabandeada mesmo.

Mas essa caixa, que tanto marcou minha vida, veio depois da reserva de mercado e, para mim, era a melhor caixa que eu tinha ouvido nos meus 23 anos de vida.

Pena que o dono da caixa (um velho amigo do meu pai), tinha um gosto muito focado em vozes femininas, o que me impediu de ouvir obras sinfônicas e jazz naquela caixa que, para mim, foi um divisor de águas entre o que se produzia na reserva de mercado, e caixas da Klipsch, Altec e JBL naquele momento.

Eu já tinha escutado dezenas de modelos de caixas japonesas, da Pioneer, Sony e Kenwood, mas nenhuma havia me chamado tanto atenção como a JVC Zero-5, que possuía alguns avanços tecnológicos bastante interessantes. Ela tinha um gabinete maciço de madeira de belíssimo acabamento, em que um super tweeter ribbon chamava toda atenção para si, e suas especificações eram revolucionárias, pois chegava a uma resposta de 100.000 Hz. O falante de médio e o woofer eram de Fine-Ceramic.

Fui com meu pai nessa ocasião apenas para ajudá-lo a trocar o cabo de caixa flamenguinho (os mais velhos irão lembrar do motivo desta denominação), por um cabo Furukawa que meu pai vendia, graças a um amigo que trazia de suas viagens ao Japão, no máximo 30 metros por viagem, que eram disputados a tapa pelos seus clientes. Esses cabos faziam uma diferença auditiva instantânea. Não me lembro de nenhum objetivista naquela época gritando que era puro placebo substituir cabos flamenguinho e de campainha trançado, por um cabo melhor de cobre como esse da Furukawa.

Era um sábado muito ensolarado, com inúmeros balões cortando o céu, pois me lembro de comentar com meu pai sobre a quantidade acima do normal que vimos no trajeto.

O seu amigo nos recebeu com um enorme sorriso, e uma expectativa que era explícita.

Antes de olhar para as caixas, o que me chamou a atenção foi seu belo receiver Marantz, com aquela luz azul tão peculiar, e um belo gravador de rolo da Sony. Seu toca disco era um Dual (não me lembro o modelo), e seu gravador cassete um Teac deitado, provavelmente um modelo do final dos anos 70.

O anfitrião queria logo trocar o cabo de caixa, mas meu pai, como um bom comerciante, pediu para ouvirmos um disco ou pelo menos uma faixa antes de fazermos a troca.

Como meu pai, ele era apaixonado por Ella Fitzgerald, e mesmo com o cabo de caixa flamenguinho, ao ouvir a primeira frase, olhei para as caixas e pensei: como soam naturais e diferentes!

Foi um choque para mim, ver a quantidade de riqueza harmônica que havia na voz de Ella, e como era audível, que a articulação da voz e inteligibilidade eram muito mais evidentes!

Até eu fiquei na expectativa em saber o que cresceria com a colocação do cabo de caixa Furukawa. E foi um salto tão eloquente, que ninguém na sala se conteve a falar das melhorias que cada um estava ouvindo.

Para mim, o que ficou mais evidente foi o quanto a voz de Ella ganhou nos graves de sustentação das notas, assim como peso e corpo.
E dali em diante, o meu interesse foi apenas apreciar aquela bela caixa, que me causou tão grande impacto!

Sai de lá com a certeza de que as caixas devem ser o componente mais essencial de qualquer sistema decente. Por isso que, em nossos Cursos, sempre lembro que para aqueles que irão iniciar sua jornada, iniciem o projeto com a escolha das caixas.

Antes de decidir, ouçam tudo que puderem, com seus discos de Referência, pois a caixa irá sempre definir a assinatura sônica de qualquer sistema, seja ele de entrada ou um Estado da Arte!

Não tenho dúvidas que a audição da JVC Zero-5 naquela tarde de inverno, foi a primeira semente da nossa Metodologia!

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