Espaço aberto: ÁUDIO DIGITAL É MELHOR COM HI-RES E SISTEMAS HIPER-REVELADORES?

Espaço Aberto: O ODIN 2 CHINÊS
novembro 7, 2022
Teste de vídeo: TV TCL QLED MINI LED 65C835
novembro 7, 2022

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Dois problemas, muitas vezes combinados: o conteúdo ser ‘Hi-Res’ não quer dizer que tenha qualidade de som melhor. E muita gente procura um digital que mostre um nível de detalhamento alto demais, hiper-revelador – o que é irreal, surreal, fatigante, desequilibrado, e o oposto de ‘equilíbrio tonal’.

Alguém vai à Itália, acha um criador de porcos que trata os bichos à base de trufas (o cogumelo, não o chocolate), e faz carinho neles todos os dias. Aí ele compra a parte do porco de direito, leva a mesma, fresca, para um mestre charcuteiro – daquele tipo cuja família faz a mesma coisa há séculos. O charcuteiro, com temperos e ervas frescos, e madeira especiais, faz a defumação da peça de carne. Esse alguém vai para casa, frita o tal bacon na margarina até ele virar carvão, refoga no molho barbecue, e mistura em um molho de tomate pronto de caixinha, e põe em cima de um miojo que cozinhou demais…

Prioridades erradas, visão errada. Ingredientes são, pelo menos, tão importantes quanto a receita (tecnologia).

Esse aí do bacon é o que comprou um player digital porque tinha o logo Hi-Res, amarelinho, da tal ‘alta resolução’ – e não faz ideia da qualidade sonora que está ouvindo, porque ‘modernidades’ e ‘mais isso’ ou ‘mais aquilo’, seduzem a cabeça dele mais do que conceitos como qualidade.

A gravação ter sido bem captada, decentemente mixada e masterizada, é dezenas de vezes mais importante que ela ser ‘definição de CD’ ou ser ‘Hi-Res’. Um disco bem captado e gravado, em CD, toca muito melhor do que uma gravação mediana na maior resolução ‘Hi-Res’ do planeta!

Outro dia, vendo as estatísticas do que é mais acessado e ouvido nos serviços de streaming, descobri que as pessoas ouvem muito mais ‘catálogo’ do que novidades – ou seja, estão ouvindo, em peso, muito mais música de outros anos, décadas e épocas. Acontece que essa música, em sua maioria, não foi originalmente gravada em nada que chamamos hoje de alta-definição, de Hi-Res – portanto, as pessoas estão é ouvindo mesmo definição normal. Ou seja, mais um motivo…

Diferenciar ‘qualidade’ de ‘quantidade’ dá trabalho… E porque, como foi bem apontado por alguém, outro dia, na comunidade audiófila: tecnologia nova não quer dizer melhor qualidade. A audiofilia, o áudio hi-end, demora mais para se adaptar à avanços tecnológicos, como streamers e amplificadores classe D, ou mesmo tipos novos de tecnologia de auto-falantes.

Isso é porque os audiófilos são todos velhos turrões? Não, o motivo não é esse. É porque essas tecnologias demoram para ficarem boas, para ter qualidade. Demoram anos.

Agora é que os streamers estão começando a chegar perto do CD – e eles já estão por aí há mais de 10 anos. Mas, lá no topo da qualidade sonora, o CD ainda toca melhor.

Agora que os amplificadores classe D estão começando a cutucar, no mercado de amplificadores de entrada. Mas, lá no topo, as boas classes de transistorizados ainda tocam melhor.

Querer sair procurando o que há de mais tecnológico e moderno no mercado, não vai te trazer a melhor qualidade de som.

E quanto aos sistemas hiper-realistas – qual é o problema com eles, principalmente os centrados na fonte digital? Os que querem trazer uma super-definição? O problema é que eles são irreais, porque a música não é desse jeito. Eles são fatigantes, cansativos de ouvir.

Tendem, muitas vezes, mais para barulho do que para música. Basta irem ouvir música acústica ao vivo não-amplificada, e verão.

Alguém, no meio do caminho, passou a achar que uma quantidade gigantesca de detalhes – artificialmente turbinados – era o grande negócio. Aí aparecem os que acham melhor ouvir música em seus sistemas do que frente a frente com os instrumentos (o que é uma baita distorção de valores). E também os que acham que, ao ouvir uma orquestra sinfônica ao vivo pela primeira vez, o “volume de som é baixo” – o que é uma baita de uma distorção de valores, tipo ‘o mundo artificial é mais legal que o natural’ (e vá comer miojo com salsicha, então…).

A procura certa não é pela Alta-Resolução e pelo Hiper-Realismo. Eles não são avanços em matéria de QUALIDADE, mas sim avanços em matéria de QUANTIDADE.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *