Vinil do Mês: YES – TALES FROM TOPOGRAPHIC OCEANS (ATLANTIC, 1973)

Influência Vintage: TOCA-DISCOS THORENS TD 125
setembro 5, 2022
PLAYLIST DE SETEMBRO
setembro 5, 2022

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Rock Progressivo

Formatos Interessantes: Vinil Duplo Importado

Minha educação musical com rock progressivo veio logo depois da ‘fase Beatles’, na virada da década de 80. “Mas, espera aí! O progressivo já tinha sido ‘exterminado’ alguns anos antes, pela Disco e pelo punk rock!”. Eu nunca ouvi na vida o que me falavam para ouvir, ou o que a mídia falava – eu ouvia o que eu queria ouvir. Talvez por isso que eu gostasse – e ainda gosto – do disco Tales from
Topographic Oceans do grupo de rock progressivo inglês Yes.

Esse disco sofre, na minha opinião, de ‘más línguas’. É como um restaurante: se você gosta, fala para poucas pessoas, e se não gosta, fala para todo mundo! Hoje a Internet dá espaço para todo mundo conhecer nova música ao ouvir trechos dos discos, sem precisar comprá-los para saber se gostam, ou mesmo nunca comprá-los e continuar ouvindo eles por algum serviço de streaming. Mas nas décadas pregressas, de nós anciãos de barba branca e pouco cabelo, as pessoas compravam discos que os amigos indicavam ou, na melhor da hipóteses, se fiavam no que diziam críticos de música – e de muitos desses, até hoje não entendemos as motivações.

(Abro um parêntese para relembrar que eu não me considero um crítico de música – eu sugiro o que eu acho que é bom, baseado em conhecimento e experiência, e a ‘crítica’ fica por conta do leitor, que ouve um trecho, e faz seu julgamento de valor).

Eu ouvi muito esse disco do Yes, muito antes de ouvir barbaridades de críticos e fãs, como por exemplo o fato dele supostamente ser o símbolo do ‘excesso do rock progressivo’ e de ser uma obra ‘auto-indulgente por parte da banda’… Uau… Poucas vezes na minha vida eu soube de algo tão despropositado quanto isso. A imagem que vem à cabeça hoje é de um dos assessores invejosos do imperador, no filme Amadeus (1984), dizendo que a ópera de Mozart tinha “notas demais”. É um exemplo extremo, mas plenamente válido. Ambas afirmativas são ridículas, como dizer que alguém usou instrumentos demais, ou que as faixas são longas demais (algo que o progressivo sempre fez e sempre foi admirado por isso).

Indulgência? Que eu saiba não existe indulgência de um artista para com ele mesmo, para com seu próprio trabalho. Excesso? Quantas páginas um livro tem que ter para um crítico não chamar ele de ‘excesso’? Qual o limite de tamanho de uma tela de um pintor, para que ele não seja acusado pela crítica de ‘excessivo’? Claro que não foram só alguns críticos que desgostaram do disco, teve muito fã que não gostou – e muitos que gostaram. Mas o disco foi um sucesso de vendas mesmo assim!

Selo do disco

Tales from Topographic Oceans é um disco de vinil duplo, com uma faixa por lado de disco, que é de 1973 e foi o sexto disco lançado pela banda inglesa de rock progressivo Yes, um dos pilares do movimento e do estilo. Seu tema foi proposto pelo vocalista e letrista da banda, Jon Anderson, baseado em seu conhecimento do livro Autobiografia de um Yogi, do monge hindu Paramahansa Yogananda, que descreve quatro tratados de conhecimento hindu, chamados de śruti, smriti, puranas e tantras. Cada lado do disco é, portanto, baseado em um deles – temática musical e letras – na visão de Jon Anderson, que sempre gostou de temas espirituais e místicos.

Outra pessoa que não gostou do disco foi o tecladista Rick Wakeman, que achou que pelo formato dele não poderia contribuir musicalmente do jeito que queria, pois tinha um processo criativo de improvisação, de jazz rock, que não funcionava para ele. A verdade é que ele já estava também descontente com o processo criativo e administrativo da banda, queria seguir carreira solo e não queria mais fazer longas turnês. Logo após esse disco, Wakeman saiu da banda e foi fazer sua mais famosa obra: Journey to the Centre of the Earth, de 1974.

“Tales” já é o primeiro disco da banda com o novo baterista, Alan White, após a saída de Bill Bruford. E, depois dele, ocorreu o episódio onde o tecladista grego Vangelis chegou a ser cotado como substituto de Wakeman – mas o cargo acabou indo para o francês Patrick Moraz. Ou seja, um período de mudanças.

É um bom disco? Eu acho que é, sempre achei! É boa música em geral e é um bom disco do Yes. Chegou ao topo da parada no Reino Unido, depois chegou ao sexto lugar da parada americana. Em 1974, teve o número de 500.000 cópias vendidas.

Encarte do disco

O Yes se formou em 1968 em Londres, com Jon Anderson nos vocais, Chris Squire no baixo, Peter Banks na guitarra, Tony Kaye nos teclados, e Bill Bruford na bateria. No prolífico período até 1973, a banda teve a troca de Banks pelo virtuose Steve Howe, a troca de Bruford por Alan White, e a de Kaye por Rick Wakeman – e, depois, por Patrick Moraz. E nos anos e décadas seguintes, muito mais alterações ocorreram. O Yes, que está em atividade até hoje, tem mais ex-integrantes do que integrantes!

Após Anderson conceber a ideia na cabeça dele, juntou-se ao guitarrista Howe e, em uma sessão de 8 horas em um estúdio em Savannah, na Georgia, no sul dos EUA, os dois desenvolveram as idéias musicais das quatro partes do álbum, e aí foram ‘vender a ideia’ aos outros integrantes da banda. Apesar das manifestações por parte de vários membros, descontentes com o formato alongado e com o processo criativo – sinais que eram mais de desgaste das relações internas da banda do que outra coisa qualquer – “Tales” demorou cinco meses, entre arranjo, ensaio e gravação. Mas saiu!

Além de dividir opiniões dentro da banda (e de crítica, e de fãs), “Tales” também teve problemas na hora de ser gravado, pois parte dos membros queria gravar em isolamento, no interior da Inglaterra, e parte queria permanecer em Londres, conectado ao mundo. Uma das ideias (de Anderson, claro) era de gravar em uma tenda, no meio da floresta, à noite, com os geradores elétricos enterrados no chão, para suprimir o barulho. Claro que foi rejeitada pelo resto da banda…

Depois de escolhido o Morgan Studios, em Londres, o empresário da banda, Brian Lane, resolveu decorar a sala de gravação como se fosse uma fazenda, com plantas, flores e imagens de vacas e ovelhas, com cercas de madeira, e os teclados de Wakeman em cima de fardos de feno – no que foi descrito como uma grande piada de Lane em cima da ideia fracassada de Anderson. No meio da gravação as vacas tinham sido pichadas e as plantas todas tinham morrido – o que exemplificou bem o clima dentro do estúdio.

Yes

Uma curiosidade é que, na sala de estúdio adjacente, a banda Black Sabbath estava gravando seu célebre álbum Sabbath Bloody Sabbath, e por tédio e desagrado, Rick Wakeman passava boa parte de seu tempo bebendo, jogando dardos e na sala de gravação com o Sabbath – tanto que ele toca Minimoog na faixa Sabbra Cadabra, do disco da banda, em um trabalho pelo qual ele foi pago em cerveja!

E outra curiosidade é que Anderson, e o produtor Eddie Offord, saíram com as fitas para levar para a mixagem, e Offord pôs as mesmas em cima do carro enquanto abria a porta. Saíram com o carro andando com as fitas no teto que, claro, caíram na estrada, e Anderson teve que correr para impedir que um ônibus passasse em cima delas!

Para quem é esse disco? Para os fãs de rock progressivo da década de 70, da época áurea, para os fãs de Yes, do Jon Anderson, das guitarras do Steve Howe, e dos teclados do Rick Wakeman – e das ‘viagens’ que demoram o lado inteiro do disco para acabar. Ele não é para quem acha que música de mais de 3 minutos é ‘longa demais’…hehehe…

Como sempre, o objetivo ideal é obter uma prensagem japonesa (que é a que eu tenho), ou uma europeia em segundo lugar. Em último caso, uma prensagem americana – apesar de que eu acho que perde muito da japonesa. E, para os mais abonados e bem aventurados, existem, em 180g – ou seja, em prensagem moderna: uma americana de 2011, uma inglesa de 2013, e mais uma americana de 2016. Os preços destas últimas, com tantos colecionadores no mercado, realmente são uma incógnita (e, geralmente, uma incógnita cara).

Ouça um trecho de “Tales from Topographic Oceans”

E não deixemos a música parar! Se o toca-discos parar de girar, gire o prato com a mão, rs…

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