Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Música de graça mensalmente na Internet ao alcance dos nossos dedos!
No YouTube encontra-se muito conteúdo interessante para o melômano, vídeos de música ao vivo com qualidade pelo menos decente de imagem e som. Só ao vivo que você percebe o verdadeiro entrosamento entre os músicos, sua linguagem corporal e suas verdadeiras capacidades!
COMO E ONDE OUVIR
Através de um computador, smartphone ou smartTV, com bons fones de ouvido, ou conectados a um DAC no sistema de som, home-theater ou soundbar.
PARA QUEM SÃO AS SUGESTÕES DESTE MÊS?
Pelo título, o conteúdo aqui parece o mais eclético impossível. Na verdade, nem tanto – todos os três vídeos podem ser ouvidos sem causar espantos ou mesmo náuseas em algum público conservador desavisado. Primeiro temos um baixista de jazz francês que transita muito na worldmusic e música do oriente. Depois temos um baixista/guitarrista de rock progressivo moderno, em uma obra autoral com um conjunto eletroacústico. E, por fim, um pianista de jazz armênio fazendo música sacra acompanhada do piano.
Renaud Garcia Fons Trio Arcoluz Live 2005 (2005, 62 min)
Eu já indiquei, nesta coluna, um vídeo curto do baixista Renaud Garcia-Fons, ano passado – era um dos vídeos da interessante (porém limitada) série Tiny Desk Concerts, feita pela rede nacional de rádio pública americana, a NPR.
Este vídeo aqui já é algo bem mais profundo e menos limitante, sendo uma hora de concerto ao vivo com as faixas do álbum Arcoluz, assim como a mesma formação: Garcia-Fons no contrabaixo acústico, o francês Kiko Ruiz no violão flamenco, e o baterista uruguaio Negrito Trasante. Essa é uma formação bastante frequente na carreira, shows e discos do baixista.
Garcia-Fons é um baixista único e virtuoso, com sua sonoridade de jazz com influência flamenca e do oriente. Além da formação baixo, violão e bateria, ele também tem trabalhos acompanhado de acordeon e bateria, e colaborações com o tunisiano Dhafer Youssef, com o saxfonista italiano Gianluigi Trovesi, com o guitarrista de jazz francês Nguyên Lê, e até com orquestras sinfônicas.
Renaud nasceu em Paris em 1962, e começou tocando piano aos 5 anos, violão clássico aos 8, e chegou ao contrabaixo aos 16 anos de idade – e hoje é chamado até de “O Paganini do Contrabaixo”.
O vídeo aqui indicado, infelizmente não dá informações de onde foi registrado. Mas vale cada segundo!
Markus Reuter – Sun Trance (performed by Mannheimer Schlagwerk) (2017, 38 min)
Apesar dele já ter passado dos 50 anos de idade, muitas pessoas podem se perguntar: “Mas quem é o músico alemão Markus Reuter?!?”.
Bom, eu sei quem ele é só porque ele tocou em uma das encarnações mais recentes do grupo de rock progressivo (originalmente inglês, mas que é multinacional há muito tempo) King Crimson – um dos pilares do progressivo virtuose, complexo e, por vezes, até hermético. E também, por extensão, por Reuter ter o grupo Tuner com o fenomenal baterista do Crimson, Pat Mastelotto, e o grupo Stick Men com o fenomenal baixista do Crimson, Tony Levin (que também é o baixista ‘irmão’ do Peter Gabriel, e já tocou no Yes, no Bruford Levin Upper Extremities, entre muitos outros como músico de estúdio).
Ou seja, com esse pedigree, eu paro e presto atenção.
Reuter não pode ser considerado nem um guitarrista e nem um baixista – porque ele especializou-se em instrumentos como o Chapman Stick (que também é o diferencial de Tony Levin), e a Warr Guitar (chamada de ‘touch guitar’) que tem uma sonoridade diferente do Stick, mas usa o mesmo tipo de técnica de ‘tapping’ para tocar, quase que de uma maneira percussiva, graças à sua construção e à altíssima sensibilidade de sua captação. Tanto a Warr quanto o Stick usam uma mistura de cordas de baixo e de guitarra, e podem chegar a ter de 12 a 14 cordas!
Um trabalho solo de Reuter já despertaria curiosidade – mas Sun Trance, aqui deste vídeo, não é só solo (apesar de ter participação do próprio músico), e sim é apresentada pelo conjunto alemão Mannheimer Schlagwerk, que é um grupo de percussão da cidade de Mannheim, próxima à Frankfurt, na Alemanha. Aliás, Sun Trance foi uma obra encomendada pelo grupo à Markus Reuter, apresentada aqui em 2017 no Alte Feuerwache, em Mannheim, um centro cultural e de eventos que já foi um histórico quartel dos bombeiros.
Sun Trance é para um grupo de seis percussionistas, clarinete, guitarra, baixo, sintetizador, bateria e, claro, Reuter nas ‘touch guitars’. É um trabalho eletroacústico classificado como música clássica moderna de câmara, mas que evoca um bocado rock progressivo, minimalismo, música eletrônica ambient, etc. Eu acho que eu classificaria como Progressivo de Câmara – isso porque existe um gênero extremamente interessante chamado de “Chamber Rock”, feito principalmente com instrumentos acústicos, e Sun Trance poderia estar quase lá…
Tigran Hamasyan & Yerevan State Chamber Choir | Jazz Sous les Pommiers 2015 (2015, 60 min)
Como resultado de garimpar a Internet atrás de música interessante – e diferente – acabei indo parar nesse vídeo, de um rapaz pianista de nome Tigran Hamasyan.
O jovem Hamasyan nasceu na Armênia em 1987, e começou a se interessar pelo piano aos 3 anos de idade, passou a estudar música aos 6, e jazz aos 9 anos de idade. Hoje, aos 36, Tigran é um pianista de jazz e compositor bastante eclético, que já flertou com o rock progressivo e com o folk armênio, em sua discografia de 11 títulos, desde 2006.
E é nesse folk armênio, mais precisamente na música sacra armênia desde o século 5o. até agora, que Hamasyan baseia o disco Luys i Luso (ECM Records, 2015), onde relembra o Genocídio Armênio, com os temas sacros e folclóricos cantados por um pequeno grupo de oito vozes – masculinas e femininas – e Hamasyan ao piano. O projeto, além do disco, incluiu 100 apresentações em igrejas, em vários lugares do mundo.
Uma dessas 100 apresentações é a deste vídeo indicado – por conta do Festival Jazz Sous Les Pommiers, que ocorre anualmente na cidade de Coutances, na França. Com o compositor à frente, no piano, mais as vozes do Yerevan State Chamber Choir: Janny Nazaryan, Qristina Voskanyan, Lilit Yedigaryan, Ruzanna Grigoryan, Aren Avtyna, Ruben Karaseferyan, Arno Zargaryan, e Garik Hayrapetyan.
E sem mais, para o momento, podemos dizer: chegou a Primavera!