Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Tem um bocado de gente que pensa primeiro na praticidade de uso do espaço físico, e depois na qualidade sonora. E uma das mais frequentes e confusas ocorrências é a de enfiar as caixas acústicas encostadas na parede! Chamada em inglês de ‘near wall’.
Acontece que não basta isso acontecer demais, mas ainda existe uma quantidade de ‘validadores’ dessa ideia amalucada, ‘profissionais’ dando informações erradas, e tudo isso.
A mais recente maluquice é a de fabricantes (não vou citar a marca) de caixas soltando modelos de caixas que ‘podem ser usadas encostadas na parede atrás delas’. Isso me deixa de cabelos em pé – e por um par de motivos…
Primeiro – uma caixa bookshelf que não tenha excesso ou embolamento de graves ao ser usada encostada na parede, é uma caixa que não vai poder nunca ser usada em uma situação ou posição normal, nunca na vida, pois ela não dará graves suficientes.
Sim, mas e daí? Quem comprar usará encostada na parede para sempre, certo? Feliz da vida, certo? Errado – e é aqui que vem o ‘Segundo Ponto’:
Segundo – O maior erro dessa história é achar que a caixa próxima da parede ao fundo, só tem seu grave afetado. E o fato é que existem reflexões dos médios e, principalmente, dos agudos, que ocorrem atrás das caixas! “Pronto! Esse gordo careca pirou de vez!”… rs…
Já vi profissionais da área dizerem que difusores de agudos atrás das caixas não é um bom negócio, que não acham que deveriam existir – mas não conheço ninguém que tenha ouvido salas com e sem esses dispositivos, que não tenham preferido o som com eles!
E, para quem não pode ter difusores atrás das caixas, fica a dica: nada (nem os difusores) substitui haver um recuo da caixa em relação à parede. Pois, sem esse recuo, você simplesmente não consegue palco profundo, apenas um palco chapado – é uma questão de acústica, de reflexão, de dispersão.
Mesmo se considerarmos somente os graves, ainda assim muitas das ideias defendidas pelos validadores de caixas bookshelf enfiadas dentro de prateleiras de estantes – ou praticamente encostadas na parede – também não se sustentam. Vejam algumas:
Caixas com menos grave serviriam melhor para isso (ficam melhores, mas já são desequilibradas por natureza, e tudo acima falado se aplica plenamente a elas). Caixas com duto na frente seriam melhores para isso (não, porque grave é não-direcional e a proximidade com a parede irá reforçá-lo do mesmo modo, tornando tudo embolado, sujo, desequilibrado e sem recorte ou definição). Caixas de suspensão acústica, seladas, ao serem encostadas na parede terão comportamento de graves melhor que caixas dutadas (só se for porque elas têm menor quantidade de graves na maioria dos casos, porque elas terão o mesmo comportamento das anteriores).
Como diria o ditado: “Não tem almoço grátis”. Se você quer os graves mais corretos, detalhados, recortados, e ter profundidade e planos na manifestação de palco na música que você curte no seu sistema, e quer o melhor equilíbrio tonal, pense sempre que suas caixas bookshelf têm que ficar afastadas da parede atrás delas, em pelo menos 30 a 40 centímetros – e em alguns casos, de books maiores, mais ainda!
Bom maio e boas audições!