Teste 2: TOCA-DISCOS ROKSAN ATTESSA
novembro 6, 2023
TOP 5 – AVMAG
novembro 6, 2023

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Minha avó, quando eu e meus irmãos éramos pequenos e nos via tensos antes dos exames finais escolares, sempre nos dizia: “se não querem ser surpreendidos, estejam preparados”.

Essa sua frase repetida dezenas de vezes, ecoou em minha mente por longos anos, e foi ela que me veio novamente quando o Heber da Ferrari chegou com a enorme embalagem do conversor Vivaldi APEX.

Como não gosto de deixar os distribuidores que se deslocam de longe para entregar pessoalmente um produto para teste, sem poder ouvir no nosso Sistema de Referência o que trouxeram, costumo deixar todo o sistema já preparado para receber o visitante ilustre. E assim o fiz na noite anterior, ao deslocar parte do meu sistema do rack Pagode da Finite Element para dar espaço ao Vivaldi APEX.

Foi uma audição rápida, tipo visita de médico, em que o Heber se certificou que estava tudo regulado e funcionando, e seguiu viagem de volta a São Paulo. Deixando-me ali com um Vivaldi com apenas 70 horas de amaciamento, para acabar de fazer o burn-in antes de aplicar a Metodologia, e o ritual das 80 faixas que usamos para avaliar todos os produtos.

Minha relação com todos os produtos da dCS são de longa data – o primeiro produto deste fabricante que testei foi em 1998, o Elgar.

De lá para cá, testei literalmente todos os seus produtos colocados em linha. E dessa nova geração, o único produto ainda não avaliado é o conjunto Lina, um poderoso setup para fones de ouvidos Estado da Arte e um poderoso conversor Digital/Analógico. O restante ou tive ou testei absolutamente todos: Puccini, Paganini, Scarlatti e toda a nova safra a partir de 2012: Vivaldi, Rossini e Bartók, tanto as versões originais, como as 2.0 e agora as APEX.

Ou seja, acredito estar apto tanto como revisor crítico de áudio, como usuário por mais de uma década de produtos dCS, a avaliar essa nova versão APEX do Vivaldi.

Como fomos recentemente a primeira publicação em nível mundial a testar o Bartók APEX, me senti no dever naquele momento de explicar minuciosamente o saldo dado da versão 2.0 para essa nova versão. Então peço a gentileza a todos, se quiserem saber todos os detalhes tecnológicos, que façam uma releitura do teste publicado na edição 293. Aqui farei um breve apanhado dos principais tópicos, pois quero dedicar mais tempo à avaliação sonora do produto, pois há muito o que se dizer.

O próprio fabricante assumiu que o tempo de adaptação à pandemia com as pessoas isoladas em casa, foi o pontapé inicial da equipe de engenharia para estudar o que ainda poderia ser aprimorado da versão 2.0.

E como havia ociosidade suficiente, já que a fábrica e a produção estavam parados, os engenheiros responsáveis pelo desafio resolveram, à princípio, discutir entre eles o que cada um faria se tivesse a oportunidade de melhorar a versão 2.0. E desse exercício saíram dezenas de ideias promissoras e que foram sendo executadas.

Externamente a versão APEX é idêntica à 2.0, aliás para o consumidor saber que se trata da nova versão, têm que olhar no painel traseiro abaixo da entrada IEC, para ver a pequena identificação escrita APEX.

Mas abra o capô do conversor, e até aos olhos do leigo saltará a nova placa APEX PCB com as 48 fontes de corrente por canal, e resistores na saída analógica.

Em atualizações de software, os engenheiros perceberam que a versão 2.0 havia feito todo o processo, não deixando margem para nenhuma nova atualização. Foi então que o diretor de desenvolvimento, Chris Hales, decidiu considerar possíveis avanços nos circuitos analógicos do dCS. E foi aí que as ideias em grupo começaram a eclodir e tomar forma.

A atualização resultante foi a reconfiguração e aprimoramento de muitos componentes do Ring DAC principal, o ajuste do layout dos componentes na placa de circuito, e uma totalmente nova placa de saída analógica. O resultado foi uma redução significativa no nível de ruído e de distorção no segundo harmônico, em mais de 12dB!

Como escrevi, aos interessados nos detalhes de cada alteração, eu expliquei mais detalhadamente no teste do Bartók APEX.

O que eu quero enfatizar neste teste, é o quanto essas melhorias impactaram no Vivaldi APEX e o quanto ele consegue ser ainda mais impressionante que o Bartók APEX.

Para o teste, utilizamos apenas nosso Sistema de Referência com o transporte Vivaldi APEX no lugar do nosso conversor de referência, o Nagra TUBE DAC. Os cabos AES/EBU foram o Dynamique Apex e os Transparent Reference (para a ligação Dual AES).

A pergunta mais frequente que ouço dos leitores é se realmente se escuta tantas diferenças assim entre um bom DAC para um excepcional, e minha resposta costuma causar mais dúvidas do que esclarecimentos: depende, digo eu sempre.

Lembro uma vez em que um sujeito escreveu que a caixa de referência que o Andrette usava era “obsoleta”, e que ele a testou em seu sistema e conseguiu observar o quanto ela era limitada. Interessante que o sistema desse sujeito era muito, mas muito abaixo da caixa, então qualquer conclusão que ele possa ter chegado, está absolutamente errada.
Interessante como tanto os objetivistas como muitos ditos formadores de opinião, não acreditam em elo fraco, e acham que um produto de nível inferior não irá prejudicar o produto de nível acima. Então se você não tem um setup excepcional para avaliar um DAC também excepcional, você perderá grande parte das diferenças entre esse DAC e um de bom nível.

E ainda assim, um ouvido com boas referências poderá observar melhorias importantes como: uma sensação de melhor organização do acontecimento musical, uma sensação de maior arejamento, com foco mais bem definido e muitas vezes até melhorias na dinâmica e na precisão de resposta de transientes. Sem, porém, em um sistema inferior, conseguir dimensionar todas as melhorias para mensurar o quanto esses avanços valem ou não o investimento pedido.

Essa é a maior confusão que permeia as discussões de todos os fóruns, sendo ainda mais acaloradas nos que defendem que, a partir de uma faixa de preço, todos os DACs soarão iguais. Esse é o parâmetro que permeia essas discussões, até que de vez em quando um desses formadores de opinião, tem a oportunidade de ouvir um DAC muito acima do preço por ele estipulado como o sensato para se gastar em um conversor, e todas suas crenças caem por terra.

Já vi isso ocorrer algum bom par de vezes, e certamente nosso leitor também.

A questão aqui essencial não é se o valor pedido é válido ou não, e sim se o produto entrega o que diz fazer. E se ele o faz de maneira mais refinada que a concorrência, ou não.

Esse é o meu trabalho como Revisor Crítico de Áudio, conseguir mapear de maneira segura a assinatura sônica dos produtos enviados para teste, e o quanto eles suplantam em termos de performance seus concorrentes.

Basta uma olhada no nosso Top Five para ver o quanto esse nicho é disputado ponto a ponto, e o quanto os melhores estão se distanciando cada vez mais dos DACs também de excelente nível!

Sempre lembramos que qualquer dos DACs testados acima de 100 pontos, já será uma excelente escolha para qualquer audiófilo. No entanto, no patamar dos cinco melhores, percebemos que todos estão acima de 105 pontos, o que permite uma constatação muito interessante: do quanto os fabricantes estão se esmerando para ir cada vez mais longe na performance de seus conversores, e como estão conseguindo excelentes resultados.

Após o término da análise, e publicação do teste do dCS Bartók APEX, ficou claro que os modelos acima teriam ainda mais a oferecer em termos de precisão, detalhamento, correção tonal e refinamento.

A questão, para mim, era apenas do quanto mais seriam essas melhorias? Finalmente tenho a resposta, e passo a compartilhá-la com vocês.

Antes quero reiterar que qualquer audiófilo experiente pode perfeitamente viver satisfeito com qualquer um dos DACs na lista do Top Five. Pois cada um deles, à sua maneira, possui um pacote de qualidades inatacáveis!

Eu viveria tranquilamente com qualquer um deles.

No entanto tenho que concordar que, se o audiófilo tem bala e deseja extrair o sumo do sumo de seus discos prateados, ele deve buscar aquele que faz o trabalho da maneira mais correta e mais refinada.

E, nesse momento, o Vivaldi APEX, de todos os conversores por nós testados, encontra-se no mais alto degrau do pódio.
Já escrevi diversas vezes que sai da linha dCS (meu último setup digital era constituído pelo Transporte Scarlatti, DAC e Clock), pois à medida que a concorrência foi evoluindo, percebi em audições e testes críticos, que o meu setup expurgava diversas gravações que me eram muito caras emocionalmente, e que outros DACs eram muito mais condescendentes com essas gravações.

Usei até o termo de que meu setup dCS estava sempre com a ‘faca entre os dentes’, mesmo quando a música não necessitava dessa postura. E acabei optando por um upgrade que me resgatou de volta toda a minha coleção de CDs (literalmente).

Quem está no topo sempre tem uma visão do todo muito mais ampla, e claro que a dCS se mexeu e foi à luta. Lançou em 2012 o Vivaldi em substituição ao Scarlatti, e simultaneamente foi reformulando a linha abaixo.

Ficou nítido que, ao reformular toda sua linha, muito das características ‘nervosas’ das séries anteriores foram sendo lapidadas aos poucos.

Mas o grande divisor de águas, na minha opinião, se deu com o Bartók APEX, em que pude observar que aquela tensão existente deu lugar a um maior relaxamento, que já havia notado e tinha me conquistado em diversos produtos concorrentes.

E sem perder as inúmeras qualidades de uma excelente transparência, precisão e requinte.

Para quem está definindo seu futuro com o uso frequente de um streamer, o Bartók APEX é uma escolha exemplar, pois seu pacote é inteiramente coeso e no mesmo nível tudo!

Mas e o Vivaldi APEX?

Aqui as questões são muito mais relevantes, pois diria que existe uma dCS antes do Vivaldi APEX e outra agora.

Ouvi características sonoras no Vivaldi APEX que jamais observei em nenhum outro produto dCS. Começaria exatamente pela questão central do meu incômodo: o da ‘faca nos dentes’. Isso é passado, enterrado, e para ser esquecido. O que temos agora é um grau de naturalidade, resolução, organização e precisão que não ouvi em nenhum outro DAC ainda.

O acontecimento musical à nossa frente, seja simples minimalista ou complexo, com inúmeros naipes e instrumentos solo, ocorre de maneira tão ‘realista’ (no sentido de como sentimos os músicos cada um ocupando seu espaço em uma apresentação ao vivo), que nosso cérebro se pergunta algumas vezes: o que está acontecendo?

O maior exemplo e constatação desse fenômeno psico/auditivo se deu ao escutar a História de um Soldado, de Stravinsky, gravação da Reference Recordings em que os músicos estão quase que perfilados no palco e o espaço de cada músico é respeitado também na reprodução no Vivaldi APEX.

É o melhor foco, recorte e arejamento que escutei na vida! A altura está perfeita, o silêncio em volta de cada solista, a ambiência da sala de gravação e a sensação 3D do palco são impressionantes!

O Vivaldi possui um tempo preciso na resolução do sinal ultra linear, isso permite que qualquer passagem uníssona de dois ou mais instrumentos, sejam exercícios simples de acompanhamento. Para os amantes de jazz, essa característica tão peculiar e tão desejada, torna o Vivaldi APEX uma referência absoluta em termos de apresentação do acontecimento musical.

Acredite, meu amigo, outros grandes DACs vão parecer no mínimo ‘borrados’ ou mais difusos, na construção dessas imagens sonoras.

São esses detalhes somados que vão fazendo seu cérebro relaxar e acreditar que a mágica é real. Ou, para ser mais exato: possível! Afinal não é exatamente isso que todos audiófilos desejam ao final da jornada? Ter seu nirvana musical no momento em que desejar?

O que preciso que você entenda, amigo leitor que começou sua jornada recentemente, é que para se ter esse resultado, todos os quesitos da nossa Metodologia precisam estar perfeitamente alinhados e no mais alto grau possível.

Então, falar da exuberância do seu equilíbrio tonal seria redundante, assim como da beleza das texturas com nuances que outros DACs também superlativos se esforçam para nos apresentar.

Os transientes determinam o quanto a música consegue ou não nos prender, e a precisão que o Vivaldi APEX nos expõe o ritmo, tempo e andamento, nos leva a achar que naquele disco parece que os músicos hoje estão mais ‘animados’ ou focados.

Foi um deleite ouvir os oitos discos das apresentações do octeto do Wynton Marsalis no Village Vanguard. A sensação que tive é que realmente os músicos estavam mais focados e seus solos tinham algo a mais a nos mostrar.

E como é bom ouvir um dCS só mostrar a ‘faca nos dentes’, quando a música assim exige.

Que energia, que resultado visceral no Concerto para Dois Pianos & Percussão de Bela Bartók! Ou no quarto e quinto movimentos da Sinfonia Fantástica de Berlioz.

E nas passagens pianíssimas, tudo voltar à calmaria expressada de maneira tão clara na partitura.

Ouvir interpretações tão fidedignas à partitura, e tão precisamente captadas pelo engenheiro de gravação, é um deleite supremo!

Foram apenas duas semanas de convivência, mas foram de uma intensidade que jamais imaginei que viveria a essa altura da minha vida de editor da revista. Foram dezenas e dezenas de anotações em meu caderno, que à medida que envelheço mais parece um diário de bordo Intermusical, rs!

Detalhes ouvidos em gravações que me acompanham há mais de 30 anos, e que tive o prazer de saborear como se fossem novas versões ainda melhores tocadas.

Esse é o grande diferencial de um produto desse naipe: as gravações que amamos não apresentam alguns detalhes que nunca havíamos escutado, elas literalmente parecem versões atualizadas ainda melhores que o original!

Eu tenho que admitir que a distância do corpo harmônico do analógico para o digital, se resume agora a procurar ‘pêlo em ovo’! Não imaginaria jamais que iria escrever ou constatar essa realidade no digital.

O Vivaldi APEX chegou lá, senhores!

Para ter certeza que não estava delirando, ou seduzido pelos atributos sonoros do Vivaldi, escutei dez gravações que tenho as duas mídias – e em apenas uma o CD ainda se mostrou mais pobre (será a masterização, já que é uma gravação dos anos 60 do Duke Ellington?).

Nas outras nove a diferença é um cisco e nada mais!

O que posso dizer em relação a sua musicalidade? Acho que a melhor maneira de referenciar esse pacote de qualidades, é dizer que não senti nas duas semanas que estive na sua convivência, o desejo de ouvir meu analógico!
Não imagino uma definição melhor para dizer o quanto o Vivaldi APEX me conquistou!

CONCLUSÃO

Meu amigo, como eu sempre digo, não posso jamais afirmar que o Vivaldi APEX seja o melhor DAC da atualidade, pois não testei todos que dizem ser os detentores desse podium.

Mas que ele é, no mínimo, um dos candidatos ao trono máximo, não duvide.

Méritos ele tem em abundância!


PONTOS POSITIVOS

Simplesmente soberbo sonoramente.

PONTOS NEGATIVOS

Apenas para os que têm o vil metal aos montes.


ESPECIFICAÇÕES

TipoConversor Digital-Analógico
TopologiadCS Ring DAC
Saídas XLR1 par de saídas balanceadas XLR – 0.2V, 0.6V, 2V, 6V rms, Impedância de saída de 3Ω. Carga máxima de 600Ω
Saídas RCA1 par de saídas não balanceadas RCA – 0.2V, 0.6V, 2V, 6V rms, Impedância de saída de 52Ω. Carga máxima de 600Ω
Entrada USBInterface USB 2.0 tipo B (24-bit, de 44.1 – 384 PCM, DSD64 & DSD128 em formato DoP)
Entradas AES/EBU4 entradas AES/EBU por XLR (24-bit, de 32 – 192 PCM, DSD64 em formato DoP)
Entradas Dual AES2 pares Dual AES (24-bit, 88.2 – 384 PCM, DSD64 & DSD128 em formato DoP)
Entrada SPDIF coaxial2 SPDIF por RCA (24-bit, 32-192 PCM & DSD64 em formato DoP)
Entrada SPDIF BNC1 SPDIF por BNC (24-bit, 32-192 PCM & DSD64 em formato DoP)
Entrada SPDIF TOSLINKÓptica (24-bit, 32 – 96 PCM)
Entrada SDIF BNC1 interface SDIF-2 por BNC (24-bit, 32 – 96 PCM), ou SDIF-2 DSD
Entradas Word Clock3 entradas Word Clock BNC – padrões 32, 44.1, 48, 88.2, 96, 176.4 ou 192kHz.
Modo PCM4 filtros (para rejeição do tipo Nyquist e respostas de fase)
Modo DSD4 filtros para redução progressiva de ruídos fora da banda áudio. 1 filtro para uma melhor resposta de transientes
Consumo23 Watts (50 Watts máximo)
Dimensões (L x A x P)444 x 151 x 435 mm
Peso16.2kg
DAC VIVALDI APEX DA DCS
Equilíbrio Tonal 15,0
Soundstage 14,0
Textura 15,0
Transientes 15,0
Dinâmica 13,0
Corpo Harmônico 14,0
Organicidade 14,0
Musicalidade 15,0
Total 115,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
SINFÔNICA                    
ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



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