HI-END PELO MUNDO – COBERTURA DA FEIRA HIGH END MUNICH 2023

Opinião: O SOM DE PA ESTÁ INVADINDO A AUDIOFILIA
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HI-END PELO MUNDO
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HIGH END MUNICH 2023 – PARTE 1: IMPRESSÕES GERAIS E TENDÊNCIAS

Por Roberto Diniz, com fotos de Fred Bonatto
revista@clubedoaudio.com.br

Desde 1982, o HIGH END Munich cresceu muito e se consolidou como principal evento mundial no segmento de áudio de alta qualidade. Com mais de 22 mil visitantes e 800 expositores, em quatro dias, a feira de 2023 sinaliza várias tendências de mercado e tecnologia. Só o futuro nos dirá quais serão mais relevantes ou duradouras. Por ora nos cabe observar.

OPÇÕES CONSTRUTIVAS, FORMAS E FUNÇÕES
Progressos em tecnologia da informação, ciências de materiais e métodos de fabricação têm favorecido melhorias acentuadas na qualidade de construção e acabamento dos equipamentos de áudio. Tornou-se comum oferecer gabinetes de formas e materiais exóticos. Antes raros e caros, os gabinetes monobloco em alumínio são agora amplamente utilizados, fabricados pela usinagem CNC. Houve grandes avanços em projetos técnicos e processos industriais por software, algoritmos para simulações mecânicas de formatos, desempenhos, temperaturas e vibrações, assim como plataformas de projetos e testes eletrônicos por software. Em materiais ampliou-se o uso de madeiras tratadas, resinas especiais, sanduíches de fibras, materiais compostos e metais antes considerados ‘difíceis’.
Se o básico de um equipamento é ser confiável, funcional e oferecer som de qualidade, ser bonito ou caro pode decorrer de outras qualidades como, por exemplo, ser algo especialmente bem construído. Já o luxo e ostentação podem desvalorizar produtos a médio prazo, desgastando a confiança do consumidor. Um termômetro é o preço de revenda do usado. Outros podem ser índices de falhas, qualidade dos serviços, peças e assistência técnica.

Acima à esquerda, a italiana Riviera produz qualidade em cores customizáveis. No meio um toca-discos AMG, como o que uso aqui em São Paulo, cercado por amplificador integrado e caixas em madeira maciça da Wiener Lautsprecher Manufaktur, e um móvel combinando. Muito chic o sistema, som agradável, visualmente compacto e fácil de integrar em ambientes. À direita um toca-discos TechDAS Air Force III preto, de alumínio e aço, com cápsula TDC-01 Ti de titânio, base em pedra polida, prato em cobre, tocando os eletrônicos Constellation em alumínio usinado, com digitais dCS monoblocos pretos, condicionador cinza e caixas Wilson Audio Alexx V (fora da foto) – que são um mix de materiais compostos, revestidas em preto automotivo. O principal é que o som estava ótimo, mostrando a eficácia de se focar na função e na finalidade, mesmo que os meios ou elementos sejam grandes, custem caro, misturem vários materiais ou estilos.

Abaixo modelo em corte da caixa Magico mostra sofisticada estrutura interna em duralumínio aeronáutico com curvas e dimensões otimizadas. Em seguida, na Thrax, que fabrica incríveis eletrônicos valvulados e toca-discos de tração direta, com braço Schröder, cápsula Koetsu Blue Lace e monitores Thrax Lyra. Pedestal, phono, pré e amplificador são feitos em alumínio, e lá era uma das melhores salas com bookshelf. À direita, a YG Acoustics em sala grande com vários produtos, lançando a série Reference 3 e linha Peaks, outros exemplos de construção com monoblocos super-rígidos, vibrações controladas e superfícies curvas para menor difração.

Abaixo, a Rockport mostrou o modelo Orion, com estrutura maciça de relevo nervurado em alumínio fundido e recortes usinados. Nada disso aparece no produto final, porque recebe por fora uma camada de resina que preenche os espaços, dando um acabamento liso de pintura automotiva. O som estava excelente, bem integrado, com textura natural e excelente dinâmica. Certamente se beneficiaram da fonte de vinil Kuzma com braços cônicos em cristal de safira, cápsulas ZYX e eletrônica Absolare.

Na terceira foto acima vemos marcenaria de altíssimo padrão nas caixas alemãs Kawero! modelo Grande, em folhado similar a jacarandá, envernizadas com qualidade de instrumento musical e alimentadas por eletrônica Ypsilon. Cada uma tem dois gabinetes, construídos em sanduíche de material composto tankwood com borracha. Usam tweeter ribbon RAAL, transformadores Kondo em prata, falantes high-tech dinamarqueses, pés Stillpoints e outros sistemas de controle de vibrações. Algumas salas no show, usavam esses interessantes difusores acústicos nas paredes, em fibra pintada com relevos arredondados, de visual suave.

É uma questão de tempo para que os custos incrementais baixem. Em algum momento, fabricar em preto, cinza, liso ou quadrado sairá ao mesmo preço que fazê-lo em azul, laranja, texturizado ou redondo. Gradativamente os diferenciais passarão a ser outros detalhes.

UPGRADES E CUSTOMIZAÇÕES MODULARES

Abaixo amplificadores gregos hART Lab, e caixas italianas AirTech: clientes escolhem cores e acabamentos entre dezenas de opções, LEDs mudam de cor comandados por celular.

A Pro-Ject prestou homenagem ao disco The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, clássico de 1973 e anunciou versão semelhante, disponível em breve ao público. Entre outros designs conceituais, chamou especial atenção um RPM 12 Direct Drive Concept que remete aos Micro Seiki das décadas de 70 e 80, clássicas referências históricas em áudio high-end.

Apesar de estáticos, sem música, os stands Pro-Ject e EAT estavam dirigidos ao fenômeno de customização, com múltiplas opções de cores e texturas para toca-discos e acessórios. Na Pro-Ject criaram um atraente display giratório, em forma de esteira de sushi, como aquelas usadas por restaurantes no Japão. Passam o conceito de que fazer upgrades é fácil e divertido. Ficou claro o direcionamento à nova geração que entra no mundo do vinil. O EAT roxo era conceitual e único, mas soubemos que foi vendido – sempre há alguém em busca de exclusividade.

CROSS-MARKETING ENTRE ÁUDIO E MERCADO DE AUTOMÓVEIS

Essas indústrias buscam trazer públicos de um campo ao outro, licenciando designs e marketing por associações cruzadas. Abaixo um boombox Ixoost (estilos Lamborghini, AMG, etc) e kits Focal de upgrade de alto-falantes para algumas marcas de carros. Já no topo da pirâmide audiófila, há as caixas de som Tidal by Bugatti. Além da unidade controladora externa inteligente, as caixas contam internamente com quatro canais de amplificação, pré-amplificador, DAC e conexões de rede. Detalhe: esta Tidal é a fabricante alemã de caixas de som desde 1999, e não o serviço sueco-norueguês de streaming de música desde 2014. Não conseguimos ouvi-las porque a sala estava lotada, e depois fecharam a demonstração. Alguns acharam excelente. Notamos que a sala não tinha tratamento acústico especial. Conforme as opções de acabamentos, ficam entre 260 e 503 mil euros. Elegantes, não parecem pesar 430 kg. Já o sistema Ixoost custa US$ 45 mil, e pesa 53 kg. Nesse ritmo, o carro Porsche azul sai bem mais barato por kg, incluída a maleta customizada P60 com os ótimos falantes Focal.

LIFESTYLE PRODUCTS

Havia muitas ofertas para o público jovem que entra no mercado de trabalho, com algum dinheiro para gastar, focadas em aspectos culturais e estéticos. Outro nicho era o público de meia idade em busca de boa música, mas sem tantos aparelhos, cabos e acessórios de um sistema tradicional. Para tais públicos prevalecem as soluções visualmente elegantes, sejam sofisticadas e portanto caras, ou produtos compactos, atraentes e de bom custo-benefício. O conceito de soluções estilizadas para nichos de mercado é chamado Lifestyle Audio, focado em estilos de vida. Algumas dessas soluções fazem cross-marketing entre áudio e prestigiadas marcas de moda ou de decoração.
Abaixo, as caixas amplificadas wireless Audio Pro mostram um visual muito simpático. As DeVore Fidelity estavam tocando muito bem com o toca-discos da neozelandesa The Wand. As Micr/O – na foto o modelo quadradinho – foram projetadas para eventual montagem dentro da estante de livros. Em branco, a recém-lançada Meridian DSP9 segue a linha chic de desempenho superlativo, custo à altura, mas opções de acabamentos que agradam famílias e arquitetos. A Chord trouxe séries com visuais interconectados, mini-separados da linha Table Top, e os micro-separados da linha Qutest, que cabem na palma da mão mas tocam bem: DAC, phono e amplificador de headphones.

ESTÉTICA VINTAGE ANOS 70

De uns anos para cá, o espírito de estilos vintage migrou da década de 60 para a seguinte. Das faces sóbrias, formatos de racks com alças, muitas marcas estão usando estéticas angulosas, contrastes entre preto e alumínio, frisos, botões, mostradores analógicos com ponteiros e iluminações que remetem à época. Outra convergência é a volta dos receivers, que podem ter nome e cara parecidos com os populares equipamentos dos anos 70 e início dos 80, mas são agora digitais com streaming, rádios internet e também conectam fontes analógicas.

A Naim lançou uma edição do amplificador integrado NAIT 50, em homenagem aos 50 anos da marca, num lote de 1973 unidades em alusão ao ano. Adorei o visual (foto do fabricante), fiquei até com vontade de comprar um, mas já tenho coisas demais. Assim funcionam as vendas por impulso, mexendo com os sentimentos dos clientes. A alemã T+A lançou na R Serie, um receiver moderno e multifuncional, além de mini-systems de visuais coordenados, botões e ponteiros lembrando os anos 70. A mesma tendência visual na Quad, com toca-discos Luxman e caixas Castle (fora da foto), fazendo um clima visual vintage de som agradável e moderno.

Outro recurso bastante utilizado por fabricantes em painel frontal, são telinhas LEDs com animação gráfica simulando ponteiros VU, iluminação antiga e outras opções programáveis.

TRICKLE DOWN: ÓTIMOS DESEMPENHOS EM MODELOS INTERMEDIÁRIOS

Reunir boas virtudes de forma e função adequadas dentro de orçamento razoável continua exigindo as competências de projetistas, engenheiros e marketing. Nos equipamentos ‘estado da arte’, é mais fácil apresentar avanços pioneiros, em forma e função, porém a altos custos. Com tempo e experiência acumulada dos fabricantes, os avanços se consolidam em qualidades técnicas bem mapeadas. Tecnologias e processos de manufatura são revisados e passam às linhas e marcas mais acessíveis. Tal processo é conhecido como trickle down.

Na feira, conferimos excelentes resultados alcançados por soluções intermediárias de vários fabricantes. Reunimos aqui três exemplos: caixas Magico S3 seguindo tecnologias da série M, as Stenheim Alumine 2.5 seguindo a 3, e as MoFi SourcePoint 8 seguindo as modelo 10.

Em ótimas salas, a Magico ficou entre as melhores do show. As Stenheim não estavam longe, apesar do custo menor. Quando fabricantes querem realçar desempenho de um produto, o fazem em ‘super-configurações’ de alto desempenho e salas bem tratadas acusticamente.

No caso da Magico, além de subwoofers casados e eletrônica Wadax com Pilium, a equipe trouxe um conjunto de paredes internas e bastidores acústicos, recriando características da sala de referência na Califórnia, EUA. Já as pequenas Stenheim 2.5, estavam tocando super bem com cápsula ZYX montada sobre toca-discos Thales, digitais Nagra e Ferrum, amplificação darTZeel, cabos Way e tratamentos acústicos na sala, apesar de não ser uma ‘sala transportada’.

As caixas MoFi SourcePoint 8 foram um dos melhores custo-benefícios mostrados no show. Por 3 mil dólares o par, desaparece no espaço sonoro com ótimos ritmos e equilíbrio. Em sala sem tratamento acústico especial, rodavam dois toca-discos MoFi Ultradeck: um com cápsula ótica e outro com moving coil Hana ligada ao novo pré MoFi Ultraphono, com regulagens via painel frontal e VUs amarelos em estilo anos 70. Ouvimos a MoFi SourcePoint 8 com DS Audio Master 3 e eletrônica Aesthetix, sistema caro e sofisticado em proporção ao valor das caixas, mas por outro lado elas não ficaram para trás. Noutro setup, a SourcePoint 10 com integrado italiano Mastersound de duas válvulas 845 por canal, mais um CD Luxman.

FABRICANTES DO LESTE EUROPEU

Cada vez mais fortes, essas regiões são polos produtores de equipamentos de alta qualidade. Por razões econômicas e geopolíticas, o comércio de Europa e EUA com a China sofreu restrições nos últimos anos, dando espaços para a expansão progressiva dos países do antigo bloco soviético e leste europeu no segmento de áudio high-end. Segundo comentários ouvidos no evento, essa tendência se deve à combinação de relativo baixo custo de mão de obra com altos graus de educação técnica e a cultura humanista de boa parcela desses povos, inclusive o apreço por música de câmara, orquestral ou coral. O hábito de se escutar música não amplificada, em concertos ao vivo, treina ouvidos de boa parte da população.

Se nos baixos preços e grandes volumes a China continua imbatível, na União Européia as livres fronteiras se unem a fatores culturais para comunicação mais transparente e homogênea com os maiores mercados consumidores, facilitando entregas de alta qualidade por fornecedores. As marcas são muitas: Ypsilon, Pilium e Lab12 (Grécia), Thrax (Bulgária), Absolare (Turquia), Lampizator, J.Sikora e Ferrum (Polônia), Estelon (Estônia), Reed (Lituânia), Trafomatic (Sérvia), Qualiton (Hungria), Kuzma (Eslovênia), e Meze Audio e Rockna (Romênia). Certamente havia outras, mas o fato é que podemos montar sistemas inteiros, e de classe mundial, exclusivamente utilizando produtos dessa região.
Globalizado e colorido, mas tocando ótima música: amplificador sérvio Trafomatic Rhapsody, fontes digitais romenas Rockna e condicionador grego Signal Poseidon, tocando cornetas gregas Tune Audio Epitome. O som iguala ou supera algumas configurações mais caras de marcas tradicionais.

EXCELÊNCIA SUL-COREANA EM HIGH END

Esse país vem crescendo em espaços tecnológicos e culturais dentro do áudio high-end asiático, que antes eram exclusivos do Japão. Tendo abraçado o regime democrático, a liberdade econômica e a educação de qualidade como vetores de fortalecimento nacional, desde a década de 70, a Coréia do Sul cresceu muito nesse período. Apesar de permanecer um ícone global de ética, respeito e excelência high-end, o Japão passa por um envelhecimento progressivo da população. Certos nichos de artesanato super-especializado, até patrimônios culturais de orgulho nacional, e não somente em áudio, têm perdido recursos e habilidades técnicas, por falta de jovens entrantes.

A Coréia do Sul avançou tanto que os próprios técnicos japoneses já reconhecem e respeitam tais competências. Destacam-se marcas como Silbatone, Allnic, HiFi Rose, Hemingway, Astell & Kern, Aurender, SOtM, e outras. A boa educação geral da população e o respeito pela cultura musical são fatores de prosperidade: tanto melhoram a qualidade de vida da população, quanto facilitam o progresso tecnológico via mão de obra qualificada, intercâmbio de informações, produtos e serviços.

Silbatone e G.I.P. fizeram a melhor sala de som do show, em nossa opinião. E, mais que isso, um oásis de descanso auditivo e aprendizado técnico, apresentado pelo próprio proprietário e entusiasta de som vintage, Michael Chung. Em Seul, ele contratou o arquiteto japonês Kengo Kuma e vem construindo um enorme edifício (poster na foto abaixo) para sediar o Museu do Som. Planeja abri-lo ao público no final de 2023, com uma história do som gravado e reproduzido, desde o início dos sistemas de sonorização ao público, da telefonia e do cinema falado.

Há aproximadamente um século, Bell Telephone, Western Electric, Warner Brothers, Victor Talking Machine, Lansing Company e outras empresas pioneiras começaram a fazer grandes projetos de sonorização e desenvolveram muitas das tecnologias que deram origem ao áudio como conhecemos hoje.

Acima à esquerda o conjunto maior é formado pelas cornetas Western Electric 12 com drivers WE-555 Receiver, construídas sob encomenda em 1926 para o mega-projeto da Warner Brothers que estreou em 6 de outubro de 1927, Jazz Singer, o primeiro filme falado da história. A trilha sonora Vitaphone era gravada num disco de 16 polegadas e 11 minutos de duração. As cornetas têm funcionamento natural, fullrange e sem crossovers, com drivers duplos WE-555 e bobinas de campo (field coils), eletroímãs que fazem o papel do ímã permanente que conhecemos nos alto-falantes modernos. Só que o campo eletromagnético das bobinas de campo é ordens de grandeza mais intenso e ainda pode ser ajustado, com a massa móvel do falante pesando só 1 grama e suportando 2.5 Watt cada driver, 2 drivers por canal. Com massa móvel tão pequena em campo eletromagnético tão elevado, a sensação dinâmica é brutal, com texturas naturais e palpabilidade característica. Se estamos distraídos, viramos de lado ou de costas, o campo sonoro nos engana, subjetivamente parece ao vivo.

As excelentes qualidades sonoras foram muito ajudadas pela presença dos melhores DJs que alguém poderia desejar ter num hi-fi show. Os alemães Thomas Schick e Frank Schröder, dois dos melhores projetistas de toca-discos, levaram seus próprios equipamentos, coleções de vinil e ficaram lá por horas revezando e atendendo a pedidos dos visitantes.

Com cápsulas idênticas Van Den Hul Colibri GCE, os braços e bases desses toca-discos eram protótipos construídos e operados pelo respectivo projetista, como vemos o de Schick acima e de Schröder abaixo. O G.I.P. Laboratory oferece drivers novos para construtores de caixas.

Os powers Silbatone P-103 produzem 8W em triodo single-ended para cada driver WE-555, usando válvulas originais de 1918, tipo VT-2, as mais musicais segundo Michael Chung, abaixo. Cornetas criadas para sonorizar cinemas com mil pessoas, é natural que o campo sonoro fique ‘sobrando’ numa sala de cem metros quadrados e cem pessoas.

CHINA LEVA O MAIOR SISTEMA À MAIOR SALA

Pensando gigante, a chinesa ESD Acoustics, fabricante de amplificação, drivers e cornetas trouxe um sistema de cornetas moderno chamado ESD Super Dragon, bem maior e mais complexo que os da concorrência. O valor de US$ 3.6 milhões deve 1.1M ao acabamento em laca artesanal aplicada sobre as faces dos aparelhos eletrônicos e superfícies das cornetas. Disseram que Jack Ma, dono do site Alibaba, tem um sistema desses. No centro da maior sala disponível em Munique, instalaram uma parede de racks e uma macarronada de cabos. Havia fontes digitais, pré-amplificadores, crossovers, amplificadores single-ended de 10 Watts por via, alimentando torres com sete cornetas, construídas em fibra de carbono, mais torres amplificadas com três woofers dinâmicos, abaixo de 50 Hz. As unidades duplas são tweeters e super-tweeters, por isso sub mais 7 drivers para 5.1 vias por canal. Deixaram uns 100 m2 de sala livre, vazia, por trás do sistema de som, para controle de ressonâncias.

O som é gigante mas bem integrado com naturalidade de texturas, dinâmica e arejamento. Característica de cornetas grandes, as vibrações são sentidas fisicamente em nosso corpo, como acontece em grandes shows ou estádios quando se está perto do palco. Não conseguimos avaliar bem outros detalhes porque, quando passamos, tocavam uma sequência de música tradicional chinesa, cujas gravações desconhecemos. Considerando a grande área frontal de projeção desse sistema, os graves estavam controlados e o palco sonoro integrado para os espectadores da metade posterior da plateia.

ÁUDIO INDIVIDUAL EM FRANCA EVOLUÇÃO

Desde a invenção do Walkman pela Sony em 1979, o áudio individual só cresce. Passamos pelos Discman nos anos 2000, pelos MP3-players na década seguinte, ripamos nossos CDs, e agora temos plataformas digitais de streaming com menus inesgotáveis de música, que podemos escutar em qualquer lugar. Com os desafios da pandemia, muitas famílias ficaram com seus espaços limitados e o uso de headphones nunca foi tão grande.

No HIGH END Munich 2023, havia um setor inteiro dedicado ao som via headphones, com centenas de opções de equipamentos e fones de ouvido de todos os tipos. Além disso, vários stands fora dessa área também mostravam opções em headphones.

Abaixo, dois destaques. Entramos na sala da dCS onde havia quatro sistemas digitais com amplificadores e headphones diferentes – peguei o único vazio. Notem na foto que outras configurações tinham duas ou três caixas, e o meu só tinha uma. Mas adorei o som e aí olhei o fone, era o YH-5000SE, novo lançamento Yamaha. O player dCS Bartok faz streaming, upsampling, DAC, pré e amplificador de fones, tudo em um box. Bem acostumado a fones eletrostáticos e amplificadores valvulados com vinil, achei outro ponto alto: a sala da Stax, com o último lançamento SR-X9000 com amplificador a válvula SRM-T9000, à direita. Excelente o som, apenas não conseguimos identificar a fonte digital, algum player atrás do balcão.

Se comparados a sistemas de caixas de som, os headphones têm pontos fracos em palco sonoro e espacialidade, além de não transmitirem vibrações físicas para o corpo nos volumes mais elevados. Nos outros quesitos, os headphones oferecem mais ‘alta fidelidade’ a custos bem menores. Também não submetem o ouvinte aos problemas complexos da acústica de salas. Por outro lado, o fone de ouvido representa risco de fadiga com danos à audição, porque pode tocar muito alto com baixa distorção, enganando o ouvinte. Temos o dever de fiscalizar isso sempre, em defesa própria e de nossos familiares.

Para competir com um bom sistema de headphones, em pontos comparáveis como resposta de frequência, texturas, dinâmica, resolução ou musicalidade, tipicamente se requer um sistema de pré/amp/cabos/falantes na faixa de 10 vezes mais caro.

Podem ser excelentes os sistemas de áudio individual com fontes digitais high-end, mas impressionam ainda mais os headphones quando conectados a fontes analógicas de alta qualidade, como bons toca-discos ou gravadores de rolo.

O som de headphones que mais gostei no evento foi do Meze Lyric, com o clássico LP Body and Soul de Billie Holiday em sistema Gold Note com toca-discos, cápsula, o pré phono PH-1000 com fonte externa. Acho que foi mais por ser vinil que pelo headphone em si, apesar que era um ótimo closed back, bem útil na barulheira ambiente. E certamente favoreceu o ótimo som do pré-amplificador de phono, com impedâncias, curvas e ganhos reguláveis.

Alguns dos melhores sons de headphones vinham de fitas de rolo, numa minoria de stands oferecendo tais audições – uns vendendo gravadores, outros as fitas. Mesmo num fone mediano, a qualidade musical de rolo bem gravado impressiona muito pela naturalidade.

Em breve voltaremos com mais observações e opiniões sobre o HIGH END MUNICH 2023.

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